Imperdoável seria, esquecer-me
desta vida vivida, de todos os tempos preciosos de professorar... Pois que, “a
tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer”.
Isto sim é einsteiniano... Abrindo a consciência para o outro. E por muito
menos já chorei!
“Não basta
ensinar ao homem uma especialidade porque ele se tornará assim, uma máquina
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento,
um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo,
do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus
conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura
harmoniosamente desenvolvida.”
Albert Einstein
No verão de 1913, dois gigantes
da ciência moderna viajaram a Zurique com a missão de oferecer o cargo mais
prestigioso da vida científica europeia de então, a um homem. Este mesmo que
até seis anos antes fora simples funcionário numa repartição de patentes. Em
1914, com o casamento desmoronando e um caso de amor em andamento Albert
Einstein se despede de Mileva. Levam os três na estação ferroviária e Mileva
Maric, sua esposa – física e matemática austro-húngara - volta para Zurique com
os seus dois filhos... E ao voltar para casa triste e só, O GÊNIO CHOROU!
Einstein que amava muito os
filhos confessaria mais tarde a sua prima Elza Rosenthal que naquele dia
chorou... E foi com grande dificuldade que ele enfrentou a separação dos
filhos.
Albert Einstein é,
indubitavelmente, um dos maiores nomes da história da ciência, tendo formulado
a Teoria da Relatividade - restrita e geral - e colaborado
decisivamente para o desenvolvimento da Teoria Quântica - seu
primeiro trabalho sobre o quantum, "sugerindo que radiação
eletromagnética na região de alta frequência poderia ser pensada como quanta de
luz", foi decisivo neste sentido -, ainda que, ulteriormente, se
tornasse um crítico contumaz dos desenvolvimentos dados à teoria, pela Escola
de Copenhague.
A despeito de suas decisivas
contribuições à ciência do século XX, Einstein também é reconhecido como
notável humanista, construindo uma profunda reflexão sobre a
"natureza" do conhecimento, a vida ético-política e os processos de
educação.
É neste domínio que adquire
grande importância o livro ‘Einstein e a educação’, dos
professores Alexandre Medeiros e Cleide Medeiros, publicado, pela Editora
Livraria da Física, em 2006, a quem também homenageio nesta oportunidade. A
obra - solidamente alicerçada em ampla bibliografia, constituída por mais de
200 títulos - traz, ao longo de seus capítulos, significativos aspectos da
trajetória intelectual de Einstein, enfatizando a seminal vertente pedagógica
do seu pensamento.
Nos primeiros capítulos trata da educação primária do pequeno Albert em Munique,
da educação secundária do jovem Einstein no Luitpold Gymnasium, avançando
para a educação de Einstein na Escola de Aarau, mostrando-nos Einstein
como estudante na Escola Politécnica de Zurique seguido de Einstein versus Weber -
apresentam aspectos da vida estudantil do físico, na escola e na universidade.
Já neste período evidenciavam-se destacando-se
sua aversão pelo aprendizado baseado na pura memorização mecânica - aspecto
típico da tradicional educação alemã da época e bastante encontradiço, ainda
hoje, nos bancos escolares brasileiros (como, por exemplo, em muitas
instituições nas quais se ensina até medicina no país...).
Sua excelência como estudante -
aspecto não reconhecido por muitos biógrafos, os quais, muitas vezes, insistem
em caracterizar Einstein como um mau aluno... Mas fica patente seu grande poder
de concentração, especialmente relacionado à música, momento que os concertos
de Bach e as sonatas de Mozart constituíam-se fecundo manancial de inspiração.
Ainda, sua independência intelectual - mais claramente manifesta no seu período
de graduação na Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), a Escola
Politécnica de Zurique.
Nos capítulos intermediários temos
tentativas, conflitos e sua pugna de ser professor, sua estada na Academia
Olímpia, o escritório de patentes e a Universidade de Berna, ainda Einstein
como professor na Universidade de Zurique. Da curta estada em Praga ao retorno
a Zurique até a longa estada em Berlim - narrando a sua epopeia na
docência, abrangendo desde os primeiros anos após a conclusão do curso de graduação
- com as malfadadas tentativas de conseguir um posto na academia, nas quais
muito pesaram os desentendimentos com Heinrich Weber -, passando por sua
colocação, como técnico, em um escritório de patentes em Berna - considerado,
pelo próprio Einstein, como fundamental no seu desenvolvimento intelectual -,
até sua aceitação como ‘privatdozent’ na Universidade de Berna (em
1908) e a definitiva consagração, como grande docente e pesquisador.
Nos capítulos finais evidenciam-se
imaginação, humildade e bom humor, influências sobre as concepções
educacionais de Einstein e de Dewey, as sintonias entre os ideários
educacionais de Einstein e Dewey, a educação e a busca da liberdade e da
justiça social. Einstein e a questão didática também são considerados centrando-se
mais na apresentação das características do Einstein - professor - marcadamente
sua humildade e o seu bom humor - e dos principais elementos teóricos de seu
pensamento educacional, especialmente as interseções conceituais com a
pedagogia de Dewey, já referido.
É possível que uma das grandes
virtudes do livro, além da escrita clara e da consistência teórica, seja
mostrar a principal característica da “libertária pedagogia einsteiniana”, esta
sim: o tácito repúdio ao autoritarismo da escola germânica - o que se tornou
explícito, por exemplo, na decisão de abandonar o Luitpold
Gymnasium, sua escola secundária, pela acérrima discordância em relação
aos seus métodos de ensino - e o profundo respeito pelo livre desenvolvimento
do educando - valorizando sua curiosidade, autonomia e criatividade como
grandes sustentáculos do processo educacional -, algo apreendido na Escola
de Aarau, na Suíça, sob influência do pensamento de Pestalozzi - pedagogo
profundamente inspirado em Rousseau e Kant -, como ressaltado pelo próprio
Einstein:
[...] pelo seu espírito liberal e pela simples seriedade dos seus professores, que não estava baseada em nenhuma autoridade externa, essa escola deixou em mim impressões inesquecíveis. A comparação com os seis anos de escolaridade no autoritário Gymnasium alemão me fez entender claramente a superioridade de uma educação voltada para a livre ação e para a responsabilidade social em relação a uma outra fundada na autoridade e na ambição.
[Albert Einstein apud Medeiros & Medeiros, 2006:35]
Esta perspectiva parece ser
particularmente útil para as atuais discussões no âmbito do ensino, na medida
em que se reconhece a obsolescência de procedimentos "pedagógicos"
ainda vigentes, centrados na mera transmissão de conhecimento, nos quais o
docente assume um papel de "inculcador de conteúdos", cabendo ao
discente tornar-se um repetidor dos mesmos, em uma atitude passiva e
reprodutora (mormente por ocasião da avaliação, na qual é cobrada a matéria
ministrada...). Neste sentido, um dos comentários de Einstein, transcritos
no livro, parece se referir ipsis litteris a tal situação, ainda
bastante presente na escola brasileira:
[...] por vezes, vemos na escola simplesmente o instrumento para a transmissão de certa quantidade máxima de conhecimento para a geração em crescimento. Mas, isso não é correto. O conhecimento é morto; a escola, no entanto, serve aos vivos. Ela deve desenvolver nos indivíduos jovens as qualidades e as capacidades que são valiosas para o bem-estar da comunidade.
Portanto, ao se considerar, de
modo einsteiniano, que o ensinar exige respeito à autonomia e à dignidade de
cada sujeito - especialmente no âmago de uma abordagem progressiva, alicerce
para uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói
a sua própria história -, vale a pena repensar o papel dos diferentes atores
envolvidos no ensino, na arte de professorar, especialmente do aparelho escolar,
no sentido de formar profissionais mais aptos à construção de consistentes respostas
às demandas e às transformações da sociedade.
Neste sentido, é salutar aos
debates em educação o escopo de Einstein, como nesta oportunidade, diante
desta síntese e por ocasião do Dia do Professor, tendo em vista a
educação, trazendo a obra em referência - Einstein e a Educação – e
que nas próprias palavras de seus autores:
“servir de inspiração para todos
aqueles que detectam na educação um meio para a construção de uma sociedade
melhor, mais justa e mais humana.”
Roberto costa Ferreira,
15 de Outubro de 2021 – Dia do Professor.
Professor – Psicanalista
e Pesquisador – CEP UNIFESP
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SÃO PAULO
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