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domingo, 4 de novembro de 2018

POETA & POESIA – REDESCOBRIR-SE NUM MUNDO SEM...


O autor: Roberto Costa Ferreira

Alguém, um amigo, em meio a Primavera de Outubro rosa, irascível e amargurado, me disse não ter mais graça viver estes tempos, este mundo... O mundo sem poesia! Ou, fazer arte num mundo sem ideal. O mundo em que o ideal já não vigora mais como governando a expressão.
Ouvi e tentei iniciar a justificativa diante de uma situação que se revelou improdutiva. Então restou-me pacientar. Conclui que exporia meu pensar sobre o assunto, que muito me incomodou, através deste recurso... Quem sabe em algum momento ele conhecesse do conteúdo? É importante ressaltar que são duas as perguntas objeto do desenvolvimento:
  • Viver num mundo sem poesia e,
  • O que deve ser a poesia num mundo sem ideal?
É preciso ressaltar que nestas duas perguntas reside uma diferença entre elas, porque, e isso é importante, quando nós pensamos nas respostas possíveis a essas perguntas, que é apenas, digamos assim, uma tentativa imediata de pensar numa resposta possível... Não é ainda a resposta, mas, como toda pergunta implica que há a possibilidade de uma resposta, a primeira possibilidade de responder a essas perguntas terá que ser feita, no meu entender, distinguindo estas duas indagações. Por exemplo:
  • Como se pode viver num mundo sem poesia?
Alguém poderia responder, dizendo simplesmente: Não se pode viver num mundo sem poesia! Logo, essa seria uma resposta que iria naquela direção que aponto, não só depois de Hegel, como, apesar de Hegel... Quer dizer, não há ideal.

"... só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que é o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, que o tem como princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim."

De certa forma, como não se pode viver num mundo sem poesia, ou "não existe um mundo sem poesia", então, é preciso que a própria noção de ideal seja reformulada para que possa ganhar sentido essa "outra presença da arte", essa outra "presença da poesia", num mundo onde já não comporta o ideal.

Quer dizer, se o Hegel passou por esta "vinculação de arte e ideal" e isto foi superado, logo, melhor compreendendo-o, "a principal recorrência dessa citação está diretamente relacionada com a ideia de obra de arte ou ainda com a ideia da arte como processo resultante de um “fazer espiritual”, ou melhor, de um trabalho do próprio espírito. Em outras palavras, a arte pode ser reconhecida como um dos temas centrais na Fenomenologia do Espírito, desde que não busquemos nela simples referências a obras históricas, ou mesmo uma espécie de fenomenologia da arte, mas sim que reconheçamos a arte como o último e mais elevado estágio do processo de formação e auto reconhecimento implícitos no conceito hegeliano de trabalho".

Então, o mundo sem ideal, se, nele ainda permanece a poesia, é preciso restabelecer, de algum modo, à relação entre “as Belezas: a arte, o ideal, a poesia”. Então, aqui, à segunda pergunta:
  • O que deve ser a poesia num mundo sem ideal?
Para responder a ela, num primeiro momento, é preciso supor, então, que "vivemos num mundo sem ideal" e que, a "poesia, de alguma maneira, existe neste mundo"! Portanto, são duas perguntas diferentes, mas, elas estão vinculadas. Agora, do ponto de vista abstrato, qualquer um de nós pode propor esta questão, qualquer um de nós pode responder a estas duas perguntas e refletir sobre o significado dessas respostas que, rápida e sinteticamente, esbocei aqui. Ainda, é preciso também entender que, a pergunta, a resposta e a reflexão sobre ambas, só pode ser, verdadeiramente, colocada se partirmos do poeta. Ou seja, o poeta que pode constatar, em primeiro lugar, que nós vivemos num mundo sem ideal. Como ele faz isso? Ele faz "subjetivamente". E aí teremos que entender depois, como que:

Esta tal apreensão subjetiva do mundo faz com que o poeta "apreendendo subjetivamente sobre o mundo" sem ideal, aprenda de alguma forma, algo semelhante ao vazio dele mesmo”!

Assim, isto tem tudo a ver com a identidade da poesia, que é, nesse sentido, buscável através de uma intuição subjetiva que é "a intuição do poeta"! Por tal, torna-se importante ressaltar que, embora do ponto de vista abstrato alguém possa fazer esta pergunta, ou assim se expressar, e ela seria uma "colocação apenas teórica", quando o poeta faz, ele e somente ele faz com propriedade, de uma outra forma, porque a partir de si mesmo e através desta apreensão subjetiva de "um vazio num mundo sem ideal" e , de um vazio que diz respeito à própria subjetividade poética, quando ela já não pode mais se expandir num mundo com ideal. Ela tem que se defrontar com um mundo sem ideal!

Então, claro, porque é o poeta que vive nesse mundo sem ideal... É o poeta que vive num mundo em que a poesia poderia não ser possível... E ao colocar a questão desse modo ele se percebe existindo como poeta, mas no plano da ausência da poesia, no plano da ausência de ideal!

Logo, a posição do poeta, e é isto que deve ser profundamente repensado, e Baudelaire é privilegiado nesse sentido, o que vai ser totalmente repensado é isso, ou seja, “o poeta percebe-se existindo como poeta, existindo num mundo em que a ausência do ideal deveria implicar a ausência da poesia”! Assim, essa continuidade que sempre existiu entre o poeta e a poesia, ela tende a ser quebrada. E é bem por tal que "nesse Novo Mundo" o poeta "necessita reinventar a poesia", tanto do ponto de vista do conteúdo dos temas quanto da forma, porque se trata, então de "cantar poeticamente", mas dentro de condições completamente diferentes e, portanto, é algo que diz respeito ao poeta e, portanto, essa pergunta e essa constatação é feita, em primeiro lugar, por ele, o poeta.

Isso é muito importante para que se possa colocar também a questão da identidade do poeta, momento que, ele percebe-se como poeta, mas, como a linha entre o poeta e a poesia está partida, essa linha de continuidade, ele não se identifica mais como "poeta do passado". Então, essa "reinvenção da poesia" e também, "a reinvenção da identidade do poeta e de sua posição nesse mundo distinto" que ele tem, também, que redescobrir!

Aliás, se este meu amigo conhecer deste raciocínio, em algum momento, deverá compreender que, tal qual “a necessária redescoberta do poeta do passado", da nova condição poeta de ser, “urge uma reação rápida: se reinventar”!

Roberto Costa Ferreira, 01NOV2018.

O Poeta Todos os Dias: Para Isabela - Autor: Roberto Costa Ferreira
O Touro - Pintura de Isabela Zanzini em produção escolar - 2018.



4 comentários:

  1. Lindo amigo! Amei! Amo ser poeta! Parabéns 👏👏👏👏👏👏👏

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  2. Parabéns!a poesia no mundo atual 😊👏👏👏

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  3. ... Sábias Palavras Zé Borboleta... Como uma arvore que prospera seus frutos,conforme suas estacoes reflito:”Esta tal apreensão subjetiva do mundo faz com que o poeta "apreendendo subjetivamente sobre o mundo" sem ideal, aprenda de alguma forma, algo semelhante ao vazio dele mesmo”!... Sem mais! O Poeta!

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