Paulo Henrique Ferreira
Palavras chaves como Resistência,
Repetição, Pulsão, contidas nas mãos de um experiente treinador e praticadas
por um competentíssimo triatleta, nos levam a explorar o conceito de repetição
em psicanálise. Freud e Lacan objetivaram obter uma visão abrangente do
conceito, que é fundamental para a teoria e mesmo posto em prática.
A última acima, a PULSÃO, designa
em psicanálise um impulso energético interno que direciona o comportamento do
indivíduo, no caso o meu amigo Paulo Henrique em plena competição, até consigo
mesmo, momento que... “mas insisti em continuar”. O comportamento gerado pelas pulsões
diferencia-se daquele gerado por decisões, na oportunidade em que, “durante a
prova pensei em desistir...”, por ser aquele gerado por forças internas, inconscientes,
alheias ao processo decisional.
É oportuno que se destaque que “a
pulsão” distingue-se do “instinto”, por este, o instinto, ser ligado a
determinadas categorias de comportamentos preestabelecidos e realizados de
maneira estereotípica, enquanto aquela, “a pulsão” refere-se a uma fonte de
energia psíquica não específica, que pode conduzir a comportamentos diversos. Meu
querido amigo Paulo decidiu pelo correto: agir! O conceito de pulsão, ora
abordado, foi utilizado por diferentes teorias da motivação, sendo dentre as
mais importantes a de Sigmund Freud e a de Clark L. Hull.
A compulsão à repetição é
trabalhada por Freud no texto "Repetir, Recordar e Elaborar" de
maneira singular. Lacan acrescenta que, neste texto, como o primeiro momento na
obra freudiana a destacar, de forma articulada, a presença no psiquismo de uma
compulsão à repetição. Por tal a importância da “constância no treinamento
repetitivo” – desenvolvimento ciclístico, natação, no triathlon, por exemplo.
Nesse momento, Freud circunscreve
a transferência no campo da repetição de forma incisiva:
"Logo
percebemos que a transferência é, ela própria, apenas um fragmento da
repetição..." (Freud, v.XII:166).
Entendemos então que, enquanto o triatleta
se encontra em intenso treinamento, ‘não pode deixar de ter esta compulsão à
repetição’, que é uma maneira de recordar, sem que o atleta se dê conta do que efetivamente
está ocorrendo, ou seja, “quando o triatleta repete, ele atua sem saber que
está repetindo, por diversas oportunidades”.
Desse modo, trabalhando na
perspectiva da primeira consideração, Freud acredita que “para lidar com a
repetição e superar a resistência é preciso tornar consciente o que está
inconsciente”. Aqui o precioso detalhe, considerado pelo hábil e experiente
preparador: trabalhar este material com o triatleta para que ele possa
elaborá-lo, tudo isto através do manejo da transferência.
Para Freud, nessa oportunidade, “a
repetição está identificada à resistência”, que está relacionada com as lacunas
de memória. Portanto, o treinador atua, trabalhando através das devidas
orientações, até em planilhas de, aparentes, repetitivos treinamentos,
adequando o seu atleta e, “espera-se que o trabalho analítico supere as
resistências com o preenchimento das lacunas de memória através das
interpretações do material inconsciente”.
Logo se compreende que a
compulsão à repetição é um impulso à ação que substitui o recordar; sendo
assim, quanto maior a atuação, maior a resistência e menor a recordação. “Logo,
a “repetição” é definida como algo que faz oposição ao saber, sendo ela da
ordem da ação”. Por tal, no aparente esgotamento, surge a superação!
Nesta perspectiva, cabe ao
treinador, utilizando-se da “transferência” e da posição que esta lhe confere,
saber isolar a repetição na transferência (durante os treinamentos
preparatórios) e possibilitar que o seu atleta possa passar de uma “neurose
comum, convencional” – o dilema de parar ou não – a uma neurose de
transferência, que abrirá campo para a intervenção sugestionada, ”inconscientemente”,
por parte do treinador, momento que o vivente do dilema possa se superar e
concluir, brilhantemente: “...mas insisti em continuar, e graças a minha
insistência, o resultado veio”... Brilhante!
Paulo! Verdadeiramente já conhecíamos
antecipadamente de suas capacidades, restou a você prova-las, suficiente e soberbamente.
E soubeste materializá-las. Parabéns!
Roberto Costa Ferreira,
09Mai2017.