FAKE NEWS na atualidade, já era fato corriqueiro nos tempos de
Nelson Rodrigues... Assim, volto no tempo para o tributo: "O Beijo no Asfalto"!
Antes, lembro que Fake News, eleita a palavra do ano pelo
dicionário inglês da Editora Collins, mesmo não sendo uma palavra e, sim,
"uma expressão", resultou usual no governo Donald Trump, que não inventou a mentira, sequer Fake News, mas fez delas sua linguagem e prática política para justificar e caracterizar
veículos de mídia que "atacavam-no", como candidato na época. Sua
Secretária de Imprensa, confrontada com fatos irrefutáveis, manteve a sua
versão oficial como “verdade alternativa”.
Caracteriza-se, ainda, notícia
falsa publicada por veículos de comunicação como se fosse informação real. Esse
tipo de texto, em sua maior parte, é feito e divulgado com o objetivo de
legitimar um ponto de vista ou prejudicar uma pessoa ou grupo (usualmente
figuras públicas).
Há, é claro, outras opções
de tradução e considerações, tais como “notícia mentirosa”, “mentira (publicada
na imprensa e/ou nas redes sociais)”, “invenção”,
“calúnia”, "falácia", esta muito utilizada recentemente por determinados políticos
tupiniquins, e, ainda sob o ponto de vista filosófico, no aristotelismo, qualquer enunciado ou raciocínio falso que,
entretanto, simula a veracidade; sofisma.
“O adulto não existe. O homem é um menino
perene.”
Com base neste enunciado conclui-se
que "da marotagem" de Nelson Rodrigues, outros também se
locupletaram, como nas minhas memórias:
·
Em 1835 o jornal The New York
Sun publicou notícias falsas usando o nome de um astrônomo real e um
colega inventado sobre a descoberta de vida na lua. O propósito das notícias
foi aumentar as vendas do jornal. No mês seguinte o jornal admitiu que os
artigos eram apenas boatos.
·
Ainda, uma contribuição valiosa para a vitória
de Eurico Gaspar Dutra na eleição presidencial de 1945 veio
de Hugo Borghi, que distribuiu milhares de panfletos acusando o
candidato Eduardo Gomes de ter dito:
“Não preciso dos votos dos marmiteiros”.
O que Eduardo pronunciou na
verdade, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 19 de novembro (menos
de um mês antes do pleito, ocorrido em 2 de dezembro), foi:
"Não necessito dos votos dessa malta de
desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da República".
Entre esses e muitos outros
exemplos é possível perceber que esse é um recurso que foi amplamente usado na
história, muitas vezes com o propósito de beneficiar alguém ou algum movimento
social.
Ora, não seria diferente com
Nelson Rodrigues que, tendo produzido sua peça em apenas 21 dias, O Beijo no
Asfalto que foi inspirada na história de um repórter do jornal "O
Globo", de nome Pereira Rego que, tendo sido atropelado por um “arrasta-sandália”, espécie de ônibus
antigo e, ainda no chão de asfalto, o velho jornalista pressentindo a
proximidade da morte e, nubladamente,
visualizando uma linda jovem que tentava socorrê-lo... Então lhe pediu um beijo.
Neste relato temos a interpretação ou representação do real, (verdade subjetiva ou crença), porém, tal
realidade está sujeita ao campo das
escolhas, isto é, determinamos parte do que consideramos ser um fato, ato ou uma possibilidade, algo
adquirido a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido.
Dessa forma, a construção das
coisas e as nossas relações dependem de um intrincado contexto. Logo, em "O
Beijo no Asfalto", peça escrita pelo teatrólogo, jornalista, romancista,
folhetinista e cronista de costumes e de futebol brasileiro, Nelson Rodrigues e
encenada pela primeira vez nos palcos em 1961, mereceu a sua verdade
(subjetiva), podendo esta estar muito próxima da realidade, porém, dependendo
das situações, contextos e premissas de seu pensar a história, cria dúvidas
reflexivas... Então, Nelson Rodrigues mudou "um pouquinho" da história.
Na trama do dramaturgo, o
atropelado da Praça da Bandeira, agonizante, pede um beijo a Arandir, figura
jovem e de coração puro e atormentado. Amado Ribeiro, repórter do “Jornal
Última Hora" (retratado por Nelson no folhetim Asfalto Selvagem),
presencia o beijo na boca entre os dois homens e, junto com o delegado corrupto
Cunha, transforma a história do último desejo em manchete principal e sensacionalista,
então dita Fake News, tudo para vender mais jornal!
O sensacionalismo estampado no
noticiário muda completamente a história, retratando Arandir como um criminoso
que empurrou o amante e depois o beijou. A vida do jovem se transforma num
inferno e nem mesmo sua mulher acredita que ele é inocente.
Por trás de uma história
aparentemente simples, O Beijo no Asfalto discute questões
fundamentais à condição humana, apresentando-se como uma obra aberta a vários
significados, falando essencialmente, sobre a dúvida, oportunidade que, partindo
de um beijo espontâneo dado por um homem de coração puro, no atropelado, promove
um libelo contra a falsidade, ressalta o juízo baseado na aparência e as
convicções erradas de parte da sociedade.
Autêntico cenário onde todos se
infeccionam, inclusive o próprio Arandir, que passa a duvidar de si mesmo! Nelson
Rodrigues não é só atual hoje, vai ser sempre atual porque fala muito de alma,
da alma humana, não fala de um tempo, ele fala de um ser, de um ser humano que
vai ter sempre suas frustrações, seus desejos, as traições, conspirações, por
mais que a gente mude a nossa maneira de ser e que a sociedade mude as suas
inquietações.
Roberto Costa Ferreira,
27 de Outubro de 2018.
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