Tal relevante data proporciona
lembrar e reforçar a identidade do povo indígena não só brasileiro, quanto americano,
na história e cultura atual. Objetivando preservar as tradições e identidade
dos indígenas, o Dia do índio foi
definido proporcionando não deixar as novas e futuras gerações anularem, em
razão do esquecimento, as verdadeiras raízes que compõem o povo brasileiro. E
por aqui tal data – 19 de Abril – foi
oficializada através do Decreto-Lei nº 5.540, de 2 de Junho de 1943, mediante
assinatura do então presidente Getúlio Vargas.
No cenário americano tal data
objetivou comemorar a cultura indígena em homenagem ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano havido em 19 de Abril de
1940, oportunidade que tal evento reuniu lideres indígenas das diferentes
regiões do continente americano, marcando a proposta de zelar e preservar seus
direitos.
Num cenário restrito de
convivência, porem amplo e infinito de seu pensar, minha neta Isabela, devidamente paramentada em pintura, bem a
caráter da data, debruçou-se sobre sua arte que executara com toda a dedicação
e entendimento. Executou sua obra “por
sobre a outra”, ou seja: O autor da obra de arte é aquele que produz a
obra. Ele é a causa motora e final do objeto que produz.
Relembrando, Duchamp com o “ready made”
instaura o primeiro momento de instabilidade na hegemonia do autor: Um
ready-made é algo "já feito",
de pouca originalidade, ou previamente fabricado. O artista não cria, no
sentido tradicional, mas elege entre os objetos do universo industrial o (em menor medida) natural. Duchamp falou em inúmeras ocasiões
sobre esses trabalhos indicando aspectos como o da “desumanização da obra de arte”, ou a ideia da "inartisticidade", coisas às quais
não podia aplicar-se "nenhum dos
termos aceites no mundo da arte".
Com Duchamp, poderíamos dizer que surge o conceito de “apropriação”. Neste caso apropriação de
objetos e conceitos. Na apropriação não existe causa material. O autor não
produz a obra no sentido literal do termo. Eleva sim o objeto do quotidiano
para um estatuto superior: o de Arte.
Outro rombo na serenidade da
autoria é concretizada por Lázló Moholy-Nagy.
Com este nascia o “conceito de autoria
compartilhada ou colaborativa”. O autor (aquele que detém o poder de concretização da obra, aquele que possui em
si a causa motora) existe num plano diferente do da obra, o autor existe
num espaço / tempo diferente da obra. Aqui a autoria é associada àquele que
detém o poder da Ideia.
Com similar conceito, Sol Lewitt, nos anos 70, desenvolveu o “conceito de licença artística”, na
qual deixava instruções específicas ao comprador da obra sobre o que podia ou
não fazer com ela: na mesma estavam indicadas instruções específicas como
deveria ser determinado desenho pintado numa parede. No fundo, Sol Lewitt fornecia as instruções para
outros poderem executar a obra. Mas além deste conjunto de instruções, indicava
igualmente em que moldes é que podia utilizá-las.
Assim, quero crer que perfumada
espiritualmente por tais inspirações nasceu a obra de Isabela servindo-se, num reflexo de espelho, de Joan Miró, obra que conhecera em sua Cartilha
Escolar, que ao arrepio da simplicidade do artista e de seu caráter catalão, pleno
de ordem, respeito, equilíbrio, tenacidade, traços que marcam um pintor de vida
discreta, mas de força interior extraordinária, e de lá exteriorizou sua
inspiração. Estando eu a seu lado, privilegiado pelo esplendor da iniciativa e do
ato criativo, momento que a pequena artista, inconscientemente, utilizando-se do
conceito de autoria compartilhada ou colaborativa, como antes referi,
redimensionou a obra de Miró.
As obras, a primeira recriando um
mundo onírico pessoal no qual fluem imagens distorcidas da realidade, cheias de
formas orgânicas e construções geométricas – O Ouro do Firmamento – em acrílico sobre tela, medindo 205 x 173,5 cm,
posta em 1967 na Fundação Joan Miró,
Barcelona, Espanha, enquanto minha neta, na sua recriação, no Dia do Índio,
externou sua criação que denominei - O Firmamento Dourado – muito inspiradamente.
Reconheço que Isabela, como possível futura pintora, encontrou
um ambiente para cultivar a sensibilidade como fonte de experiência artística.
E algo em comum a ambos é perceptível: espírito, vibração, tensão, são
conceitos presentes com frequência no vocabulário de Miró e que demostraram seu
constante esforço para alcançar a essência da pintura. É o que observo na atual
construção e na pintora que precede à sua arte!
Roberto Costa Ferreira,
19de Abril de 2017.
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