Em tempos de discussão de
projetos e o crescimento da abordagem do tema “Escola sem Partido”, movimento
iniciado por cerca de quatorze anos – 2004 – no Rio de Janeiro, inicialmente intitulado
Programa Escola sem Partido, cuja principal referência bibliográfica remonta ao
livro “Professor não é Educador” -
Autor, filósofo Armindo Moreira - cuja tese central do livro é a dissociação
entre o ato de EDUCAR e o de INSTRUIR, envolvendo ainda aspectos de doutrinação
que, nestas minhas considerações, partindo da compreensão do que é educar, aqui
lembrando a Gandhi – Mohandas Karamchand
Gandhi, conhecido Mahatma Gandhi - que dizia:
“A verdadeira educação consiste em por a
descoberto o melhor de uma pessoa”.
Ainda, em Michelangelo – di Lodovico Buonarroti – pintor, escultor, poeta,
etc. quando indagado como tinha conseguido a proeza de execução de magnífico
trabalho, tendo inicialmente visto um bloco de pedra e dito: “Ai
dentro há um anjo, vou colocá-lo para fora”! Então, complementando a resposta: “O
anjo já estava aí, apenas tirei os excessos que estavam sobrando”. Desbastar a Pedra Bruta é a tônica! E “educar”
é isto, paciente e peritamente rarear os maus hábitos, promovendo o relevo das
virtudes, até que o “anjo” ecloda.
Uma constante tarefa!
Quanto a “instruir”, aquele ato de
transmitir conhecimentos, a iniciação, a categoria que mais dúvida sucinta para
o desprevenido. No “ensino”, os conteúdos são “saberes teoréticos” e “temáticos”,
ao passo que na “instrução” são reunidos “saberes-fazer” (o “savoir-faire”
dos franceses ou o “know-how” dos ingleses) e
destrezas corporais.
Pensemos então numa imagem para a
ação de instruir: “Você tem
dificuldades? Eu ajudo”! Pense num
pintor a ensinar como se pintam telas a óleo. Quais os conteúdos desta iniciação
- instrução? Muito
claro que será um saber fazer, uma destreza que o instrutor tenta passar ao
aprendiz. Desse modo a significativa diferença entre ambos, reside no “tipo de conteúdo transmitido” tendo o “saber teorético versus o saber fazer”.
Compreende-se assim, a oposição entre a TEORIA e a PRÁTICA.
A CULTURA compreende os valores e
significados que orientam e dão personalidade ao grupo social. Já CAPITAL
CULTURAL é uma metáfora criada por Bourdieu
para explicar como a cultura em uma sociedade dividida em classes se transforma
numa espécie de moeda que as classes dominantes utilizam para acentuar as
diferenças. A Cultura se transforma em instrumento de dominação. Em vista de
tal a classe dominante impõe às classes dominadas sua própria cultura dando-lhe
um valor incontestável, fazendo com que seja a “cultura boa”.
Bourdieu percebendo esta dinâmica
e a batizou de “arbitrário cultural dominante”. Tal ARBITRÁRIO CULTURAL
DOMINANTE nada mais é do que “uma cultura
que se impõe sobre outra”. Uma das mais importantes contribuições desse
pensador para a Educação foi transpor toda essa ideia para dentro da Escola.
A Escola, dissimuladamente,
contribui para que essa “cultura
dominante” continue sendo transmitida como tal, e dessa forma acaba
favorecendo alguns alunos em detrimento de outros. Os desfavorecidos são
justamente aqueles alunos que não tiveram contato, através da família, com o
Capital Cultural, seja na forma de livro, coisas concretas, seja por não terem
tido acesso a lugares e informações facilmente acessíveis para aqueles
estudantes mais privilegiados.
Eles, os menos favorecidos, não
conseguem dominar os mesmos códigos culturais que a escola valoriza. O aprendizado
para eles é muito mais difícil. Bourdieu entende que, assim, a escola
marginaliza os alunos das classes populares enquanto privilegia aqueles alunos
mais dotados de Capital Cultural. Por isso, o discurso de igualdade que a
escola prega não funciona na realidade!
Compreende-se, portanto, que os
filhos de pais diplomados, porque tinham esta familiaridade com o universo de
um saber que a escola cobrava, logo, tem mais chances. De outro modo, não é nem pela incapacidade que os menos
favorecidos aparentemente reúne, não é que não tem cultura, mas eles não tem a “cultura
que a escola demanda”.
A Escola não cobra dos alunos
apenas o que foi ensinado. Ela cobra outras habilidades, que são fáceis para um
e estranhas para outros. Desse modo, ela acaba enfatizando as diferenças. Os
alunos que cresceram em culturas distintas, ou que não possuem um bom Capital da Cultura Dominante se enganam
e “pensam que a dificuldade é falta de
inteligência”!
Um exemplo dessa “dominação cultural nas escolas” é a
escolha das matérias mais importantes e, não sendo difícil perceber que nos currículos,
disciplinas tais como Física, Matemática ou História são mais valorizadas do
que Desenho ou Educação Física, etc.. Assim a dominação de uma classe sobre
outras se mantem.
Pierre Félix Bourdieu, lá atrás, já
acreditava haver uma saída para toda essa “violência
simbólica” exercida “inconscientemente”
pela Escola. Bastava “tornar explicito todo esse comportamento/condicionamento
velado da instituição”. E não
sem razão, vez que, esse sociólogo francês (1930 – 2002) dedicou parte
significativa de seus mais de quarenta anos de vida acadêmica para os estudos
no campo da educação, tendo exercido influência em gerações de intelectuais de
diversas áreas, mas principalmente aos que se dedicaram a estudos sobre
educação.
Inicialmente,
tais estudos estiveram principalmente, concentrados em:
· Demonstrar os mecanismos escolares de
reprodução cultural e social e,
· As “estratégias do sistema escolar” para
diferentes agentes e grupos sociais.
É de se
considerar, merecendo destaque que, o sociólogo “sempre manteve uma concepção pessimista em relação à escola e ao
sistema educacional”. Entendia como uma “grande ilusão” afirmar que o sistema escolar é “um facilitador da mobilidade social”,
quando na verdade, na escola se demonstra como o ambiente onde todas as
diferenças de classes não são atenuadas e assim, coopera com a
conservação social.
Nas décadas de
60 e 70 do século passado, Bourdieu se envolveu em uma série de pesquisas de
caráter qualitativo e quantitativo sobre a vida cultural, sobre as práticas de
lazer e de consumo de cultura entre os europeus, sobretudo, entre os franceses.
Dessas experiências de investigação, publica em 1976, uma grande pesquisa
intitulada Anatomia do gosto. Mais
tarde, essa mesma pesquisa passa a ser objeto do livro intitulado: A distinção – crítica social do
julgamento. Em tais trabalhos, ele e uma equipe de pesquisadores tentam
explicar e discutir a variação do gosto entre os segmentos sociais, noções que,
posteriormente, fundamentam “afirmações sobre a legitimidade das
desigualdades sociais e meritocracia”.
Às minhas conclusões,
a discussão elencada no parágrafo inicial desta abordagem reduz-se, à média compreensão,
conveniente à ordem ideológica, ausentando-se desta a necessária atenção para a
gravidade do quadro decadente da Educação no cenário municipal e estadual. Muitas
são as interrogações e incertezas quanto ao futuro... Contudo, espero que, partindo
desta modesta contribuição, haja não só mais curiosidades em aprofundar a
temática, bem como, maior atenção para a mesma.
Roberto Costa Ferreira, 17NOV2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A desinformação é o ato de silenciar ou manipular a verdade, habitualmente nos meios de comunicação de massa. O meu dever de publicar o que penso e escrevo e incontornável, absolutamente imprescindível!
Então, você pode, durante tomar um café, aprofundar-se numa agradável e suficiente leitura e até, ao mesmo tempo, ouvir uma boa música. Encontrar tudo isso através deste meu blog - #GRAUᴼ - é algo muito suficiente... E necessário!
As relações entre Educação, cultura e conhecimento são sempre polissêmicas e provocativas. Neste acesso, trago para sua leitura diversas experiências, perspectivas, reflexões... Encontros que se fazem em diferentes ãmbitos: literatura, música, dança, teatro, artes visuais, educação física, mídia, etc.
E considere: é entre a manifestação da literatura, as artes visuais, a música, a dança e o teatro que a educação e o conhecimento acontecem fora do curricular, do convencional!