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terça-feira, 18 de janeiro de 2022

SAMBA da VELA - Em tempos de aniversário de Santo Amaro - 470 anos - um Fato Pitoresco!

 

Mestre Chapinha na chamada da interpretação - Samba da Vela

Num tempo que vivi e guardo saudades onde, às segundas-feiras, depois da janta, a boa digestão ficava por conta do “samba tamanho família” proporcionado pelo samba à luz de vela no Samba da Vela. Estando lá, aquele surdo, o timbalão de som, tal tambor baixo bem trabalhado pelo surdista , o tom-tom mais grave daquela incomodada bateria seguido dos demais instrumentos realizava o chamamento para o início da boa noite!

Que noite! O surdo é o "coração do samba". Com sua batida simples e marcante, esse grande tambor tem rica história… E no Samba da Vela o samba realiza a história! Daquela invenção legitimamente brasileira criado por Alcebíades Barcelos - o Bide - com latão de manteiga, aros e pele de cabrito, e que, tendo estreado por cerca de 90 anos, lá no “Deixa Falar”, a primeira escola de samba brasileira, a mesma que pôs também tamborim, cuíca e pandeiro na folia. Uma alegria!

Agora, na Comunidade Samba da Vela, tudo isso rola … Aquela retumbante roda de samba, fundada nesta cidade de São Paulo pelos idos do ano 2000, sediada em Santo Amaro/SP e se tornado um dos movimentos culturais mais importantes do Brasil, reunindo simpatizantes, cantores, músicos e compositores os quais apresentam somente suas músicas, inéditas ou não, diretamente para o público presente.

O objetivo do maravilhoso movimento do samba brasileiro, então sediado - Casa de Cultura de Santo Amaro - onde passaram a se reunir todas as segundas-feiras a partir das 20h45m, momento em que a vela é acesa, até o instante em que a vela se apagava e uma sopa era servida para todos no final… Que caldo é esse que incrementa e faz a liga com o objetivo mais óbvio da comunidade: revelar sambas de compositores desconhecidos da grande mídia.

Mas o objetivo mais significante do Samba da Vela é “apresentar as obras diretamente ao público, revelando, transformando, refletindo e promovendo o resgate da cidadania, cultura e lazer, incluindo o cidadão no ambiente das artes de um modo geral, revitalizando sua autoestima através da música, inserindo-o na sociedade. É claro que tal momento que "o samba deixou de ser 'tan tantan tan tantan' e se tornou bum bum” e outras tantas coisas mais, tudo isso magnificamente vem revestido, orquestrado e sob o tom de vozes e presenças como o mestre Chapinha, Maurílio de Oliveira, Magnu Sousá e Paquera (já olhando tudo isso “lá de cima”), seus fundadores.

É bom que se diga e se saiba que, como em toda roda de samba que se preze, o Samba da Vela também segue um ritual, um “regulamento interno”, segundo o qual é inadmissível:

• Manejar um instrumento sem competência;

• Falar mais alto do que o som que vem da roda;

• Interromper quem está puxando o samba.

Essas regras são baseadas na amizade e na intimidade que a roda proporciona, no modo como as pessoas se relacionam. A hierarquia na roda é respeitada, não pelo sucesso ou pelo dinheiro que a pessoa tem, mas por seu conhecimento e história no samba. Ali não tem curioso!

Por oportuno, nome curioso - Samba da Vela - vem da própria organização do evento: a roda de samba que ocorre em torno de uma vela, e tal funcionando como um cronômetro das apresentações. O show se inicia quando a vela é acesa e todos cantam o samba “Acendeu a vela” e termina quando a vela se apaga… A vela e sua chama só termina para aquela noite “bem sambada”, que na liga do caldo de feijão servido ao final, acomoda a emoção e alivia a digestiva função. Quem ainda não provou, deve provar ... É tudo show … Que show!

Ao final do ato - Samba da Vela - próximo à meia-noite de segunda-feira, serve-se o Caldo de Feijão

                                                              Roberto Costa Ferreira – Samba da Vela/Santo Amaro -SP.

Professor – Psicanalista e Pesquisador

CEP UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL

SÃO PAULO – SP


 

Publicação no Facebook - 17 de Janeiro de 2022.


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