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sábado, 15 de junho de 2019

Clóvis Rossi - Enviado especial: 25 anos ao redor do mundo – O Livro - Um amigo




Enviado especial: 25 anos ao redor do mundo – O Livro
Por Clóvis Rossi
Este livro apresenta uma coletânea de artigos escritos por Clóvis Rossi nos anos em que foi correspondente internacional. São exemplos de um jornalismo feito com sensibilidade, ética e verdade. Recomendável para jornalistas e estudantes de Jornalismo. Mas é também indicado para quem queira conhecer acontecimentos de ontem que ainda são fatos do mundo conturbado de hoje.

Apresenta um conjunto das reportagens deste meu amigo, muito reservado e "das antigas", realizado em missões ao Chile, Argentina, Portugal, Espanha, Cuba, América Central, África, Uruguai e Israel, além de matérias sobre economia, emprego, personalidades e esporte.

Ele, somando no dia de hoje 76 anos, seis além do meu tempo, se foi depois de uma quinta-feira 13, tendo nascido nesta minha cidade de São Paulo e no dia de seu aniversário -  25 de Janeiro - e que, coincidentemente,  reunimos um mesmo tipo de padrão para o uso da barba/bigode. Porém, um micro infarto na sexta (7) deste mês o acometeu, tendo suportado uma angioplastia, recebeu um stent e, na terça (11) de outra angioplastia, com mais quatro stents. Um raçudo!

Um "puro-sangue", cavaleiro da arte real, que tinha a garra de um foca e sabedoria de um veterano, um gigante que apreciaria o trocadilho pueril com seu 1,98 m de altura. Muito digno também cavaleiro da Ordem do Rio Branco, conferida pelo governo brasileiro por decreto. E também cavaleiro da Ordem do Mérito, atribuída pelo governo francês, durante a presidência de François Hollande. 

Descendente de italianos, Rossi nasceu e habitamos determinado tempo de nossas vidas, coincidentemente, no bairro do Bixiga e seu pai Olavo era vendedor de máquinas, se é que me lembro, enquanto por parte de mãe, as nossas tinham o mesmo nome: OLGA! Já o conhecia por lá e, em outra curva do destino nos encontramos no Jornal Folha de São Paulo. Ocasionalmente nos falávamos, algumas na madrugada. De sua esposa Catarina Clotilde, hoje viúva, em breve encontro na oportunidade que coordenava Políticas Públicas para Mulheres na Secretaria de Direitos Humanos na Prefeitura de São Paulo, isto em 2017, quando indagada, disse-me que, "apesar de sempre disposto e muito alegre, estava um pouco mais triste com as coisas de nossa terra"!

É muito estranho ouvir dizer, de um homem alegre e tão grande, que “alguma coisa pequena entupiu o seu grande coração, como a um pequeno infarto”! E que, ao longo de décadas como repórter e, até o fim da vida, sempre que tinha oportunidade lembrava às novas gerações de jornalistas que "de nada adiantam os esforços de tornar uma informação mais atraente, ou vendável"... E aqui as ("") aspas se prestam adequadamente: "... se alguém não tiver ido atrás de uma fonte, feito uma entrevista, escrito um texto". Repito: "escrito um texto"!

Um amigo reservado, distante, porém presente, discreto e "igualmente noturno", que não tinha vaidades, não tinha luxos, sequer frescura, avesso a esnobismo era generoso, um humilde, como muitos entendem, por disposição fundamental da condição espiritual... Um confidente acerca do hoje, apoiado nas experiências e práticas do ontem, de olhos vivos para o amanhã. Um "formador, pedagogista, resiliente", e que, de modo contrário de colegas cuja arrogância engorda com os aplausos recebidos, Clóvis nunca se impressionou com a reverência alheia. Era solícito e interessado por todos, dos velhos amigos, dos novos e recém chegados, dos repórteres iniciantes, a quem dedicava elogios, aos diretores de Redação, aos quais nunca se furtou até de contestar. 

Ter entre seus muitos prêmios um "Maria Moors Cabot", um dos mais prestigiosos do nosso meio, atribuído pela Universidade Columbia (EUA), era para ele motivo de orgulho, nunca de vaidade, jamais uma citação para aumentar a cotação de suas opiniões — as quais colocava sempre no mesmo patamar daquelas de seu interlocutor. Meu reservado e muito sereno ídolo da atualidade, momento que tenho certeza que sua inteligência e sua doçura nos farão muita falta. Sua coluna de Inter na Folha fará falta. Fico com um tempo de memória onde eu, ainda jovem, ao tempo que apreciava "o jogo da cestinha", muito admirei e o entendia um ótimo jogador de basquete. Pena que era Palmeiras! Mas, um jornalista que assim pensava:

“O dever fundamental do jornalista não é para com seu empregador, mas para com a sociedade. É para ela, e não para o patrão, que o jornalista escreve.”

E ainda, sobre os “poderosos”:

Primeiro: em geral, são prepotentes. Dois: são desinformados sobre a realidade que os cerca. Três: são desinteressados das pessoas que realmente dependem deles, que geralmente são as camadas mais humildes da população. Quatro: são adeptos da bajulação mais rasteira” (em referência a uma entrevista à TV Cultura).

Partiu em paz, viajou além dos braços, deitado no peito de seu amor!

Até breve, meu inesquecível e silencioso amigo.


Roberto Costa Ferreira, 14 de Junho de 2019.







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