O Dia da Cultura é um feriado
nacional que ocorre anualmente no Japão, em 3 de novembro, com o propósito de
promover a cultura, as artes e o empenho acadêmico. Foi originalmente celebrado
como o Aniversário do Imperador, porque Meiji nasceu em 3 de novembro, e passou
a ser conhecido como o Dia da Cultura com a morte do Imperador, em 1912. Com o
anúncio oficial da constituição japonesa pós-guerra, em 3 de novembro de 1946,
o Dia da Cultura ganhou um significado adicional, tornando-se um dia para o
povo japonês promover os valores adotados na constituição pós-guerra. O dia que
a constituição foi oficialmente adotada tem seu próprio feriado também, chamado
Dia Memorial da Constituição.
Aqui no Brasil, o dia 5 de
novembro foi escolhido como o Dia Nacional da Cultura em homenagem a Rui
Barbosa, jurista, jornalista, político, diplomata, ensaísta e orador.
Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849, Rui Barbosa desempenhou
importante papel político e cultural no Brasil. Já em 15 de maio de 1970, a lei
nº 5.579 instituiu o "Dia da Cultura e da Ciência", comemorado a 5 de
novembro de cada ano, como homenagem a data natalícia de figuras exponenciais
das letras e das ciências, no Brasil e no mundo. A data teve como inspiração o
Conselheiro Rui Barbosa.
Cultura é um conceito amplo que
representa o conjunto de tradições, crenças e costumes de determinado grupo
social, da aprendizagem social. Essa dinâmica faz dela uma poderosa ferramenta
para a sobrevivência humana e tornou-se o foco central da antropologia desde os
estudos do britânico Edward Tylor (1832-1917). Segundo ele:
"A
cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos
pelo homem como membro da sociedade”.
A cultura brasileira resulta da mistura de raças e etnias que constituem o País desde o descobrimento, tendo sito, tal diversidade cultural brasileira, influenciada por quatro grandes grupos, quais sejam:
- Colonos portugueses;
- Os índios que já viviam antes da chegada de Pedro Álvares Cabral (1467-1520);
- Os negros africanos que resultaram aqui escravizados;
- Os europeus que chegaram principalmente ao fim do período de exploração da mão de obra não remunerada.
Diferente da maioria dos países
que passaram pelo processo de colonização, o Brasil é marcado pela
miscigenação, condição que influencia diretamente na cultura e, a língua
portuguesa, que é um importante elemento da unidade nacional, também está entre
os pontos de destaque da cultura brasileira.
Quando se trata de cultura e
educação, podemos dizer que são estes fenômenos intrinsecamente ligados, a
cultura e a educação, juntas tornam-se elementos socializadores, capazes de
modificar a forma de pensar dos educandos e dos educadores; quando adotamos a
cultura como uma aliada no processo de ensino-aprendizagem.
“O acesso à
cultura potencializa a aprendizagem e é uma ferramenta muito potente. Ela nos
transposta desse lugar que estamos acostumados, seja ele qual for”.
Mais recentemente vem se discutindo,
não a largas passadas mas, talvez, inevitavelmente, a incorporação da cultura no processo de
ensino-aprendizagem, momento que alguns educadores e movimentos sociais, lutam
para que suas culturas sejam legitimadas como essências e coparticipante no
processo de ensino, com relação à temática. BOURDIEU afirma que:
"a
cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação
última [...] uma não pode ser pensada sem a outra",
Desse modo, embasados na ideia de
que a cultura é um elemento que nutre todo o processo educacional e que tem um
papel de suma importância na formação de um indivíduo crítico e socializado. O
reconhecimento da multiculturalidade da sociedade leva a constatação da
diversidade de raízes culturais, postas anteriormente, que fazem parte de um
contexto educativo. Nesse sentido autores que enfatizam a relação existente
entre escola e cultura, nos instiga a buscar uma melhor compreensão acerca da
importância da cultura no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas,
onde a escola é defendida como uma entidade socializadora que deve incorporar
as diversas culturas, proporcionando um ambiente sociável.
Darcy Ribeiro (1972): afirma que:
“[...]
cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo
coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento
de substâncias, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de
corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência,
exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação”.
Ao que se observa, Darcy Ribeiro
converge na ideia de que embora a cultura seja um produto da ação humana, ela é
regulada pelas instituições de modo que se lapida, de modo justo e perfeito, a
ideia a ser manifestada segundo os interesses ou valores de crenças.
Anteriormente, Anísio Spínola
Teixeira, intelectual, jurista e educador, nascido em 1900, na Bahia, e defensor da escola pública no Brasil, foi
um dos signatários do Manifesto da
Escola Nova divulgado em 1932, defendia a universalização da escola pública,
gratuita e sem vínculo com nenhuma religião. Na ação transformadora em que se
empenhou tal educador – concentrada na educação pública – a preocupação com a
cultura sempre esteve presente em seu pensamento, materializando-se em diversas
realizações.
Destaque-se a excepcionalidade do
filósofo-educador para a observação dos aspectos culturais nas dimensões
educacionais, em sentido amplo, ao exemplo para com a implantação de
bibliotecas nas escolas primárias, e ainda na inauguração de escolas em que os
alunos tinham aulas em um dos turnos e, no outro, desenvolviam atividades
culturais, de formação da cidadania, trabalho e práticas esportivas. Recentemente, determinada especialista disse:
“Alfabetização
é uma das maiores invenções da espécie humana”. Além de útil é tão poderosa que
transforma nossas mentes: “Ler literalmente muda o cérebro”.
Em sua primeira edição, de 1957, 14 anos antes de sua morte que ocorreria no Rio de Janeiro em 1971, a publicação de "Educação não é privilégio" reunia duas conferências: a primeira, sob o mesmo título, proferida na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, em 1953, e a segunda, "A Escola pública, universal e gratuita", pronunciada em setembro de 1956, no Primeiro Congresso Estadual de Educação, em Ribeirão Preto - São Paulo.
A referida edição traz também um anexo: "A Associação Brasileira de Educação e o ensino público". Além desta, foram publicadas mais quatro edições. Assim, em 1957 Anísio Teixeira publicou seu texto mais significativo com o título acima referido: ”Educação não é privilégio”, leitura praticamente obrigatória para qualquer professor brasileiro preocupado com seu próprio ofício. O título é auto elucidativo: todos tem direito à instrução básica. Estendendo um pouco mais aquela ideia, podemos concluir e afirmar que ”Educação não é privilégio, nem prêmio”!
Por mais de três milênios o mundo
cultivou a crença de que a instrução era uma obrigação que as famílias tinham
para com seus filhos. O dispêndio era grande e os pais mais pobres garantiam
apenas um mínimo, no caso dos que tinham a sorte de poder pelo menos
alfabetizar suas crianças. Em 1772 o mundo passou por uma grande revolução
conceitual: o Marquês de Pombal implantou o ensino público gratuito, como
substituição ao sistema escolar dos jesuítas.
Em 1794, Condorcet –
Marques de Condorcet: Marie Jean Antoine de Caritat, filósofo, matemático e
político revolucionário – à luz da Revolução Francesa na escola e a menos de
três anos depois da tomada da Bastilha, precisamente em 14 de Julho de 1789, a
Assembleia Nacional, que havia sido investida de poderes constituintes, recebeu
um projeto de organização geral da instrução pública elaborado pelo dito
marques (1743-1794).
Um dos pioneiros na defesa de um
ensino igual para homens e mulheres e também no voto feminino, que a maioria
dos revolucionários de então não aceitavam, em discursos e escritos argumentava
contra a discriminação a protestantes e judeus e pregava o fim da escravidão e
o direito de cidadania dos negros, teorizou sobre essa novidade do ensino
público universal (“a igualdade de instrução”) em seu livro “Esboço de um
quadro histórico do progresso do espirito humano”.
E por que a educação não é “privilégio,
nem prêmio”? Por muitos motivos. O primeiro é que não se recebe educação
como se fosse um presente, empacotado. Educação só existe quando o agente
principal, o aluno, esforça-se para adquiri-la. O segundo motivo é que o
aprendizado não é um bem pessoal. O educando é objeto de investimento, o
investimento mais importante que a sociedade pode fazer. Quando praticamos
educar os jovens de um município, estamos elevando esse município, não os
jovens isoladamente!
A confusão que se estabelece
quanto a ser a educação um ganho individual vem do fato de que o indivíduo mais
instruído está qualificado para receber remuneração maior, arcando com maiores
responsabilidades. Ora, se não existisse a escola, os mais bem aquinhoados
seriam os portadores de maior força física, ou os que mostrassem mais
habilidades com as armas. Para estes, o investimento seria mínimo, e seria
entendido como direito subjetivo. Não é o caso da educação.
Para educar uma geração temos de
fazer investimento alto. É um pensamento muito mesquinho imaginar que estamos
presenteando pessoas em particular, em lugar de estarmos investindo na
sociedade. Educando suficientemente teremos melhores e maiores industrias,
melhores artes, melhores resultados científicos, melhores desenvolvimentos
tecnológicos e melhores relações políticas. Para quem? Para os educandos? Também,
mas muito mais para os demais beneficiários. Portanto, “Educação não é
privilégio, nem prêmio” para o indivíduo. É compromisso!
Roberto Costa Ferreira, Novembro de
2021.
PROFESSOR – PSICANALISTA E
PESQUISADOR
UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL de SÃO
PAULO
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