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quarta-feira, 8 de abril de 2015

“Pós Sexta-Feira 13” e as Redes Sociais - Manifestações


 
O dia 15 de Março passado tornou-se histórico e o povo brasileiro deu um recado. Certamente se provará ainda mais significativo e memorável data o evento previsto para 12 de Abril de 2015. É um fato! A população está adiante dos políticos e tal manifestação, a maior havida em São Paulo, repercutiu além dos horizontes imaginados por aqueles que se põem sentados, convenientemente no poder, como visto em Londres, Barcelona, Sidney na Austrália, Zurique, Lisboa e Estados Unidos. Muito provavelmenteos cubanos e venezuelanos devem estar boquiabertos, muito próximos do inacreditável!

O efeito das “manifestações espontâneas moleculares” ocorridas – mais de “um milhão de pessoas” -, significando colocar na região da Avenida Paulista, um pouco mais do que toda a população de Campinas, duas vezes a população de São Bernardo do Campo/SP, é do tipo Woodstock, tendo esta a responsabilidade de mobilização da internet interativa, contendo profundas interações sociais.
E quando falo de manifestações moleculares acima, refiro-me à revolução que, por outro lado:

·         Destitui dicotomias (homem/mulher; bem/mal; esquerda/direita; norte/sul),

·         em proveito da afirmação de um presente agitado por indefinidas nebulosas expressivas,

·         ao mesmo tempo econômicas, culturais, étnicas, simbólicas,

·         compondo metamórficos processos semióticos híbridos, marcados por “devires mulher, criança, animal, mineral, negro, molecular,

·         os quais rizomaticamente, destituem unidades discursivas e,

·         transformam eixos molares em transversalidades subjetivas, ambientais e sociais,

·         que se complexificam, inventando outras possibilidades institucionais, mundos, cosmos.
Devir – (do latim devenire, chegar) é um conceito filosófico que significa as “mudanças pelas quais passam as coisas”.  O conceito de "se tornar" nasceu no leste da Grécia antiga pelo filósofo Heráclito de Éfeso que no século VI a.C disse que:

nada neste mundo é permanente, exceto a mudança e a transformação” – é a base para a revolucão molecular.
Como afirmou anteriormente Augusto Franco, escritor, palestrante, consultor, criador e um dos “netweavers” da Escola-de-Redes – uma rede de pessoas que investigam e estudam sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de “netweaving”:

“O Brasil nunca mais vai ser o mesmo após essas manifestações. A mudança que está acontecendo é mais profunda, molecular, de comportamento, é uma mudança na intimidade da sociedade”.
O fator desencadeador gera um movimento de dinâmicas sociais cujos impactos ainda são desconhecidos, porém sabemos um pouco mais acerca. É um fenômeno de interação, um enxameamento de pessoas que se dá quando não há convocação centralizada. Isso explica tais multidões de milhões nas ruas de centenas de cidades do País. Isso só foi possível, porque a sociedade ficou muito interativa. Isso não é o produto só das mídias sociais, como Facebook, Twitter, que são ferramentas das redes. Elas são meios interativos em tempo real, elas aceleram fenômenos. Na verdade, rede social existe desde a composição da sociedade humana. 

Antes os meios interativos eram muito lentos, era a conversação, a carta, depois telefone, o rádio, e nem eram massivos! As pessoas não tinham, em grande parte, esses meios. Eu vivi em grande parte tais períodos... Então, esse fenômeno não podia acontecer como hoje ocorre e ocorreu. Temos que,

·         Começou em Março de 2004, na Espanha.

·         Recentemente tivemos o caso da Turquia (em 2011, quando houve a queda do presidente egípcio Hosni Mubarak, após 18 dias de protestos populares, que ele estava há 30 anos no poder).
Para entender isso, é necessário compreender que “tudo que interage pode enxamear e provocar esse crescimento exponencial”.

E tal ocorre rapidamente, como se verificou neste domingo, momento que às 15:40h segundo a Policia Militar “um milhão de pessoas” em manifestação histórica para o estado aglomeraram-se ao longo do cinturão da Avenida Paulista e, ao longo do dia. À noite, por volta de  19:00, logo imediatamente em cima do pronunciamento da cúpula ministerial do atual governo, com a palavra o Ministro da Justiça Eduardo Cardoso e, ao mesmo tempo “intenso panelaço seguido de apitos e vaias”, onde muitos estavam sequer atento ao conteúdo da fala. Não houve convocação para tal, tendo sito um ato espontâneo da população. Isto denota identificar que:

·         As pessoas estão ligadas e as respostas são rápidas,

·         que estão “colocando pra fora” e,

·         não estão aceitando o que “estão mandando dizer”,

·         não têm, a população, pauta de reivindicações.

Querem, nas suas demonstrações, principalmente nas ruas “a Dilma fora” por:

·         RENUNCIA, aliás, insistir é burrice;

·         IMPEACHMENT ou Impugnação de Mandato é um termo que denomina o processo de cassação de mandato do chefe do poder executivo pelo congresso nacional, pelas assembleias estaduais ou pelas câmaras municipais. A denúncia válida pode ser:

·         Por crime comum,

·         Crime de responsabilidade,

·         Abuso de poder,

·         Desrespeito às normas constitucionais ou,

·         Violação de direitos pátrios previstos na constituição.
Assim, podem ser cassados, de acordo com o artigo 85 da Constituição Federal que define quais são os crimes de responsabilidade aplicáveis a eles. O procedimento de impeachment é regulado pela lei 1.079/50, que, em seu artigo 2º, estabelece atualmente o período máximo de cassação em cinco anos. [

·         CASSAÇÂO, ou por outro processo legal, alternativamente e,

·         RECALL POLÍTICO, que é usualmente iniciado por eleitores e pode ser baseada em "acusações políticas", por exemplo, má administração. Apesar de ambos servirem para pôr fim ao mandato de um representante político, os dois institutos diferem quanto à motivação e à iniciativa (titularidade) do ato de cassação do mandato. Impeachment é iniciado por um órgão constitucional (geralmente legislativo) visto antes e, no recall, tal exigência não existe.

O procedimento de revogação do mandato pode ocorrer sem nenhuma motivação específica, ou seja: 
  • O Recall é um instrumento puramente político
  • No Recall, é o povo que toma diretamente a decisão de cassar ou não o mandato.
Senhores, esta manifestação havida não é setorial, sindical ou partidária, é uma manifestação político social!

Os desdobramentos são imprevisíveis. As pessoas não mais a reconhecem, a Sra. Dilma, como presidente, decorridos poucos dias da releição. Sua popularidade despencou como jamais visto na história brasileira e considerem que os militares não estão com o menor interesse em interromper o processo!

Ainda, o que serve hoje é a ratificação do processo eleitoral último momento que, majoritariamente, houve a manifestação popular, à contrário sensu ou, de interpretação inversa do resultado da mesma, dubiamente verdadeiro.

A influência das redes é significativa, inovadora e, vividamente contagiante! A sociedade está conectada, andando com suas próprias pernas! E isto é muito verdadeiro, não centralizada, “acontece na rede”, nota-se uma alegria cívica! Como é que não fizemos isso antes... Este é um exercício fantástico de democracia!

Ninguém paga ônibus oferecendo bonezinho, pagando de R$35,00 a R$50,00 por participação, colocando um carro de som com um barbudo falando, captando maliciosamente angolanos que mal sabem se expressar sob o pretexto de remuneração que não ocorre para transportar balões com mensagens partidárias. Aliás, até a esse nivel a manipulação ocorre!

Esta manifestação ocorrida no domingo – 15 de Março - é difusa, cuja resposta deverá acontecer, não bastando uma canetada!

O PT promoveu oapartheid – nós e eles” a partir do governo Lula. Isto promoveu um ódio. Nesta última manifestação do partido, 6ª Feira 13, anterior à massacrante presença pública nas ruas, não se observou uma bandeira do Brasil. Defendem o partido majoritariamente odiado.

Este histórico Movimento de 15 de Março mostra o civismo do povo brasileiro que não é apático e, certamente, será o início de uma série de outras ao longo do ano, definindo-se até aos governadores estaduais. O eleitor brasileiro, majoritáriamente:

·         esta mais consciente,

·         mais participativo,

·         com autonomia dos votos verdadeiros,

·         diferente das apurações, demonstrando-se presencialmente.

Pena que faltem lideres novos e, se existem novos sãonovos com pensamentos velhos”. Faltam novas liderançasao perfume das massas”!

É certo que consequencias econômicas advirão. Se o parlamento não aprovar o “Programa do Levi” este pode pedir o chapéu! O ministro funciona como uma delgada película que separa a economia de um catastrófico rebaixamento pelas agências de rating. Dilma não pode demiti-lo, pois, sem a promessa do ajuste fiscal que ele personifica, o país seria tragado no vórtice da fuga de capitais.

Também é certo que o partido perdeu prestígio até em razão das promessas não cumpridas! O trio peemedebista, atualmente, é proprietário da maioria no Congresso que hoje se forma pela oscilação do PMDB entre o governo e a oposição. Dilma não pode confrontá-los, pois eles empunham o sabre do impeachment formal e o fazem girar, sadicamente, em torno do pescoço da presidente.

Esperou-se o manifesto de algum teor do governo após o ato. Talvez elogiar as manifestações pacíficas, não partindo para o discurso: “Nós iremos...” Incidiram no mesmo erro e receberam o “panelaço”.

Estão ultrapassados, servindo-se do maior problema das dicotomias como “esquerda  e direita”, “nós e eles”, por exemplo, dando-se no horizonte da inscrição delas numa ordem molar: metafísica ou arquivo morto que engessa o conjunto da humanidade fazendo o passado se sobrepor ao presente e ao futuro. Teimam nisso e não se enxergam como “figuras horríveis e desagradáveis em pronunciamento”. Chega... Basta! Este é o clamor público.

Se se considerar com 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852), a conhecida frase de Marx, em diálogo com Hegel, de que: ”... a história começa como tragédia e se repete como farsa”, sob o ponto de vista molar poderia ser assim expressa:

a história é ao mesmo tempo uma tragédia e uma farsa, quando o passado se torna uma unidade discursiva que se impõe ao presente, enfeixando-o e tornando-o igualmente uma ordem molar
  • uma unidade discursiva
  • ao mesmo tempo patriarcal
  • soberana, mortal”.      
Perderam na disputa! E o perigo “anda à solta”... Agora, como medida paliativa o governo apresenta “um pacote anticorrupção” como medida de novidade, sendo que tal já está circulando por cerca de 10 anos pelo Congresso, sem qualquer interesse político em considerá-lo possível! Eu não me lembro de quantos “fantasmas como este” saem do armário, como se fossem medidas recém-criadas e de autoria partidária própria, por determinação presidencial.

Por quê? Tantos erros... E dentre tantos, os dois principais erros da experiência petista no poder tem relação com sua convergência semiótica com a “revolução molecular” sinteticamente abordada, do imperialismo americano pós-significante. São eles:

·         Submissão à indústria cultural e, portanto, aos ditames banalizadores da cultura de massa, via oligopólio das mídias corporativas; e

·         Rendição ao valor de troca, marcado pela financeirização do cotidiano,

·         Fornecendo acesso ao crédito ao grosso da população,

·         Contribuindo assim, para endividá-la e,

·         Perder a referência aos valores de uso da e na vida.

É, pois, essa “revolução molecular” de base pós-significante, ancorada no valor de troca, que tem sido a marca do PT no poder, inclusive tendo em vista a relação que o Partido de Trabalhadores tem mantido com a base aliada, o que explica:

·         boa parte das acusações de corrupção a que se submete, pois uma “revolução molecular” estabelecida pelo valor de troca subjuga o que vem enfrentando,

·         pois uma “revolução molecular” estabelecida pelo valor de troca subjuga o valor de uso e contribui para produzir uma cultura política marcada pelo auto interesse,

·         pelo desejo de ascensão e,

·         pela rendição ao consumo de luxo – a troca no cimo dela, sem chão, sem pão.

Portanto, mesmo que se articulem todas as forças em face de manifestações, tais são uma repetição de fracasso – CUT, UNE, MST – mostrando a incapacidade de mobilização de massa. Resumem-se a pequenos grupos, ainda patrocinados! Não estão em condições de impor suas idéias, na base de manifestações, e sequer tais repercutem no Congresso. Tentam respirar! Na política, refém do PMDB, suportarão o vice-presidente  que assumirá a articulação política do governo enquanto na Fazenda, sobrevivem refém do Levi.

Assim, Dilma já perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores. Sem o rito da denúncia, processo e julgamento, a presidente “já sofre um impeachment tácito”. Assombrado pela figura errante da presidente destituída, o Planalto está entregue ao triangulo de beneficiários do impeachment silente, que agem em direções diferentes, sob motivações distintas. Por tal, a importância das manifestações públicas. Quem sabe ordene tais motivações!

 

Roberto Costa Ferreira




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