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terça-feira, 30 de novembro de 2021

O PISO de CAQUINHOS CERÂMICOS ...


Por volta de 2013, um artigo escrito pelo engenheiro Manoel Henrique Campos Botelho fez um estrondoso sucesso nas redes sociais e na internet, de maneira geral. Muitos portais replicaram o mesmo texto, mas não foram atrás da fonte original. O artigo em questão, publicado na revista Brasil Engenharia número 614 é brilhantemente escrito por Manoel Henrique Campos Botelho. Aproveito para, também, compartilhar uma linda matéria feita pelo Antena Paulista sobre essa temática. É a primeira vez que um veículo desse porte leva a história para todo o estado. E tenho orgulho de, além de escrever nesta página, ter ajudado a produzir essa matéria para todos vocês. Divirtam-se com a matéria: 

https://globoplay.globo.com/v/8440998/

Reproduzo, igualmente, o nome do engenheiro antes referido abaixo com alguns acréscimos referentes às cerâmicas, a primeira nominada: Cerâmica Fortaleza, à época sediada industrialmente na Estr. de Itapecerica, altura do n° 4600. São Paulo - SP, região muito anteriormente pertencente à Santo Amaro, a segunda – Cerâmica São Caetano - na foto adiante, segundo o link: 

https://www.saopauloinfoco.com.br/wp-content/uploads/2019/04/anuncio_caco.jpg

Pode algo quebrado valer mais que a peça inteira? Aparentemente não. Pela primeira vez na história da humanidade contamos esse mistério. Foi entre as décadas de 40 e 50 do século passado. Voltemos a esse tempo. A cidade de São Paulo era servida por duas indústrias cerâmicas principais. Um dos produtos dessas cerâmicas era um tipo de lajota cerâmica quadrada (algo como 20×20 cm) composta por quatro quadrados iguais. Essas lajotas eram produzidas nas cores vermelha (a mais comum e mais barata), amarela e preta. Era usada para piso de residências de classe média ou comércio. No processo industrial da época, sem maiores preocupações com qualidade, aconteciam muitas quebras e esse material quebrado sem interesse econômico era juntado e enterrado em grandes buracos. Nessa época os chamados lotes operários na Grande São Paulo ou eram de 10×30 m ou, no mínimo, 8×25 m; ou seja, eram lotes com área para jardim e quintal – jardins e quintais revestidos até então com cimentado, com sua monótona cor cinza.

Mas os operários não tinham dinheiro para comprar lajotas cerâmicas, que eles mesmos produziam, e com isso cimentar era a regra. Um dia, um dos empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa, não tinha dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou-se do refugo da fábrica – caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça, pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição. Agora a história começa a mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos, mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo.

É… a entrada da casa do simples operário ficou, digamos assim, "bonitinha" e gerou comentários dos vizinhos, também trabalhadores da fábrica. Aí o assunto pegou fogo e todos começaram a pedir caquinhos, o que a cerâmica adorou, pois parte – pequena é verdade – do seu refugo começou a ter uso e sua disposição ser menos onerosa. Mas o belo é contagiante e a solução começou a virar moda em geral e até jornais noticiavam a nova mania paulistana. A classe média adotou a solução do caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura começou a crescer, a diretoria comercial de uma das cerâmicas, descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender, a preços módicos é claro, pois "refugo é refugo", os cacos cerâmicos! O preço do metro quadrado do caquinho cerâmico era da ordem de 30% do caco íntegro (caco de boa família).

Até aqui esta historieta é racional e lógica, pois refugo é refugo e material principal é material principal. Mas não contaram isso para os paulistanos e a onda do caquinho cerâmico cresceu e cresceu e cresceu e – acredite quem quiser – começou a faltar caquinho cerâmico que começou a ser tão valioso como a peça íntegra e impoluta. Ah, o mercado com suas leis ilógicas, mas implacáveis… Aconteceu o inacreditável. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria cerâmica.... Pode? E é claro que os caquinhos subiram de preço, ou seja, o metro quadrado do refugo era mais caro que o metro quadrado da peça inteira! A desculpa para o irracional (!) era o custo industrial da operação de quebra (uma justificativa aparentemente plausível) embora ninguém tenha descontado desse custo a perda industrial que gerara o problema, ou melhor, que gerara "a febre do caquinho cerâmico"! De um produto economicamente negativo passou a um produto sem valor comercial, depois a um produto com algum valor comercial, até ao refugo valer mais que o produto original de boa família... Impressionante!

A história termina nos anos 1960 com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores (4×15 m) ou foi morar em favelas... A solução do caquinho deixou de ser uma solução altamente valorizada. São histórias da vida que precisam ser contadas para no mínimo se dizer:

– A arte cria o belo, e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça inteira…

Nota: um filósofo da construção civil confessou-me: – Existe outro produto que quebrado vale mais que a peça inteira por quilo. É a areia que vem da quebra da pedra. A areia fina é vendida mais cara que a areia grossa!

Uma menção necessária:

Após muitos comentários e conversas com colegas que entendem muito mais de arte do que eu, resolvi acrescentar um intertítulo para corrigir um erro de anos do meu site:

https://blogdorobertocostaferreira.blogspot.com/.

Claro que, para citar os caquinhos aqui de São Paulo, é legal e importante falar de um arquiteto catalão que fez história por usar esse tipo de material. Estamos falando de Antoni Gaudí (1852-1926). Conta sua história, que ele pedia para que os operários que trabalhavam na obra do Parque Güell, em Barcelona, que recolhessem pelo caminho cacos de cerâmica e objetos descartados pela população que tivessem alguma utilidade em seu trabalho.

Foi com esses restos da sociedade catalã que ele inventou uma técnica conhecida como “trencadís” (do catalão trencat, que significa quebrado, por usar cacos). Ela marcou definitivamente o modernismo catalão, movimento que, entre 1880 e 1930, renovou a arquitetura, o design, a pintura e a escultura. Teria sido Gaudí uma inspiração aos operários que criaram nossos pisos de caquinhos? Acho bastante improvável, mas fica esse mistério no ar para todos nós!

Outra necessária menção:

MANOEL HENRIQUE CAMPOS BOTELHOé engenheiro consultor, escritor e professor, exímio colaborador.

ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR - PSICANALISTA - PESQUISADOR

CEP - UNIFESP  -  UNIVERSIDADE FEDERAL SP

SÃO PAULO

PPP - Qual a importância do PPP no sentido de efetivar uma gestão democrático-participativa na Escola?

 


Diante de tal indagação tenho a dizer, por conclusão, que a administração democrática necessita atentar-se às necessidades e situações de transformações que acontecem e aconteceram no contexto da sociedade e, bem por tal o administrador, ou gestor deverá reunir habilidades e provar competências quanto à coordenação e mesmo plena ação mútua e compartilhada de comunicação.

É muito certo que o ser humano busca construir continuamente resultados, necessitando para tanto de participativa educação no qual os componentes das esferas sociais empreguem recursos mais diretamente na educação dos seus cidadãos, promovendo um contínuo e próspero crescimento.  Também é correta a compreensão segundo a qual o fazer pedagógico constrói-se na justa proporção em que ocorrem desafios segundo as exigências educacionais e sociais.

Diante de tais desafios, entendo não residir espaço para atitudes metodológicas segundo as quais apresentam-se reprodutivas, como as ainda resistem e são utilizadas por diversos professores, vez que, a repetição de conteúdos não dá conta de uma ampla formação. Os educadores, cada vez mais, são exigidos tendo que cumprir tarefas que anteriormente não lhes diziam respeito, face a formação de valores, leitura dos meios de comunicação, orientação sexual e inúmeras outras atitudes do fazer humano. Desse modo, tornando-se uma questão de sobrevivência da escola, é essencial que os profissionais da educação desafiados constantemente pelo desconhecido, promovam a renovação e atualização de suas práticas educacionais.

É perceptível que, tendo em vista a referida sobrevivência das escolas, torna-se necessário a produção do competente e adequado projeto político-pedagógico em tais instituições e tal vindo alicerçar-se nos princípios que resguardem e garantam igualdade e participação inclusiva de todos e de cada um dos envolvidos, possibilitando e promovendo a plena expressão de suas ideias e respectiva discussão, aproveitadas e apuradas na oportunidade da decisão coletiva. Portanto, considero que cada educador tem a responsabilidade em seu individual trabalho, objetivando reproduzir no sucesso coletivo!

Assim, a antes mencionada administração democrática, usualmente servida como “gestão democrática” promove aberturas e caminhos para a comunidade, significando assim um significativo e enorme avanço com vistas “à democratização do ensino”, momento que percebemos e determinantemente constatada que as escolas estão procurando a tal mudança, em algumas oportunidades até conscientizando a comunidade escolar que está inserida a participar dos projetos educativos.

É compreensível e já visto diante de diversas notas que “a escola tem um papel fundamental na luta pela descentralização de poder e valorização do homem como ser social”. Portanto, conscientizando-se as pessoas objeto desta participação coletiva pode-se obter inúmeras e variadas conquistas em razão da comunidade escolar. Tal despertar, esse “sair do sono”, de tal “estado dormente” deve partir de ações concretas na própria escola, promovendo a valorização de ideias oriundas da sua comunidade, através da administração/gestão democrática da educação, oportunidade que o educando é sujeito de sua aprendizagem e, portanto, ao perceber seu valor no contexto da sociedade, transforma-se em “lutador”, travando intensa luta para mudar igualmente a sociedade.

Em razão do Projeto Político-Pedagógico – PPP, que de certa forma, é um projeto que, embora de caráter burocrático, necessita e precisa ser construído partindo-se das vivências e deve ser o motivo das mais diversas práticas cotidianas é, assim, um esboço coletivo das mais amplas expectativas com relação ao educado e seu intenso trabalho formativo. É compreensível ainda que, dentro das novas concepções orientadas pelos processos de globalização, a política educacional partindo-se dos  anos 1990, imprimiu várias alterações na legislação do Sistema de Ensino, entre as quais a LDB 9.394/1996, as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, EJA-Educação de Jovens e Adultos, Médio e Superior. Além de tais, as Resoluções para os Cursos Sequenciais e demais providências. 

Destaque para a LDB acima citada, em seu artigo 12º, inciso I, que prevê:

os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”,

deixando claras as ideias, segundo as quais a escola não pode prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. Portanto, é de se considerar que o PPP- Projeto Político-Pedagógico é prioritário em sede de estudo e de discussão e, tanto o Conhecimento e o Reconhecimento da identidade da instituição convém a necessidade de “avaliar constantemente o projeto para refletir o que planejar”, ainda os resultados obtidos e o que reclama ser mudado, melhorado, adequado, com vistas à obtenção, ao atingimento daquilo que não resultou realizado, alcançado, partindo do planejado. 

Por fim, há de se considerar ser possível acreditar que toda escola pode ser democrática, e que possa contribuir para a construção de uma sociedade justa e melhor. Enfim, a construção do PPP-Projeto Político-Pedagógico é um novo paradigma para as instituições escolares, um processo flexível e permanente, momento que, todo trabalho desenvolvido,  partindo dele, tem sua importância, um significado, um significante, determinado sentido quer para os educadores e gestores, quanto para a comunidade em geral, permeando efetivar uma gestão democrático-participativa inclusive na Escola.

ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR – PSICANALISTA – PESQUISADOR

CEP – UNIFESP –  UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SÃO PAULO/SP.

 

 


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Mim dá … Mim dá … Uma expressão muito comum … Um erro igualmente muito comum e a questão do EMBURRAMENTO!

Mary - 3 anos - em tempos de Inverno. 


Mim dá … Mim dá … E foi lhe dado! Vivemos e comemoramos uma semana, que se emendou ao feriado de 15 de Novembro, tempo de aniversário da Mary ocorrido em 09 de Novembro. Muita festa foi feita e dedicamos muito amor!

Mim dá … Mim dá …  Uma expressão muito comum … Um erro igualmente muito comum, atualmente, verificado nas redes sociais, principalmente. Ao exemplo:

• Ela mim deu um beijo ( errado);

• Ela me deu um beijo (certo).

A teoria da ciência de W. Dilthey (1986 [1903]) – filósofo hermenêutico, psicólogo, sociólogo, pedagogo e historicista alemão nascido em 1833 (Wilhelm Christian Ludwig Dilthey) que deixou importante contribuição para a metodologia das Ciências Humanas - onde postulava que:

“os fatos da natureza explicam-se pelas suas causas, os fatos da história e da cultura compreendem-se pelo seu sentido” –   

Tal afirmação adquiriu relevância entre as concepções histórico-filosóficas que passaram a serem postuladas no final do séc. XIX e teve profundas consequências no campo das ciências humanas e, em especial, na filosofia: sua ideia de vida humana implicou, segundo J. Ortega y Gasset (1983), onde referiram que:

“a filosofia se visse obrigada a assumir que o homem não tem natureza, mas sim história”.

E essa é a síntese da história dela, a aniversariante!

Não há nada mais gostoso do que o “mim” sujeito de verbo no infinito - Pra mim brincar - As cariocas que, não ou pouco sabem gramática, falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática.

Manuel Bandeira referiu certa ocasião, em sua “Seleta em prosa e verso” que as palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde.      (José Olympio, 1986. P. 19).  Ele que fora um dos maiores escritores da Literatura brasileira e integrante do movimento modernista, brincou, em seu texto, com o uso dos pronomes. Isso aconteceu porque uma das características do modernismo foi justamente registrar no texto literário os diversos falares do povo brasileiro. Na linguagem literária, o poeta pode utilizar aquilo que chamamos de licença poética, mas em nosso dia a dia e nas diversas situações nas quais é preciso redigir um texto, mesmo expressar-se, é preciso saber a modalidade padrão.

Aqui e agora não! Pois que, a pessoa em referência - na foto - não foi ou é poeta, sequer naquela oportunidade conhecia da modalidade padrão… Mas, quando queria algo, já em tenra idade, servia-se repetida e insistentemente da expressão “mim dá”, que aos ouvidos do ouvinte "muito doía"! Essa menina que já trazia no seu olhar o lindo azul, viera prometida para a vida significante… Marcante, e superiormente bela!

Matthew Dylan Lieberman, psicólogo, professor e Diretor do Laboratório de Neurociência Social Cognitiva no Departamento de Psicologia, Psiquiatria e Ciências Biocomportamentais da UCLA, um dos fundadores da Neurociência Social, sobre o cérebro social, refletiu sobre essa questão observando que:

“... a tendência é lembrarmos de situações em que ajudamos alguém”, pois segundo Lieberman, “Pessoas que se doam mais aos outros vivem com mais saúde e mais felizes.



Ela sempre agiu assim, plena de saúde e felicidades constantes, embora “naqueles tempos andasse emburrada”. E por bem que se saiba, dos padrões de comportamento que mais prejudicam as relações interpessoais, o emburrado é um dos mais comuns, mais chatos e infantis que existem. Outra característica clara do mistério dos emburrados reside em "estar chateado, com raiva". Bom, mesmo que não se fale… E, para aquela menininha que um dia “emburrou-se”, ficou apenas um exemplo do passado para pensar:

se a vida é um filme constante, que nunca para, o emburrado é aquele que ao se chatear com uma cena tem a péssima característica de congelar cenas e por dias, sofrer e se ressentir...

E, enquanto isso, o filme da vida segue maravilhoso para o resto da humanidade. Que bom! Ela, magnificamente assentou-se, se superou, audaz, não lhe faltou vontade e impulso para projetar-se. Magistralmente e sem incorreções, preparou-se quando possível e esteve perfeita quando pedida. Abraçou-se à mãe que a gerara e proliferaram um fecundo amor … Tal amor materno que se inscreve para a eternidade, um amor, um sentimento que o filho sabe que, em algum momento, em algum instante de agonia ou de alegria, ela estará sempre ali. E está!


Felizes os filhos que podem carregar dentro do seu patrimônio psíquico, a representação saudável, estável da figura materna. Há quem diga que vivemos a vida procurando alguém, alguma pessoa, algum objeto que tenha essa constância que a mãe tem. Ela viveu este amor, também viveu grandemente amores … E vive!

Aos quinze anos de sua vida debutou, festejou, festejamos e dançamos! Mediante tal rito de passagem, foste apresentada oficialmente à sociedade, um novo tempo, começando assim uma nova fase de sua vida. Partindo deste “debut”, então usando um lindo vestido de gala projetado e realizado por seu também irmão Sergio, atuando como a um "wedding planner", vestiu-o perfeita e elegantemente para dançar a valsa comigo; tudo para representar tal momento no qual deixavas de ser menina para se tornar uma mulher. Linda mulher, que profissional, então!

Transitou e esteve deste tempo até alcançar profissionalmente, no judiciário estadual colaborando com os recursos humanos daquele órgão. Graduou-se mais para a vida acadêmica administrativa e chegou à esfera da magistratura Federal. Nesta, dirigiu divisionalmente o que lhe coube diante do Tribunal Regional Federal da 3a. Região – São Paulo. Por oportuno, lembro-me de algumas de suas referências, as quais talvez nem se lembre:

“Sonhei em chegar antes, mas o horário de Deus é diferente do nosso. Chego na hora certa para unir esforços à colaboração de construção para um novo Judiciário”… Ainda:

“… não devemos poupar esforços no sentido de amenizar o inegável sofrimento daquele que busca o seu direito através da última via que lhe é dada, o Judiciário. É lição de Albert Einstein: “o único lugar em que sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. É com esse objetivo que estou assumindo, trabalho, trabalho e trabalho”. E mais, em significante reconhecimento, num determinado momento:

“Senhoras e senhores, agradeço a Deus por tudo que sempre me proporcionou e por ter me dado muito mais do que fiz por merecer”.



E merecidamente, no momento oportuno soube se distanciar… Disse então, categoricamente:

- “Irei me aposentar”. Que coragem neste gesto!

Diante do olhar do poeta na observação da rua e contemplando o “mundo da aposentadoria”, momento que tal expressão, “mundo …”, pode causar certa estranheza, afinal, esse lugar demanda ser demarcado socialmente, aliada à preocupação das Ciências Humanas, especialmente da Psicologia e da Sociologia, com o “mundo do trabalho” é conhecida e seus estudos favorecem reflexões. O “mundo da aposentadoria”, no entanto, ainda carece de uma maior aproximação científica e, especificamente na Psicologia, onde estudos e discussões proliferam buscando maior entendimento de como ocorre a construção de relações dos aposentados com o espaço e o tempo que lhe ocorrem.

Quanto à espacialidade, aposentar-se quer dizer “recolher- se aos aposentos” e, de certa forma, denota o “fechar das portas” para a vida social. Neste sentido, o espaço da aposentadoria torna-se limitado e pouco reconhecido, construindo-se em locais privados. A temporalidade do “mundo da aposentadoria”, por sua vez, revela-se por continuidades e descontinuidades. Diante deste processo Mary superou-se…



Soube dar continuidades nas relações que permaneceram, envolvendo família e amigos, mesmo os mais distantes, no sentimento de construção de uma história de vida proliferante e, mesmo nos novos projetos a realizar, incluindo-se aqueles abandonados no passado. Não houve descontinuidades e, mesmo vinculadas às possíveis insegurança, soube ressignificar-se, reconstruir-se diante de sua identidade, no novo momento de vida e viver intensamente, o amor, bem como cada novo aniversariar!

E então, já linda mulher e quando pedindo, depois querendo e no momento insistindo, diante daquela peculiar expressão: Mim dá… Às minhas pessoais recomendações, não hesites, dê! Nem pense contrariá-la… Pois que, na insistência, pairará sobre vós “aquele olhar azul, que de inesquecível, se nublar, o Sol se recolherá… E saberá esperar o céu azul também para retornar!


Desse modo, seguem os votos certeiros, a consenso, de felicidades constantes e plenas!

São Paulo, Novembro de 2021.


ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR - PSICANALISTA E PESQUSADOR

CEP/UNIFESP - UNIVERSIDADE FEDERAL de SÃO PAULO


sábado, 6 de novembro de 2021

Dia Nacional da Cultura - Educação não é privilégio, nem prêmio!

 


O Dia da Cultura é um feriado nacional que ocorre anualmente no Japão, em 3 de novembro, com o propósito de promover a cultura, as artes e o empenho acadêmico. Foi originalmente celebrado como o Aniversário do Imperador, porque Meiji nasceu em 3 de novembro, e passou a ser conhecido como o Dia da Cultura com a morte do Imperador, em 1912. Com o anúncio oficial da constituição japonesa pós-guerra, em 3 de novembro de 1946, o Dia da Cultura ganhou um significado adicional, tornando-se um dia para o povo japonês promover os valores adotados na constituição pós-guerra. O dia que a constituição foi oficialmente adotada tem seu próprio feriado também, chamado Dia Memorial da Constituição.

Aqui no Brasil, o dia 5 de novembro foi escolhido como o Dia Nacional da Cultura em homenagem a Rui Barbosa, jurista, jornalista, político, diplomata, ensaísta e orador. Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849, Rui Barbosa desempenhou importante papel político e cultural no Brasil. Já em 15 de maio de 1970, a lei nº 5.579 instituiu o "Dia da Cultura e da Ciência", comemorado a 5 de novembro de cada ano, como homenagem a data natalícia de figuras exponenciais das letras e das ciências, no Brasil e no mundo. A data teve como inspiração o Conselheiro Rui Barbosa.

Cultura é um conceito amplo que representa o conjunto de tradições, crenças e costumes de determinado grupo social, da aprendizagem social. Essa dinâmica faz dela uma poderosa ferramenta para a sobrevivência humana e tornou-se o foco central da antropologia desde os estudos do britânico Edward Tylor (1832-1917). Segundo ele:

"A cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

A cultura brasileira resulta da mistura de raças e etnias que constituem o País desde o descobrimento, tendo sito, tal diversidade cultural brasileira, influenciada por quatro grandes grupos, quais sejam: 

  • Colonos portugueses;
  • Os índios que já viviam antes da chegada de Pedro Álvares Cabral (1467-1520);
  • Os negros africanos que resultaram aqui escravizados;
  • Os europeus que chegaram principalmente ao fim do período de exploração da mão de obra não remunerada.

Diferente da maioria dos países que passaram pelo processo de colonização, o Brasil é marcado pela miscigenação, condição que influencia diretamente na cultura e, a língua portuguesa, que é um importante elemento da unidade nacional, também está entre os pontos de destaque da cultura brasileira.

Quando se trata de cultura e educação, podemos dizer que são estes fenômenos intrinsecamente ligados, a cultura e a educação, juntas tornam-se elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e dos educadores; quando adotamos a cultura como uma aliada no processo de ensino-aprendizagem.

“O acesso à cultura potencializa a aprendizagem e é uma ferramenta muito potente. Ela nos transposta desse lugar que estamos acostumados, seja ele qual for”.

Mais recentemente vem se discutindo, não a largas passadas mas, talvez, inevitavelmente,  a incorporação da cultura no processo de ensino-aprendizagem, momento que alguns educadores e movimentos sociais, lutam para que suas culturas sejam legitimadas como essências e coparticipante no processo de ensino, com relação à temática. BOURDIEU afirma que:

"a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última [...] uma não pode ser pensada sem a outra",

Desse modo, embasados na ideia de que a cultura é um elemento que nutre todo o processo educacional e que tem um papel de suma importância na formação de um indivíduo crítico e socializado. O reconhecimento da multiculturalidade da sociedade leva a constatação da diversidade de raízes culturais, postas anteriormente, que fazem parte de um contexto educativo. Nesse sentido autores que enfatizam a relação existente entre escola e cultura, nos instiga a buscar uma melhor compreensão acerca da importância da cultura no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas, onde a escola é defendida como uma entidade socializadora que deve incorporar as diversas culturas, proporcionando um ambiente sociável.

Darcy Ribeiro (1972): afirma que:

“[...] cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento de substâncias, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação”. 

Ao que se observa, Darcy Ribeiro converge na ideia de que embora a cultura seja um produto da ação humana, ela é regulada pelas instituições de modo que se lapida, de modo justo e perfeito, a ideia a ser manifestada segundo os interesses ou valores de crenças.

Anteriormente, Anísio Spínola Teixeira, intelectual, jurista e educador, nascido em 1900, na Bahia,  e defensor da escola pública no Brasil, foi um dos  signatários do Manifesto da Escola Nova divulgado em 1932, defendia a universalização da escola pública, gratuita e sem vínculo com nenhuma religião. Na ação transformadora em que se empenhou tal educador – concentrada na educação pública – a preocupação com a cultura sempre esteve presente em seu pensamento, materializando-se em diversas realizações.

Destaque-se a excepcionalidade do filósofo-educador para a observação dos aspectos culturais nas dimensões educacionais, em sentido amplo, ao exemplo para com a implantação de bibliotecas nas escolas primárias, e ainda na inauguração de escolas em que os alunos tinham aulas em um dos turnos e, no outro, desenvolviam atividades culturais, de formação da cidadania, trabalho e práticas esportivas.  Recentemente, determinada especialista disse:

“Alfabetização é uma das maiores invenções da espécie humana”. Além de útil é tão poderosa que transforma nossas mentes: “Ler literalmente muda o cérebro”.

Em sua primeira edição, de 1957, 14 anos antes de sua morte que ocorreria no Rio de Janeiro em 1971, a publicação de "Educação não é privilégio" reunia duas conferências: a primeira, sob o mesmo título, proferida na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, em 1953, e a segunda, "A Escola pública, universal e gratuita", pronunciada em setembro de 1956, no Primeiro Congresso Estadual de Educação, em Ribeirão Preto - São Paulo.

A referida edição traz também um anexo: "A Associação Brasileira de Educação e o ensino público". Além desta, foram publicadas mais quatro edições. Assim, em 1957 Anísio Teixeira publicou seu texto mais significativo com o título acima referido: ”Educação não é privilégio”, leitura praticamente obrigatória para qualquer professor brasileiro preocupado com seu próprio ofício. O título é auto elucidativo: todos tem direito à instrução básica. Estendendo um pouco mais aquela ideia, podemos concluir e afirmar que ”Educação não é privilégio, nem prêmio”!

Por mais de três milênios o mundo cultivou a crença de que a instrução era uma obrigação que as famílias tinham para com seus filhos. O dispêndio era grande e os pais mais pobres garantiam apenas um mínimo, no caso dos que tinham a sorte de poder pelo menos alfabetizar suas crianças. Em 1772 o mundo passou por uma grande revolução conceitual: o Marquês de Pombal implantou o ensino público gratuito, como substituição ao sistema escolar dos jesuítas.

Em 1794, Condorcet – Marques de Condorcet: Marie Jean Antoine de Caritat, filósofo, matemático e político revolucionário – à luz da Revolução Francesa na escola e a menos de três anos depois da tomada da Bastilha, precisamente em 14 de Julho de 1789, a Assembleia Nacional, que havia sido investida de poderes constituintes, recebeu um projeto de organização geral da instrução pública elaborado pelo dito marques (1743-1794).

Um dos pioneiros na defesa de um ensino igual para homens e mulheres e também no voto feminino, que a maioria dos revolucionários de então não aceitavam, em discursos e escritos argumentava contra a discriminação a protestantes e judeus e pregava o fim da escravidão e o direito de cidadania dos negros, teorizou sobre essa novidade do ensino público universal (“a igualdade de instrução”) em seu livro “Esboço de um quadro histórico do progresso do espirito humano”.

E por que a educação não é “privilégio, nem prêmio”? Por muitos motivos. O primeiro é que não se recebe educação como se fosse um presente, empacotado. Educação só existe quando o agente principal, o aluno, esforça-se para adquiri-la. O segundo motivo é que o aprendizado não é um bem pessoal. O educando é objeto de investimento, o investimento mais importante que a sociedade pode fazer. Quando praticamos educar os jovens de um município, estamos elevando esse município, não os jovens isoladamente!

A confusão que se estabelece quanto a ser a educação um ganho individual vem do fato de que o indivíduo mais instruído está qualificado para receber remuneração maior, arcando com maiores responsabilidades. Ora, se não existisse a escola, os mais bem aquinhoados seriam os portadores de maior força física, ou os que mostrassem mais habilidades com as armas. Para estes, o investimento seria mínimo, e seria entendido como direito subjetivo. Não é o caso da educação.

Para educar uma geração temos de fazer investimento alto. É um pensamento muito mesquinho imaginar que estamos presenteando pessoas em particular, em lugar de estarmos investindo na sociedade. Educando suficientemente teremos melhores e maiores industrias, melhores artes, melhores resultados científicos, melhores desenvolvimentos tecnológicos e melhores relações políticas. Para quem? Para os educandos? Também, mas muito mais para os demais beneficiários. Portanto, “Educação não é privilégio, nem prêmio” para o indivíduo. É compromisso!

Roberto Costa Ferreira, Novembro de 2021.

PROFESSOR – PSICANALISTA E PESQUISADOR

UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL de SÃO PAULO