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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

DIA do PROFESSOR ... Até Einstein chorou!


 O esquecimento é uma perda. A nossa memória é muito frágil e o risco de memórias falsas é uma constante. Este não é um pensamento einsteiniano... Mas é factível!

Imperdoável seria, esquecer-me desta vida vivida, de todos os tempos preciosos de professorar... Pois que, “a tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer”. Isto sim é einsteiniano... Abrindo a consciência para o outro. E por muito menos já chorei!

“Não basta ensinar ao homem uma especialidade porque ele se tornará assim, uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida.”

Albert Einstein

No verão de 1913, dois gigantes da ciência moderna viajaram a Zurique com a missão de oferecer o cargo mais prestigioso da vida científica europeia de então, a um homem. Este mesmo que até seis anos antes fora simples funcionário numa repartição de patentes. Em 1914, com o casamento desmoronando e um caso de amor em andamento Albert Einstein se despede de Mileva. Levam os três na estação ferroviária e Mileva Maric, sua esposa – física e matemática austro-húngara - volta para Zurique com os seus dois filhos... E ao voltar para casa triste e só, O GÊNIO CHOROU!

Einstein que amava muito os filhos confessaria mais tarde a sua prima Elza Rosenthal que naquele dia chorou... E foi com grande dificuldade que ele enfrentou a separação dos filhos.

Albert Einstein é, indubitavelmente, um dos maiores nomes da história da ciência, tendo formulado a Teoria da Relatividade - restrita e geral - e colaborado decisivamente para o desenvolvimento da Teoria Quântica - seu primeiro trabalho sobre o quantum, "sugerindo que radiação eletromagnética na região de alta frequência poderia ser pensada como quanta de luz", foi decisivo neste sentido -, ainda que, ulteriormente, se tornasse um crítico contumaz dos desenvolvimentos dados à teoria, pela Escola de Copenhague.

A despeito de suas decisivas contribuições à ciência do século XX, Einstein também é reconhecido como notável humanista, construindo uma profunda reflexão sobre a "natureza" do conhecimento, a vida ético-política e os processos de educação.

É neste domínio que adquire grande importância o livro ‘Einstein e a educação’, dos professores Alexandre Medeiros e Cleide Medeiros, publicado, pela Editora Livraria da Física, em 2006, a quem também homenageio nesta oportunidade. A obra - solidamente alicerçada em ampla bibliografia, constituída por mais de 200 títulos - traz, ao longo de seus capítulos, significativos aspectos da trajetória intelectual de Einstein, enfatizando a seminal vertente pedagógica do seu pensamento.

Nos primeiros capítulos trata da educação primária do pequeno Albert em Munique, da educação secundária do jovem Einstein no Luitpold Gymnasium, avançando para a educação de Einstein na Escola de Aarau, mostrando-nos Einstein como estudante na Escola Politécnica de Zurique seguido de Einstein versus Weber - apresentam aspectos da vida estudantil do físico, na escola e na universidade.

Já neste período evidenciavam-se destacando-se sua aversão pelo aprendizado baseado na pura memorização mecânica - aspecto típico da tradicional educação alemã da época e bastante encontradiço, ainda hoje, nos bancos escolares brasileiros (como, por exemplo, em muitas instituições nas quais se ensina até medicina no país...).

Sua excelência como estudante - aspecto não reconhecido por muitos biógrafos, os quais, muitas vezes, insistem em caracterizar Einstein como um mau aluno... Mas fica patente seu grande poder de concentração, especialmente relacionado à música, momento que os concertos de Bach e as sonatas de Mozart constituíam-se fecundo manancial de inspiração. Ainda, sua independência intelectual - mais claramente manifesta no seu período de graduação na Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), a Escola Politécnica de Zurique.

Nos capítulos intermediários temos tentativas, conflitos e sua pugna de ser professor, sua estada na Academia Olímpia, o escritório de patentes e a Universidade de Berna, ainda Einstein como professor na Universidade de Zurique. Da curta estada em Praga ao retorno a Zurique até a longa estada em Berlim - narrando a sua epopeia na docência, abrangendo desde os primeiros anos após a conclusão do curso de graduação - com as malfadadas tentativas de conseguir um posto na academia, nas quais muito pesaram os desentendimentos com Heinrich Weber -, passando por sua colocação, como técnico, em um escritório de patentes em Berna - considerado, pelo próprio Einstein, como fundamental no seu desenvolvimento intelectual -, até sua aceitação como ‘privatdozent’ na Universidade de Berna (em 1908) e a definitiva consagração, como grande docente e pesquisador.

Nos capítulos finais evidenciam-se imaginação, humildade e bom humor, influências sobre as concepções educacionais de Einstein e de Dewey, as sintonias entre os ideários educacionais de Einstein e Dewey, a educação e a busca da liberdade e da justiça social. Einstein e a questão didática também são considerados centrando-se mais na apresentação das características do Einstein - professor - marcadamente sua humildade e o seu bom humor - e dos principais elementos teóricos de seu pensamento educacional, especialmente as interseções conceituais com a pedagogia de Dewey, já referido.

É possível que uma das grandes virtudes do livro, além da escrita clara e da consistência teórica, seja mostrar a principal característica da “libertária pedagogia einsteiniana”, esta sim: o tácito repúdio ao autoritarismo da escola germânica - o que se tornou explícito, por exemplo, na decisão de abandonar o Luitpold Gymnasium, sua escola secundária, pela acérrima discordância em relação aos seus métodos de ensino - e o profundo respeito pelo livre desenvolvimento do educando - valorizando sua curiosidade, autonomia e criatividade como grandes sustentáculos do processo educacional -, algo apreendido na Escola de Aarau, na Suíça, sob influência do pensamento de Pestalozzi - pedagogo profundamente inspirado em Rousseau e Kant -, como ressaltado pelo próprio Einstein:

[...] pelo seu espírito liberal e pela simples seriedade dos seus professores, que não estava baseada em nenhuma autoridade externa, essa escola deixou em mim impressões inesquecíveis. A comparação com os seis anos de escolaridade no autoritário Gymnasium alemão me fez entender claramente a superioridade de uma educação voltada para a livre ação e para a responsabilidade social em relação a uma outra fundada na autoridade e na ambição.  

[Albert Einstein apud Medeiros & Medeiros, 2006:35]

Esta perspectiva parece ser particularmente útil para as atuais discussões no âmbito do ensino, na medida em que se reconhece a obsolescência de procedimentos "pedagógicos" ainda vigentes, centrados na mera transmissão de conhecimento, nos quais o docente assume um papel de "inculcador de conteúdos", cabendo ao discente tornar-se um repetidor dos mesmos, em uma atitude passiva e reprodutora (mormente por ocasião da avaliação, na qual é cobrada a matéria ministrada...). Neste sentido, um dos comentários de Einstein, transcritos no livro, parece se referir ipsis litteris a tal situação, ainda bastante presente na escola brasileira:

[...] por vezes, vemos na escola simplesmente o instrumento para a transmissão de certa quantidade máxima de conhecimento para a geração em crescimento. Mas, isso não é correto. O conhecimento é morto; a escola, no entanto, serve aos vivos. Ela deve desenvolver nos indivíduos jovens as qualidades e as capacidades que são valiosas para o bem-estar da comunidade.                                                      

                                                                 [Albert Einstein apud Medeiros & Medeiros, 2006:201]

Portanto, ao se considerar, de modo einsteiniano, que o ensinar exige respeito à autonomia e à dignidade de cada sujeito - especialmente no âmago de uma abordagem progressiva, alicerce para uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história -, vale a pena repensar o papel dos diferentes atores envolvidos no ensino, na arte de professorar, especialmente do aparelho escolar, no sentido de formar profissionais mais aptos à construção de consistentes respostas às demandas e às transformações da sociedade.

Neste sentido, é salutar aos debates em educação o escopo de Einstein, como nesta oportunidade, diante desta síntese e por ocasião do Dia do Professor, tendo em vista a educação, trazendo a obra em referência - Einstein e a Educação – e que nas próprias palavras de seus autores:

“servir de inspiração para todos aqueles que detectam na educação um meio para a construção de uma sociedade melhor, mais justa e mais humana.”

Roberto costa Ferreira, 15 de Outubro de 2021 – Dia do Professor.

Professor – Psicanalista e Pesquisador – CEP UNIFESP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO


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