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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

COOPERATIVISMO e ASSOCIATIVISMO: Quais são as diferenças, e como essas práticas se relacionam com o mercado financeiro?


Diante das dificuldades da economia nos últimos anos, é natural que empreendedores do mesmo setor busquem unir forças para superar os desafios impostos pelo momento. Mesmo em cenários desafiadores, essa união é de extrema relevância para o progresso de todos, o que faz com que práticas como cooperativismo e associativismo ganhem cada vez mais espaço. No entanto, ainda que guardem semelhanças, essas duas formas de organização coletiva apresentam algumas diferenças importantes. 

Por tal, passo a  explorar o que diferencia e o que é feito no associativismo frente àquilo que acontece no cooperativismo, entendendo a definição de cada um deles, começando pelo primeiro - COOPERATIVISMO. Dessa forma, a comparação ficará mais fácil de ser compreendida. Em suma, o cooperativismo é a maneira pela qual pessoas físicas ou jurídicas com interesses em comum se unem para alcançar objetivos aos quais elas não conseguiriam sozinhas. Segundo os registros mais confiáveis, a origem do cooperativismo na forma como conhecemos atualmente remonta à Inglaterra de meados do século XIX, quando um grupo de cerca de 30 pessoas decidiu montar um armazém.

Objetivando obter melhores condições de negociar, decidiram unirem-se e repartir os custos entre todos, o que se mostrou uma decisão acertada. Anos depois, aquela cooperativa já tinha mais de 3 mil participantes. Em outro cenário, no Brasil, o cooperativismo começou a ganhar espaço entre o final do século XIX e o começo do século XX em estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Atualmente, todas as atividades das sociedades cooperativas estão estabelecidas pela Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, também pela Lei Complementar 196/22 que torna impenhorável o valor colocado pelo cooperado na cooperativa de crédito (quota parte) que indica as diretrizes para a Política Nacional de Cooperativismo. Desde então, elas ganharam ainda mais força, em diferentes segmentos da economia.

Assim, na prática, uma cooperativa de agronegócio, por exemplo, pode reunir produtores para a compra conjunta de insumos para a produção, de máquinas agrícolas ou mesmo para transporte da safra, sempre visando ganhos de produtividade. Há ainda modelos de cooperativas de crédito, que prestam uma série de serviços financeiros com custos menores daqueles da média do mercado. É de se considerar que todas as decisões envolvendo os rumos da cooperação são feitas pelos próprios participantes, os quais têm direito a voto nas assembleias. A adesão livre e voluntária e a gestão democrática são alguns dos pilares do cooperativismo.

De outro modo, o associativismo baseia sua atuação na consolidação de uma pessoa jurídica que une diferentes pessoas físicas ou jurídicas que visam a procura por soluções e oportunidades em diferentes âmbitos, seja da economia, seja da sociedade, seja da política. Em outras palavras, as associações permitem a livre organização de pessoas interessadas em resolver um problema em comum ou mesmo alcançar metas estabelecidas em conjunto. Assim, uma associação de produtores agrícolas, pode, por exemplo, organizar-se para representá-los perante o mercado ou prestar assistência técnica para auxiliar na produção.

Dessa forma, o ASSOCIATIVISMO se sustenta com base na solidariedade, na livre participação, na cooperação e na união em torno dos objetivos dos associados. Por outro lado, vale sempre reforçar que os associados devem participar ativamente dos processos do grupo. Ou seja, isso inclui a ocupação de cargos específicos e a manutenção das despesas necessárias para o exercício das tarefas propostas pela associação.

Não é raro, portanto, que essas variações gerem dúvidas na hora de estruturar essas ações, então, é preciso ter bem claro qual é o escopo de cada uma delas. Dessa forma, a primeira diferença a ser observada, com o devido cuidado, reside no fato de que:

·   as cooperativas podem ter finalidade econômica e buscar o lucro;

·  enquanto as entidades de caráter associativo, não.

A constituição dos fundos e do patrimônio também muda conforme a categoria de organização

· Nas cooperativas, os participantes são donos desse patrimônio e beneficiários dos eventuais ganhos.

Portanto, todo o trabalho é desenvolvido em prol dos próprios cooperados, e, qualquer sobra proveniente da produção ou de relações comerciais pode ser repartido entre esses cooperados, mediante decisão da assembleia.

Já em uma ASSOCIAÇÃO, os seus participantes não são necessariamente proprietários do patrimônio que constitui a entidade. Além disso, em muitos casos, os associados não são sequer os beneficiários diretos das ações da associação. Com isso, eventuais ganhos devem ser destinados à sociedade e pertencem a ela. Caso a associação seja encerrada, todo o patrimônio acumulado deve ser encaminhado para uma entidade de caráter similar, assim como indica a legislação.

Quais benefícios ambas as opções oferecem?

Questões burocráticas e organizacionais à parte, tanto o cooperativismo quanto o associativismo procuram valorizar a união de pessoas que têm um objetivo compartilhando. Dessa forma, decisões e ações são sempre baseadas na coletividade, visando o bem comum dos membros da cooperativa ou dos assistidos pela associação. Logo, os participantes dessas organizações colocam sempre o interesse coletivo como prioridade, frente às necessidades individuais. E tal comportamento, certamente, facilita a transposição de diferentes desafios, equilibrando a busca por uma sociedade mais justa e igualitária.

Portanto, Cooperativismo e Associativismo são essenciais para suprir lacunas em relação aos serviços prestados pelo mercado financeiro, ainda que o segundo modelo implique o desenvolvimento de atividades sem fins lucrativos, sendo certo que tais iniciativas são importantes, visto que permitem a criação de novas oportunidades em diferentes áreas, pois que, além das já mencionadas cooperativas de crédito, quer cooperados e associados podem ser unir para aumentar a competitividade do seu segmento de atuação. Ao exemplo: 

· agindo para aumentar a produtividade, 

· reduzir custos (negociando de forma conjunta com fornecedores, por exemplo) e, 

· defendendo os interesses dos membros perante o poder público ou de outros parceiros de mercado.

Desta forma, no conhecimento dos pormenores, torna-se mais fácil explorar todos os benefícios que essas formas de organização oferecem não só para seus participantes, mas para a sociedade que as envolve.

Roberto Costa Ferreira, 04 de Dezembro de 2022.

PROFESSOR – PSICANALISTA – PESQUISADOR

UNIFESP-Universidade Federal de São Paulo/SP.

sábado, 5 de novembro de 2022

NO RETRATO - “O agradecimento de Algacyr da Rocha Ferreira", artista plástico de Santo Amaro/SP.

 


Sob o título acima: “O agradecimento de Algacyr, artista plástico de Santo Amaro/SP”, resulta o vídeo posto no YouTube, em minha página e decorrente de pesquisa, em 02 de  novembro de 2022. Tal manifestação de reconhecimento é, muito além de mero agradecimento, pois que, encontra-se neste registro histórico, o expressar-se do artista em reconhecer o espirito parceiro e colaborativo da historiadora - Professora Dra. Inez Peralta - diante deste precioso momento, no destaque de tempo existencial do Mestre Algacyr, personagem ilustre das Artes, sediado em Santo Amaro/SP, terreno fértil de suas produções artísticas.

Tal artista, como bem referiu anteriormente e colaborou nesta o historiador fotográfico Carlos Fatorelli, o Mestre Algacyr da Rocha Ferreira,  nascido nesta cidade de São Paulo, residente em Santo Amaro e somando atualmente 85 anos, significativamente, a maior parte de suas produções artísticas, a par de suas experiências,  ocorreram conforme se memora adiante. Ele, Algacyr, teve seu caminho artístico inicialmente direcionada pelo seu tio, o mestre laureado Joaquim da Rocha Ferreira que detinha a técnica de mosaicos e pintura em mural afresco.

Mestre Algacyr durante redação do texto.

Sempre atento às novas tendências, frequentou a Escola de Belas Artes de São Paulo  e ainda na Fundação Álvares Penteado  estudou a técnica da arte litográfica com Marcelo Grassmann e Darel de Valença Lins. Atuou com ilustrador do Diário de São Paulo e capas de revistas. Fez sua primeira exposição individual na inauguração da Galeria CBI, no Estado do Rio de Janeiro. Teve o prazer de participar da pioneira e maior empresa de Vitrais do Brasil, a Casa Conrado fundada pelo artista alemão Conrado Sorgenicht onde adquiriu experiência em painéis esmaltados, vitrificados, gravação por jato em areia e espelhos.

Diante dessa gama de experiência vivida nos “Vitrais Conrado Sorgenicht” que possuía escritório na Rua Bela Cintra, 67 - São Paulo/SP e a parte de produção na Rua Clodomiro Amazonas, no Itaim Bibi/SP, tendo participação do mosaicista seu tio Joaquim da Rocha Ferreira, Algacyr aprimorou-se em painéis esmaltados e aprofundou-se na Arte de Vitrais Sacro tornando-se exímio restaurador sobre orientação da família Conrado, onde era requisitado para reposição de peças em igrejas, edifícios e bancos.

O alegre expressar-se no magnífico momento.

Algacyr da Rocha Ferreira figura ainda como Sócio Fundador da Academia Paulista de Belas Artes. Em 1980, já conhecido neste cenário da arte, compõe a Comissão Organizadora do 1º Salão da Academia Paulista de Belas Artes. Em 1987 assume como presidente do júri do 50º Salão Paulista de Belas ArtesEm 1997 integrou a Comissão Organizadora do 41º Salão Paulista de Belas Artes. Largamente laureado em obras que produziu, muitas, apresentou em exposições como as recentemente materializadas sob coordenação  do HILASA - Instituto de Letras e Artes de Santo Amaro e patrocínios diversos, ocorridas no Centro Cultural de Santo Amaro/SP e ACSP - Associação Comercial de São Paulo - Distrital Sul e que hoje, muitas de tantas obras de arte fazem parte de coleções particulares e acervos de galerias.

Teve, diante de  tal cabedal, a felicidade de trabalhar com Julio Guerra, também nosso grande artista e escultor brasileiro, que falecido em Janeiro de 2001 contava 85 anos de vida, discípulo também da Escola de Belas Artes de São Paulo, que detinha a arte do afresco, com mosaico em alto relevo, possuindo este, executadas, grandes obras de vulto de enorme representatividade artística como a estátua do Borba Gato , sendo Mestre Algacyr um restaurador que já recompôs monumentos do referido artista.

Roberto Costa Ferreira, 01 de Novembro 2022.

PROFESSOR  PSICANALISTA  PESQUISADOR

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo/SP


- Professora Dra. Inez Peralta - Historiadora -




sexta-feira, 21 de outubro de 2022

No Dia do Poeta, um ABC prático para conceber-se um ... O que faz um poeta?

 


Dia do Poeta é celebrado em 20 de outubro para homenagear os artistas que usam da criatividade, imaginação e talento para escrever textos em versos. A data é uma homenagem ao artista que usa da criatividade, imaginação e talento para escrever textos em versos. O propósito do Dia do Poeta é estimular a leitura dos trabalhos de poetas, mas também incentivar a escrita de poemas e a publicação destes mesmos.

O Dia Nacional do Poeta é comemorado de forma extraoficial. Ou seja, não há uma lei que oficialize o 20 de outubro como Dia do Poeta no Brasil. No entanto, a data foi escolhida por uma razão especial: em 20 de 1976, surgiu em São Paulo o Movimento Poético Nacional, na casa de Paulo Menotti Del Picchia. A data homenageia este episódio.

Os poetas ainda celebram o 31 de outubro como o Dia Nacional da Poesia, oficializado através da lei 13.131, de 3 de janeiro de 2015. A escolha desta data é uma homenagem ao nascimento do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Ainda existe o Dia Mundial da Poesia, em 21 de março, que celebra a nível internacional este gênero artístico. Esta data foi criada durante a XXX Conferência Geral da UNESCO, em 16 de novembro de 1999.

O que faz um poeta? Certamente que “poemas” seria a explicação mais óbvia. Porém, a resposta vai muito além de uma simples definição de função. E o próprio conceito de função nos diz:

“Toda vez que temos dois conjuntos e algum tipo de associação entre eles, que faça corresponder a todo elemento do primeiro conjunto um único elemento do segundo, de tal modo ocorre uma função”.

Assim já começamos poetizando. Trata-se, portanto, de uma prática diária, que visa tirar proveito de sua inspiração e verbalizar suas emoções em versos. Sentiu aquele frio na espinha só de imaginar? Para aqueles que valorizam a praticidade da vida pode parecer bobagem, mas para os românticos de plantão aceitar o desafio está a um passo. E que passo!

Porém, voltando à vida real, “é possível ganhar dinheiro” com poemas? Claro! Porém, exige dedicação e investimento no início. Você pode vender suas obras para alguma revista ou livro especializado, participar de concursos que oferecem uma gratificação financeira aos vencedores ou ainda escrever seu próprio livro. Além de distribuir colaborações e esperar o devido reconhecimento ...

Então, qual a formação necessária  para fazer objetivando seguir a carreira na poesia? Não há um curso superior exigido para que se possa escrever poesias, porém uma formação na área de humanas, minimamente, como, por exemplo, letras, pode garantir maior desempenho. Isso porque “um poeta deve ter um amplo vocabulário para encontrar as palavras certas na hora de expressar suas ideias e sentimentos”.

Logo, qualquer pessoa pode tornar-se um poeta? Ou escrever é privilégio para poucos? Bem, com as devidas considerações, escrever poesias é algo que surge naturalmente na vida de uma pessoa, só escolhe ser poeta quem realmente quer compartilhar suas emoções com o mundo através de rimas em verso. Mas é preciso algo mais do que o simples "querer escrever": 

·   sensibilidade para detectar a palavra certa e

·   perspicácia para sentir o momento de usá-la.

Sendo certo que nem todo poema é igual, cada escritor segue seu estilo. E isso não significa que um seja melhor do que o outro, pois existem leitores para todos os tipos de poemas. Podemos tomar como exemplos das variações do gênero Carlos Drummond de Andrade, que partiu da poesia cotidiana para o erotismo em seus últimos livros e, Vinícius de Moraes, que iniciou com toques de religião, partindo depois para linguagem mais abstrata. Estes referidos representam dois diferentes estilos, porém igualmente importantes quando se fala em literatura.

O poema, inclusive, é uma das linguagens mais antigas de arte. Há séculos, pessoas leem e se emocionam com os versos que entraram para a história da humanidade. Aliás, todo Poeta também pode ser um fingidor, como bem disse outrora: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”? Esta frase é do poeta Fernando Pessoa. E impossível falar em poesia sem citar este poeta português, que, além de poeta consagrou-se dramaturgo, filósofo, comentarista político, astrólogo entre outras funções, imortalizando seus poemas quando passou a escrever por heterônimos.

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente

Assim, Poema e Poesia, existe diferença? Sim, normalmente muitos se referem a poesia e poema como se fossem a mesma coisa, porém existe diferença. Senão vejamos:

· Poema é uma obra textual que pertence ao gênero da poesia, onde o escritor expressa sentimentos e emoções através de estrofes e versos estruturados respeitando regras e recursos de linguagens, fazendo com que o poema se torne parte da literatura. Dentro da técnica do poema existem diversos estilos. 

·  Já poesia não obedece às formalidades como as regras literárias e gramaticais, ela é quase uma obra artística, aonde além de não seguir regras rígidas, também é permitido transgredir regras de expressão fazendo se valer de licença poética.

E então, como considerar a tal Licença poética? Licença poética é uma liberdade concedida ao autor, para que ele possa expressar toda a sua criatividade e emoção sem precisar seguir com rigorosidade as regras gramaticais ou literárias.

A poesia como uma forma de arte pode ser anterior à escrita. Muitas obras antigas, desde os vedas indianos (1700–1200) e os Gatas de Zoroastro (1200–900 a.C.), até a Odisseia (800–675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monólitos, pedras rúnicas e estelas. O poema épico mais antigo sobrevivente é a Epopeia de Gilgamexe, originado no terceiro milênio a.C. na Suméria (na Mesopotâmia, (atual Iraque), que foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro.

Os esforços dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta, e o que distingue a poesia boa da má, resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. Algumas sociedades antigas, como a chinesa através do Shi Jing (Clássico da Poesia), um dos Cinco Clássicos do confucionismo, desenvolveu cânones de obras poéticas que tinham ritual bem como importância estética. Mais recentemente, estudiosos têm se esforçado para encontrar uma definição que possa abranger diferenças formais tão grandes como aquelas entre The Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer Oku no Hosomichi de Matsuo Basho, bem como as diferenças no contexto que abrangem a poesia religiosa Tanaque, poesia romântica e rap.

A poesia, ou texto lírico, é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos ou críticos, ou seja, ela retrata algo em que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor como a do leitor. Poesia, segundo o modo comum de falar, quer dizer duas coisas:

”A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice”.

O sentido da mensagem poética também pode ser, ainda que seja a forma estética a definir um texto como poético. A poesia compreende aspectos metafísicos e a possibilidade desses elementos transcenderem ao mundo fático. Esse é o terreno que compete verdadeiramente ao poeta. Num contexto mais alargado, a poesia aparece também identificada com a própria arte, o que tem razão de ser já que qualquer arte é, também, uma forma de linguagem (ainda que, não necessariamente, verbal). É a arte de poetizar que nos permite exprimir aquilo que está dentro de nós. Também pode ser encarado, como o modo de uma pessoa se expressar usando recursos linguísticos e estéticos.

Diversos autores, ao longo da história, buscaram conceituar a poesia. Uma das obras fundamentais foi do pensador grego Aristóteles, que não definia a poética como mera composição em versos, afinal, até tratados de Medicina eram escritos em versos. Segundo Ariano Suassuna, em seu livro Iniciação à Estética, a poesia é:

“uma linguagem com predominância da imagem e da metáfora sobre a precisão e a clareza”.

O historiador polonês de estética Władysław Tatarkiewicz, em um trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia", traça a evolução do que são na verdade dois conceitos de poesia. Tatarkiewicz assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas que, como o poeta Paul Valéry observou, "em um certo ponto encontram união. […] A poesia é uma arte baseada na linguagem. Mas a poesia também tem um significado mais geral […] que é difícil de definir, porque é menos determinado:

A poesia expressa um certo estado da mente!”



Roberto Costa Ferreira, 20Out2022.

Professor  –  Psicanalista  -  Pesquisador

UNIFESP - Universidade Federal  São Paulo

 


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Dia do Professor … 20º aniversário da Recomendação de 1997 da UNESCO e possíveis conjecturas.

 


Música: "Concerto de Brandenbugo N.3-Allegro" - BACH (Concerto para 2 pianos e 8 mãos)

Johann Sebastian Bach: compositor e maestro alemão (1685-1750)

No último dia 15 de Outubro lembrou-se do Dia do Professor … Será ele quem professa ou um ator? Não importa! Pois que, para o professor não se tem “dia certo”, “hora de aula”, “momento de atuar”... Para o professor, o tempo é uma constante, no seu agir, no seu pensar, no planejar, no sonhar! Ele media, facilita e articula o conhecimento e não apenas aquele que detém, a própria informação cotidiana. Constantemente, atua como pesquisador, que provoca o aluno a ser também “um curioso” e descobrir partindo de seus próprios questionamentos. Os professores são um fundamento essencial da força de longo prazo de todas as sociedades – fornecer a crianças, jovens e adultos o conhecimento e as habilidades que necessitam para realizar seu potencial.

Porém, em todo o mundo, muitos professores não têm a liberdade e o apoio de que precisam para desempenhar seu trabalho de vital importância. É por isso que o tema do Dia Mundial dos Professores deste ano reafirma o valor de professores com autonomia e reconhece os desafios que muitos enfrentam em sua vida profissional em todo o mundo. Em muitos países, a liberdade acadêmica e a autonomia docente se encontram sob pressão. Por exemplo, nos níveis primário e secundário de alguns países, sistemas rigorosos de responsabilização colocam uma enorme pressão para que as escolas entreguem resultados em testes padronizados, ignorando a imprescindibilidade de se garantir um currículo de base ampla que satisfaça as diferentes necessidades dos estudantes.

Em todos os níveis educacionais, as pressões políticas e os interesses comerciais podem limitar a capacidade dos professores de ensinar com liberdade. Frequentemente, professores que vivem e trabalham em comunidades e países afetados por conflitos e instabilidades enfrentam desafios ainda maiores, incluindo intolerância e discriminação crescentes, assim como restrições relacionadas ao ensino e à pesquisa. Tendo em vista o Professor, mesmo em razão de uma visão alternativa, já se defendeu que o passo mais significativo no processo de traçar a história dessa ciência  – professorar - é analisar a periferia como participante ativa no processo de apropriação que estava sendo trazido pelo centro e se perguntar qual seria a atitude ou a utilização que ela faria quando confrontada com as novas ideias e práticas.

Para corroborar a afirmação, determinado palestrante citou o seguinte exemplo: muitos historiadores de diferentes países da periferia europeia deram relatos detalhados sobre a primeira vez que os estudiosos locais foram confrontados com o sistema newtoniano. Dependendo do grau de compreensão de cada um, as ideias do centro foram expressas em uma versão diluída de acordo com o grau de compreensão de cada um teve da obra original. Menos do que pensar a diferença como desvio ou incompletude, o mais produtivo, segundo o autor, é analisar o modo pelo qual a apropriação foi feita, segundo as necessidades, cultura e formação regionais.

Assim, a liberdade acadêmica é fundamental para os professores de todos os níveis educacionais, mas é especialmente essencial para os professores do ensino superior – e àqueles afeitos às pesquisas - para apoiar suas habilidades de inovar, explorar e atualizar-se quanto às mais recentes pesquisas pedagógicas. Na educação superior, com frequência, os professores são empregados com contratos temporários de forma contingencial. Isso, por sua vez, pode resultar em mais insegurança e carga de trabalho, assim como menores salários e perspectivas profissionais – fatores que podem restringir a liberdade acadêmica e enfraquecer a qualidade da educação que os professores podem oferecer.

Este ano marca o 20º aniversário da Recomendação de 1997 da UNESCO relativa ao Estatuto do Pessoal do Ensino Superior, que complementa a Recomendação da OIT/UNESCO de 1966 relativa ao Estatuto dos Professores. Juntos, esses instrumentos constituem o principal marco legal de referência para tratar dos direitos e das responsabilidades dos professores e dos educadores. As duas recomendações enfatizam a importância da autonomia docente e da liberdade acadêmica para a construção de um mundo no qual a educação e a aprendizagem sejam realmente universais e promotoras de, sobretudo, ATORES da EDUCAÇÃO!

E nesta linha de ação, seguem-se suas projeções que dentro das Artes e Profissões, merecido destaque aos pintores no mundo que os retrataram, quais sejam, Educadores,  Professores e seus Alunos. Que, por sua vez, os primeiros, tem sua própria tarefa:

·         ensinar os jovens a descobrir o mundo e, sobretudo, a pensar e criar!

Professores e Educadores ... "É necessário distinguir a diferença entre os termos professor e educador:

Muitas pessoas confundem ou tratam como sinônimos professores e educadores. Enquanto um se refere ao profissional responsável pela instrução eficiente do aluno, o outro, além de ser profissional, é vocacionado e tem como responsabilidade a formação integral do seu aprendiz. A importância destes profissionais, tanto professores como educadores, são fundamentais para o desenvolvimento intelectual da sociedade.

A Educação é um ato que envolve o ser humano holisticamente, ou seja, em todos os seus aspectos, sejam físicos, cognitivos ou morais. Ser educador, nessa perspectiva, implica enxergar o aluno como ser dotado de saberes, qualidades e potencialidades. O educador não está preocupado exclusivamente em repassar o conteúdo de sua disciplina, mas em compreender, entender e tornar a escola ambiente de felicidade. Para que o aluno aprenda satisfatoriamente ele precisa estar feliz."

Fonte: http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/posts/artigo-professor-ou-educador/

"O professor é “aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte,
uma técnica, uma disciplina”
 O termo educador, que tem origem do vocábulo latim “educatore”,
é definido como “aquele que educa”. 

Fonte: Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa

Temos assim, Professores de Diversas Áreas de Ensino:

  • O Mestre da Música:


Professores de Artes: Piano, Dança e Pintura:

  •         Professores de Piano:
 

"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais..."

(Rubem Alves)



 Professores de Dança:


   Professores de Pintura:

   
Aula de pintura:



         Aula de artes:


Professores em Sala de Aulas:

  •   Aniversário da professora.


  •  Sala de aula.



 "É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade."

(Immanuel Kant)



 "A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces."

(Aristóteles)




  REUNIÃO de Professores:

  • Sala de professores.


  • O outro lado da questão:


Pinturas que parecem Fotografias - A Caminho da Escola:

  •  O problema que todos vivemos.


 Pintura Explicada:

"O Problema que Todos Vivemos", do artista norte-americano Norman Rockwell:

A pintura acima tornou-se um importante símbolo norte-americano da luta pela igualdade racial. Ela retrata uma menina norte-americana, de descendência africana, caminhando em direção à escola "escoltada" por quatro seguranças norte-americanos. Nota-se a postura firme desta pequena e inocente menina. Entretanto, qual o motivo dela estar sendo escoltada por 4 grandes homens? Isto foi na época da perseguição racial extrema aos negros, nos Estados Unidos “dos anos cinquenta e sessenta”, que imperava no estado do Mississipi com um forte e terrível  grupo racial, o KKK.

No parede atrás das figuras encontra-se a inscrição de uma sigla, do grupo racista,  marcas de manchas vermelhas, de um tomate que foi jogado e que aparece no chão. A pintura foi retratada logo após a declaração do Conselho de Educação contrariando as leis estaduais que instituía distintas escolas públicas para alunos negros e brancos, por serem inconstitucionais e que representou a vitória definitiva para o movimento de direitos civis americano.

Esta pintura obteve grande repercussão naquela época e até hoje é rememorada.
Obviamente mostra que a criança tem o direito à educação, a liberdade de ir à escola, seja ela negra ou branca. Esta imagem vale mais do que o discurso de um político, daquela época (e também de outras épocas e países).

 Para a Sala do Diretor:

  • A menina de olho roxo


         Reflexão ... Educar ...


 "Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos."

(Pitágoras)

     "Os professores abrem a porta, mas você deve entrar por você mesmo."

(Provérbio Chinês)

"A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor."

(Padre Antônio Vieira)


         Parabéns a todos os professores!

Roberto Costa Ferreira, 15Out2022 - Dia do Professor 

PROFESSOR  -  PSICANALISTA  -  PESQUISADOR 

UNIFESP  -  Universidade Federal de São Paulo 



quinta-feira, 6 de outubro de 2022

POLIOMIELITE: Pessoas distintas – duas mulheres – de tempos e vidas distintas e distantes , idades experimentadas e evoluções convergentes, análogas, dispostas e homoplásicas.

O conhecido “Método Kenny”, da enfermeira australiana Elizabeth Kenny que é homenageada nesta quarta-feira (05/10/2022) pelo Doodle do Google. Responsável, como enfermeira, por criar a base para a fisioterapia moderna, ela tratou doentes por 31 anos nas matas da Austrália. Ela nasceu em 20 de Setembro de 1889 em Nova Gales do Sul, sudeste da Austrália. Muito interessada em literatura médica, se tornou voluntária de um hospital na cidade de Guyra, logo aos 17 anos de vida. Integrante da comunidade agrícola, Kenny não teve muita educação formal, mas sempre se interessou por anatomia humana. Após trabalhar 10 anos como voluntária, observando os enfermeiros e aprendendo diversos métodos de tratamento, Kenny conseguiu abrir sua própria clínica de enfermagem em Queensland.

Em 1911, ela encontrou o primeiro caso de poliomielite e realizou um método diferente do que tinha na época. O tratamento para poliomielite forçava os pacientes a ficarem engessados por meses, então Kenny, desconhecendo tal método, percebeu que os músculos afetados estavam apenas rígidos e não danificados como muitos imaginavam.  Foi então que ela simplesmente aplicou compressas quentes e úmidas nesses músculos, antes de realizar a manobra de fortalecimento. Esse método funcionou para surpresa de Kenny e partir desse momento ficou conhecida como "método Kenny". A enfermeira ficou tão conhecida que viajou para a América na década de 1940, perto dos 50 anos de vida, onde abriu centros de reabilitação utilizando seu sistema.

Fabulosa! É pouca a expressão para exprimi-la, pois que, filha da australiana Mary Kenny, née Moore, e Michael Kenny, um fazendeiro da Irlanda. Ela foi chamada de Lisa por sua família e educada em casa por sua mãe antes de frequentar escolas em Guyra , Nova Gales do Sul, e Nobby, Queensland . Aos 17 anos, ela quebrou o pulso ao cair de um cavalo. Seu pai a levou para Aeneas McDonnell, um médico em Toowoomba, onde permaneceu durante sua convalescença. Enquanto estava lá, Kenny estudou os livros de anatomia de McDonnell e o esqueleto do modelo. Isso deu início a uma associação vitalícia com McDonnell, que se tornou seu mentor e conselheiro. 

Kenny confirmou mais tarde que ficou interessada em como os músculos funcionavam enquanto convalescia de seu acidente. Em vez de usar um modelo de esqueleto, disponível apenas para estudantes de medicina, ela fez o seu próprio. Após seu tempo com McDonnell, Kenny foi certificada pelo Secretário de Instrução Pública como professora de instrução religiosa e ensinou na Escola Dominical em Rockfield. Tendo se tornado uma pianista autodidata, ela se classificou como uma "professora de música" e o fazia algumas horas por semana. 

Em 1907, Kenny voltou para Guyra, Nova Gales do Sul, primeiro morando com sua avó e depois com sua prima Minnie Bell. Ela logo se tornou uma corretora bem-sucedida de vendas agrícolas entre os agricultores de Guyra e os mercados do norte em Brisbane. Depois disso, ela trabalhou na cozinha em Scotia, um hospital local para parteiras e o Dr. Harris deu-lhe uma carta de recomendação. Com algumas economias de seu trabalho de corretora, ela pagou uma costureira local para fazer um uniforme de enfermeira. Com isso e as observações que fizera na Escócia e sob a orientação do Dr. Harris, ela voltou a Nobby para oferecer seus serviços como enfermeira de Bush. Naquela época, ela era conhecida como enfermeira Kenny, ganhando o título de irmã enquanto cuidava de navios de carga que transportavam soldados de e para a Austrália e a Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial.

Na Grã-Bretanha e nos países da Commonwealth, "Irmã" como título de cortesia se aplica não apenas a membros de uma ordem religiosa, mas a uma enfermeira mais qualificada, um grau abaixo de "Matrona". Tal designação que, na Antiguidade romana, dizia da  mulher casada, senhora respeitável que é mãe de família. Elizabeth Kenny fundou um tratamento alternativo para a poliomielite conhecido como “Método Kenny”.  Seus exercícios reabilitaram milhares de vítimas da pólio em todo o mundo e são considerados uma das formas mais eficazes de tratamento antes das vacinas. Indo contra os ortopedistas da época, ela desenvolveu sua própria metodologia para tratar a poliomielite, através de compressas quentes e fisioterapia.

Seu trabalho foi tão importante, que serviu como base para a fisioterapia moderna, fundando um tratamento alternativo para a poliomielite. Seus exercícios reabilitaram milhares de vítimas da pólio em todo o mundo e são considerados como uma das formas mais eficazes de tratamento antes das vacinas. Desse modo, enquanto em 1913, após vivenciar o seu 1º caso, desenvolver suas experiências para fundamentar e aprimorar seu método, neste mesmo tempo outra mulher nascia com vistas a tal destino - Marguerite Vogt (13/02/1913- 30/11/2007) - Cientista que descobriu vacina contra a poliomielite e foi considerada pioneira da biologia molecular.  A abordagem de Vogt continua sendo o padrão ouro para purificação e contagem de partículas de vírus, incluindo em estudos recentes do SARS-CoV-2, o vírus que causa o COVID-19.  Ao tempo de sua morte em 1952 – Irmã Elizabeth Kenny - reunindo 63 anos vividos, a  poliomielite era uma das doenças mais temidas na América!


Poucas pessoas sabem sobre o dia a dia de cientistas em um laboratório que pesquisa vacinas contra doenças infecciosas. Para chegar ao produto final, o tão almejado imunizante, precisam manusear o microrganismo causador da doença. Dentre outras coisas, inocular esses microrganismos em meios de cultivo, pipetar, centrifugar e testar em culturas de células. Qualquer descuido pode levar à produção de aerossóis ou respingos letais!

Não é uma tarefa confortável, mas foi exatamente nessa a jornada que uma outra mulher - Marguerite Vogt (1913-2007) - Cientista que descobriu vacina contra a poliomielite e foi considerada pioneira da biologia molecular e morreu sem receber um único prêmio importante. Ela que era bióloga de câncer e virologista, foi mais conhecida por sua pesquisa sobre pólio e câncer no Salk Institute for Biological Studies. Tal cientista alemã embarcou, trabalhando com um vírus potencialmente perigoso, o da poliomielite, doença que causa paralisia e pode levar à morte, sobretudo em crianças.


Quando ninguém mais queria o trabalho, Marguerite Vogt entrou em cena. Trabalhando de manhã cedo até tarde da noite em um pequeno laboratório isolado no porão do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Vogt tratou meticulosamente de tubos de ensaio e placas de Petri sob uma coifa: incubando, pipetando, centrifugando, incubando novamente. Ela estava tentando cultivar um patógeno perigoso: o poliovírus.

Era 1952 e a poliomielite era uma das doenças mais temidas na América, paralisando mais de 15.000 pessoas, a maioria crianças, a cada ano. Os pais não permitiam que seus filhos brincassem fora e quarentenas foram instituídas em bairros com casos de poliomielite. Os cientistas estavam desesperados por informações sobre o vírus, mas muitos hesitaram em trabalhar com o agente infeccioso. “Todo mundo estava com medo de ir para aquele pequeno laboratório no porão”, diz Martin Haas, professor de biologia e oncologia da Universidade da Califórnia, San Diego, e amigo pessoal e colaborador de Vogt por mais de três décadas.

Então Vogt, diante de um novo associado e colaborador de pesquisa no laboratório de Renato Dulbecco, assumiu a tarefa de tentar cultivar e isolar o vírus em uma camada de células renais de macaco. O método foi chamado de ensaio de placa para as placas redondas distintas que se formam quando uma única partícula de vírus mata todas as células ao seu redor. Vogt não contou a seus pais, ambos cientistas aclamados na Alemanha, que ela estava trabalhando com o vírus. Mais tarde, ela comentou que seu pai que teria ficado muito bravo se soubesse de seu trabalho com o poliovírus, disse Haas.

Após um ano de persistência, Vogt teve sucesso (e permaneceu livre de vírus). Em 1954, ela e Dulbecco publicaram o método de purificação e contagem de partículas de poliovírus. Foi imediatamente usado por outros cientistas para estudar variantes do poliovírus e mesmo pelo microbiologista Albert Sabin para identificar e isolar cepas de poliovírus enfraquecido para fazer a vacina oral contra a poliomielite usada em campanhas de vacinação em massa em todo o mundo.

Talvez ainda mais importante, o ensaio de placa de poliovírus permitiu que cientistas de todo o mundo analisassem os vírus animais no nível de células individuais, um campo agora conhecido como virologia molecular. A abordagem de Vogt e Dulbecco continua sendo o padrão ouro para purificação e contagem de partículas de vírus, incluindo em estudos recentes do SARS-CoV-2, o vírus que causa o COVID-19. Tal método, usado para medir o quão infeccioso é um vírus e isolar cepas de um vírus para pesquisas futuras, é onipresente em laboratórios de todo o mundo.

Ao longo de uma carreira de três quartos de século, começando com uma publicação quando ela tinha 14 anos, Vogt contribuiu extensivamente para o nosso conhecimento da genética do desenvolvimento animal, como os vírus podem causar câncer e os ciclos de vida celular. Após sua morte em 2007, aos 94 anos, quase 100 pastas de três argolas cobriam as prateleiras de seu escritório, repletas de anotações sobre décadas de experimentos.

Vogt era conhecida por seu intenso e criativo trabalho de laboratório, incluindo o que outros chamaram de seu “polegar verde” para cultura de tecidos – o processo de crescimento de células, vírus e tecidos em um prato.

Por ser uma pessoa meticulosa, ela se preocupava com cada detalhe do processo de cultura celular”, diz David Baltimore, biólogo e presidente emérito da Caltech que trabalhou por três anos em um laboratório próximo ao de Dulbecco.

“Isso é muito importante, porque é mimado. Longa experiência e manuseio preciso são essenciais para obter bons dados. ”

Nascida em 1913, Vogt cresceu na Alemanha rodeado pela ciência. Filha mais nova de dois pioneiros da pesquisa do cérebro, Oskar e Cécile Vogt, ela e sua irmã Marthe eram cientistas em formação desde a juventude. O primeiro artigo de Marguerite Vogt, publicado em 1927, contando 14 anos de idade, investigou a genética do desenvolvimento da mosca da fruta.

Mas, um ano depois de receber seu MD na Universidade Friedrich Wilhelm em 1936, perto dos seus 23 anos de idade, Vogt e sua família liberal foram expulsos de Berlim pelos nazistas. Seus pais perderam seus cargos no Instituto Kaiser Wilhelm de Pesquisa do Cérebro (agora Instituto Max Planck), e Oskar foi acusado de apoiar os comunistas. A família evitou a prisão ou morte devido à intercessão da família Krupp, ex-pacientes de Oskar e fabricantes de armas bem relacionados que abasteciam o regime nazista. Com financiamento dos Krupps, Oskar e Cécile criaram um instituto privado de pesquisa sobre o cérebro em uma parte remota da Floresta Negra, na Alemanha. Lá, eles continuaram suas pesquisas e ofereceram abrigo e empregos para outras pessoas que fugiam da perseguição nazista.

Do instituto de seus pais na Floresta Negra, Vogt publicou 39 artigos seminais sobre como os hormônios e a genética influenciam o desenvolvimento das moscas-das-frutas, trabalho que mais tarde foi considerado à frente de seu tempo. Em 1950, com a ajuda dos cientistas teuto-americanos Hermann Muller e Max Delbrück, Vogt emigrou da Alemanha para os Estados Unidos. Vogt raramente falava sobre suas experiências durante a Segunda Guerra Mundial. Ela nunca mais voltou para a Alemanha e se recusou a falar sua língua nativa com estudantes e cientistas alemães visitantes.

Depois de trabalhar brevemente com Delbrück na genética bacteriana, Vogt foi trabalhar para Dulbecco no ensaio do poliovírus em 1952. Depois desse sucesso, a dupla investigou o papel dos vírus no câncer. Mais uma vez, Vogt desenvolveu uma técnica para cultivar um vírus – desta vez um pequeno vírus contendo DNA chamado poliomavírus – e a dupla foi capaz de contar quantas células o vírus transformado em células cancerosas. Em artigos subsequentes, a equipe demonstrou que certos vírus integram seu material genético no DNA da célula hospedeira, causando o crescimento celular descontrolado. A descoberta mudou a maneira como cientistas e médicos pensavam sobre o câncer, mostrando que o câncer é causado por mudanças genéticas em uma célula.

Em 1963, Vogt acompanhou Dulbecco ao Salk Institute em La Jolla, Califórnia. Lá, ela passou décadas estudando vírus que podem causar tumores, bem como outras áreas que despertaram seu interesse, como tentar definir um relógio celular. “Ela não era apenas muito intensa, ela era muito inventiva”, diz Haas. “Ela sempre soube que caminho seguir e o que fazer.”

Como nos primeiros dias do estudo do poliovírus, Vogt trabalhou longa e arduamente, normalmente seis dias por semana, 10 horas por dia. “Ela gostava de experimentar coisas novas, então muitas vezes tentávamos fazer técnicas que ela admirava em artigos que lia ou aprendíamos coisas com outros laboratórios”, diz Candy Haggblom, assistente de laboratório de Vogt nos últimos 30 anos de carreira de Vogt.

Vogt nunca se casou ou teve filhos. “A ciência era meu leite”, ela disse a New York Times em 2001. Mas Vogt não faltou companhia: ela era amiga e mentora de muitos dos jovens cientistas do laboratório, quatro dos quais ganharam o Prêmio Nobel, e como pianista e violoncelista talentoso, Vogt hospedou uma câmara grupo de música que se reunia em sua casa todas as manhãs de domingo por mais de 40 anos, disse Haas.

Depois de serem expulsos de Berlim pelos nazistas, os pais de Marguerite Vogt, Oskar e Cécile Vogt,
retratados aqui, criaram um instituto privado de pesquisa  cerebral na  Floresta Negra, na  Alemanha.
Cortesia de Martin Hass.


ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR  –  PSICANALISTA  –  PESQUISADOR

UNIFESP  –  Universidade Federal de São Paulo/SP.


terça-feira, 20 de setembro de 2022

Humanidade Real – A humanidade de Cristo!

 


“Eis o Homem!” — Disse PILATOS (João 19:5)

Apresentando o Cristo à multidão, Pilatos não designava um triunfador terrestre… 

       ·   Nem banquete, nem púrpura.

       ·  Nem aplauso, nem flores.

       ·  Jesus achava-se diante da morte.

Terminava uma semana de terríveis flagelações:

       ·  Traído, não se rebelara. 

       ·    Preso, exercera a paciência. 

       ·    Humilhado, não se entregou a revides.

Mesmo quando esquecido, não se confiou à revolta. 

       ·  Quando escarnecido, desculpara. 

       ·   Mesmo tendo sito açoitado, olvidou a ofensa. 

       ·   Injustiçado, não se defendeu. 

       ·   Sentenciado ao martírio, soube perdoar.

E ainda, quando Crucificado, voltaria à convivência dos mesmos discípulos e beneficiários que o haviam abandonado, para soerguer-lhes a Esperança. Mas, exibindo-o, diante do povo, Pilatos não afirma: — Eis o condenado, eis a vítima!

Diz simplesmente: — “Eis o Homem!”

Aparentemente vencido, o Mestre surgia em plena grandeza espiritual, revelando o mais alto padrão de "dignidade humana"!

Rememorando, pois, semelhante passagem, recordemos que somente nas linhas morais do Cristo é que atingiremos a Humanidade Real. Esta é uma lição muito profunda ...

A Humanidade de Cristo

Desde o momento da concepção virginal de Jesus no ventre de Maria, a sua natureza divina foi permanentemente unida à sua natureza humana em uma e a mesma pessoa, o agora encarnado Filho de Deus!

A evidência bíblica para a humanidade de Jesus é forte, mostrando-nos que ele possuía:

       ·  um corpo humano,

       ·  uma mente humana, e

       ·  experimentou a tentação humana.

Jesus teve um nascimento humano e uma genealogia humana:

“vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a     lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” 

                                                                                                                               (Gálatas 4.4-5).

Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”       

 (Romanos 5.18-19).

Porque Jesus é verdadeiramente humano, a sua vida perfeita de obediência e triunfo sobre todas as tentações – culminando em sua perfeita morte substitutiva – pode tomar o lugar da rebelião e do fracasso humanos.

Por causa da humanidade de Jesus, ele pode verdadeiramente ser um sacrifício substitutivo pela raça humana.

“Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser  misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo.”                                                                       

 (Hebreus 2.17).

Um homem morreu na cruz quando Jesus morreu, e a sua morte verdadeiramente é a expiação pelo pecado de seres humanos, de cuja natureza ele participou. A humanidade de Jesus faz dele o único mediador eficaz entre Deus e o homem:

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”

                                                                                                            (1Timóteo 2.5).

As naturezas divina e humana de Jesus o habilitam a se colocar na brecha entre homens caídos e um Deus santo.

A humanidade de Jesus o habilitou a tornar-se um Sumo Sacerdote empático, que experiencialmente entende a difícil condição da humanidade em um mundo caído:

“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”. 

(Hebreus 4.15-16; cf. Hebreus 2.18).

Portanto, a humanidade de Jesus significa que ele é um verdadeiro exemplo e modelo para o caráter e a conduta dos homens.

“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”

(1Pedro 2.21; cf. 1João 2.6).

Erros Históricos Acerca da Humanidade de Cristo

Uma heresia do segundo século chamada “docetismo” – Uma doutrina cristã do século II e II, considerada herética pela igreja primitiva. Antecedente do “gnosticismo”, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente -  negava a verdadeira humanidade de Cristo.

O docetismo sustentava uma dicotomia radical entre os reinos físico e espiritual, bem como uma visão muito negativa da ordem física como sem valor e desprezível. Essas crenças conduziram a uma negação de que houvesse qualquer substância física real na humanidade de Jesus. A cristologia docética ensinava em uma de suas afirmações que: “quando Jesus caminhava na praia, ele não deixava pegadas”. O docetismo teve e tem: 

       ·  efeitos devastadores sobre uma correta visão de Cristo, 

       ·  da salvação, da revelação e da criação.

Nessa perspectiva, Cristo não representa a humanidade em sua obra expiatória, tampouco nos revela Deus em forma humana. Tal ensino também destrói uma visão biblicamente positiva da criação, conduzindo a uma perspectiva negativa ou indiferente acerca da vida no corpo.

O Novo Testamento refuta as sementes do que viria a se tornar o gnosticismo, com a sua visão docética de Cristo: 

       ·  E João condena severamente qualquer visão que negue a humanidade plena, física de Cristo:

“Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”                                                                                                          

  (1João 4.2).

O apolinarianismo foi outra heresia primitiva que negava a humanidade plena de Cristo.   

Apolinário (século IV d.C.)

Apolinário de Laodicéia (c. 310 - c. 390) foi bispo de Laodicéia. É também conhecido como Apolinário, o Jovem, para distingui-lo de seu pai Apolinário, o Ancião.
É o propositor da teoria chamada “apolinarianismo”, considerada herética no primeiro Concílio de Constantinopla. Afirmava que:

“Jesus não tinha um espírito humano e que seu espírito manipulava o corpo humano, contrariando o arianismo que negava a divindade de Cristo”.

Apolinário, bispo de Laodicéia, estimulou a controvérsia sobre a natureza de Cristo, afirmando que:

“Cristo não podia ter duas naturezas, a divina e a humana, completas e contrárias, pois a divina era eterna, invariável, perfeita, e pelo contrário, a humana era temporal, finita, imperfeita e corruptível”.

Afirmava que o homem está formado de alma, corpo e razão; sustentava que se Cristo houvesse tido as duas naturezas, se houvesse tido em si dois seres, com a parte humana poderia ter praticado algum pecado.

Curiosamente, Jesus tinha corpo e alma humanas, mas se diferenciava do resto dos seres humanos em que o Logos divino substituiu ao intelecto humano, resolvendo dessa maneira a relação entre o divino e o humano em Jesus. Apolinário estava convencido de haver resolvido um dos mistérios ou enigmas mais irresolúveis, e de haver permanecido fiel à ortodoxia nicena. Apolinário pertencia à escola de Alexandria, a qual: 

       ·  havia recebido mais a influência neoplatônica, 

       ·  a diferença da escola de Antioquía, que se inclinava mais ao estudo da história da vida de Cristo, 

       ·  e era afetada pelo pensamento aristotélico.

Reiterando, o apolinarianismo  acreditava que os seres humanos possuíam corpos, almas animais e espíritos racionais. Ele ensinava que: 

       ·  o logos divino em Cristo tomou o lugar do espírito racional presente nos homens.

Essa visão foi refutada de modo bem-sucedido: 

     ·  no quarto século por Gregório de Nisa (considerado um dos padres orientais mais expressivos do século IV.

Ele morreu entre os anos 395 a 400. Místico e escritor cristão,  irmão de Basílio Magno, faz parte, com este e com Gregório Nazianzeno, dos assim denominados padres capadócios. É neto de Santa Macrina Maior, filho de Basílio, o Velho e irmão de Santa Macrina, a Jovem. Amante do estudo e da solidão, foi a contragosto posto à frente de uma diocese. Sua bondade e falta de senso prático foi julgada muitas vezes como ingenuidade.

Também Atanásio - Atanásio de Alexandria - foi o vigésimo arcebispo de Alexandria, Doutor da Igreja e santo da Igreja Católica. Seu episcopado durou 45 anos, dos quais dezessete ele passou exilado, em cinco ocasiões diferentes e por ordem de quatro diferentes imperadores romanos. Foi um religioso muito atuante, discípulo e contemporâneo de figuras muito importantes do clero que a Igreja honrou com a veneração nos altares. Nascido em Alexandria em 295, é a figura mais dramática e desconcertante da galeria dos Padres da Igreja.

Obstinado defensor da ortodoxia durante - nascido em Alexandria em 295, é a figura mais dramática e desconcertante da galeria dos Padres da Igreja. Obstinado defensor da ortodoxia durante a grande crise ariana, imediatamente após o Concílio de Niceia, pagou a sua heroica resistência à difundida heresia com cinco exílios que lhe foram impostos pelos imperadores Constantino, Constâncio, Juliano e Valente.

Ário, sacerdote proveniente da própria Igreja de Alexandria, negando a igualdade substancial entre o Pai e o Filho, ameaçava ruir as estruturas do cristianismo. De fato, se Cristo não é o Filho de Deus, a que se reduz a redenção da humanidade? Bem como, rejeitada no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.. (Este Concílio foi convocado em maio de 381 pelo Imperador Teodósio para: 

       ·  proporcionar uma sucessão católica para a Sé Patriarcal de Constantinopla

       ·  confirmar o Símbolo de Fé de Niceia

       ·  reconciliar os semi-arianos com a Igreja e, 

      ·  acabar com a heresia macedoniana, debatendo a natureza de Cristo).

Referido concílio demonstrou que se Jesus fosse apenas, digamos, dois terços humanos, a plena redenção de pessoas plenamente humanas não seria possível. Na citação célebre de Gregório:

“aquilo que Ele não assumiu Ele não curou; mas aquilo que está unido à Sua Divindade também está a salvo”.

Jesus deveria assumir cada elemento da natureza humana a fim de redimir completamente a humanidade.

Essas duas heresias ensinam os crentes, nós os espíritas, a apreciarem a importância da humanidade de Cristo, bem como proporcionam uma lição acerca do método teológico. Ambas essas visões se aproximam da Bíblia com pressuposições acerca da humanidade e conformam o ensino bíblico a elas, ao invés de permitirem que a Escritura governe todas as coisas, incluindo as pressuposições.

O método teológico evangélico deve sempre permitir que o ensino da Escritura molde as conclusões teológicas, ao invés de distorcer o seu ensino com base em assunções estranhas a ela. Inúmeros erros teológicos tem ocorrido pela imposição de ideias humanas à Bíblia.

Portanto, ao estudarmos as duas naturezas de Cristo, vamos perceber que Ele é o Deus-homem, ou seja: 

       ·  Possui uma natureza humana e, 

       ·  uma natureza divina. Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.

Com essas duas naturezas, Ele não deixa de ser uma pessoa. Alguns dizem que Cristo é 100% homem e 100% Deus, mas o evangelho mostra-O como 100% Deus-homem, porque é uma pessoa completa com duas naturezas, não podendo ser dividido. E, para realizar a sua missão Cristo tinha que possuir duas naturezas, e é isso que vemos neste estudo ora exposto. 

Ainda, as reflexões oriundas do que foi dito, quando pautado em Emmanuel, segundo a visão espírita,  prestam-se aos nossos comportamentos, nossos pensamentos, nas nossas condutas, nas escolhas que fazemos em razão das circunstâncias que nos são presentes e nas nossas vidas. E quando nos achamos afetados e os modos de defesa: 

       ·  quer humanas e terrestres, ou 

             ·  esperando pela providência divina; mas cobrando "essa justiça divina" para que o outro pague aquilo que eu creio ter sido injustiçado. Qual a minha conduta?

Vasta e duradoura lição!

 

Roberto Costa Ferreira, 19/09/2020 - FEESP.

Professor – Psicanalista  e Pesquisador

Unifesp – Universidade Federal–S.Paulo