Num tempo que vivi e guardo
saudades onde, às segundas-feiras, depois da janta, a boa digestão ficava por
conta do “samba tamanho família” proporcionado pelo samba à luz de vela no
Samba da Vela. Estando lá, aquele surdo, o timbalão de som, tal tambor baixo
bem trabalhado pelo surdista , o tom-tom mais grave daquela incomodada bateria
seguido dos demais instrumentos realizava o chamamento para o início da boa
noite!
Que noite! O surdo é o
"coração do samba". Com sua batida simples e marcante, esse grande tambor
tem rica história… E no Samba da Vela o samba realiza a história!
Daquela invenção legitimamente brasileira criado por Alcebíades Barcelos - o
Bide - com latão de manteiga, aros e pele de cabrito, e que, tendo estreado
por cerca de 90 anos, lá no “Deixa Falar”, a primeira escola de samba
brasileira, a mesma que pôs também tamborim, cuíca e pandeiro na folia. Uma
alegria!
Agora, na Comunidade Samba da
Vela, tudo isso rola … Aquela retumbante roda de samba, fundada nesta
cidade de São Paulo pelos idos do ano 2000, sediada em Santo Amaro/SP e se
tornado um dos movimentos culturais mais importantes do Brasil, reunindo
simpatizantes, cantores, músicos e compositores os quais apresentam somente suas
músicas, inéditas ou não, diretamente para o público presente.
O objetivo do maravilhoso
movimento do samba brasileiro, então sediado - Casa de Cultura de Santo
Amaro - onde passaram a se reunir todas as segundas-feiras a partir das
20h45m, momento em que a vela é acesa, até o instante em que a vela se apagava
e uma sopa era servida para todos no final… Que caldo é esse que incrementa e
faz a liga com o objetivo mais óbvio da comunidade: revelar sambas de
compositores desconhecidos da grande mídia.
Mas o objetivo mais
significante do Samba da Vela é “apresentar as obras diretamente ao público,
revelando, transformando, refletindo e promovendo o resgate da cidadania,
cultura e lazer, incluindo o cidadão no ambiente das artes de um modo
geral, revitalizando sua autoestima através da música, inserindo-o na sociedade.
É claro que tal momento que "o samba deixou de ser 'tan tantan tan tantan'
e se tornou bum bum” e outras tantas coisas mais, tudo isso magnificamente vem
revestido, orquestrado e sob o tom de vozes e presenças como o mestre
Chapinha, Maurílio de Oliveira, Magnu Sousá e Paquera (já olhando tudo isso
“lá de cima”), seus fundadores.
É bom que se diga e se saiba que,
como em toda roda de samba que se preze, o Samba da Vela também segue um
ritual, um “regulamento interno”, segundo o qual é inadmissível:
• Manejar um instrumento sem
competência;
• Falar mais alto do que o som
que vem da roda;
• Interromper quem está puxando o
samba.
Essas regras são baseadas na
amizade e na intimidade que a roda proporciona, no modo como as pessoas se
relacionam. A hierarquia na roda é respeitada, não pelo sucesso ou pelo
dinheiro que a pessoa tem, mas por seu conhecimento e história no samba.
Ali não tem curioso!
Por oportuno, nome curioso - Samba
da Vela - vem da própria organização do evento: a roda de samba que ocorre
em torno de uma vela, e tal funcionando como um cronômetro das apresentações. O
show se inicia quando a vela é acesa e todos cantam o samba “Acendeu a vela” e
termina quando a vela se apaga… A vela e sua chama só termina para aquela noite
“bem sambada”, que na liga do caldo de feijão servido ao final, acomoda a
emoção e alivia a digestiva função. Quem ainda não provou, deve provar ... É tudo show … Que show!
Ao final do ato - Samba da Vela - próximo à meia-noite de segunda-feira, serve-se o Caldo de Feijão |
Roberto Costa Ferreira – Samba da Vela/Santo Amaro -SP.
Professor –
Psicanalista e Pesquisador
CEP UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL
SÃO PAULO – SP
Publicação no Facebook - 17 de Janeiro de 2022. |
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