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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Humanidade Real – A humanidade de Cristo!

 


“Eis o Homem!” — Disse PILATOS (João 19:5)

Apresentando o Cristo à multidão, Pilatos não designava um triunfador terrestre… 

       ·   Nem banquete, nem púrpura.

       ·  Nem aplauso, nem flores.

       ·  Jesus achava-se diante da morte.

Terminava uma semana de terríveis flagelações:

       ·  Traído, não se rebelara. 

       ·    Preso, exercera a paciência. 

       ·    Humilhado, não se entregou a revides.

Mesmo quando esquecido, não se confiou à revolta. 

       ·  Quando escarnecido, desculpara. 

       ·   Mesmo tendo sito açoitado, olvidou a ofensa. 

       ·   Injustiçado, não se defendeu. 

       ·   Sentenciado ao martírio, soube perdoar.

E ainda, quando Crucificado, voltaria à convivência dos mesmos discípulos e beneficiários que o haviam abandonado, para soerguer-lhes a Esperança. Mas, exibindo-o, diante do povo, Pilatos não afirma: — Eis o condenado, eis a vítima!

Diz simplesmente: — “Eis o Homem!”

Aparentemente vencido, o Mestre surgia em plena grandeza espiritual, revelando o mais alto padrão de "dignidade humana"!

Rememorando, pois, semelhante passagem, recordemos que somente nas linhas morais do Cristo é que atingiremos a Humanidade Real. Esta é uma lição muito profunda ...

A Humanidade de Cristo

Desde o momento da concepção virginal de Jesus no ventre de Maria, a sua natureza divina foi permanentemente unida à sua natureza humana em uma e a mesma pessoa, o agora encarnado Filho de Deus!

A evidência bíblica para a humanidade de Jesus é forte, mostrando-nos que ele possuía:

       ·  um corpo humano,

       ·  uma mente humana, e

       ·  experimentou a tentação humana.

Jesus teve um nascimento humano e uma genealogia humana:

“vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a     lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” 

                                                                                                                               (Gálatas 4.4-5).

Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”       

 (Romanos 5.18-19).

Porque Jesus é verdadeiramente humano, a sua vida perfeita de obediência e triunfo sobre todas as tentações – culminando em sua perfeita morte substitutiva – pode tomar o lugar da rebelião e do fracasso humanos.

Por causa da humanidade de Jesus, ele pode verdadeiramente ser um sacrifício substitutivo pela raça humana.

“Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser  misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo.”                                                                       

 (Hebreus 2.17).

Um homem morreu na cruz quando Jesus morreu, e a sua morte verdadeiramente é a expiação pelo pecado de seres humanos, de cuja natureza ele participou. A humanidade de Jesus faz dele o único mediador eficaz entre Deus e o homem:

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”

                                                                                                            (1Timóteo 2.5).

As naturezas divina e humana de Jesus o habilitam a se colocar na brecha entre homens caídos e um Deus santo.

A humanidade de Jesus o habilitou a tornar-se um Sumo Sacerdote empático, que experiencialmente entende a difícil condição da humanidade em um mundo caído:

“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”. 

(Hebreus 4.15-16; cf. Hebreus 2.18).

Portanto, a humanidade de Jesus significa que ele é um verdadeiro exemplo e modelo para o caráter e a conduta dos homens.

“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”

(1Pedro 2.21; cf. 1João 2.6).

Erros Históricos Acerca da Humanidade de Cristo

Uma heresia do segundo século chamada “docetismo” – Uma doutrina cristã do século II e II, considerada herética pela igreja primitiva. Antecedente do “gnosticismo”, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente -  negava a verdadeira humanidade de Cristo.

O docetismo sustentava uma dicotomia radical entre os reinos físico e espiritual, bem como uma visão muito negativa da ordem física como sem valor e desprezível. Essas crenças conduziram a uma negação de que houvesse qualquer substância física real na humanidade de Jesus. A cristologia docética ensinava em uma de suas afirmações que: “quando Jesus caminhava na praia, ele não deixava pegadas”. O docetismo teve e tem: 

       ·  efeitos devastadores sobre uma correta visão de Cristo, 

       ·  da salvação, da revelação e da criação.

Nessa perspectiva, Cristo não representa a humanidade em sua obra expiatória, tampouco nos revela Deus em forma humana. Tal ensino também destrói uma visão biblicamente positiva da criação, conduzindo a uma perspectiva negativa ou indiferente acerca da vida no corpo.

O Novo Testamento refuta as sementes do que viria a se tornar o gnosticismo, com a sua visão docética de Cristo: 

       ·  E João condena severamente qualquer visão que negue a humanidade plena, física de Cristo:

“Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”                                                                                                          

  (1João 4.2).

O apolinarianismo foi outra heresia primitiva que negava a humanidade plena de Cristo.   

Apolinário (século IV d.C.)

Apolinário de Laodicéia (c. 310 - c. 390) foi bispo de Laodicéia. É também conhecido como Apolinário, o Jovem, para distingui-lo de seu pai Apolinário, o Ancião.
É o propositor da teoria chamada “apolinarianismo”, considerada herética no primeiro Concílio de Constantinopla. Afirmava que:

“Jesus não tinha um espírito humano e que seu espírito manipulava o corpo humano, contrariando o arianismo que negava a divindade de Cristo”.

Apolinário, bispo de Laodicéia, estimulou a controvérsia sobre a natureza de Cristo, afirmando que:

“Cristo não podia ter duas naturezas, a divina e a humana, completas e contrárias, pois a divina era eterna, invariável, perfeita, e pelo contrário, a humana era temporal, finita, imperfeita e corruptível”.

Afirmava que o homem está formado de alma, corpo e razão; sustentava que se Cristo houvesse tido as duas naturezas, se houvesse tido em si dois seres, com a parte humana poderia ter praticado algum pecado.

Curiosamente, Jesus tinha corpo e alma humanas, mas se diferenciava do resto dos seres humanos em que o Logos divino substituiu ao intelecto humano, resolvendo dessa maneira a relação entre o divino e o humano em Jesus. Apolinário estava convencido de haver resolvido um dos mistérios ou enigmas mais irresolúveis, e de haver permanecido fiel à ortodoxia nicena. Apolinário pertencia à escola de Alexandria, a qual: 

       ·  havia recebido mais a influência neoplatônica, 

       ·  a diferença da escola de Antioquía, que se inclinava mais ao estudo da história da vida de Cristo, 

       ·  e era afetada pelo pensamento aristotélico.

Reiterando, o apolinarianismo  acreditava que os seres humanos possuíam corpos, almas animais e espíritos racionais. Ele ensinava que: 

       ·  o logos divino em Cristo tomou o lugar do espírito racional presente nos homens.

Essa visão foi refutada de modo bem-sucedido: 

     ·  no quarto século por Gregório de Nisa (considerado um dos padres orientais mais expressivos do século IV.

Ele morreu entre os anos 395 a 400. Místico e escritor cristão,  irmão de Basílio Magno, faz parte, com este e com Gregório Nazianzeno, dos assim denominados padres capadócios. É neto de Santa Macrina Maior, filho de Basílio, o Velho e irmão de Santa Macrina, a Jovem. Amante do estudo e da solidão, foi a contragosto posto à frente de uma diocese. Sua bondade e falta de senso prático foi julgada muitas vezes como ingenuidade.

Também Atanásio - Atanásio de Alexandria - foi o vigésimo arcebispo de Alexandria, Doutor da Igreja e santo da Igreja Católica. Seu episcopado durou 45 anos, dos quais dezessete ele passou exilado, em cinco ocasiões diferentes e por ordem de quatro diferentes imperadores romanos. Foi um religioso muito atuante, discípulo e contemporâneo de figuras muito importantes do clero que a Igreja honrou com a veneração nos altares. Nascido em Alexandria em 295, é a figura mais dramática e desconcertante da galeria dos Padres da Igreja.

Obstinado defensor da ortodoxia durante - nascido em Alexandria em 295, é a figura mais dramática e desconcertante da galeria dos Padres da Igreja. Obstinado defensor da ortodoxia durante a grande crise ariana, imediatamente após o Concílio de Niceia, pagou a sua heroica resistência à difundida heresia com cinco exílios que lhe foram impostos pelos imperadores Constantino, Constâncio, Juliano e Valente.

Ário, sacerdote proveniente da própria Igreja de Alexandria, negando a igualdade substancial entre o Pai e o Filho, ameaçava ruir as estruturas do cristianismo. De fato, se Cristo não é o Filho de Deus, a que se reduz a redenção da humanidade? Bem como, rejeitada no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.. (Este Concílio foi convocado em maio de 381 pelo Imperador Teodósio para: 

       ·  proporcionar uma sucessão católica para a Sé Patriarcal de Constantinopla

       ·  confirmar o Símbolo de Fé de Niceia

       ·  reconciliar os semi-arianos com a Igreja e, 

      ·  acabar com a heresia macedoniana, debatendo a natureza de Cristo).

Referido concílio demonstrou que se Jesus fosse apenas, digamos, dois terços humanos, a plena redenção de pessoas plenamente humanas não seria possível. Na citação célebre de Gregório:

“aquilo que Ele não assumiu Ele não curou; mas aquilo que está unido à Sua Divindade também está a salvo”.

Jesus deveria assumir cada elemento da natureza humana a fim de redimir completamente a humanidade.

Essas duas heresias ensinam os crentes, nós os espíritas, a apreciarem a importância da humanidade de Cristo, bem como proporcionam uma lição acerca do método teológico. Ambas essas visões se aproximam da Bíblia com pressuposições acerca da humanidade e conformam o ensino bíblico a elas, ao invés de permitirem que a Escritura governe todas as coisas, incluindo as pressuposições.

O método teológico evangélico deve sempre permitir que o ensino da Escritura molde as conclusões teológicas, ao invés de distorcer o seu ensino com base em assunções estranhas a ela. Inúmeros erros teológicos tem ocorrido pela imposição de ideias humanas à Bíblia.

Portanto, ao estudarmos as duas naturezas de Cristo, vamos perceber que Ele é o Deus-homem, ou seja: 

       ·  Possui uma natureza humana e, 

       ·  uma natureza divina. Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.

Com essas duas naturezas, Ele não deixa de ser uma pessoa. Alguns dizem que Cristo é 100% homem e 100% Deus, mas o evangelho mostra-O como 100% Deus-homem, porque é uma pessoa completa com duas naturezas, não podendo ser dividido. E, para realizar a sua missão Cristo tinha que possuir duas naturezas, e é isso que vemos neste estudo ora exposto. 

Ainda, as reflexões oriundas do que foi dito, quando pautado em Emmanuel, segundo a visão espírita,  prestam-se aos nossos comportamentos, nossos pensamentos, nas nossas condutas, nas escolhas que fazemos em razão das circunstâncias que nos são presentes e nas nossas vidas. E quando nos achamos afetados e os modos de defesa: 

       ·  quer humanas e terrestres, ou 

             ·  esperando pela providência divina; mas cobrando "essa justiça divina" para que o outro pague aquilo que eu creio ter sido injustiçado. Qual a minha conduta?

Vasta e duradoura lição!

 

Roberto Costa Ferreira, 19/09/2020 - FEESP.

Professor – Psicanalista  e Pesquisador

Unifesp – Universidade Federal–S.Paulo


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