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terça-feira, 14 de abril de 2020

Iluminurista – Poeta - Lucas Teixeira – Frei D. Lucas Teixeira

Obra, "Prece a Anchieta" e texto de
Guilherme de Almeida 
Obra de Lucas Teixeira, nas iluminuras e, texto de
Guilherme de Almeira, tal obra na parede de minha sala 











Assinatura na obra - Lucas Teixeira - 1980
Então, volto no tempo... Agora em 2020, trazendo do ano de 2014 a notícia de que sou detentor de uma de suas obras (abaixo), decorridos seis anos das primeiras citações acerca da obra e do assinante das iluminuras. E neste tempo do calendário perfez cem anos que, em 1918, nasceu no concelho de Felgueiras, no Norte de Portugal, o cidadão Armando Teixeira, mais tarde celebrizado como Frei Lucas Teixeira e por fim admirado como artista iluminurista e poeta radicado no Brasil. Também teremos no próximo dia 28/04/2020 o transcurso de sete anos de seu passamento, totalizando 102 anos das memórias de Armando (Lucas) Teixeira (23 / 3 / 1918 - 28 / 4 / 2013). 


LUCAS TEIXEIRA
Numa espécie de, agora, ampliação da pesquisa de preservação divulgativa, a escabichar sobre temas que jazem algo esquecidos ou mesmo desconhecidos da generalidade conterrânea, qual roteiro por fatos e personagens dignos de nota do interesse Felgueirense, brasileiro e paulistano, damos ensejo a um nome que bem merece admiração por seu valor, pelo prestígio alcançado aquém e além fronteiras, como pelos seus dotes artísticos e engenho de conseguir transmitir sentimentos, em suma por quanto honrou e glorifica a terra Felgariana – o antigo monge beneditino, depois unicamente cidadão e sempre artista e poetaLucas Teixeira.

Natural de Varziela, recebeu o nome de Armando no batismo. Tendo ficado apenas com um sobrenome, atendendo à coincidência de ambos os progenitores serem do mesmo único apelido, sendo filho de Américo Teixeira e de Margarida Teixeira, casal honrado que soube legar bons princípios ao filho.
ILUMINURAS
DOM LUCAS TEIXEIRA
Assim, Armando Teixeira, de sangue Felgueirense fecundo, oriundo de uma família de parentela numerosa (visto uma sua avó, nascida na Pedreira, ter sido mãe de 18 filhos), teve apenas de pai e mãe uma sua irmã, Elvira, que faleceu na flor da idade, aos 20 anos, ficando sepultada no cemitério de Pedra Maria (a Virinha, a quem o irmão depõe uma açucena em verso, aquela flor de pureza, “cecém” colocada num soneto que merece honras, de apoteose!

Para melhoria de vida e poder estudar, Armando Teixeira entrou num seminário conventual, onde acabou por se adaptar e seduzir pela vida religiosa. Professou na Ordem Beneditina em Singeverga, tendo ingressado em 1929 nesse convento, onde depois concluiu o curso de Humanidades e mais tarde, em 1934, ao receber o hábito preto de S. Bento adotou o nome Lucas, tal como em 1937 fez votos solenes e em 1941 foi ordenado presbítero, ficando então a chamar-se Frei D. Lucas Teixeira.

CLAUSURA
DOM LUCAS TEIXEIRA
Cógula de Monge Bento
Dedicou-se ao estudo e execução de iluminuras, tendo sido bolseiro em 1946 pelo Instituto da Cultura. De suas mãos saíram excelentes trabalhos da arte iluminista para arquivos, museus e bibliotecas, merecendo realce uma ilustração em livro de Polifonia realizada para oferta ao Marquês de Rio Maior, bem como um outro trabalho que, servindo de prova do aproveitamento da referida bolsa de estudo, ofereceu ao antigo diretor do museu de Arte Antiga, Dr. João Couto. Segundo o que ficou registado, nas enciclopédias mais completas, executou diversas obras nesse "difícil gênero", algumas das quais enriqueceram o arquivo do Mosteiro de Singeverga.

Ilustrativo da sua obra, foi publicado em 1952 um estudo intitulado “A arte da iluminura / Dom Lucas Teixeira”, inserto como separata no Boletim Cultural de Santo Tirso. Como em 1954, no Porto, teve luz outro estudo intitulado ”Iluminuras de Dom Lucas Teixeira”, com apreciações sobre exposições antes realizadas em 1949 em Lisboa, em Santo Tirso no ano de 1951, em Braga em 1952, no Porto em 1952 também, e servindo de catálogo a Exposição em São Paulo-Brasil, nesse ano de 1954.

Quem é este artista, fora do seu século, que vem renovar a tradição dos nossos pergaminhos, numa pintura delicada e fina, em que “o céu fala com a terra, através de uma alma em êxtase?...”

Como que em resposta, em “Vita Plena” - 1950-1951/ ”À volta dos Iluministas portugueses”, apareceu escrito:

“O amor pelo desenho vem-lhe da infância. Depois, (como escreveu Hipólito Raposo), rezando, começara a pintar, e, pintando continuaria a rezar... “

De sua vasta obra, enquanto Religioso Beneditino, tiveram relevância trabalhos com que iluminou documentos, tais como a Mensagem das Mulheres Portuguesas ao Santo PadreMensagem do Distrito do Porto a Carmona e Salazara Regra de S. BentoMensagem da Câmara de Sintra a Sª Exª o Presidente da República Portuguesa (1954-Craveiro Lopes); o Diploma de Batismo pertencente à igreja de Fátima de Lisboaa Mensagem do Congresso Internacional dos Médicos Católicos, reunido em Dublin no ano de 1954, ao Santo Padre Pio XII; assim como o texto da consagração de Portugal a N.ª Sª de Vila Viçosa foi iluminado por si para a Casa de Bragança. 


Iluminura
DOM LUCAS TEIXEIRA
São Paulo - Brasil 1954
Entre outras obras suas, depositadas em mãos de personalidades nacionais, Salazar teve o “Painel dos Pescadores, do Políptico Veneração de S. Vicente, de Nuno Gonçalves”, pergaminho iluminado de 1948, incluindo um soneto do mesmo autor do desenho, Frei Lucas Teixeira. E ainda os seus “Auto da Cidadania” e “Senhor dos Passos”, também de 1948, ficaram pertences do Cardeal Cerejeira. Entretanto, participou em muitas mais exposições, entre as quais a (referida no catálogo antes registado) do IV Centenário da Cidade de São Paulo, no Brasil, que teve repercussão no seu futuro.

Foi monge sensivelmente até entre os 37 aos 38 anos de idade. Após isso, depois de percurso passado por Singeverga-Santo Tirso, pelo PortoCoimbra e Lisboa, entre outros pontos de passagem e residência conventual, havendo verificado que sua vocação não estava no encerramento monástico, regressou à condição de cidadão normalEnveredou então definitivamente pela carreira da arte de iluminuras, em que passou a assinar os seus trabalhos por Lucas Teixeira, nome que mais tarde encerrou também composições poéticas de encher a alma. Para se afirmar, contudo, precisou rumar ao Brasil, e aí, “recebeu tantas encomendas e convites para dar aulas que acabou ficando”.


Iluminura - Auto da Cidadania”
 e “Senhor dos Passos”, 1948,
pertences do Cardeal Cerejeira
Por isso, diversos artistas brasileiros se orgulham e vangloriaram de nomearem o fato de terem tido o “português Lucas Teixeira” por professor de iluminuras, como acontece em constar honrosamente, por exemplo, no currículo de Maria Amélia Arruda Botelho, natural de São Paulo e figura cultural do Brasil inteiro, saliente pintora, escultora, memorialista, pesquisadora folclorista e ficcionista.
Entretanto, ficara fixado Armando Teixeira na grande nação irmã a partir de 1954, onde estabilizou sua vida, “bem casado com uma portuguesa transmontana”, com a qual constituiu prole bem sucedida, pai de dois filhos brasileiros, que lhe deram quatro netos “e a alegria de os ver bem situados na vida” e onde foi sendo “feliz, muitíssimo feliz”!


Lucas Teixeira - Instantâneo
visual de seu paciente e
minucioso labor iluminarista. 
Faleceu no dia 28 de Abril de 2013, por volta de 22:30 horas da noite, domingo, aos 95 anos... “sem sofrimento, levado pelos anos” — como bem referiu sua filha Maria Margarida, e que ainda lembrou que:
“Logo pela manhã desse domingo de abril se passou algo muito curioso, principalmente pela adoração que meu pai tinha pelos pássaros e os animais pela casa dele. Sempre apareciam, de uma fona ou de outra. No lado de fora da porta de entrada há pregado um São Francisco em madeira com os braços abertos a recebê-los, se assim posso dizer. O enfermeiro após ter feito os cuidados da manhã trouxe meu pai para a sala da casa e o colocou na cadeira em que sempre ficava desde que não pode mais andar. A porta da rua estava aberta e por ela entrou um passarinho que sobrevoou sua cabeça, pouso ao lado dele e logo em seguida foi pousar em uma das iluminuras feitas por meu querido pai e que estava pendurada na parede do lado oposto da janela da sala. O enfermeiro preocupado com o passarinho foi abrir a janela para ele sair e, então, a ave saiu pela mesma porta por onde entrou. Quando minha mãe chegou e soube do acontecido ficou certa que devia chamar os filhos para a despedida.”
Lembrou ainda, parafraseando o autor e escritor israelense Amos Oz, cujo nome original é Amos Klausner, nascido em Jerusalém e co-fundador do movimento pacifista Paz Agora (Shalom Akhshav), onde em determinado trecho de um de seus livros diz

        "a gente vive até o dia em que morre a última pessoa que se lembra de nós."

No Obituário da cidade de Piracicaba/SP, em "Nota de falecimento em Abril de 2013... ARMANDO TEIXEIRA, faleceu anteontem (dia 28) na Cidade de Piracicaba aos 95 anos de idade e era casado com a Sra. Maria Amélia Teixeira, Filho do Sr. Américo Teixeira e da Sra. Margarida Teixeira, ambos falecidos. Deixa os filhos: Augusto Teixeira casado com Nilza Akemi Tsutiya e Maria Margarida Teixeira Moreira casada com Jofelo Moreira Lima. Deixa ainda netos. O seu corpo foi transladado em auto fúnebre para a cidade de São Paulo e o seu sepultamento deu-se ontem as 15:00h. no Cemitério Gethsemani naquela localidade, onde foi inumado em jazigo da família".  

Destaco então, inserindo nesta oportunidade e como complemento da matéria, o conteúdo do original relato de 05 de Abril, postado em 06 de Abril de 2014, momento que discorro acerca da Prece a Anchieta, como se vê adiante, sendo certo que deste autor, Lucas Teixeira – Poeta e Iluminurista, português e que esteve no Brasil – autor de “O Teu Retrato, Mãe”, muito conheço, pois, tenho uma de suas artes na parede de minha sala. Neste ano de 2014, 03 de Marçoo Jesuíta que catequizou índios do Brasil no século XVI e fundou a cidade de São Paulo, o beato José de Anchieta foi canonizado pelo papa Francisco. Tal processo, longo, que começou em 1980 com a sua beatificação por João Paulo II, anteriormente vinha, desde o século XVI, quando foi feito o pedido.

Pois bem, Lucas Teixeira, um felgueirense natural de Varziela - Portugal e nascido em 1918, o qual obteve grande saliência nas artes e nas letras, sobressaiu-se como poeta no Brasil onde se fixou no exercício da arte do desenho Iluminurista a partir de 1954.

Depois de abandonar a vida monástica, ele que fora Monge Beneditino quando se chamava Frei D. Lucas Teixeira e se tornara famoso como autor de iluminuras, assina tal obra da qual sou detentor - um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminho medievais.

O termo “iluminura” se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos, produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte medieval.

Tal obra, “Prece a Anchieta”, datada de 1980 e assinada pelo autor, apresenta-se em tela sob passe-partout de madeira 3 mm, alto-relevo, medindo 397x450mm, branco, emoldurando madeira de 570x630mm, e composta com texto de Guilherme de Almeida.

Conta de quatro estrofes regulares sendo, duas em quadra e outras duas em terceto, caracterizando um soneto. Inicia assim, cuja arquitetura das estrofes em razão da pontuação difere do original do autor:
          
           "Santo, erguestes a cruz na selva escura;
           Herói, plantastes nossa velha aldeia;
           Mestre, ensinastes a doutrina pura;
           Poeta, escrevestes versos sobre a areia"!


Roberto Costa Ferreira, 08 de Abril de 2020.






2 comentários:

  1. Prezado Roberto C. Ferreira, muito me agradou encontrar mais um registro sobre quem foi meu pai, desta vez por suas mãos, admirador da arte e da poesia. Agradecida por suas palavras, em nome de toda a nossa família. Posso dar-lhe mais detalhes sobre a "Prece a Anchieta" cuja reprodução possa ter obtido de algum amigo de São Paulo, já que foi nesta cidade que foi elaborada a iluminura por encomenda do governo do estado. Saudações

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