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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Dia do Índio – Isabela e Miró diante d’O Ouro do Firmamento.




Tal relevante data proporciona lembrar e reforçar a identidade do povo indígena não só brasileiro, quanto americano, na história e cultura atual. Objetivando preservar as tradições e identidade dos indígenas, o Dia do índio foi definido proporcionando não deixar as novas e futuras gerações anularem, em razão do esquecimento, as verdadeiras raízes que compõem o povo brasileiro. E por aqui tal data – 19 de Abril – foi oficializada através do Decreto-Lei nº 5.540, de 2 de Junho de 1943, mediante assinatura do então presidente Getúlio Vargas.

No cenário americano tal data objetivou comemorar a cultura indígena em homenagem ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano havido em 19 de Abril de 1940, oportunidade que tal evento reuniu lideres indígenas das diferentes regiões do continente americano, marcando a proposta de zelar e preservar seus direitos.

Num cenário restrito de convivência, porem amplo e infinito de seu pensar, minha neta Isabela, devidamente paramentada em pintura, bem a caráter da data, debruçou-se sobre sua arte que executara com toda a dedicação e entendimento. Executou sua obra “por sobre a outra”, ou seja: O autor da obra de arte é aquele que produz a obra. Ele é a causa motora e final do objeto que produz.

Relembrando, Duchamp com o “ready made” instaura o primeiro momento de instabilidade na hegemonia do autor: Um ready-made é algo "já feito", de pouca originalidade, ou previamente fabricado. O artista não cria, no sentido tradicional, mas elege entre os objetos do universo industrial o (em menor medida) natural. Duchamp falou em inúmeras ocasiões sobre esses trabalhos indicando aspectos como o da “desumanização da obra de arte”, ou a ideia da "inartisticidade", coisas às quais não podia aplicar-se "nenhum dos termos aceites no mundo da arte".

Com Duchamp, poderíamos dizer que surge o conceito de “apropriação”. Neste caso apropriação de objetos e conceitos. Na apropriação não existe causa material. O autor não produz a obra no sentido literal do termo. Eleva sim o objeto do quotidiano para um estatuto superior: o de Arte.

Outro rombo na serenidade da autoria é concretizada por Lázló Moholy-Nagy. Com este nascia o “conceito de autoria compartilhada ou colaborativa”. O autor (aquele que detém o poder de concretização da obra, aquele que possui em si a causa motora) existe num plano diferente do da obra, o autor existe num espaço / tempo diferente da obra. Aqui a autoria é associada àquele que detém o poder da Ideia.

Com similar conceito, Sol Lewitt, nos anos 70, desenvolveu o “conceito de licença artística”, na qual deixava instruções específicas ao comprador da obra sobre o que podia ou não fazer com ela: na mesma estavam indicadas instruções específicas como deveria ser determinado desenho pintado numa parede. No fundo, Sol Lewitt fornecia as instruções para outros poderem executar a obra. Mas além deste conjunto de instruções, indicava igualmente em que moldes é que podia utilizá-las.

Assim, quero crer que perfumada espiritualmente por tais inspirações nasceu a obra de Isabela servindo-se, num reflexo de espelho, de Joan Miró, obra que conhecera em sua Cartilha Escolar, que ao arrepio da simplicidade do artista e de seu caráter catalão, pleno de ordem, respeito, equilíbrio, tenacidade, traços que marcam um pintor de vida discreta, mas de força interior extraordinária, e de lá exteriorizou sua inspiração. Estando eu a seu lado, privilegiado pelo esplendor da iniciativa e do ato criativo, momento que a pequena artista, inconscientemente, utilizando-se do conceito de autoria compartilhada ou colaborativa, como antes referi, redimensionou a obra de Miró.

As obras, a primeira recriando um mundo onírico pessoal no qual fluem imagens distorcidas da realidade, cheias de formas orgânicas e construções geométricas – O Ouro do Firmamento – em acrílico sobre tela, medindo 205 x 173,5 cm, posta em 1967 na Fundação Joan Miró, Barcelona, Espanha, enquanto minha neta, na sua recriação, no Dia do Índio, externou sua criação que denominei  - O Firmamento Dourado – muito inspiradamente.

Reconheço que Isabela, como possível futura pintora, encontrou um ambiente para cultivar a sensibilidade como fonte de experiência artística. E algo em comum a ambos é perceptível: espírito, vibração, tensão, são conceitos presentes com frequência no vocabulário de Miró e que demostraram seu constante esforço para alcançar a essência da pintura. É o que observo na atual construção e na pintora que precede à sua arte!


Roberto Costa Ferreira, 19de Abril de 2017.



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