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domingo, 17 de junho de 2018

A ESTIMA e O PESAR

Dona Geralda - A Bisa - em sua residencia, recebendo convidados.

Meu bem se foi! Mesmo que distante, sentirei sua voz... E muitos sentirão tal emanação, pois que, não sendo só meu bem, ela difundiu, divulgou e propagou sua razão, a própria essência, dando origem a tantos belos, superiormente belos como fora. Quão brilhante conclusão!

Emana do latim, concretamente do verbo “pensare”, o que se pode traduzir como “estimar”. E "Estima" é bem isso:

'Ter em estimação, sentir prazer por tal presença e curtir em vida física a certeza de ter em conta igualmente no plano da espiritualização'...

É tratar com estimação o privilégio pela oportunidade de ter vivido "daquele sorriso" e ter ouvido daquela "fala mineira franca"... E "guardar carinhosamente um gesto de carinho" que não se restringe apenas ao contato físico, como a um beijo, um abraço, mas também a ações mais abrangentes e simbólicas tal qual "um mimo"... E quanto!

Sentirei saudades. E tal "carinhosa saudade" como demonstração delicada da verdade, esta que sinto é só minha e na justa dimensão, não divido com ninguém. Mas muito e também a sente todos, que "igualmente a tem na exata proporção do querer de seu bem"... De sorte que "todos juntos", agora depois da partida, se somam nesta egrégora de "bem querer, amor e afeição”, cuja delicada demonstração não se divide por nada.

Multiplica-se, elevando-se às alturas, na mais bela e harmônica sinfonia! E tal troca de carinho que esta intenção promove, "tão poderosa arma para a estabilidade da paz interior", é essencial para o equilíbrio emocional daqueles que "por aqui permanecem em saudade", em solidariedade, sendo certo que nos encontraremos "mais adiante, nunca tarde"!

o pesar é um conceito usado sob diversas maneiras. Pode-se inclusive tratar do padecimento que se experimenta face a um doloroso acontecimento.

Menos doloroso é o pesar quando confrontado com a exuberância da vida que se eleva, levanta”... E nessa justa simetria, posição, a querida VOZINHA viajou!

E fiquei eu “na angústia expectante, com meu escondido pranto, no meu isolado ponto, mas solfejando um canto para este vivido encanto”!


Roberto Costa Ferreira, 16Jun2018.


A Bisa - Dna. Geralda - durante comemoração de seu aniversário. 





domingo, 3 de junho de 2018

BANDA de PÍFAROS de CARUARU - COCO de REPENTE





Em Santo Amaro... Quase ao fim da 14ª Edição da Virada Cultural – 20 de Maio último, o Nordeste arretou-se nessa... E eu compareci pra te ver Andrea amiga... Mas também a você Sebastião Biano! Ela, a grande promotora desta rara oportunidade! Ele, 99 anos de idade, tocador da flauta simples, sem chaves e com sete orifícios, último remanescente da formação original, ora presente, da Banda de Pífaros de Caruaru.

Estive num território de conversa rude e afável, cuja impressão reside na velocidade com que costumam se expressar, contrastando com o divertido, cuja atividade lúdica reforça uma ação criadora e, acima de tudo educativa de revitalização cultural, partindo de pessoas que transmitem a cultura do pífaro, ou pífano, pela tradição oral, cujo repertório dispensa partitura, até sendo tocado de ouvido, com a propriedade que lhes é peculiar e de tradição.

Eles, da banda, se apresentaram compostos por dois pífaros no carro-chefe, acompanhados por uma significativa zabumba, triangulo, um afinado tarol, timbalão de chão, tudo nas mãos e vozes de sete seus componentes. E tocaram no palco do Teatro Leopoldo Fróes - Santo Amaro/SP, apresentando-se categoricamente como o grupo de músicos instrumentistas mais tradicional do Brasil, expertos diante de significativo público.

Público que, nesta jornada, transitou pelas dependências do Centro Cultural de Santo Amaro em número superior a mil e trezentas pessoas... Magnífico! E magnífico foi o “coco de repente”, próprio da família dos batuques, a arte genuinamente nordestina, nos improvisos com pandeiros e vozes de Peneira e Pena Branca, cuja dupla de "cantadores" que, ao som enérgico e "batucante" dos pandeiros, montaram versos bastante métricos, rápidos e improvisados. 

E ambos, num tempo sincopado de um compasso binário, num pulso rítmico fundado e muito forte, contagiantes, um tentou a imagem do outro com versos afiados, "atentadores", de respostas rápidas e ao mesmo tempo bem bolados, momento que ambos saíram triunfantes! Nem eu, na plateia, escapei do cantador Peneira que “disse dos meus cabelos brancos e do meu dinheiro no banco”!

Roberto Costa Ferreira, 20 de Maio de 2018,
Biblioteca Prestes Maia - Teatro Paulo Eiró - Santo Amaro.