Ideias incorporadas em destinos humanos...
No contraponto há o caráter de contradição, motor do desenvolvimento.
Contrapunctus
Segundo a origem do Inglês médio
tardio, do CONTREPOINT Frances antigo, alteração do latim medieval
CANTUS CONTRAPUNCTUS "canção marcada ou pontilhada", pois na
partitura eram feitas marcas acima ou abaixo das notas para indicar o
acompanhamento, de contra-contra+punctum, de pungere para prick.
CONTRA é a palavra latina para "contra". E ponto é do Latim punctus, "ponto, picada”,
particípio passado de pungere, “fincar,
espetar, picar”. Do Latim CONTRAPONERE, "opor-se, colocar contra", de
CONTRA mais PONERE, "pôr, colocar".
A alternância de pontos (em um argumento, etc.) em
oposição ou contraste uns com os outros; Um debate, argumento ou jogo em que os
pontos para dois lados opostos são feitos em sucessão. Na Linguística – Poesia - a Prosódia, no uso de um stress ou
tensões em desacordo com o estresse da métrica regular.
Como Substantivo, a expressão
CONTRAPONTO designando uma
forma musical que envolve o som simultâneo de duas ou mais melodias: música concertada, música polifônica, polifonia - música dispostos em peças para várias vozes ou instrumentos , que na inversão - (contraponto) uma variação de uma melodia ou a parte em que
intervalos ascendente são substituídos por intervalos descendente e vice-versa.
Em Verbo, a expressão CONTRAPONTO surge para mostrar as diferenças
quando comparado ; ser diferente; “Os alunos contrastam consideravelmente em
suas habilidades artísticas”. Escrever
em CONTRAPONTO; “Bach aperfeiçoou a arte de contraponto”.
Que na música refere-se
à técnica de definir, escrever ou tocar uma melodia ou melodias em conjunto com
outro, de acordo com regras fixas. Ainda, a arte de compor música para duas ou
mais vozes ou instrumentos. Música para ser executada por dois ou mais
instrumentos ou vozes. Harmonia de vozes ou instrumentos.
É o material melódico
que é adicionado acima ou abaixo de uma melodia existente. A técnica de
combinação de duas ou mais linhas de melodia, de tal maneira que eles
estabelecem uma relação harmônica mantendo a sua individualidade linear. A
composição ou peça que incorpora ou consiste da escrita contrapontística.
Expressão que vem da música, no desenvolvimento da Idade
Media, do “CANTOCHÃO”, canto tradicional da Igreja cujo repertório foi
coordenado e completado por São Gregório, O Grande. O cantochão é uma simples e
igual prolação de notas, que se não podem aumentar nem diminuir, escrevendo-se,
geralmente, sobre uma pauta de quatro linhas. É uma prática monofônica de canto utilizada, desde os
primórdios com os monges reginaldinos, por cantores nos rituais
sagrados, originalmente desacompanhada.
E partindo dos meados para fins da Idade Média os músicos de então
“dialogavam” outras vozes, fazendo pontos contra os pontos. As notas do
cantochão, quem levava era o tenor, aquele que tinha que trazer o cantochão e,
partindo disso, outras vozes mais acima, mais abaixo, alto, baixo, iam
dialogando com o “contraponto”.
Até que as “Nova Flamenga”, no final da Idade Média, onde temos obras com
40 vozes diferentes dialogando, inclusive nos “motetos”, obras em que o diálogo
se dava com textos diferentes. Por vezes, textos sacros com textos profanos. O moteto se tornará uma das grandes
formas da música polifônica, sendo o apogeu de seu uso no contraponto modal do
século XVI, apesar de sua importância para a música barroca e da recorrência a
ele até por compositores românticos.
Então essa ideia dos contrapontos é
muito importante, colorindo o cenário da literatura e da música, onde em Johann
Sebastian Bach, nascido numa
família de longa tradição musical, compositor, cravista, regente, organista,
professor e violonista oriundo do Sacro Império Romano-Germânico, atual
Alemanha, estudante incansável, adquiriu um vasto conhecimento da música
europeia de sua época e das gerações anteriores. Desempenhou vários cargos em
cortes e igrejas alemãs, onde desenvolveu a parte final e mais importante de
sua carreira, absorvendo inicialmente o grande repertório de música contrapontística
germânica
como base de seu estilo. Em “Fuga de Bach” temos:
“... As diversas partes vivem suas vidas separadas, elas se tocam e seus caminhos se cruzam... combinam-se um instante para criar o que parece uma harmonia final e perfeita, mas somente para tornar-se a separar mais uma vez. Cada um é sempre só, separada e individual... Eu sou eu!”
O mundo onde todos tem razão gira em torno de mim e, todos
igualmente têm razão e, igualmente se enganam e, nenhum deles quer escutar os
outros. Na fuga humana há 1800 milhões de partes, o ruído resultante tem,
talvez, alguma significação para o estatístico, mas, nenhuma para o artista. É somente considerando “uma ou duas partes ao mesmo tempo”
que o artista pode entender alguma coisa. Os personagens são vozes, linhas
melódicas, destinos, vidas que se cruzam gerando harmonias, mais tensões,
contradições, desarmonias, num desenvolvimento quase musical dessas ideias!
É a musicalização da ficção, parecendo uma fuga. A fuga dos
personagens, de si próprio, dando ou não sentido à vida de cada um, dando
sentido à vida do próximo, pela interação. É a busca do sentido de suas vidas,
face às incertezas! Do livro de Aldous Huxley, um livro consagrado e que está no topo da lista
dos 100 melhores romances do século XX, temos que:
“... Quando pomos em jogo toda a nossa força para levantar o que nos parece ser um peso enorme, é desagradável perceber que se trata apenas de um halter de papelão, e que teria sido possível erguê-lo com dois dedos...".Contraponto (Counterpoint, em seu título original), publicado em 1930, é um romance com início do escrito por volta de 1920 e aqui o uso mais antigo encontrado em Aldous Huxley (1894-1963).
Em documento dissertativo sob o título: Tradução no contexto da Era Vargas: Érico Veríssimo, tradutor de Aldous Huxley, Autor: Souto, Sheila Maria Tabosa Silva e Primeiro orientador: Xavier, Wiebke Röben de Alencar, assim se resume:
Este trabalho analisa Erico Veríssimo enquanto tradutor na Editora Globo da obra Point counter point (1928), de Aldous Huxley, intitulada Contraponto (1934), no contexto da tradução e ideologia no Regime Vargas, governo autoritário e nacionalista. A metodologia é desenvolvida via transferências culturais, buscando compreender a trajetória de Erico Veríssimo como tradutor e refazer o processo tradutório da obra de Huxley. O perfil do tradutor Veríssimo é traçado inicialmente através de suas primeiras experiências na Revista do Globo, onde lançava no mercado traduções rápidas, inventando pseudônimos para as mesmas; e, posteriormente, com a publicação de traduções de obras de renome internacional, onde o processo tradutório ocorria num padrão elevado e mais elaborado. O percurso e a escolha da tradução Contraponto representam inicialmente uma ousadia editorial de Veríssimo, arriscando-se comercialmente, uma vez que a obra era densa e o autor desconhecido no Brasil; e, de fato, foi um ponto decisivo para Veríssimo tradutor e para a divulgação de Huxley no Brasil. Contraponto foi sucesso de vendas e um marco editorial, publicado na coleção Nobel, que levava ao leitor médio e aos intelectuais da época as traduções de repercussão internacional, formando e enriquecendo culturalmente seu público. A política editorial da Globo de traduzir os clássicos mundiais coaduna com os ideais nacionalistas de Vargas de valorizar o papel da língua vernácula e da educação na busca da identidade da Nação. Numa análise textual seletiva a partir dos conceitos dos itens culturais específicos em tradução trazidos por Aixelá e da teoria de polissistemas, destacamos que a tradução é marcada pela estratégia de conservação (repetição), numa tendência à adequação. Sua tradução permite a visualização das marcas da cultura estrangeira, não nacionaliza especificidades culturais, acrescentando informações novas ao leitor. Com os conceitos de tradução e ideologia advindos de Lefevere, entendemos que a reescritura pode ser inspirada por motivações ideológicas, logo podemos associar o fato de Contraponto tratar de questões ideológicas ligadas ao fascismo com o Governo Vargas, que possuía semelhanças totalitaristas.
Roberto Costa Ferreira, Nov2016.
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