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Obra de Lucas Teixeira, nas iluminuras e, texto de Guilherme de Almeira, tal obra na parede de minha sala |
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Assinatura na obra - Lucas Teixeira - 1980 |
Então, volto no tempo... Agora em 2020, trazendo do ano de 2014 a
notícia de que sou detentor de uma de suas obras (abaixo), decorridos seis anos
das primeiras citações acerca da obra e do assinante das iluminuras. E neste
tempo do calendário perfez cem anos que, em 1918, nasceu no concelho de
Felgueiras, no Norte de Portugal, o cidadão Armando Teixeira, mais
tarde celebrizado como Frei Lucas Teixeira e por fim admirado
como artista iluminurista e poeta radicado no Brasil. Também
teremos no próximo dia 28/04/2020 o transcurso de sete anos de seu
passamento, totalizando 102 anos das memórias de Armando (Lucas)
Teixeira (23 / 3 / 1918 - 28 / 4 / 2013).
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LUCAS TEIXEIRA |
Numa espécie de, agora, ampliação da pesquisa de preservação
divulgativa, a escabichar sobre temas que jazem algo esquecidos ou mesmo
desconhecidos da generalidade conterrânea, qual roteiro por fatos e personagens
dignos de nota do interesse Felgueirense, brasileiro e paulistano, damos ensejo
a um nome que bem merece admiração por seu valor, pelo prestígio alcançado
aquém e além fronteiras, como pelos seus dotes artísticos e engenho de
conseguir transmitir sentimentos, em suma por quanto honrou e glorifica a terra
Felgariana – o antigo monge beneditino, depois unicamente
cidadão e sempre artista e poeta, Lucas Teixeira.
Natural de Varziela, recebeu o nome de Armando no
batismo. Tendo ficado apenas com um sobrenome, atendendo à coincidência de
ambos os progenitores serem do mesmo único apelido, sendo filho de Américo
Teixeira e de Margarida Teixeira, casal honrado que soube
legar bons princípios ao filho.
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ILUMINURAS
DOM LUCAS TEIXEIRA |
Assim, Armando Teixeira, de sangue Felgueirense fecundo,
oriundo de uma família de parentela numerosa (visto uma sua avó, nascida na
Pedreira, ter sido mãe de 18 filhos), teve apenas de pai e mãe uma sua irmã,
Elvira, que faleceu na flor da idade, aos 20 anos, ficando sepultada no
cemitério de Pedra Maria (a Virinha, a quem o irmão depõe uma açucena em
verso, aquela flor de pureza, “cecém” colocada num soneto que merece
honras, de apoteose!
Para melhoria de vida e poder estudar, Armando Teixeira entrou
num seminário conventual, onde acabou por se adaptar e seduzir pela vida
religiosa. Professou na Ordem Beneditina em Singeverga, tendo
ingressado em 1929 nesse convento, onde depois concluiu o curso de Humanidades
e mais tarde, em 1934, ao receber o hábito preto de S. Bento adotou
o nome Lucas, tal como em 1937 fez votos solenes e em
1941 foi ordenado presbítero, ficando então a chamar-se Frei D.
Lucas Teixeira.
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CLAUSURA
DOM LUCAS TEIXEIRA
Cógula de Monge Bento |
Dedicou-se ao estudo e execução de iluminuras, tendo sido bolseiro em
1946 pelo Instituto da Cultura. De suas mãos saíram excelentes
trabalhos da arte iluminista para arquivos, museus e bibliotecas, merecendo
realce uma ilustração em livro de Polifonia realizada para oferta ao Marquês de
Rio Maior, bem como um outro trabalho que, servindo de prova do aproveitamento
da referida bolsa de estudo, ofereceu ao antigo diretor do museu de
Arte Antiga, Dr. João Couto. Segundo o que ficou registado, nas
enciclopédias mais completas, executou diversas obras nesse "difícil gênero",
algumas das quais enriqueceram o arquivo do Mosteiro de Singeverga.
Ilustrativo da sua obra, foi publicado em 1952 um estudo
intitulado “A arte da iluminura / Dom Lucas Teixeira”, inserto
como separata no Boletim Cultural de Santo Tirso. Como em 1954, no
Porto, teve luz outro estudo intitulado ”Iluminuras de Dom Lucas Teixeira”,
com apreciações sobre exposições antes realizadas em 1949 em Lisboa,
em Santo Tirso no ano de 1951, em Braga em 1952,
no Porto em 1952 também, e servindo de catálogo a Exposição
em São Paulo-Brasil, nesse ano de 1954.
Quem é este artista,
fora do seu século, que vem renovar a tradição dos nossos pergaminhos, numa
pintura delicada e fina, em que “o céu fala com a terra, através de uma alma em
êxtase?...”
Como que em resposta, em “Vita Plena” - 1950-1951/ ”À volta
dos Iluministas portugueses”, apareceu escrito:
“O amor pelo desenho
vem-lhe da infância. Depois, (como escreveu Hipólito Raposo), rezando, começara
a pintar, e, pintando continuaria a rezar... “
De sua vasta obra, enquanto Religioso Beneditino, tiveram relevância
trabalhos com que iluminou documentos, tais como a Mensagem das
Mulheres Portuguesas ao Santo Padre; Mensagem do Distrito do Porto
a Carmona e Salazar; a Regra de S. Bento; Mensagem da
Câmara de Sintra a Sª Exª o Presidente da República Portuguesa (1954-Craveiro
Lopes); o Diploma de Batismo pertencente à igreja de Fátima de Lisboa; a
Mensagem do Congresso Internacional dos Médicos Católicos, reunido em
Dublin no ano de 1954, ao Santo Padre Pio XII; assim como o texto
da consagração de Portugal a N.ª Sª de Vila Viçosa foi iluminado por
si para a Casa de Bragança.
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Iluminura
DOM LUCAS TEIXEIRA
São Paulo - Brasil 1954 |
Entre outras obras suas, depositadas em mãos de personalidades
nacionais, Salazar teve o “Painel dos Pescadores, do Políptico
Veneração de S. Vicente, de Nuno Gonçalves”, pergaminho
iluminado de 1948, incluindo um soneto do mesmo autor do desenho, Frei Lucas
Teixeira. E ainda os seus “Auto da Cidadania” e “Senhor dos Passos”,
também de 1948, ficaram pertences do Cardeal Cerejeira. Entretanto, participou
em muitas mais exposições, entre as quais a (referida no catálogo antes
registado) do IV Centenário da Cidade de São Paulo, no Brasil, que
teve repercussão no seu futuro.
Foi monge sensivelmente até entre os 37 aos 38 anos de idade. Após isso,
depois de percurso passado por Singeverga-Santo Tirso, pelo Porto, Coimbra
e Lisboa, entre outros pontos de passagem e residência conventual,
havendo verificado que sua vocação não estava no encerramento
monástico, regressou à condição de cidadão normal. Enveredou então
definitivamente pela carreira da arte de iluminuras, em que passou a assinar os
seus trabalhos por Lucas Teixeira, nome que mais tarde encerrou
também composições poéticas de encher a alma. Para se afirmar, contudo,
precisou rumar ao Brasil, e aí, “recebeu tantas encomendas e convites para
dar aulas que acabou ficando”.
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Iluminura - Auto da Cidadania”
e “Senhor dos Passos”, 1948,
pertences do Cardeal Cerejeira |
Por isso, diversos artistas brasileiros se orgulham e vangloriaram de
nomearem o fato de terem tido o “português Lucas Teixeira” por
professor de iluminuras, como acontece em constar honrosamente, por exemplo, no
currículo de Maria Amélia Arruda Botelho, natural de São Paulo e figura
cultural do Brasil inteiro, saliente pintora, escultora,
memorialista, pesquisadora folclorista e ficcionista.
Entretanto, ficara fixado Armando Teixeira na grande
nação irmã a partir de 1954, onde estabilizou sua vida, “bem casado com
uma portuguesa transmontana”, com a qual constituiu prole bem sucedida, pai
de dois filhos brasileiros, que lhe deram quatro netos “e a alegria de os
ver bem situados na vida” e onde foi sendo “feliz, muitíssimo
feliz”!
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Lucas Teixeira - Instantâneo
visual de seu paciente e
minucioso labor iluminarista. |
Faleceu no dia 28 de Abril de
2013, por volta de 22:30 horas da noite, domingo, aos 95 anos... “sem sofrimento, levado pelos anos” —
como bem referiu sua filha Maria Margarida, e que ainda lembrou que:
“Logo pela manhã desse domingo de abril se passou algo muito curioso,
principalmente pela adoração que meu pai tinha pelos pássaros e os animais pela
casa dele. Sempre apareciam, de uma fona ou de outra. No lado de fora da porta
de entrada há pregado um São Francisco em madeira com os braços abertos a
recebê-los, se assim posso dizer. O enfermeiro após ter feito os cuidados da
manhã trouxe meu pai para a sala da casa e o colocou na cadeira em que sempre
ficava desde que não pode mais andar. A porta da rua estava aberta e por ela
entrou um passarinho que sobrevoou sua cabeça, pouso ao lado dele e logo em
seguida foi pousar em uma das iluminuras feitas por meu querido pai e que
estava pendurada na parede do lado oposto da janela da sala. O enfermeiro
preocupado com o passarinho foi abrir a janela para ele sair e, então, a ave
saiu pela mesma porta por onde entrou. Quando minha mãe chegou e soube do
acontecido ficou certa que devia chamar os filhos para a despedida.”
Lembrou ainda, parafraseando o
autor e escritor israelense Amos Oz,
cujo nome original é Amos Klausner,
nascido em Jerusalém e co-fundador do movimento
pacifista Paz Agora (Shalom Akhshav), onde em determinado trecho de
um de seus livros diz:
"a gente vive até o dia em que morre a
última pessoa que se lembra de nós."
No Obituário da cidade de Piracicaba/SP, em "Nota de falecimento em Abril de 2013... ARMANDO TEIXEIRA, faleceu anteontem (dia 28) na Cidade de Piracicaba aos 95 anos de idade e era casado com a Sra. Maria Amélia Teixeira, Filho do Sr. Américo Teixeira e da Sra. Margarida Teixeira, ambos falecidos. Deixa os filhos: Augusto Teixeira casado com Nilza Akemi Tsutiya e Maria Margarida Teixeira Moreira casada com Jofelo Moreira Lima. Deixa ainda netos. O seu corpo foi transladado em auto fúnebre para a cidade de São Paulo e o seu sepultamento deu-se ontem as 15:00h. no Cemitério Gethsemani naquela localidade, onde foi inumado em jazigo da família".
Destaco então, inserindo nesta oportunidade e como complemento da
matéria, o conteúdo do original relato de 05 de Abril, postado em 06 de
Abril de 2014, momento que discorro acerca da Prece a Anchieta, como se vê adiante, sendo
certo que deste autor, Lucas Teixeira – Poeta e Iluminurista, português e que
esteve no Brasil – autor de “O Teu Retrato, Mãe”, muito conheço, pois, tenho
uma de suas artes na parede de minha sala. Neste ano de 2014, 03 de Março, o
Jesuíta que catequizou índios do Brasil no século XVI e fundou a cidade de São
Paulo, o beato José de Anchieta foi canonizado pelo papa Francisco.
Tal processo, longo, que começou em 1980 com a sua beatificação por João
Paulo II, anteriormente vinha, desde o século XVI, quando foi feito o pedido.
Pois bem, Lucas Teixeira, um felgueirense natural de Varziela -
Portugal e nascido em 1918, o qual obteve grande saliência nas artes e nas
letras, sobressaiu-se como poeta no Brasil onde se fixou no exercício da arte
do desenho Iluminurista a partir de 1954.
Depois de abandonar a vida monástica, ele que fora Monge
Beneditino quando se chamava Frei D. Lucas Teixeira e se
tornara famoso como autor de iluminuras, assina tal obra da qual sou
detentor - um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras
capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminho medievais.
O termo “iluminura” se aplica igualmente ao conjunto de
elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos,
produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua
elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte
medieval.
Tal obra, “Prece a Anchieta”, datada de 1980 e assinada
pelo autor, apresenta-se em tela sob passe-partout de madeira 3 mm,
alto-relevo, medindo 397x450mm, branco, emoldurando madeira de 570x630mm, e
composta com texto de Guilherme de Almeida.
Conta de quatro estrofes regulares sendo, duas em quadra e outras duas
em terceto, caracterizando um soneto. Inicia assim, cuja arquitetura das
estrofes em razão da pontuação difere do original do autor:
"Santo, erguestes a cruz na selva
escura;
Herói, plantastes nossa velha aldeia;
Mestre, ensinastes a doutrina pura;
Poeta, escrevestes versos sobre a areia"!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezado Roberto C. Ferreira, muito me agradou encontrar mais um registro sobre quem foi meu pai, desta vez por suas mãos, admirador da arte e da poesia. Agradecida por suas palavras, em nome de toda a nossa família. Posso dar-lhe mais detalhes sobre a "Prece a Anchieta" cuja reprodução possa ter obtido de algum amigo de São Paulo, já que foi nesta cidade que foi elaborada a iluminura por encomenda do governo do estado. Saudações
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