A Semana Santa é o centro do
ano litúrgico: revivemos, nesses dias, os momentos decisivos de nossa
redenção. A Igreja nos conduz pela mão, nesta oportunidade, com a sua sabedoria
e a sua criatividade, do Domingo de Ramos até a Cruz e a Ressurreição. No
coração do ano litúrgico pulsa o Mistério Pascal, o Tríduo do Senhor
crucificado, morto e ressuscitado. Toda a história da salvação gira ao
redor destes dias santos, que passaram despercebidos para a maior parte dos
homens, e que agora a Igreja celebra “do nascer ao pôr do sol”. Todo o
ano litúrgico, resumo da história e da relação de Deus com os homens, surge
da memória que a Igreja conserva da hora de Jesus: quando,
“tendo amado aos seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”- Jo 13, 1-15, pois que,
"Amar até o fim é insistir mesmo quando rejeitado.
Amar até o fim é perdoar quem não pediu perdão.
Amar até o fim é ir até a boca do perigo para resgatar quem está ameaçado.
Amar até o fim é esperar o tempo que for preciso, sem desanimar.
Amar até o fim é não desistir de amar.
É o amor que põe a fé em ação.
É o amor que transforma a esperança em realidade".
Nesta sintonia, a Igreja estende nesses dias a sua sabedoria maternal para nos introduzir nos momentos decisivos da nossa possível redenção. Assim, se não oferecermos resistência, seremos levados:
·
pelo recolhimento com o
qual a liturgia da Semana Santa nos introduz na Paixão,
·
pela unção com que nos move
a velar junto ao Senhor,
·
pela explosão de alegria que
emana da Vigília da Ressurreição.
Muitos dos ritos que vivemos
nesses dias têm suas raízes em tradições muito antigas: sua força está
aquilatada pela piedade dos cristãos e pela fé dos santos de dois milênios. Desse
modo o Domingo de Ramos é o pórtico que precede e prepara o Tríduo
Pascal:
“Neste umbral
da Semana Santa, já tão próximos do momento em que se consumou sobre o Calvário
a possível Redenção da humanidade inteira, parece-me
particularmente apropriado que tu e eu consideremos os caminhos pelos quais Jesus
Senhor Nosso nos proporcionou o salvamento; que contemplemos o seu amor,
verdadeiramente inefável, por umas pobres criaturas formadas com barro da
terra”.
Quando os primeiros fiéis
escutavam a proclamação litúrgica dos relatos evangélicos da Paixão e a
homilia que o bispo pronunciava, reconheciam-se em uma situação bem diferente
de quem assiste a uma mera representação:
“para seus
corações piedosos, não havia diferença entre escutar o que se havia proclamado
e ver o que havia acontecido”.
Nos relatos da Paixão, a
entrada de Jesus em Jerusalém é como a apresentação oficial que o Senhor faz de
si mesmo como o Messias desejado e esperado, fora do qual não há salvação. O
seu gesto é o do Rei salvador que vem à sua casa. Dentre os seus, alguns
não O receberam, mas outros sim, aclamando-o como o Bendito que
vem em nome do Senhor.
Tendo em vista o sacerdote na
celebração do Tríduo Pascal, a Carta aos Hebreus é o único texto
do Novo Testamento que atribui ao nosso Senhor Jesus Cristo os
títulos de “Sacerdote”, “Sumo Sacerdote” e “Mediador
da Nova Aliança”, graças à oferenda do sacrifício do seu corpo,
antecipado na Ceia mística da Quinta-Feira Santa, consumado sobre
a cruz e apresentado ao Pai com a ressurreição e a ascensão ao céu (cf. Hb 9,11-15).
Para conhecimento, este tal texto é meditado na Liturgia das Horas da quinta
semana da Quaresma – ou da Paixão, como no calendário litúrgico da
forma extraordinária do Rito Romano – e na Semana Santa.
Nós todos, mesmo os sacerdotes
católicos, devemos sempre contemplar Cristo e ter os mesmos sentimentos d’Ele;
esta ascese acontece com a conversão permanente. Então pergunto: Como se deve realizar
a conversão nos sacerdotes? No rito da ordenação é pedido o ensino da fé
católica, não das ideias pessoais;
“celebrar com
devoção dos mistérios de Cristo – isto é, a liturgia e os sacramentos – segundo
a tradição da Igreja”, e não segundo o gosto particular; sobretudo, “estar cada
vez mais unidos a Cristo Sumo Sacerdote, que, como vítima pura,
ofereceu-se ao Pai por nós”, isto é, conformar a vida segundo o mistério da
Cruz!
Assim, a Santa Igreja honra o sacerdote e o sacerdote deve honrar a Igreja com a santidade da sua vida – este foi o propósito de Santo Afonso Maria de Ligório no dia da sua ordenação –, com o zelo, com o trabalho e com o decoro. Ele oferece Jesus Cristo ao Pai Eterno e por isso deve estar revestido das virtudes de Jesus Cristo, para preparar-se para o encontro com o Santo dos Santos. Que importante é a preparação interior e exterior para a sagrada liturgia, para a Santa Missa! Trata-se de glorificar o Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo.
Por oportuno, Afonso Maria de Ligório, C.Ss.R., nascido Afonso Maria Antônio João Francisco Cosme Damião Ângelo Gaspar de Ligório, foi um bispo católico italiano que se destacou como escritor espiritual, filósofo escolástico e teólogo, nascido em Marianella, Nápoles - Itália, em 27 de Setembro de 1696 e falecido em Pagani - Itália - em 01 de Agosto de 1787, contados 91 anos de vida. Pois bem, tudo isso se realiza em grau máximo na Semana Santa, a Grande e Santa Semana, como dizem os orientais. Vejamos alguns dos seus principais atos, com base no cerimonial dos bispos.
1. Com a Missa
in Cena Domini, da Quinta-Feira Santa, o sacerdote entra nos principais
mistérios – a instituição da Santíssima Eucaristia e do sacerdócio ministerial
–, assim como do mandamento do amor fraterno, representado pelo lavatório
dos pés, gesto que a liturgia copta realiza ordinariamente cada domingo.
Nada melhor para expressá-lo que o canto do Ubi caritas. Tal
cântico talvez seja um dos cantos Gregorianos mais conhecidos. Após a comunhão,
o sacerdote, usando o véu umeral, sobre ao altar, faz a genuflexão e,
ajudado pelo diácono, segura a píxide com as mãos cobertas pelo véu
umeral. É o símbolo da necessidade de mãos e corações puros para
aproximar-se dos mistérios divinos e tocar o Senhor!
2. Na Sexta-Feira Santa in Passione Domini, o sacerdote é convidado a subir ao Calvário. Às três da tarde, às vezes um pouco mais tarde, acontece a celebração da Paixão do Senhor, em três momentos: a Palavra, a Cruz e a Comunhão.
Dirige-se em procissão e em
silêncio ao altar. Depois de ter reverenciado o altar, que representa Cristo
na austera nudez do Calvário, ele se prostra em terra: é a “proskýnesis”,
como no dia da ordenação. Tal palavra, prosquínese, refere-se ao
tradicional ato dos antigos persas de prostrar-se diante de uma pessoa de status
social mais elevado. Assim, expressa a convicção do seu nada diante da Majestade
divina, e o arrependimento por ter se atrevido a medir-se, por meio do
pecado, com o Onipotente. Como o Filho que se anulou, o sacerdote
reconhece seu nada e assim tem início sua mediação sacerdotal entre Deus e
o povo, que culmina na oração universal solene.
Depois se faz a ostensão e a
adoração da Santa Cruz: o sacerdote se dirige ao altar com os diáconos e
lá, em pé, ele a recebe e a descobre em três momentos sucessivos – ou a mostra
já descoberta – e convida os fiéis à adoração, em cada momento, com as
palavras: Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo.
Em sua descarnada solenidade, aqui, no coração do ano litúrgico, a tradição
resistiu tenazmente mais que em outros momentos do ano. O sacerdote, após ter
depositado a casula, se possível descalço, aproxima-se primeiramente da Cruz, ajoelha-se
diante dela e a beija. A teologia católica não teme em dar aqui à palavra “adoração”
seu verdadeiro significado. A verdadeira Cruz, banhada com o sangue do Redentor,
torna-se, por assim dizer, “uma só coisa com Cristo e recebe a adoração”.
Por isso, prostrando-nos diante do lenho sagrado, nós nos dirigimos ao Senhor:
“Nós vos
adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz redimistes o
mundo”.
3. A Páscoa
do Reino de Deus se realizou em Jesus: oferecida e consumida a Ceia,
“na noite em que ia ser entregue”; imolada sobre o Calvário na Sexta-Feira
Santa, quando “houve escuridão sobre toda a terra”, mais uma vez à
noite recebe a consagração da aprovação divina, na ressurreição de Cristo
Senhor: por João, sabemos que Maria Madalena se aproximou do
sepulcro “bem de madrugada”; portanto, aconteceu nas últimas horas da
noite após o sábado pascal.
No Novus Ordo, o
sacerdote, desde o início da Vigília, está vestido de branco, como para
a Missa. Ele abençoa a fogo e acende o círio pascal com o novo fogo, se
procede, após ter aplicado, como na liturgia antiga, uma cruz. Depois grava
sobre o lado vertical da cruz a letra grega alfa e, abaixo, a
letra ômega; entre os braços da cruz, faz a incisão de quatro algarismos
para indicar o ano em curso, dizendo: Cristo ontem e hoje!
Depois, feita a incisão da cruz e dos demais sinais, pode aplicar no círio
cinco grãos de incenso, dizendo: Por suas santas chagas. Depois,
cantando o Lumen Christi, guia a procissão rumo à igreja. O
sacerdote está à cabeça do povo dos fiéis aqui na terra, para poder guiá-lo ao
céu.
É o sacerdote que entoa
solenemente Eis a luz de Cristo!. Ele o canta três vezes, elevando
gradualmente o tom da voz: o povo, depois de cada vez, repete-o no mesmo tom. Na
liturgia batismal, o sacerdote, estando de pé diante da fonte, abençoa a
água, cantando a oração: Ó Deus, por meio dos sinais sacramentais; enquanto
invoca: Desça, Pai, sobre esta água, pode introduzir nela o círio
pascal, uma ou três vezes. O significado é profundo:
· o sacerdote é o órgão
fecundador do seio eclesial, simbolizado pela fonte batismal.
Verdadeiramente, na pessoa de Cristo
Cabeça, ele gera filhos que, como pai, fortifica com o crisma e nutre
com a Eucaristia. Também em razão destas funções maritais com relação à
Igreja esposa, o sacerdote não pode senão ser homem. Todo o sentido
místico da Páscoa se manifesta na identidade sacerdotal, chegando à
plenitude, o plếroma, como diz o Oriente. Com ele, a
iniciação sacramental chega ao cume e a vida cristã se torna o centro.
Portanto, o sacerdote, que
subiu com Jesus à cruz na Sexta-Feira Santa e desceu ao sepulcro
no Sábado Santo, no Domingo de Páscoa pode afirmar realmente com
a sequência:
“Sabemos que Cristo verdadeiramente ressuscitou dentre os mortos”.
Contextualmente, temos
que em Romanos 6:4 ... Ou ignoremos que todos nós, que
fomos batizados em Cristo Jesus, fomos igualmente batizados na sua
morte? Portanto, fomos sepultados com Ele na morte por meio do batismo,
com o propósito de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos
mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma nova vida. Se
desse modo fomos unidos a Ele na semelhança da sua morte, com certeza seremos
também semelhança da sua ressurreição.
O fato é que Cristo ressuscita para que nós também
ressuscitemos. ... de voltarmos a viver, de voltarmos a sermos
verdadeiramente felizes!
Roberto Costa Ferreira, 07 Abril
2023
Professor - Psicanalista - Pesquisador
UNIFESP-Universidade Federal S. Paulo
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