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domingo, 9 de abril de 2023

O sacerdote na celebração do Mistério Pascal – o Tríduo do Senhor crucificado, morto e ressuscitado! Domingo de Ramos ... Um estudo, artigo de Revisão - 2023.

 


A Semana Santa é o centro do ano litúrgico: revivemos, nesses dias, os momentos decisivos de nossa redenção. A Igreja nos conduz pela mão, nesta oportunidade, com a sua sabedoria e a sua criatividade, do Domingo de Ramos até a Cruz e a Ressurreição. No coração do ano litúrgico pulsa o Mistério Pascal, o Tríduo do Senhor crucificado, morto e ressuscitado. Toda a história da salvação gira ao redor destes dias santos, que passaram despercebidos para a maior parte dos homens, e que agora a Igreja celebra “do nascer ao pôr do sol”. Todo o ano litúrgico, resumo da história e da relação de Deus com os homens, surge da memória que a Igreja conserva da hora de Jesus: quando,

“tendo amado aos seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”- Jo 13, 1-15, pois que,  

    "Amar até o fim é insistir mesmo quando rejeitado.

    Amar até o fim é perdoar quem não pediu perdão.

    Amar até o fim é ir até a boca do perigo para resgatar quem está ameaçado.

    Amar  até o fim é esperar o tempo que for preciso, sem desanimar.

    Amar até o fim é não desistir de amar.

    É o amor que põe a fé em ação.

    É o amor que transforma a esperança em realidade".

Nesta sintonia, a Igreja estende nesses dias a sua sabedoria maternal para nos introduzir nos momentos decisivos da nossa possível redenção. Assim, se não oferecermos resistência, seremos levados:

·         pelo recolhimento com o qual a liturgia da Semana Santa nos introduz na Paixão,

·         pela unção com que nos move a velar junto ao Senhor,

·         pela explosão de alegria que emana da Vigília da Ressurreição.

Muitos dos ritos que vivemos nesses dias têm suas raízes em tradições muito antigas: sua força está aquilatada pela piedade dos cristãos e pela fé dos santos de dois milênios. Desse modo o Domingo de Ramos é o pórtico que precede e prepara o Tríduo Pascal:

“Neste umbral da Semana Santa, já tão próximos do momento em que se consumou sobre o Calvário a possível   Redenção da humanidade inteira, parece-me particularmente apropriado que tu e eu consideremos os caminhos pelos quais Jesus Senhor Nosso nos proporcionou o salvamento; que contemplemos o seu amor, verdadeiramente inefável, por umas pobres criaturas formadas com barro da terra”.

Quando os primeiros fiéis escutavam a proclamação litúrgica dos relatos evangélicos da Paixão e a homilia que o bispo pronunciava, reconheciam-se em uma situação bem diferente de quem assiste a uma mera representação:

“para seus corações piedosos, não havia diferença entre escutar o que se havia proclamado e ver o que havia acontecido”.

Nos relatos da Paixão, a entrada de Jesus em Jerusalém é como a apresentação oficial que o Senhor faz de si mesmo como o Messias desejado e esperado, fora do qual não há salvação. O seu gesto é o do Rei salvador que vem à sua casa. Dentre os seus, alguns não O receberam, mas outros sim, aclamando-o como o Bendito que vem em nome do Senhor.

Tendo em vista o sacerdote na celebração do Tríduo Pascal, a Carta aos Hebreus é o único texto do Novo Testamento que atribui ao nosso Senhor Jesus Cristo os títulos de “Sacerdote, “Sumo Sacerdote” e “Mediador da Nova Aliança”, graças à oferenda do sacrifício do seu corpo, antecipado na Ceia mística da Quinta-Feira Santa, consumado sobre a cruz e apresentado ao Pai com a ressurreição e a ascensão ao céu (cf. Hb 9,11-15). Para conhecimento, este tal texto é meditado na Liturgia das Horas da quinta semana da Quaresmaou da Paixão, como no calendário litúrgico da forma extraordinária do Rito Romano – e na Semana Santa.

Nós todos, mesmo os sacerdotes católicos, devemos sempre contemplar Cristo e ter os mesmos sentimentos d’Ele; esta ascese acontece com a conversão permanente. Então pergunto: Como se deve realizar a conversão nos sacerdotes? No rito da ordenação é pedido o ensino da fé católica, não das ideias pessoais;

“celebrar com devoção dos mistérios de Cristo – isto é, a liturgia e os sacramentos – segundo a tradição da Igreja”, e não segundo o gosto particular; sobretudo, “estar cada vez mais unidos a Cristo Sumo Sacerdote, que, como vítima pura, ofereceu-se ao Pai por nós”, isto é, conformar a vida segundo o mistério da Cruz!

Assim, a Santa Igreja honra o sacerdote e o sacerdote deve honrar a Igreja com a santidade da sua vida – este foi o propósito de Santo Afonso Maria de Ligório no dia da sua ordenação –, com o zelo, com o trabalho e com o decoro. Ele oferece Jesus Cristo ao Pai Eterno e por isso deve estar revestido das virtudes de Jesus Cristo, para preparar-se para o encontro com o Santo dos Santos. Que importante é a preparação interior e exterior para a sagrada liturgia, para a Santa Missa! Trata-se de glorificar o Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo. 

Por oportuno, Afonso Maria de Ligório, C.Ss.R., nascido Afonso Maria Antônio João Francisco Cosme Damião Ângelo Gaspar de Ligório, foi um bispo católico italiano que se destacou como escritor espiritual, filósofo escolástico e teólogo, nascido em Marianella, Nápoles - Itália, em 27 de Setembro de 1696 e falecido em Pagani - Itália - em 01 de Agosto de 1787, contados 91 anos de vida. Pois bem, tudo isso se realiza em grau máximo na Semana Santa, a Grande e Santa Semana, como dizem os orientais. Vejamos alguns dos seus principais atos, com base no cerimonial dos bispos.

1. Com a Missa in Cena Domini, da Quinta-Feira Santa, o sacerdote entra nos principais mistérios – a instituição da Santíssima Eucaristia e do sacerdócio ministerial –, assim como do mandamento do amor fraterno, representado pelo lavatório dos pés, gesto que a liturgia copta realiza ordinariamente cada domingo. Nada melhor para expressá-lo que o canto do Ubi caritas. Tal cântico talvez seja um dos cantos Gregorianos mais conhecidos. Após a comunhão, o sacerdote, usando o véu umeral, sobre ao altar, faz a genuflexão e, ajudado pelo diácono, segura a píxide com as mãos cobertas pelo véu umeral. É o símbolo da necessidade de mãos e corações puros para aproximar-se dos mistérios divinos e tocar o Senhor!


2. Na Sexta-Feira Santa in Passione Domini, o sacerdote é convidado a subir ao Calvário. Às três da tarde, às vezes um pouco mais tarde, acontece a celebração da Paixão do Senhor, em três momentos: a Palavra, a Cruz e a Comunhão.

Dirige-se em procissão e em silêncio ao altar. Depois de ter reverenciado o altar, que representa Cristo na austera nudez do Calvário, ele se prostra em terra: é a “proskýnesis”, como no dia da ordenação. Tal palavra, prosquínese, refere-se ao tradicional ato dos antigos persas de prostrar-se diante de uma pessoa de status social mais elevado. Assim, expressa a convicção do seu nada diante da Majestade divina, e o arrependimento por ter se atrevido a medir-se, por meio do pecado, com o Onipotente. Como o Filho que se anulou, o sacerdote reconhece seu nada e assim tem início sua mediação sacerdotal entre Deus e o povo, que culmina na oração universal solene.

Depois se faz a ostensão e a adoração da Santa Cruz: o sacerdote se dirige ao altar com os diáconos e lá, em pé, ele a recebe e a descobre em três momentos sucessivos – ou a mostra já descoberta – e convida os fiéis à adoração, em cada momento, com as palavras: Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. Em sua descarnada solenidade, aqui, no coração do ano litúrgico, a tradição resistiu tenazmente mais que em outros momentos do ano. O sacerdote, após ter depositado a casula, se possível descalço, aproxima-se primeiramente da Cruz, ajoelha-se diante dela e a beija. A teologia católica não teme em dar aqui à palavra “adoração” seu verdadeiro significado. A verdadeira Cruz, banhada com o sangue do Redentor, torna-se, por assim dizer, “uma só coisa com Cristo e recebe a adoração”. Por isso, prostrando-nos diante do lenho sagrado, nós nos dirigimos ao Senhor:

Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz redimistes o mundo”.

3. A Páscoa do Reino de Deus se realizou em Jesus: oferecida e consumida a Ceia, “na noite em que ia ser entregue”; imolada sobre o Calvário na Sexta-Feira Santa, quando “houve escuridão sobre toda a terra”, mais uma vez à noite recebe a consagração da aprovação divina, na ressurreição de Cristo Senhor: por João, sabemos que Maria Madalena se aproximou do sepulcro “bem de madrugada”; portanto, aconteceu nas últimas horas da noite após o sábado pascal.

No Novus Ordo, o sacerdote, desde o início da Vigília, está vestido de branco, como para a Missa. Ele abençoa a fogo e acende o círio pascal com o novo fogo, se procede, após ter aplicado, como na liturgia antiga, uma cruz. Depois grava sobre o lado vertical da cruz a letra grega alfa e, abaixo, a letra ômega; entre os braços da cruz, faz a incisão de quatro algarismos para indicar o ano em curso, dizendo: Cristo ontem e hoje! Depois, feita a incisão da cruz e dos demais sinais, pode aplicar no círio cinco grãos de incenso, dizendo: Por suas santas chagas. Depois, cantando o Lumen Christi, guia a procissão rumo à igreja. O sacerdote está à cabeça do povo dos fiéis aqui na terra, para poder guiá-lo ao céu.

É o sacerdote que entoa solenemente Eis a luz de Cristo!. Ele o canta três vezes, elevando gradualmente o tom da voz: o povo, depois de cada vez, repete-o no mesmo tom. Na liturgia batismal, o sacerdote, estando de pé diante da fonte, abençoa a água, cantando a oração: Ó Deus, por meio dos sinais sacramentais; enquanto invocaDesça, Pai, sobre esta água, pode introduzir nela o círio pascal, uma ou três vezes. O significado é profundo:

·  o sacerdote é o órgão fecundador do seio eclesial, simbolizado pela fonte batismal.

Verdadeiramente, na pessoa de Cristo Cabeça, ele gera filhos que, como pai, fortifica com o crisma e nutre com a Eucaristia. Também em razão destas funções maritais com relação à Igreja esposa, o sacerdote não pode senão ser homem. Todo o sentido místico da Páscoa se manifesta na identidade sacerdotal, chegando à plenitude, o plếroma, como diz o Oriente. Com ele, a iniciação sacramental chega ao cume e a vida cristã se torna o centro.

Portanto, o sacerdote, que subiu com Jesus à cruz na Sexta-Feira Santa e desceu ao sepulcro no Sábado Santo, no Domingo de Páscoa pode afirmar realmente com a sequência:

“Sabemos que Cristo verdadeiramente ressuscitou dentre os mortos”.

Contextualmente, temos que em Romanos 6:4 ... Ou ignoremos que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos igualmente batizados na sua morte? Portanto, fomos sepultados com Ele na morte por meio do batismo, com o propósito de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma nova vida. Se desse modo fomos unidos a Ele na semelhança da sua morte, com certeza seremos também semelhança da sua ressurreição.

O fato é que Cristo ressuscita para que nós também ressuscitemos. ... de voltarmos a viver, de voltarmos a sermos verdadeiramente felizes!

Roberto  Costa  Ferreira,  07  Abril  2023

Professor  -  Psicanalista -  Pesquisador

UNIFESP-Universidade Federal S. Paulo




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