Cada
vez mais, professores assumem o papel de facilitadores da aprendizagem!
Ao
longo de muitas e muitas décadas, as instituições de ensino (da educação básica
à superior) eram consideradas verdadeiros templos do conhecimento, e seus
professores os mestres detentores de tudo aquilo que era realmente importante
de ser levado para a vida. Entretanto, nos últimos anos, com as revoluções
tecnológicas, esse cenário vem se alterando profundamente. A escola ou a
faculdade não são mais os únicos lugares onde é possível aprender: o
conhecimento está em toda parte, e foi democratizado principalmente por meio da
internet.
Com isso, se antes o professor era o principal transmissor do conhecimento, atualmente ele vem assumindo papéis e funções diferentes – e não menos importantes! Pelo contrário:
· o papel do professor, na atualidade, está muito mais associado à mediação do processo de construção autônoma do conhecimento por parte dos estudantes,
· o que muda o jogo para muitos docentes e,
· faz com que eles trabalhem com muito mais dinamismo do que antes.
Entenderemos
melhor qual é esse novo papel, quais são seus desafios e quais são as
competências necessárias para desempenhá-lo em face dessa atualidade, desde que
se mantenha atualizado, diante dos desafios
do mundo contemporâneo para a sua prática docente!
Antes
de refletir a respeito dos novos papéis que o professor desempenha hoje, vale
discutir os desafios contemporâneos para a prática docente como um todo. Por princípio,
é necessário pontuar que, embora os alunos (e suas necessidades) estejam em
processo de constante e rápida evolução nas últimas décadas, nem sempre as práticas
pedagógicas e as instituições de ensino os acompanham com a mesma rapidez e
dinamismo.
Escolas,
faculdades e universidades vêm preparando seus estudantes considerando
habilidades e competências que seriam úteis nos dias de ontem ... Quando
melhor, os preparam para os dias de hoje – o que também não é interessante. Estudantes
devem ser preparados para a transição entre o hoje e o amanhã e para o próprio
amanhã, ainda que este seja incerto e passível de mudanças, justamente porque é
nesse espaço em que exercerão sua cidadania e se tornarão profissionais capazes
de melhorar a sociedade.
Para
fazer essa mudança, é fundamental entender os desafios que se colocam à frente
das IES – Instituições de Ensino Superior (ditas unidades autônomas que
oferecem serviços de educação superior, como graduação, pós-graduação e
extensão) e dos docentes. Observe adiante:
1. Alunos da geração Z (em maioria);
Em
sua maioria, os estudantes das IES são da geração Z, isto é, geração dos
nascidos a partir do fim da década de 1990 do século 20. Eles são nativos
digitais, ou seja, nasceram e cresceram com tecnologia acessível como parte de
seu cotidiano e, por isso, estão permanentemente conectados. Com isso,
práticas pedagógicas mais antigas, que desconsideram completamente o uso de
tecnologias digitais, têm mais probabilidade de gerar desinteresse nesses
alunos. O uso constante de smartphones e redes sociais traz muitos estímulos
diferentes que disputam a atenção do estudante, e é necessário refletir a
respeito de como utilizar esses recursos a favor das práticas pedagógicas.
2. Adaptação a metodologias novas e engajantes;
Também
pela mudança de perfil dos estudantes, um dos grandes desafios à prática
docente contemporânea é a adaptação a novas metodologias, que engajem os
estudantes e proporcionem experiências de aprendizagem suficientes para o
desenvolvimento de habilidades e competências pertinentes às novas
realidades. Essas novas metodologias devem levar em consideração, por
exemplo, as necessidades de aprendizagem particulares de cada aluno,
possibilitando que cada um possa desenvolver seu próprio caminho de aquisição
de conhecimento. Assim, é necessário romper com metodologias e práticas
ultrapassadas, que já não motivam e não fazem sentido nos tempos atuais.
3. Motivação de docentes;
Além
dos desafios dentro da sala de aula, na relação entre professor e aluno, há
também um desafio relacionado à motivação do próprio docente. Tantas adaptações
a serem feitas requerem um esforço contínuo, e é imprescindível que os
professores se sintam motivados durante esse processo. Há uma tendência na
sociedade recente de diminuir – e até contrapor – o valor da profissão
docente, o que se traduz em exaustivas cargas de trabalho, baixos reajustes
salariais, entre outros. Com isso, um dos grandes desafios das IES é reverter
esse processo.
O papel do professor na atualidade
Os
desafios para a prática docente discutidos acima dizem respeito, sobretudo, à
dinâmica que se estabeleceu no mundo contemporâneo – regido, principalmente,
pelas relações que se dão a partir da tecnologia. Nesse mundo, a instituição de
ensino deixa de ocupar seu papel de templo absoluto do conhecimento e passa a
se tornar um dos espaços onde é possível construí-lo!
Não é necessário ir muito longe para entender o porquê: basta alguns poucos toques dos dedos em um smartphone ou computador para acessarmos infinitas fontes de conhecimento, como livros, videoaulas, tutoriais, entre muitos outros. Com isso, se antes o docente era mestre, detentor e transmissor do conhecimento, hoje a relação se modifica:
· o papel do professor na atualidade é o de mediador do conhecimento,
· aquele que acompanha e orienta seu estudante no próprio processo de aprendizagem.
Esse papel se desdobra em um tripé que pode ser considerado a base da atuação do professor com seus alunos. Veja como:
Ø Facilitar a aprendizagem;
A primeira “perna” do tripé é a facilitação da aprendizagem. Com isso, quero dizer que o professor deve ter a habilidade de mediar, facilitar o processo de aquisição do conhecimento do estudante, muito mais do que apenas transmitir o que já sabe. Facilitar está relacionado a estimular o estudante, criar oportunidades que o permitam construir seu caminho diante do conhecimento. Também está relacionado à criação de experiências de ensino que favoreçam a consolidação do conhecimento por meio da aprendizagem significativa – isto é, quando a aprendizagem ocorre baseada em conhecimentos prévios do estudante, expandindo seu repertório e ressignificando o que ele já sabe. Como estudantes conseguem acessar todo tipo de conteúdo com muita facilidade, torna-se papel do professor auxiliá-lo a entender o que fazer com todo esse material disponível.
Ø Desenvolver habilidades e competências;
Vimos
que é importante que as instituições de ensino preparem o estudante para o
futuro, considerando habilidades e competências que os tornarão cidadãos
atuantes e bons profissionais. Com isso, é imprescindível considerar que um dos
papéis do professor na atualidade é, justamente, promover experiências que
possibilitem que o estudante desenvolva essas habilidades. Entre as habilidades
mais exigidas pelo mercado e pelas empresas estão:
§ empatia, flexibilidade e
capacidade de autogerenciamento,
§
colaboração em equipes,
valores éticos, senso forte de cidadania e justiça social, entre outros.
Assim, além de facilitar o conhecimento, é fundamental que docente e IES estimulem o fortalecimento dessas competências nos futuros profissionais que estão formando.
Ø Ensinar a conviver;
Uma
das funções basilares de toda instituição de ensino, desde a pré-escola até as
faculdades e universidades, é justamente ensinar a conviver. Esse é um dos
pilares que se mantém firme também na perspectiva do educador:
§ além de facilitar a aprendizagem e de promover o desenvolvimento
de habilidades para o exercício da cidadania e do trabalho,
§ é papel dele estimular o convívio saudável,
§ a construção da cidadania em si e do pensamento crítico.
As
competências necessárias para ser professor na atualidade
Vimos
que todas as transformações pelas quais o mundo passou nas últimas décadas
tornam necessária uma mudança profunda nas práticas pedagógicas, no papel do
professor e na relação professor-aluno. Entretanto, nada disso é
possível sem uma grande e constante preparação do docente – em outras
palavras, a formação continuada e superiormente possibilitada. Conforme
escreveu o célebre educador Jean Piaget:
“... a preparação dos professores constitui a questão
primordial de todas as reformas pedagógicas, pois enquanto ela não for
resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos
programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado”.
Portanto,
da mesma maneira que o papel do professor na atualidade é, entre outros, ajudar
a formar competências para o futuro, para que ele consiga desempenhá-lo, ele
mesmo deve procurar desenvolver algumas habilidades. Penso então, quais são
as principais:
1. Criatividade e inovação;
Conseguir
inovar e usar da própria criatividade (e de recursos criativos)
constantemente é um dos grandes diferenciais dos professores preparados para
lidar com o mundo contemporâneo. No caso, inovação e criatividade estão
associados a conseguir se adaptar ao ritmo dos jovens estudantes da geração
Z, que têm seu próprio ritmo e exigem estímulos muito mais dinâmicos do que
os que se estabeleciam no formato tradicional de transmissão de conhecimento. Agora,
muito mais do que isso:
§
é necessário construir
espaços seguros de construção do saber,
§
o que exige capacidades de criar e inovar por parte do
docente.
O uso
de metodologias significativas, que coloquem o estudante no centro do
processo de aprendizagem (como condutor e protagonista dele), é uma parte
desse percurso. Além disso, incorporar de maneira inteligente
a tecnologia em sala de aula (muito mais do que simplesmente
bani-la ou restringi-la, como é a tendência dos modelos tradicionais) pode
ser um dos grandes diferenciais para que estudantes se mantenham engajados e
tenham qualidade no próprio aprendizado.
2. Estímulo ao pensamento
crítico;
Uma educação
que preza pelo desenvolvimento de habilidades como autonomia passa
necessariamente pelo estímulo ao pensamento crítico, isto é, estímulo ao
pensamento que reflete, analisa e critica, de forma responsável, todas as
informações e opiniões com as quais se depara. Diante de um oceano de informações
que parece infinito, uma das habilidades fundamentais para o professor voltado
ao futuro não é mais apenas buscar transmitir o conhecimento “certo”, e
sim, auxiliar seus alunos a construir parâmetros e critérios robustos que os
permitam “navegar” por esse oceano, sem cair em informações falsas ou
deturpadas. Pelo contrário:
§ o estudante deve ter autonomia suficiente para não apenas
reproduzir conteúdos de forma automática,
§ e sim consumi-los com consciência.
Com isso, essa autonomia bem construída que leva ao
pensamento crítico pode tornar seus estudantes pessoas que têm boa capacidade
de tomar decisões, que sabem atuar de maneira cidadã, detentor de consciência
cidadã!
3. Letramento tecnológico e
curadoria de conteúdo;
Como
as necessidades relacionadas ao dinamismo das novas gerações estão intimamente
vinculadas ao uso das tecnologias, é importante que o professor desenvolva seu
próprio letramento tecnológico, que possibilite que ele consiga utilizar as
tecnologias em sala de aula com autonomia e da maneira correta para engajar os
estudantes. No momento que vivemos, não dá mais para desassociar
completamente as experiências de aprendizagem do uso dos recursos digitais,
por isso a necessidade. Além disso, o bom letramento tecnológico do
professor também o ajuda a realizar uma curadoria de conteúdo de aula mais
eficiente, possibilitando:
§ que engaje e se conecte melhor com seus alunos,
§ fortalecendo a
aprendizagem significativa.
4. Empatia;
Essa
é uma habilidade essencial para qualquer pessoa que viva em sociedade no mundo
contemporâneo. Desenvolver a empatia é fundamental para que o professor
desenvolva um senso de profundo respeito e parceria com seus estudantes,
entendendo suas facilidades e dificuldades, suas aspirações e limitações. Saber
se colocar no lugar do aluno, mesmo que ele seja de uma geração muito diferente
da sua, é essencial para o desempenho do papel do professor na atualidade.
Destaco
que, à luz do acima exposto, compreender melhor os desafios e as habilidades
necessárias para desempenhar o papel do professor na atualidade, em meio às
complexas relações contemporâneas me põe em regime de expectativa ... Pois que,
durante o nosso cotidiano, é possível que nos remetemos a pensar e dizer que:
“ ...
o tempo é a chave para a superação de determinados acontecimentos em nossas
vidas“.
Posso afirmar que de uma forma, ou de outra, já me deparei com expressões do gênero: “tudo é questão de tempo”; “o tempo cura tudo” ou ainda “só o tempo vai dizer...”. O sentido que toma tais expressões, precede-se que a pessoa acredita que o tempo possa proporcionar mudanças em relação ao fato que ocorreu e, que estas aconteçam de forma positivas. Ora, estas estão devidamente ligadas ao senso comum, mas que no entanto direcionam para uma reflexão de caráter teórico e filosófico.
Trago comigo então pares de paralela
jornada, visto que filósofos como Santo Agostinho: o amante dos prazeres
que, convertido, se tornou doutor da Igreja Católica (354-430, também
escritor, teólogo e bispo), Aristóteles (nascido na Macedônia, em 384
a.C.) foi um dos três grandes filósofos da Grécia Antiga, tendo
convivido com Platão e, ao que se sabe, em sua juventude teve uma sólida
formação em ciências e que esta influenciou em muito sua produção filosófica,
ou até mesmo historiadores como Krzystof Pomiam (nascido em Varsóvia, Polônia, em 25 de janeiro de 1934 – 89 anos), igualmente filósofo,
historiador e ensaísta polonês, também professor de história, e que, em 2001
dirigiu academicamente o Museu da Europa em Bruxelas, destaco que, todos os
referidos já se dedicaram a desvendar o tempo.
Assim,
tendo em vista uma definição de tempo, apresento que:
“O objeto que designa a palavra tempo, uma coordenação de
mudanças reais ou representadas, realizada por uma instância coordenadora que
emite signos ou sinais para esse fim. Não Existe o tempo, tempo no singular.
Existem múltiplos tempos. Uma classe de natureza de várias instâncias”.
(POMIAN, 1990)
Portanto,
se partimos dessa definição de tempo acima, poderíamos estar dialogando com as
expressões mencionadas acima, posto que, esse tempo emerge da mudança, e constitui-se
em mudanças, poder-se-á emitir respostas, sinais ... Reside uma expressão
correlata: “só o tempo vai dizer”.
Por
oportuno, uma célebre passagem, de uma, das letras musicais ditas do cantor
Cazuza pode ser apresentada aqui; Cazuza ao compor a música (diz-se) O tempo
não para, cuja gravação ocorreu no ano de1988, diz assim:
“O tempo não para/Eu
vejo o futuro repetir o passado/Eu vejo um museu de grandes novidades/O tempo
não para.”
Como
se pode observar, as expressões que fazem referência ao tempo e ao passado,
estão presentes no cotidiano das pessoas, que usam destes numa espécie de
orientação no contexto em qual estão inseridos, como o presente estudo que
proponho. Todavia, cabe aqui questionar, que tempo é este ao qual busco
apresentar nestes parágrafos? Estou a falar do tempo em si, ou de
uma ideia pedagógica no tempo ... No espaço ... Aliás, como já propuseram, já
praticaram e implantaram ... É procedente face ao futuro já compondo o presente
... É procedente?
Destaco
que durante os meses de setembro/outubro de 2021 produzi tal estudo que
sintetizei com base nas minhas diversas experiências (embutidas competências e
habilidades). Imediato encaminhei-o para a série de Educação da então Saraiva –
Editora Saraiva, hoje falida, com vistas à possível apreciação de conteúdo e
demais avaliações. Até hoje não obtive retorno ... Outros tempos! Então,
nesta oportunidade, resgato-o com algumas alterações de edição com vistas às
homenagens do Dia do Professor.
Parabéns aos Professores!
Muito
dignamente homenageados segundo a Recomendação da UNESCO / OIT sobre o Estatuto
dos Professores, em cooperação com OIT – Organização Internacional do
Trabalho, numa conferência intergovernamental especial convocada pela UNESCO
– Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(agência especializadas das Nações Unidas (ONU) e realizada em Paris.
Roberto Costa Ferreira, 15 de outubro de 2023
HILASA–Instituto de História, Letras e Artes
Santo Amaro – São Paulo/SP
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