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quinta-feira, 7 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher … POR QUE PRECISAMOS DE UM DIA INTERNACIONAL DA MULHER?

 


Num recente passeio pela literatura científica com vistas a localizar justificativas para sedimentar a indagação posta acima, também inspirações que busquem e fundamentem a inspiração por equidade de gênero na ciência e sociedade, deparei-me com os acadêmicos - mulheres na ciência - propositura da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Capítulo Brasil da Organização para Mulheres na Ciência do Mundo em Desenvolvimento (OWSD).

Comemorando neste 2024 cento e oito anos de estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico, a exemplo dos largos passos praticados pelo HILASA - Instituto de História, Letras e Artes de Santo Amaro/SP, cuja pluralidade de saberes de seus membros, do qual sou partícipe, contribui para uma maior participação e envolvimento deste na comunidade científica, na sociedade local e brasileira.

Assim, à indagação posta, cuja resumida abordagem restou publicada a tempos decorridos no site da International Women Day 2022 referindo que o Dia Internacional da Mulher é 8 de março, e sugerindo:

imaginar um mundo com igualdade de gênero. Um mundo livre de preconceitos, estereótipos e discriminação. Um mundo diverso, equitativo e inclusivo. Um mundo onde a diferença é valorizada e celebrada. Juntos podemos forjar a igualdade das mulheres. Coletivamente, todos nós podemos”. Ainda recomenda:

Comemore as conquistas das mulheres. Aumentar a conscientização sobre a discriminação. Tomar medidas para promover a paridade de género”. Também assevera:
“O IWD pertence a todos, em todos os lugares. Inclusão significa que todas as ações do IWD - International Women Day são válidas”.

Portanto, O Dia Internacional da Mulher, estabelecido pela ONU em 1975, nasce de uma série de iniciativas de lembrar das demandas por igualdade de direitos para as mulheres e melhoria nas condições de trabalho. Uma destas ações foi, no destaque:

·       a marcha das 15.000 trabalhadoras pela redução da jornada de trabalho, em 1908.

Passados mais de cem anos da eclosão dos movimentos sufragistas, as mulheres já ocupam o mercado de trabalho e as escolas em quase todos os países. No entanto, o percentual de participação feminina ainda é pequena nas posições de poder.

No Brasil as mulheres já estão em pé de igualdade como estudantes de graduação, mestrado e doutorado. No entanto, são  16% dos conselheiros nas empresas, 16% das senadoras e 15% das deputadas federais.

No meio acadêmico a situação não é melhor. As mulheres são 37% dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa, mas somente 18% dos membros da Academia Brasileira de Ciências. Em 2001 as mulheres eram 32% dos bolsistas de produtividade em pesquisa e, em 2020, este percentual subiu para 37%, sem dados mais atualizados.

Sem um olhar específico para o problema as mudanças ocorrem, mas a um ritmo muito lento. Então, outra indagação:

⁃ Mas, por que mais mulheres no poder?

Além a questão óbvia de democracia e direitos humanos, há outras razões. Dados da consultoria internacional McKinsey mostram que empresas com maior diversidade em sua gestão, ganham mais dinheiro, e estudo analisando teses de doutorado nos Estados Unidos, mostram que:

·       há uma relação entre diversidade e produção de inovação disruptiva.

·       Diversidade implica eficiência.

Torna-se, portanto, fundamental identificar o que afasta as mulheres da ascensão na carreira. São muitos os elementos. Um elemento é, note-se: 

              ·     a dinâmica das carreiras, que foi construída para um perfil de homem branco sem filhos. 

              ·   Ela não leva em conta a dinâmica da maternidade.

Ainda hoje as mulheres são responsáveis pelo cuidado dos filhos, como mostram dados do Censo e das pesquisas do movimento Parent in Science. Este fator ficou ainda mais contundente durante a pandemia. Uma carreira que não leve em conta os tempos diferentes entre quem acumula o cuidado com filhos e quem pode se dedicar integralmente ao trabalho exclui um perfil fundamental para construir a diversidade!

Um movimento recente e que precisa ser festejado neste dia 8 de março consiste em: 

            ·     implementação em empresas e no sistema acadêmico de medidas compensatórias para que o cuidado com os filhos.

A frase atribuída a “Amélia Hamburger” se consolida em um movimento liderado pelo Parent in Science:

“Filhos são uma produção importante demais para não constar no Lattes”.

Outro elemento que afasta as mulheres do crescimento na carreira é o “viés inconsciente” que é um conjunto de tendências e preconceitos que tende a desqualificar o trabalho feminino. Esta desqualificação da capacidade feminina leva no seu extremo a atitudes de assédio moral e sexual. Infelizmente esta forma de violência encontra-se presente no ambiente profissional.

Estudo na UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostra que: 

            ·   o assédio moral afeta 50% da comunidade e, 

            ·   o sexual cerca de 10%.

O assédio, ao afastar as mulheres da competição diminui a concorrência, tornando-se uma estratégia de manutenção do poder. Urge que as instituições criem estratégias para prevenir, detectar e eliminar o assédio.

O Dia Internacional da Mulher ainda é necessário. Ele serve para comemorar avanços, mas igualmente refletir sobre o tema, para construir políticas que criem uma carreira e um ambiente compatíveis com a diversidade.

Reconhecer um problema é o primeiro passo para se achar uma solução. Eis a questão!

 

Roberto Costa Ferreira, 08/03/2024 – Dia Internacional da Mulher.

PROFESSOR – PSICANALISTA – PESQUISADOR

UNIFESP  –  Universidade  Federal  de  São Paulo / SP.

HILASA SPInstituto  de  História,  Letras e Artes.