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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

UM REI! - Um menino procurou saber o que era "Um Rei" ...


UM REI!

Um dia, um menino acordou e, curioso, procurou saber o que era “Um Rei” ...
"Um rei é o segundo maior patamar nobiliárquico soberano, a seguir ao de imperador (título de nobreza supremo e maior status social que se pode ter) cuja dignidade normalmente abrangia territórios de maior extensão, chamados de império, por englobar mais que um reino". No entanto, soube que, para se tornar rei ou rainha, é preciso ter nascido na família real!

Aquele menino chamado Roberto tinha o apelido de Zunga, quarto e último filho do relojoeiro Robertino Braga com a costureira Laura Moreira Braga, sua considerável fomentadora ... Ele que, aos quase seis anos de idade, 5.3 anos, notem bem, no dia da Festa de São Pedro, padroeiro da cidade de Cachoeiro do Itapemirim, Roberto brincando sobre a linha férrea sofreu fratura em sua perna direita, tendo sido socorrido por um agente de viagens da Cruzeiro do Sul. Resultou levado por esse ao Rio, tendo então de amputar a perna até pouco abaixo do joelho. Não esmoreceu! Ainda criança aprendeu a tocar violão e piano, a princípio com sua mãe, sua significativa incentivadora e, posteriormente, no Conservatório Musical de Cachoeiro de Itapemirim.

Apesar de seus diversos  sonhos de infância, “de ser arquiteto”, “caminhoneiro”, “aviador ou médico”, dedicou-se à música. Restou em suas memórias a consciência do que era ser rei. O seu ídolo na época era Bob Nelson, um artista brasileiro que se vestia de cowboy e cantava música country em português, falecido aos 90 anos de idade no Rio de Janeiro, em Agosto de 2009. Sempre incentivado pela mãe, cantou Roberto pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro – atual 96.3 FM – Cachoeiro de Itapemirim/ES, aos nove anos. Apresentou-se cantando o bolero "Amor y más amor". Como prêmio pelo primeiro lugar, recebeu balas... Um punhado de balas!

"Eu estava muito nervoso, mas muito contente de cantar no rádio. Ganhei um punhado de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam. Foi um dia lindo!"

Partindo de então, aquele menino levantou-se, do infausto acontecimento marcado pela desventura, pela infelicidade ... E na fé, na perseverança, no canto, encorajado pela mãe, ainda não "Lady Laura", ela que era católica e o pai espírita, decidiram esperar Roberto crescer para que ele assentisse qual religião iria seguir. Resultou batizado apenas aos 23 anos de idade.
Cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro, aos nove anos... E não mais parou!

Mesmo usando muletas vez que, durante a infância portava-as e, somente aos 15 anos, quando morou no Rio de Janeiro, ganhou a primeira prótese. Resultaram 10 anos de um período de infância e juventude "usando muletas"! Jamais comentou sobre o assunto publicamente e, nunca admitiu ser afetado por tal acontecimento.

Significativas perdas lhe ocorreram, não lhe bastando a primeira antes referida, como em Lady Laura, largamente homenageada através da composição do megassucesso destinada à mãe Laura Braga, antes composta e gravada em 1976, em momento de solidão num hotel de Nova York, marcando significativa transição na carreira de Roberto, falecida em 2010Abr17, aos 96 anos de idade. Ela que acompanhou a trajetória artística do filho até a sua morte. E nos itálicos adiante, para quem conhece e observa o conteúdo destacado da letra percebe a profundidade e importância da ausência, um sentimento angustiado do embate entre forças interiores em síntese de letra que busca pormenores e, por meio deles, aprender outros laços, às vezes  extremos, mais propriamente literário/musicado, seguindo um movimento de fora para dentro, num aprofundamento que converge em canto. Um encanto!

“Tenho às vezes vontade de ser novamente um menino/Te pedir que me abrace e me leve de volta pra casa/Que me conte uma história bonita e me faça dormir”!

Julien Green, escritor norte-americano de expressão francesa, já falecido e que escreveu livros de orientação católica disse, certa ocasião: “O pensamento voa. As palavras vão a pé. Esse é todo o drama do escritor.” Por tal, quem sabe,  talvez Roberto Carlos tenha recorrido ao canto!

Ânimos é o aspecto masculino interior de toda mulher. Talvez, explique a significação e representa o somatório das experiências da mulher, daquela mulher costureira com o seu marido relojoeiro, e respectivo ambiente familiar, transformada antes, numa imagem virtual ... É a imagem masculina desejada, refletida no filho, quase "perseguida do impossível", como sendo um ideal de homem que, subliminarmente, lhe influencia.  Como a Anima corresponde ao Eros materno, o Animus corresponde ao Logos paterno. O animus é uma espécie de sedimento de todas as experiências ancestrais da mulher em relação ao homem, e mais ainda, é um ser criativo e engendrado, não na forma da criação masculina, mas, como no caso em referência, de promoção e incentivo!

Outras perdas não lhe afetaram, ainda que ditas, como: Em 2018, portando 77 anos de vida de Roberto,  seu filho Dudu Braga disse:

"Respeito a posição dele, até porque ele sempre foi ligado a causas sociais, humanitárias. Desde a época da Jovem Guarda, ele reserva um número de shows para serem beneficentes." Ainda complementou: "Antigamente, não existia o respeito pelo 'deficiente' como existe hoje. Meu pai foi chamado de ‘aleijado’ ...  Os tempos estão mudando de maneira positiva, e no tempo certo ele falará sobre isso ... ”, completou.

Este seu filho, Roberto Carlos Segundo, à época de tal fala contava 50 anos de idade, tendo falecido em 2021Set08 com 5.3 anos de idade. Outra significativa perda ... Não apenas parte de um membro, um filho por inteiro!

Ainda em 2018, quase ao mesmo tempo da fala de DUDU Braga acima referida, durante uma coletiva para a imprensa, seu pai, Roberto Carlos, então tido como "Rei" disse:

"Quando começaram a me chamar de rei, eu ficava sem graça e sem saber como reagir. Tinha medo que pensassem que ‘eu estava me achando’ se respondesse e ao mesmo tempo tinha medo que me achassem metido se não respondesse!". 

Às minha conclusões, tenho que  tendo os heróis vencido as dificuldades interpostas, experimentando o gosto da glória e da honra e, ao final, por conta da ignorância dos próprios limites e das necessárias relações que se lhe impõe, até contemplado a morte e a “ressurreição”, ensina-nos a lição de que “ninguém pode ser mestre antes de ser mestre de si” e o que fazem é equilibrar-se numa tênue linha que separa o triunfo da tragédia. Fato ainda que justifica a mitologia que argumenta que “as coroas de Rei foram entregues pelos anjos aos homens, o que justifica o uso desses ornamentos apenas por homens da nobreza”. Sob tal ótica, e por tudo que viveu, sofreu e produziu, Roberto é um Rei!

Roberto Costa Ferreira, 29 de Dezembro de 2021.

PROFESSOR – PSICANALISTA e  PESQUISADOR

MEMBRO do CEP - UNIFESP –  UNIVERSIDADE

FEDERAL de SÃO PAULO/SP


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