Dias antes do Dia das Mães - 08 de Maio de 2023, contando 75 anos de vida - Rita Lee Jones de Carvalho - personalíssima, se foi!
Parafrasear nesta expressão a
José Blotta Júnior, dito "a elegância no ar", advogado brasileiro, imortalizado entre os brasileiros como "Blota Júnior", que nascido na paulista Ribeirão
Bonito em 03 de março de 1920 e morreu em São Paulo no dia 22 de dezembro de
1999, ganhando notoriedade como
locutor e apresentador de televisão.
Formado em Direito, começou no jornalismo na Rádio Bandeirantes
como locutor esportivo.
Mas foi
na Rádio e TV Record que ganhou fama, atuando por 45 anos. Ele, Blotta Jr. serviu-se do slogan de "A Personalíssima" destinada à originalidade que
lhe permitiu destaque nacional,
alcançado, naquela época apenas por cantoras do Rio de
Janeiro, referindo-se a Isaura Garcia (26/02/1923-30/08/1993).
Ao contrário do "poetinha" Vinicius de Moraes que adorava
diminutivos, ela ficava brava quando
a chamavam de “Isaurinha”, tornando seu sotaque paulistano do Brás, divisa com a Moóca, ainda mais acentuado. Pois bem, sirvo-me do mesmo slogan "A Personalíssima" para, produzindo esta síntese e
trazendo à pauta tal expressão,
referendar
a importância de Rita Lee no cenário nacional com reconhecimento
internacional. Não poderia ser menor a alusão
histórica!
Desse modo, foi-se agora, mas já houvera ido anteriormente, ainda nesta dimensão existencial ... E irá e retornará sempre, "in memoriam", pois que, reitero, "ela é personalíssima" e, quer queira ou não "está no centro de toda e qualquer reflexão, mesmo comportamental"!
"No centro do direito
encontra-se o ser humano. O fundamento e o fim de todo o direito é o
homem, em qualquer de suas
representações: homo
sapiens ou, mesmo, homo demens; homo faber ou homo ludens; homo
socialis, politicus, œconomicus, tecnologicus, mediaticus. Vale dizer que todo o direito é feito pelo
homem e para o homem,
que
constitui o valor mais alto de todo o ordenamento jurídico. Sujeito primário e indefectível do direito, *ele é o destinatário final tanto da mais
prosaica quanto da mais elevada norma jurídica. Constitui lugar comum a afirmação de que o
interesse público ou social deve prevalecer sobre o individual.
Mas isso é apenas pensar no
homem de forma coletiva.
Quando se
prioriza um interesse público ou social em detrimento de um interesse
individual, supõe-se estar a tutelar, ainda que de forma indireta, o interesse de um número maior de pessoas, ainda que não individualizadas. Assim, seja por que ângulo for, "o ser humano está no centro de
toda e qualquer reflexão jus-filosófica".
* TOBEÑAS, José Castan. Los Derechos de la
Personalidad. 1952, p. 6.
Fato que poucos sabem ou lembram-se, quando se foi ... Quando foi expulsa dos Mutantes, em 1972, Rita Lee foi para Londres e foi visitar seu
amigo, o cantor e compositor Gilberto
Gil. A cidade moderninha e estilosa - um clássico era a cara dela: terra da
recém-criada minissaia, do rock, dos Beatles, momento que a passagem na cidade foi marcante e simbólica
para ela. A Londres que Gil apresentou à Rita Lee deu muito mais do que ela
buscava. Novos amigos, por exemplo. A cidade moderninha e estilosa - um clássico - era a cara de Rita Lee. Terra da recém-criada minissaia e, claro, do rock.
Dos Beatles, que ela amava, Rita contava que "literalmente lambeu a maçaneta
da porta" do estúdio da banda - porque John Lennon tinha encostado na
maçaneta. Rita viveu na cidade histórias em tese impublicáveis, não para ela: na autobiografia, contou que foi parar no camarim
da lendária banda britânica Yes. Disse que acordou "numa cama rodeada de um monte de
outros achados e perdidos humanos”. A viagem mexeu com a cabeça dela!
- El País (Espanha) assim se manifestou, virando pauta, segundo minha tradução:
"Rita Lee, a rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos;
- Outro jornal, na América do Norte - ABC News (Estados Unidos), em vertida tradução, disse igual:
"Rita Lee, a rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos";
- Seguiu também, em igual mensagem: The Derrick (Estados Unidos):
"Rita Lee, a rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos".
Na América do Sul todos os meios jornalísticos se manifestaram ... Em suma, Rita Lee foi assunto na mídia internacional!
"Rita Lee nasceu em São Paulo, capital, em 31 de dezembro de 1947. Foi levada para um
casarão dos anos 1920 construído na Vila Mariana, uma das muitas artérias importantes do coração
da cidade, altura da Rua Joaquim Távora ... Foi em um casarão do anos 1920
na referida rua Joaquim Távora,
na Vila
Mariana, zona oeste da cidade, que Rita nasceu. É com carinho que ela retratou o imóvel, cujo porão era forrado com fotos de artistas
de cinema, e que hoje é sede da Igreja
Presbiteriana do Parque Americano. R. Joaquim Távora, 670, Vila Mariana, região sul de São Paulo. Lá, neste endereço, receberam-na Charles e Chesa Jones, ditos os pais. Ele, inglês. Ela, italiana. Uma junção de etnias improvável durante a
época, mas feita da mesma maneira. Também esperavam pela bebê Balú e Carú, “afamiliadas" dos Jones, e Mary e Virgínia, as irmãs de sangue, 10 e seis anos mais velhas, respectivamente".
A família Jones era uma "típica extensão imigrante da São
Paulo pós-guerra". A mãe italiana bastante
religiosa e gentil até; o pai norte- americano muito rígido e reservado, criavam as filhas numa mistura de disciplina
(quando Charles estava pela casa) e diversão musical (quando ele viajava
para pescar e Chesa abria espaço na sala de jantar para uma pista de
dança, ou até mesmo o piano de armário
para calçada).
As três meninas passavam o tempo
criando gatinhos escondidos no porão, ensaiando peças de autoria própria num
palquinho no jardim,
ou
deleitando-se nas dezenas de cinemas
de rua de São Paulo,
naqueles
tempos. Ritinha,
a mais
novinha, amava a figura do Peter Pan e
acrescentava, aos devaneios teatrais, histórias sobre a Terra do Nunca e Sininho. Na varanda de casa, declarava para os céus, ter visto Peter Pan uma vez. Ou achou que viu: o pai, aficionado por ficção científica,
explicou que as luzinhas dançantes eram nada além de OVNIS.
Quando tinha cinco anos, Ritinha foi abusada sexualmente. Um técnico de máquinas de costura foi até a
casa dos Jones,
e a criança
brincava no chão enquanto a mãe foi atender o telefone. Voltou para ver a filha com uma chave de fenda
introduzida na vagina,
sangrando!
Na autobiografia, Rita Lee admite que não lembra bem do ato do
"filho da puta",
como se sua
memória tivesse sido apagada.
Mas as
mulheres da casa sentiram toda a dor da perda por ela. Fizeram-na jurar não contar para o pai, pois ele provavelmente mataria o técnico. Como recompensa, compraram o álbum de
figurinhas do Peter Pan que ela o preservou.
Para Rita, a tragédia fez com que as adultas passassem a
fazer vista grossa para as malcriações e atitudes mal pensadas dela. Não levava tapas quando criança (ao contrário
das irmãs) e todos os problemas da vida adulta, como escapadas, drogas, brigas... Muito em decorrência e por causa "da dor que ela carregava na alma”
por causa 'daquilo.'
Como uma típica criança
paulistana, Rita Lee também passava as
férias no Guarujá/SP. O pai comprou um apartamento por lá, e como ele quase nunca estava nas viagens, sobrava liberdade para as meninas. A caçula bandeava-se com os meninos da rua e ia cometer pequenos
delitos - hábito que levou para São Paulo. Hora com os vizinhos, hora com a irmã Virgínia, Ritinha amava pregar peças e "causar" pela Vila Mariana. Mas sentia-se um menino perdido, fazia birra pro banho e cantava paródias
infantis (de crianças de boca suja).
Também no Guarujá, as meninas Jones amavam "espiar" as glamourosas festas do Gran
Cassino. Eram fissuradas pela fama e por
todo o luxo e charme das celebridades cinquentonas. Deleitavam-se ouvindo do pai dentista as histórias dos
famosos pacientes,
e usavam o
porão da casa em São Paulo como santuário: nas paredes, penduravam fotos de artistas, recortes de revistas, e até um guardanapo (presente de Charles) no
qual Maysa Matarazzo limpou o batom antes de um tratamento dentário.
Mas a verdadeira paixão de Rita
Lee (dividida com a irmã Virgínia, claro) era James Dean. Sonhou com ele aos oito anos, e não mais o esqueceu. Colecionava recortes brasileiros e gringos
sobre o astro, tinha pôsteres e álbuns. Até a vida adulta, depois dos Mutantes e Tutti Frutti, a estrela mantinha pôsteres de James Dean
nas paredes do quarto.
Era amor!
Rita Lee desde pequena herdou
roupas de primos -
ao passo
que as irmãs, mais sortudas, eram pouco menores que algumas primas. Um dia, Chesa ouviu dizer que cabelos compridos
impediam o crescimento da criança, e cortou as madeixas da filha bem curtinhas. Virgínia e Mary a apelidaram de "Rito", o menino baiano. Foi com esse “cortezinho” que a menina
foi para o sítio da tia,
no interior
de São Paulo. Lá, ela cuidava das galinhas, arrumava o jardim, e brincava para lá e para cá. Foi quando percebeu a "central de açúcar" do lugar. Caldo de cana, melaço e... Pinga!
"Assim aconteceu meu
primeiro mega porre e um cartão vermelho para "tirar do time de campo da fazenda". 'Oh my God! O defeito da Ritinha é não
saber onde parar', profetizou tia Mary." A menina amou o Fundamental I.
Sentia na escola uma liberdade que o pai não dava. Mas foi entrar no Fundamental Il para
mudar de opinião.
Papeava o
tempo todo, e era detestada por alguns
professores. Um pouco mais velha, causava de verdade: fumava nos banheiros, fazia xixi nos sapatos das meninas, ameaçava bater nos outros. Até tacou fogo no cenário de uma
peça pois não foi escolhida como protagonista! Compensava tudo sendo
ótima nos esportes,
porém.
Quando se formou no colégio, Rita tentou ser secretária. Não deu certo - derrubou café em vários documentos importantes.. Decidiu voltar a estudar, então, e começou a cursar Comunicação da USP.
Nunca terminou pois outro aspecto chamou atenção: a música. (Nessa época, marco importante de Rita Lee, ganhou a filhotinha Danny, a primeira
cachorrinha da vida dela).
Como Charles, seu pai, falava inglês e era dentista de vários
artistas e famosos estrangeiros,
tratando, entre outros ilustres, Magdalena Tagliaferro, excelente pianista, o doutor sugeriu uma troca: o tratamento por
aulas de piano para a filha mais nova. Ela topou. Apesar de descrente inicialmente, viu em Ritinha um talento, e elogiou o progresso rápido que ela teve.
A pianista estava impressionada, e convidou a menina, então com seis anos, para uma audição na escola
Tagliaferro.
Emocionada, Chesa costurou para ela um
vestido cor-de-rosa cheio de babados, e a família foi assistir a pequena. Mas Rita sentiu-se bastante nervosa quando viu a plateia. Subiu
ao palco, sentou- se no banquinho para
apresentar-se e... Fez xixi! Medo de palco, diagnosticou a pianista
profissional. Não recomendou um futuro na música.
Demorou alguns anos para Rita Lee pensar em
música de novo.
Começou, na adolescência, a fazer o backing vocal do Tulio Trio, pianista que imitava Ray Charles no
auditório da Folha de S. Paulo. Ele morreu num acidente. Mas Rita queria continuar, e formou o primeiro
grupo musical da vida: as Teenage
Singers: Jean Ellen no teclado, Beatrice no baixo, Suely na guitarra, Rita Lee na bateria. Cantavam bem, tocavam mal... E vejam no que resultou, para o bem de quem a viu, conheceu, conviveu e ou apreciou ... A "Cacilda Becker do Rock," definida por Glauber Rocha, segundo contou ela no livro!
Rita Lee deu o primeiro passo, também, numa das suas manias mais
encantadoras da carreira: as roupas. Naquele dia, na TV Bandeirantes, no programa Quadrado e Redondo, embora quisesse se vestir de Cleópatra, usou uma roupa à Pocahontas... "Foi a partir de então," escreveu Rita:
“que aceitei me transformar em para
raio de freaks,
porto
seguro dos “rebeldinhos sem causa”, musa dos perdidos numa noite suja da Pauliceia
[...] O importante era não me
levar à sério.
Eu seria
apenas mais uma impostora [entre os artistas]. Só que mais esquisitinha”.
Lá pelos idos de 1975 tive a oportunidade de
estar presente num momento de sua vida, situação que conheci “uns caras” de uma
banda chamada Lisergia.
Eram eles: Luis
Sérgio que tocava guitarra,
Emilson
Colantonio bateria e Lee Marcucci no baixo. Junto, estava presente uma moça, que se dizia
empresária: Mônica Lisboa e estavam num ensaio onde surgiu também Antônio
Bivar, então escritor e dramaturgo, devendo ter uns 35 anos na oportunidade, no porão "fedorento" do teatro Ruth Escobar. Bivar sugeriu então um nome pro grupo,
surgindo então Tutti Frutti que depois prevaleceu “Rita Lee &
Tutti Frutti".
O público
que assistia às apresentações iam ao delírio quando Rita cantava. Recebeu ela, pela primeira vez, aplausos sinceros!
Durante um show em São Paulo, 1990 ... Minha irmã esteve com ela no Camarim, situação que se materializou registrada na foto e, segundo afirma Mary, ter dito a Rita que "muitas pessoas a achavam muito parecida com Rita Lee”, momento que, Rita em natural gargalhada espalhou-se pelo sofá do camarim proferindo a frase assertiva: "Impossível você ser parecida a mim ... Você é muito bonita!". Mary, mesmo constrangida pela espontaneidade também sorriu, ao que concordou seu namorado de então: "Verdade, também acho a Mary linda!". Na foto que se segue, resultou a prova dos sorrisos.
Em dezembro de 1996, Rita realizou seu casamento civil com Roberto
de Carvalho,
passando a
assinar Rita Lee Jones de Carvalho que a acompanhou até o
final de sua vida. Em abril de 2013 concedeu
uma rara e franca entrevista à revista Marie Claire,
momento que disse que:
"o grande tabu da mulher atual é
o envelhecimento". "Para envelhecer com dignidade,
a mulher tem de ter desapego. É muito complexo!".
Em março de 2014 decidiu
deixar de pintar os icônicos cabelos vermelhos e assumir os fios grisalhos. "Quero ficar anônima”, disse ela. Rita era vegana e defensora dos direitos dos
animais, declarando ainda sofrer de
transtorno bipolar.
"A distância pode separar dois olhares mas nunca dois corações!"
Inteligente, bonita, engraçada e
talentosa. Rita Lee Jones de Carvalho foi tudo isso. Envelheceu graciosamente, ganhando o carinhoso
apelido de "Titia do Rock nacional", algo que corresponde à realidade, totalmente.
Roberto Costa Ferreira, 13 Maio 2023
Professor - Psicanalista - Pesquisador
UNIFESP-Universidade Federal S.Paulo
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