UM REI!
Um dia, um menino acordou e,
curioso, procurou saber o que era “Um Rei” ...
"Um rei é o segundo maior patamar nobiliárquico soberano, a
seguir ao de imperador (título de nobreza supremo e maior status social que se
pode ter) cuja dignidade normalmente abrangia territórios de maior extensão,
chamados de império, por englobar mais que um reino". No entanto,
soube que, para se tornar rei ou rainha, é preciso ter nascido na família real!
Aquele menino chamado Roberto
tinha o apelido de Zunga, quarto e último filho do relojoeiro Robertino
Braga com a costureira Laura Moreira Braga, sua considerável fomentadora
... Ele que, aos quase seis anos de idade, 5.3 anos, notem bem, no dia
da Festa de São Pedro, padroeiro da cidade de Cachoeiro do Itapemirim,
Roberto brincando sobre a linha férrea sofreu fratura em sua perna direita,
tendo sido socorrido por um agente de viagens da Cruzeiro do Sul. Resultou
levado por esse ao Rio, tendo então de amputar a perna até pouco abaixo do
joelho. Não esmoreceu! Ainda criança aprendeu a tocar violão e piano,
a princípio com sua mãe, sua significativa incentivadora e, posteriormente, no
Conservatório Musical de Cachoeiro de Itapemirim.
Apesar de seus diversos
sonhos de infância, “de ser arquiteto”, “caminhoneiro”, “aviador ou médico”,
dedicou-se à música. Restou em suas memórias a consciência do que era ser rei.
O seu ídolo na época era Bob Nelson, um artista brasileiro que se
vestia de cowboy e cantava música country em português,
falecido aos 90 anos de idade no Rio de Janeiro, em Agosto de 2009. Sempre
incentivado pela mãe, cantou Roberto pela primeira vez em um programa infantil
na Rádio Cachoeiro – atual 96.3 FM – Cachoeiro de Itapemirim/ES, aos
nove anos. Apresentou-se cantando o bolero "Amor y más amor".
Como prêmio pelo primeiro lugar, recebeu balas... Um punhado de balas!
"Eu
estava muito nervoso, mas muito contente de cantar no rádio. Ganhei um punhado
de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam.
Foi um dia lindo!"
Partindo de então, aquele menino
levantou-se, do infausto acontecimento marcado pela desventura, pela
infelicidade ... E na fé, na perseverança, no canto, encorajado
pela mãe, ainda não "Lady Laura", ela que era católica e o pai
espírita, decidiram esperar Roberto crescer para que ele assentisse qual
religião iria seguir. Resultou batizado apenas aos 23 anos de idade.
Cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro, aos nove
anos... E não mais parou!
Mesmo usando muletas vez que,
durante a infância portava-as e, somente aos 15 anos, quando morou no Rio de
Janeiro, ganhou a primeira prótese. Resultaram 10 anos de um período de
infância e juventude "usando muletas"! Jamais comentou sobre o
assunto publicamente e, nunca admitiu ser afetado por tal acontecimento.
Significativas perdas lhe
ocorreram, não lhe bastando a primeira antes referida, como em Lady Laura,
largamente homenageada através da composição do megassucesso destinada à mãe
Laura Braga, antes composta e gravada em 1976, em momento de solidão num hotel
de Nova York, marcando significativa transição na carreira de Roberto, falecida
em 2010Abr17, aos 96 anos de idade. Ela que acompanhou a trajetória artística
do filho até a sua morte. E nos itálicos adiante, para quem conhece e observa o
conteúdo destacado da letra percebe a profundidade e importância da ausência, um
sentimento angustiado do embate entre forças interiores em síntese de letra que
busca pormenores e, por meio deles, aprender outros laços, às vezes extremos, mais propriamente
literário/musicado, seguindo um movimento de fora para dentro, num aprofundamento
que converge em canto. Um encanto!
“Tenho às
vezes vontade de ser novamente um menino/Te pedir que me abrace e me leve de
volta pra casa/Que me conte uma história bonita e me faça dormir”!
Julien Green, escritor
norte-americano de expressão francesa, já falecido e que escreveu livros de
orientação católica disse, certa ocasião: “O pensamento voa. As palavras vão
a pé. Esse é todo o drama do escritor.” Por tal, quem sabe, talvez Roberto Carlos tenha recorrido ao
canto!
Ânimos é o aspecto
masculino interior de toda mulher. Talvez, explique a significação e representa
o somatório das experiências da mulher, daquela mulher costureira com o seu
marido relojoeiro, e respectivo ambiente familiar, transformada antes, numa
imagem virtual ... É a imagem masculina desejada, refletida no filho, quase
"perseguida do impossível", como sendo um ideal de homem que,
subliminarmente, lhe influencia. Como a Anima corresponde ao Eros
materno, o Animus corresponde ao Logos paterno. O animus é uma
espécie de sedimento de todas as experiências ancestrais da mulher em relação
ao homem, e mais ainda, é um ser criativo e engendrado, não na forma da criação
masculina, mas, como no caso em referência, de promoção e incentivo!
Outras perdas não lhe afetaram,
ainda que ditas, como: Em 2018, portando 77 anos de vida de Roberto, seu
filho Dudu Braga disse:
"Respeito
a posição dele, até porque ele sempre foi ligado a causas sociais,
humanitárias. Desde a época da Jovem Guarda, ele reserva um número de shows
para serem beneficentes." Ainda complementou: "Antigamente, não
existia o respeito pelo 'deficiente' como existe hoje. Meu pai foi chamado de ‘aleijado’
... Os tempos estão mudando de maneira positiva, e no tempo certo ele
falará sobre isso ... ”, completou.
Este seu filho, Roberto Carlos
Segundo, à época de tal fala contava 50 anos de idade, tendo
falecido em 2021Set08 com 5.3 anos de idade. Outra significativa
perda ... Não apenas parte de um membro, um filho por inteiro!
Ainda em 2018, quase ao mesmo
tempo da fala de DUDU Braga acima referida, durante uma coletiva para a
imprensa, seu pai, Roberto Carlos, então tido como "Rei" disse:
"Quando
começaram a me chamar de rei, eu ficava sem graça e sem saber como reagir.
Tinha medo que pensassem que ‘eu estava me achando’ se respondesse e ao mesmo
tempo tinha medo que me achassem metido se não respondesse!".
Às minha conclusões, tenho
que tendo os heróis vencido as
dificuldades interpostas, experimentando o gosto da glória e da honra e, ao
final, por conta da ignorância dos próprios limites e das necessárias relações
que se lhe impõe, até contemplado a morte e a “ressurreição”, ensina-nos a
lição de que “ninguém pode ser mestre antes de ser mestre de si” e o que
fazem é equilibrar-se numa tênue linha que separa o triunfo da tragédia. Fato ainda
que justifica a mitologia que argumenta que “as coroas de Rei foram
entregues pelos anjos aos homens, o que justifica o uso desses ornamentos
apenas por homens da nobreza”. Sob tal ótica, e por tudo que viveu, sofreu
e produziu, Roberto é um Rei!
Roberto Costa Ferreira, 29 de
Dezembro de 2021.
PROFESSOR – PSICANALISTA e PESQUISADOR
MEMBRO do CEP - UNIFESP – UNIVERSIDADE
FEDERAL de SÃO PAULO/SP
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