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segunda-feira, 24 de junho de 2019

A POTENCIA do SER – ATRAVÉS das TELAS de ISABELA – SEGUNDO ESPINOSA

Tela 1 - Isabela
Tela 2 - Isabela





















Quando vi o resultado da produção, em duas telas postas em tela de minha neta Isabela, pensei na significação do Ser e sua consequente "Potencia de Ser". Espinoza, Baruch de Espinoza, nascido Benedito Espinoza, foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII, dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de Descartes e Leibniz que sobre isso discorreu. Mas, nesta oportunidade não pretendi ir tão longe...

Pense em algo, pense em qualquer coisa, ela é possível de existir? Digo, ela tem contradições internas que impedem sua existência? Não? Então ela existe? A resposta é: não necessariamente, isso apenas faz com que esta coisa tenha a possibilidade de existir… conhecer a essência de uma coisa, saber que ela é possível, não a torna necessária, mas, estas duas produções para mim são imprescindíveis, possíveis e reais!

Mas o que faz algo efetivamente existir? Ou ela é produzida por si própria ou por outra coisa. A potência de uma coisa existir está em si mesma ou vem de fora. No nosso caso, somos versões reduzidas desta potência de existir, somos causados por forças exteriores que nos engendraram e, ao mesmo tempo, temos em nós parte destas forças que nos permitem existir. O finito reflete o infinito, ou seja, somos parte de um ser absolutamente infinito que existe em si mesmo e se produz necessariamente, chamá-lo-emos Deus!

Deus é o mundo, Deus é a Natureza. São dois nomes para uma única e mesma coisa. É preciso conhecer a natureza, o máximo que pudermos, se quisermos conhecer Deus. Ele não é exterior, ele é a causa interior de tudo que existe. A causa da essência e da existência de tudo, a causa imanente, não transitiva, ou seja, agindo em nós. Deus não gera o mundo por livre vontade, ele é o mundo por pura necessidade de sua essência.

“Deus não produz porque quer, mas porque é”. É o conjunto de leis e a própria matéria que nos sustenta!”

A realidade, como um todo, é um devir de produção e criação. Esta existência é absoluta em todos os aspectos: infinita e eterna. O Deus de Espinoza é a potência infinita de expressão e atualização, não há nada fora dele, nada o limita, nada está para além de sua existência. Deus é causa sui, ou seja, ele é definido por sua potência de ser, existir e produzir. Isso significa que a unidade de Deus se manifesta através da multiplicidade: a expressão de Deus se dá na diferença!

Deus é a causa de todas as coisas que existem. Ele é a causa imanente, não transitória; ele não cria o mundo e vai embora, muito pelo contrário, o mundo é ele mesmo, ele se manifesta através do mundo. Cada essência, eu, você, todas as coisas, cada modo afirma-se em Deus, em maior ou menor grau. E ele se exprime absolutamente e infinitamente através dos atributos, dos quais só conhecemos dois: pensamento e extensão. Nós, seres limitados por natureza, exprimimos parte da potência infinita de Deus; esta potência em ato é chamada de Modo, segundo o referido Espinoza.

Assim, esse modo, como essa potência se manifesta? Através do poder de existir, de afetar e ser afetado. Como parte da potência infinita de Deus, eu tenho em mim forças que se esforçam para manterem-se na existência. É o conatus, uma força ativa que se esforça (tal como Deus), para produzir. Conatus é um conceito importantíssimo, além de muito elegante, porque com ele Espinoza pode estruturar, juntamente com sua noção de Deus, toda sua Ética. Este termo vem do latim e significa “esforço”, influenciando Schopenhauer e posteriormente o conceito de Vontade de Potência em Nietzsche, além de ter grande importância para Bergson e Deleuze, significativos filósofos.

Se a essência de Deus é a de ser a causa de si, então ele necessariamente existe e ao mesmo tempo é causa de tudo que existe. Nós não temos essa sorte, não somos causas de nós mesmos, somos parte de uma cadeia infinita de acontecimentos que nos trouxeram até aqui. E mais, esta potência que existe em ato, ativamente, tem características singulares de afetar e ser afetado. Existir é a tal capacidade, de afetar e ser afetado, é agir no mundo. Então, essência é um grau de potência, “conatus”, que se esforça para permanecer existindo; toda existência é, pela garantia das causas naturais, necessária, já que é expressão de um grau certo de potência divina. Essência é potência!

Somos corpos, limitados em extensão e duração, modos, como diria Espinoza, mas os modos estão em Deus. Isso significa que afirmar a minha potência é afirmar o que há de divino em mim. Tomar parte da potência é expressar o que há de Deus em você, ser causa ativa na criação do mundo. Toda expressão da potência é boa, sem exceção, por quê? Porque “a potência é a manifestação do Infinito no seio do finito”, ela é a força de composição do universo que gera bons encontros. A questão ética é então efetuar sua potência, da mesma maneira que Deus, ou, a natureza, o faz.

Fazemos isso através do corpo e todos os seus atributos. O corpo é um conjunto de relações que estão em uma determinada harmonia. Estas forças se conjugam de forma que mantém a sua proporção de velocidades e repousos entre as partes. O conatus - esforço - é a capacidade deste corpo manter a sua forma. O que pode um corpo? Ele pode o quanto ele tem potência. Um moralista define o corpo pelo que ele deve; mas, os imoralistas convictos definem o corpo pelo que ele pode. Não sou um escravo aqui com um lugar garantido no céu, isso é pura ilusão para aguentar o sofrimento. Eu sou o que eu posso, eu sou minha potência, que é a minha essência em ato. Eu sou tão perfeito quanto eu posso ser.

Mas então eu posso anular esta obra? Posso, eu provavelmente tenho potência para isso. Então eu posso esquecer e deixar de evidenciá-la? Posso também, se eu tiver potência para tanto. Mas isso será um bom encontro? (Esta é a diferença entre poder e potência). A questão ética do “efetuar a sua potência” gera muitas confusões! Efetuar sua potência é necessariamente agir para gerar bons encontros, ou seja, compor com o mundo. Expô-las aos quatro ventos!

Pense em um quarteto de cordas: eu tenho a capacidade de tocar violino, mas se estiver nervoso, eu posso tocar fora do tom e arruinar a música. Eu posso também tocar isolado de outros instrumentos, e neste caso nada aconteceria. Ou este ato de vibrar as cordas do meu violino pode se compor com a harmonia da música que está sendo tocada pelos meus companheiros. Neste caso, as cordas ressoam entre si, isto é o aumento de potência. Há "ressonância". Eu atuo no mundo. E esta ressonância é a capacidade de identificar um movimento, bastando o encontro de duas vibrações semelhantes, ainda que ricas em diferenças, para haver ressonância!

Eu ponho a música que eu amo, aqui, todo meu corpo, e minha alma – isto vai por si – compõe suas relações com as relações sonoras. É isto que significa a música que eu amo, a obra que eu admiro: “minha potência é aumentada”. E quando a música ressoa em mim, eu começo a bater o pé no ritmo, isso me alegra, a música por sua vez também se alegra, contagia (ela efetuou um bom encontro). Quando eu coloco um fone de ouvido e danço no ritmo, a música se alegra tanto quanto eu. Tudo isso se dá para além da consciência. Eu chego em casa e digo para um familiar, “tal música é muito boa“, ainda estou efetuando bons encontros. Quando faço uma poesia para a mulher amada, quero que a as relações de velocidade e lentidão presentes na poesia afetem de modo a aumentar a potência da mulher que amo. E assim por diante…

Então o agir é agir pela potência, agir é sempre ir em direção da liberdade. Potência e Ética estão muito próximas, assim como Moral e Poder. A afirmação do ser é uma abertura para o infinito, ele multiplica as relações, aumenta nossa capacidade de afetar e ser afetado. Nós somos uma composição de partes em relação. Estas partes mantêm uma proporção e uma singularidade próprias. É como se tivéssemos uma vibração própria, "um timbre", podemos pensar no corpo como uma caixa de ressonância; certas forças me atravessam e ressoam em mim, quando isso acontece, geram um bom encontro, minha potência de agir aumenta; no entanto, outras forças me atravessam e diminuem minha potência, então minha potência diminui.

Já o Timbre, onde alguns filósofos preferem identificar como essência, esse nome mais sonoro é singular, é distintivo, particular, não deixando de ser composição, ressonância e multiplicidade. E tal e tão variados são os timbres quanto são os corpos, as telas produzidas por Isabela, em relação. O corpo é nosso instrumento ético. A potência do meu ser se expressa através destas relações de proporção entre velocidade e repouso, preparo e pintura. Tal como a música, tal como a dança, a potência do ser é sua capacidade de gerar bons encontros e suportar maus encontros sem perder suas proporções. Somos corpos que vibram ao som das cerdas dos pinceis, da música divina... Que grande festa é uma orquestra. Quão maravilhosas tais obras!

Disse Zaratustra certa vez:

“para vos revelar inteiramente meu coração, meus amigos: caso houvesse deuses, como suportaria eu não ser deus? Portanto, não há deuses”. (Nietzsche, Assim Falou Zaratustra).

Temos assim, uma resposta lindíssima que podemos reinterpretar aos olhos de Espinoza: “Vós sois deuses“!

Roberto Costa Ferreira, 20 de Junho de 2019.

"Quero fazer da vida o ofício de esculpir a mim mesmo, traçando um mapa de afetos possíveis"!

Isabela, a minha neta.


sábado, 15 de junho de 2019

Clóvis Rossi - Enviado especial: 25 anos ao redor do mundo – O Livro - Um amigo




Enviado especial: 25 anos ao redor do mundo – O Livro
Por Clóvis Rossi
Este livro apresenta uma coletânea de artigos escritos por Clóvis Rossi nos anos em que foi correspondente internacional. São exemplos de um jornalismo feito com sensibilidade, ética e verdade. Recomendável para jornalistas e estudantes de Jornalismo. Mas é também indicado para quem queira conhecer acontecimentos de ontem que ainda são fatos do mundo conturbado de hoje.

Apresenta um conjunto das reportagens deste meu amigo, muito reservado e "das antigas", realizado em missões ao Chile, Argentina, Portugal, Espanha, Cuba, América Central, África, Uruguai e Israel, além de matérias sobre economia, emprego, personalidades e esporte.

Ele, somando no dia de hoje 76 anos, seis além do meu tempo, se foi depois de uma quinta-feira 13, tendo nascido nesta minha cidade de São Paulo e no dia de seu aniversário -  25 de Janeiro - e que, coincidentemente,  reunimos um mesmo tipo de padrão para o uso da barba/bigode. Porém, um micro infarto na sexta (7) deste mês o acometeu, tendo suportado uma angioplastia, recebeu um stent e, na terça (11) de outra angioplastia, com mais quatro stents. Um raçudo!

Um "puro-sangue", cavaleiro da arte real, que tinha a garra de um foca e sabedoria de um veterano, um gigante que apreciaria o trocadilho pueril com seu 1,98 m de altura. Muito digno também cavaleiro da Ordem do Rio Branco, conferida pelo governo brasileiro por decreto. E também cavaleiro da Ordem do Mérito, atribuída pelo governo francês, durante a presidência de François Hollande. 

Descendente de italianos, Rossi nasceu e habitamos determinado tempo de nossas vidas, coincidentemente, no bairro do Bixiga e seu pai Olavo era vendedor de máquinas, se é que me lembro, enquanto por parte de mãe, as nossas tinham o mesmo nome: OLGA! Já o conhecia por lá e, em outra curva do destino nos encontramos no Jornal Folha de São Paulo. Ocasionalmente nos falávamos, algumas na madrugada. De sua esposa Catarina Clotilde, hoje viúva, em breve encontro na oportunidade que coordenava Políticas Públicas para Mulheres na Secretaria de Direitos Humanos na Prefeitura de São Paulo, isto em 2017, quando indagada, disse-me que, "apesar de sempre disposto e muito alegre, estava um pouco mais triste com as coisas de nossa terra"!

É muito estranho ouvir dizer, de um homem alegre e tão grande, que “alguma coisa pequena entupiu o seu grande coração, como a um pequeno infarto”! E que, ao longo de décadas como repórter e, até o fim da vida, sempre que tinha oportunidade lembrava às novas gerações de jornalistas que "de nada adiantam os esforços de tornar uma informação mais atraente, ou vendável"... E aqui as ("") aspas se prestam adequadamente: "... se alguém não tiver ido atrás de uma fonte, feito uma entrevista, escrito um texto". Repito: "escrito um texto"!

Um amigo reservado, distante, porém presente, discreto e "igualmente noturno", que não tinha vaidades, não tinha luxos, sequer frescura, avesso a esnobismo era generoso, um humilde, como muitos entendem, por disposição fundamental da condição espiritual... Um confidente acerca do hoje, apoiado nas experiências e práticas do ontem, de olhos vivos para o amanhã. Um "formador, pedagogista, resiliente", e que, de modo contrário de colegas cuja arrogância engorda com os aplausos recebidos, Clóvis nunca se impressionou com a reverência alheia. Era solícito e interessado por todos, dos velhos amigos, dos novos e recém chegados, dos repórteres iniciantes, a quem dedicava elogios, aos diretores de Redação, aos quais nunca se furtou até de contestar. 

Ter entre seus muitos prêmios um "Maria Moors Cabot", um dos mais prestigiosos do nosso meio, atribuído pela Universidade Columbia (EUA), era para ele motivo de orgulho, nunca de vaidade, jamais uma citação para aumentar a cotação de suas opiniões — as quais colocava sempre no mesmo patamar daquelas de seu interlocutor. Meu reservado e muito sereno ídolo da atualidade, momento que tenho certeza que sua inteligência e sua doçura nos farão muita falta. Sua coluna de Inter na Folha fará falta. Fico com um tempo de memória onde eu, ainda jovem, ao tempo que apreciava "o jogo da cestinha", muito admirei e o entendia um ótimo jogador de basquete. Pena que era Palmeiras! Mas, um jornalista que assim pensava:

“O dever fundamental do jornalista não é para com seu empregador, mas para com a sociedade. É para ela, e não para o patrão, que o jornalista escreve.”

E ainda, sobre os “poderosos”:

Primeiro: em geral, são prepotentes. Dois: são desinformados sobre a realidade que os cerca. Três: são desinteressados das pessoas que realmente dependem deles, que geralmente são as camadas mais humildes da população. Quatro: são adeptos da bajulação mais rasteira” (em referência a uma entrevista à TV Cultura).

Partiu em paz, viajou além dos braços, deitado no peito de seu amor!

Até breve, meu inesquecível e silencioso amigo.


Roberto Costa Ferreira, 14 de Junho de 2019.







domingo, 2 de junho de 2019

Uma receita: Como Sexagenar em Mundos Múltiplos


Seleto grupo de 14 ilustres santamarenses. À direita Isabel Conceição, a esquerda Rosana Manfredini, 
ao centro, em pé, Guilherme Bonfim e sentada, a aniversariante Andréa. 


Nestas fotos, os presentes a caráter, sempre solícitos para uma foto bem posada com a aniversariante. Tantos sorriem. Outros... É como o sorriso do Visconde de Sabugosaaquele sorriso geológico – que, olhando para o barranco, componente da terra-chão, encontrava e compreendia toda a dimensão constituidora da Terra que habitava e nela, enxergava o possível leite - petróleo – possível de se extrair.

O Visconde levava consigo a turma, que como os mais distantes, a principio pouco entendiam, achando até que “pairava no ar uma ironia quase cáustica”. Só após a devida elucidação, residia a compreensão!

Assim, no simples olhar para a foto pode até residir a “ironia da situação...” Uma simples curiosidade: a que se deve? Andréa sexagenou! Isso mesmo... Donde se conclui que a comemoração de tal periodicidade anual, o aniversário de Andrea, proporcionou que atingisse e vive a idade entre sessenta e sessenta e nove anos. Interessantíssimo!

De acordo com a tradição chinesa, o ciclo sexagenário começa no ano do nascimento e termina durante a vivência dos 60 anos, e aí se "inicia tudo de novo". Ou seja: Cogita-se a "Renovação". Portanto, é o ato ou efeito de renovar; renovamento. A reforma, o melhoramento, o restabelecimento melhorado de muitas coisas.  O crescimento... É o rebentar ou desabrochar de novo... É o Rejuvenescer!

Momento que ela, Andréa, se sabe na posse de um poder de iniciar tudo de novo, quando bem lhe parecer; não há passado que a comprometa, e assim como... Estou querendo entender o que as pessoas fazem com o que fazem delas! Ou seja: Por onde anda o árbitro... E as relações com o seu entorno!

Muitos físicos acham que o nosso mundo é tão onírico quanto o subatômico. Para eles, quando algum pesquisador tenta olhar as infinitas partículas-fantasma da nuvem quântica e só consegue ver uma, não é que as outras evaporaram: é que o cientista se dividiu em cópias infinitas, espalhadas por universos paralelos.

Exatamente. É o que diz “a teoria dos Mundos Múltiplos”, moldada pelo físico norte-americano Hugh Everett em 1957. Ela diz que, se a partícula solitária que surgiu daquela nuvem de clones pode aparecer aqui, lá ou acolá, você também pode. Uma versão de você em um universo vai encontrar a partícula aqui. Outra, em um segundo universo, encontra ela lá. Uma terceira, acolá. Sem limite nenhum.

A ideia é que “a gente vive numa infinidade de universos”, cada um com a sua realidade particular. E o conjunto desses cosmos pode ser chamado de “Multiverso”: um lugar onde tudo o que pode acontecer vai acontecer. Tudo mesmo! E tal se sucedeu, entre fatias de bolo de fubá e mandioca, cafezinhos e cocadinhas, também outros que tais, com todos os presentes, como nestas oportunidades fotografadas...

E quão bom que esta nuvem benfazeja pairou nestes ares e em razão desta oportunidade. Então usufruímos, como se possível fosse um clone, tendo o privilégio de conviver com o original, o melhor de você, Antonia de Sousa Andréa!

Roberto Costa Ferreira, 29 de Maio de 2019.