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O autor: Roberto Costa Ferreira |
Alguém, um amigo, em meio a Primavera de Outubro rosa, irascível e
amargurado, me disse não ter mais graça viver estes tempos, este mundo... O mundo sem poesia! Ou, fazer arte num mundo sem ideal. O mundo
em que o ideal já não vigora mais como governando a expressão.
Ouvi e tentei iniciar a
justificativa diante de uma situação que se revelou improdutiva. Então
restou-me pacientar. Conclui que exporia meu pensar sobre o assunto, que muito
me incomodou, através deste recurso... Quem sabe em algum momento ele
conhecesse do conteúdo? É importante ressaltar que são duas as perguntas
objeto do desenvolvimento:
- Viver
num mundo sem poesia e,
- O
que deve ser a poesia num mundo sem ideal?
É preciso ressaltar que nestas
duas perguntas reside uma diferença entre elas, porque, e isso é importante,
quando nós pensamos nas respostas possíveis a essas perguntas, que é apenas,
digamos assim, uma tentativa imediata de pensar numa resposta possível... Não é
ainda a resposta, mas, como toda pergunta implica que há a possibilidade de uma
resposta, a primeira possibilidade de responder a essas perguntas terá que ser
feita, no meu entender, distinguindo estas duas indagações. Por exemplo:
- Como
se pode viver num mundo sem poesia?
Alguém poderia responder, dizendo
simplesmente: Não se pode viver num mundo sem poesia! Logo, essa seria uma
resposta que iria naquela direção que aponto, não só depois de Hegel, como,
apesar de Hegel... Quer dizer, não há ideal.
"... só a reflexão em si mesmo no seu
ser-Outro, é que é o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou
uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o
círculo que pressupõe seu fim como sua meta, que o tem como princípio, e que só
é efetivo mediante sua atualização e seu fim."
De certa forma, como não se pode
viver num mundo sem poesia, ou "não
existe um mundo sem poesia", então, é preciso que a própria noção de
ideal seja reformulada para que possa ganhar sentido essa "outra presença da arte", essa outra
"presença da poesia", num
mundo onde já não comporta o ideal.
Quer dizer, se o Hegel passou por
esta "vinculação de arte e ideal"
e isto foi superado, logo, melhor compreendendo-o, "a principal recorrência dessa citação está diretamente relacionada com
a ideia de obra de arte ou ainda com a ideia da arte como processo resultante
de um “fazer espiritual”, ou melhor, de um trabalho do próprio espírito. Em
outras palavras, a arte pode ser reconhecida como um dos temas centrais
na Fenomenologia do Espírito, desde que não busquemos nela simples
referências a obras históricas, ou mesmo uma espécie de fenomenologia da arte,
mas sim que reconheçamos a arte como o último e mais elevado estágio do
processo de formação e auto reconhecimento implícitos no conceito hegeliano de
trabalho".
Então, o mundo sem ideal, se,
nele ainda permanece a poesia, é preciso restabelecer, de algum modo, à relação
entre “as Belezas: a arte, o ideal, a poesia”. Então, aqui, à segunda pergunta:
- O
que deve ser a poesia num mundo sem ideal?
Para responder a ela, num primeiro
momento, é preciso supor, então, que "
vivemos
num mundo sem ideal" e que, a "
poesia, de alguma maneira, existe neste mundo"! Portanto, são
duas perguntas diferentes, mas, elas estão vinculadas. Agora, do ponto de vista
abstrato, qualquer um de nós pode propor esta questão, qualquer um de nós pode
responder a estas duas perguntas e refletir sobre o significado dessas
respostas que, rápida e sinteticamente, esbocei aqui. Ainda, é preciso também
entender que,
a pergunta,
a resposta e
a reflexão sobre
ambas, só pode ser, verdadeiramente, colocada se partirmos do poeta. Ou seja, o
poeta que pode constatar, em primeiro lugar, que nós vivemos num mundo sem
ideal. Como ele faz isso? Ele faz "
subjetivamente". E aí teremos
que entender depois, como que:
”Esta tal apreensão subjetiva do mundo faz com que o poeta
"apreendendo subjetivamente sobre o mundo" sem ideal, aprenda de
alguma forma, algo semelhante ao vazio dele mesmo”!
Assim, isto tem tudo a ver com a
identidade da poesia, que é, nesse sentido, buscável através de uma intuição
subjetiva que é "a intuição do poeta"! Por tal,
torna-se importante ressaltar que, embora do ponto de vista abstrato alguém
possa fazer esta pergunta, ou assim se expressar, e ela seria uma "colocação apenas teórica", quando o
poeta faz, ele e somente ele faz com propriedade, de uma outra forma, porque a
partir de si mesmo e através desta apreensão subjetiva de "um vazio num mundo sem ideal" e ,
de um vazio que diz respeito à própria subjetividade poética, quando ela já não
pode mais se expandir num mundo com ideal. Ela tem que se defrontar com um
mundo sem ideal!
Então, claro, porque é o poeta
que vive nesse mundo sem ideal... É o poeta que vive num mundo em que a
poesia poderia não ser possível... E ao colocar a questão desse modo ele se
percebe existindo como poeta, mas no plano da ausência da poesia, no plano da ausência de ideal!
Logo, a posição do poeta, e é
isto que deve ser profundamente repensado, e Baudelaire é privilegiado nesse sentido, o que vai ser totalmente
repensado é isso, ou seja, “o poeta
percebe-se existindo como poeta, existindo num mundo em que a ausência do ideal
deveria implicar a ausência da poesia”! Assim, essa continuidade que
sempre existiu entre o poeta e a poesia, ela tende a ser quebrada. E é bem por
tal que "nesse Novo Mundo"
o poeta "necessita reinventar a
poesia", tanto do ponto de vista do
conteúdo dos temas quanto da forma, porque se trata, então de "cantar poeticamente", mas dentro de
condições completamente diferentes e, portanto, é algo que diz respeito ao
poeta e, portanto, essa pergunta e essa constatação é feita, em primeiro lugar,
por ele, o poeta.
Isso é muito importante para que
se possa colocar também a questão da identidade do poeta, momento que, ele
percebe-se como poeta, mas, como a linha entre o poeta e a poesia está partida,
essa linha de continuidade, ele não se identifica mais como "poeta do passado". Então, essa
"reinvenção da poesia" e também, "a reinvenção da identidade do
poeta e de sua posição nesse mundo distinto" que ele tem,
também, que redescobrir!
Aliás, se este meu amigo conhecer
deste raciocínio, em algum momento, deverá compreender que, tal qual “a
necessária redescoberta do poeta do passado", da nova condição
poeta de ser, “urge uma reação rápida: se reinventar”!
Roberto Costa Ferreira,
01NOV2018.
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O Poeta Todos os Dias: Para Isabela - Autor: Roberto Costa Ferreira |
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O Touro - Pintura de Isabela Zanzini em produção escolar - 2018. |
Lindo texto! Emocionante
ResponderExcluirLindo amigo! Amei! Amo ser poeta! Parabéns 👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirParabéns!a poesia no mundo atual 😊👏👏👏
ResponderExcluir... Sábias Palavras Zé Borboleta... Como uma arvore que prospera seus frutos,conforme suas estacoes reflito:”Esta tal apreensão subjetiva do mundo faz com que o poeta "apreendendo subjetivamente sobre o mundo" sem ideal, aprenda de alguma forma, algo semelhante ao vazio dele mesmo”!... Sem mais! O Poeta!
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