Em razão do video posto, que se encontra em
minha página no YouTube sob o título Elvira do Ipiranga e consequente
postagem em determinado grupo de Whatsapp através querida amiga cujo nome não
declino nesta oportunidade, manifestando-se assim:
“ ... e a ELVIRA DO IPIRANGA queria imitar a Whitney ... não precisava se um gênio pra saber que não poderia ter sido contratada uma semi cantora para um evento internacional ... uma vergonha que espero NUNCA SE REPITA ... o responsável deveria ser demitido”.
Emendo à manifestação: Isso não basta. É pouco! Imediato, produzi o texto iniciando com uma pergunta aberta:
“Cabe então uma pergunta: Qual é a mensagem que passa o Hino Nacional? É importante ressaltar que a canção que representa uma nação, como o Hino Nacional do Brasil, exalta fatos acontecidos, simboliza todas as lutas por ela passadas, carrega a identidade de um povo e a grande responsabilidade de ser o porta-voz da Nação brasileira para o restante do mundo”.
Então, quando alguém imbuído de tal responsabilidade, "esquece a letra" ... É de se lamentar! Por decorrência, lembro-me da "retomada da questão cívica" que não para por aí... Deu pano para manga a sugestão do Governo Federal, de então, para que as escolas voltassem a hastear a bandeira e executar o hino nacional uma vez por semana. Na prática, era o retorno da hora cívica.
Educadores, políticos, escritores e jornalistas emitiram opiniões calorosas favoráveis e contrárias ao Decreto 4.853/2003. Na época, como dito - 2003 - a orientação passou muito longe de se consolidar de forma significativa no sistema educacional do país, exceto em alguns casos noticiados pela imprensa oficial (MEC, 2003:58-59).
Tal como os relatos da então professora Maria Helena Lobo, da Escola Municipal Mansões Coimbra, no município de Águas Lindas de Goiás (Idem:58), dizendo:
“Muitas crianças e mesmo adultos não têm o devido respeito pela bandeira e sequer sabem cantar o nosso belo hino. Isso tem que mudar.”;
também, da professora Mirian Chaves Carneiro
(Idem:59), da Fundação Penniah, em Belo Horizonte:
“Houve época em que usar roupa com a figura da bandeira era considerado crime. Hoje é motivo de orgulho durante a copa do mundo, mas por que só durante a Copa?”;
e da professora Vânia Almeida de Abreu, da
Escola de Ensino Fundamental Darcy Ribeiro, de Paranoá, Cidade Satélite do
Distrito Federal:
“Quem não se emociona quando, num evento como as olimpíadas, por exemplo, se canta o hino diante da bandeira nacional? No meu tempo de estudante, hastear a bandeira era uma honra, era motivo de orgulho para a gente. Acho muito legal "continuar a se cultivar essa postura cívica”.
De todo modo, mesmo não sendo possível analisar a extensão prática do Decreto, o fato é que a preocupação com as representações nacionais não constituía ato isolado do Governo Federal. Em 2004, parte considerável do “câmbio certo da vida” econômica, comercial e financeira do Brasil reuniu-se em torno do resgate da autoestima do brasileiro. A inspiração foi buscada em Câmara Cascudo:
“O melhor do Brasil é o brasileiro”.
Coordenadas pela Associação Brasileira de Anunciantes, empresas de capital privado e empresas públicas federais assumiram o compromisso de apoiar o movimento. A declaração do então presidente da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) ilustra bem o estado de espírito que levou parcela considerável do “PIB nacional” a apoiar a campanha (LOPES, 2004):
“... sabemos que nossos negócios - sejam dos meios de comunicação,
dos serviços publicitários ou das marcas das empresas anunciantes - só poderão
crescer de forma contínua e sustentada se a população brasileira finalmente
passar a ter a autoestima que merece e precisa ter.”
Assim, em 19 de julho de 2004, Alpargatas, Ford, Bradesco, Pão de Açúcar, Telecom Itália, Unilever, Friboi e Golden Cross; Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios e Petrobrás aplaudiam o discurso de Orlando Lopes, presidente da ABA, durante o lançamento da oficial da campanha. E, naquela ocasião, repito - 2004 - explicou o conferencista que:
“[…] Este é um acontecimento histórico para todo o Brasil, pois estamos nos reunindo em torno da consciência de que nosso País não pode mais ter vergonha de si mesmo, que nossa gente não pode mais deixar de sentir orgulho pelo que já somos e podemos ser”.
O movimento proposto foi inspirado por diversas
pesquisas e encontrou na obra de Câmara
Cascudo uma frase síntese: "o melhor produto do Brasil é o
brasileiro"!
Nossa proposta, disse o dirigente, “dirigida a toda a Nação, teve como objetivo resgatar os níveis de autoestima da nossa população, que estava em baixa, e, aproveitando esse empuxo, elevar seu patamar histórico, que nunca foi muito alto - com raras exceções, como em momentos de grandes conquistas esportivas”. Elencou ainda que:
"... não podemos ter a ilusão de que uma campanha publicitária, ou até mesmo um esforço mais amplo, temporário, será capaz de reverter este fator cultural histórico. Precisamos ter consciência e nos organizarmos para desenvolver um esforço o mais amplo possível e de caráter permanente, que se espalhe através de todas as vozes com responsabilidade cívica da Nação".
Tal Campanha, lembro, correu os quatro cantos do Brasil, tendo nas inserções televisivas o instrumento de maior visibilidade. Nessas inserções, viam-se exemplos de personalidades e anônimos protagonistas brasileiros que “deram a volta por cima”:
- dos esportes, houve a participação do jogador Ronaldo;
- no campo musical, do músico Herbert Vianna,
- ao lado do ex-interno da extinta Febem, Roberto Carlos Ramos, hoje pedagogo e contador de histórias,
- e da ex-moradora de rua e hoje historiadora, Maria José Bezerra.
A ideia consistia em enfatizar a determinação e coragem de brasileiros exemplares que, acometidos até por problemas sociais, dramas familiares, crises profissionais e acidentes traumáticos, souberam e conseguiram dar a volta por cima.
O esforço pessoal tornou-se sinônimo de “ser brasileiro com muito orgulho e com
muito amor”, para lembrar o refrão cantado pelos torcedores da seleção
brasileira de vôlei masculino de então e que ganhou arquibancadas dos estádios
de futebol, salas de TV, home teathers, bares, restaurantes e botequins em
geral, pontos de concentração obrigatórios em jogos da Copa. Havia sempre a
expectativa de o Brasil conquistar o hexa ...
E, já que estamos falando de futebol, não custa nada lembrar que, desde 2001, vigora no Estado de São Paulo a lei nº 10.876, de 10 de setembro de 2001, obrigando à execução do Hino Nacional antes do início de qualquer partida do Campeonato Paulista de Futebol.
Chegando à seara dos impressos escolares, é
preciso lembrar que, em 2003, o Plano Nacional do Livro Didático fechava
com 915,2 milhões de unidades de livros adquiridos desde 1994 – livros
de matemática, geografia, ciências, história, língua portuguesa e de todas as
demais disciplinas constantes na grande curricular do sistema público de
ensino.
Por isso mesmo os livros de OSPB e EMC ficaram fora do cômputo geral - a disciplina fora extinta um ano antes. Autores diversos, editoras diferentes e milhares de comunidades leitoras mantinham em comum, porém o mesmo comprador é o mesmo agente de distribuição: o Estado Nacional de então. Assim, apesar da infinita diversidade que apresentam entre si, na oportunidade, os 900 milhões de livros didáticos distribuídos pelo governo fixavam (e ainda hoje fixam, creio), na contracapa, a mesma mensagem: o Hino Nacional Brasileiro.
Por oportuno, lembro que, naquele ano, trabalhando com crianças, jovens e adultos de uma escola pública periférica em São Paulo, mesmo palestrando, introduzia-se o tema “Proclamação da República” com a execução do Hino Nacional, enquanto os alunos acompanhavam a letra na "contracapa de qualquer livro didático que portassem" nas mochilas, embora as aulas fossem até de história. Depois, à luz do texto ‘Bandeira e Hino: o peso da tradição’, de José Murilo de Carvalho, tentávamos entender os sentidos históricos dos versos de Joaquim Osório Duque Estrada.
A discussão desaguava, inevitavelmente, na Bandeira Nacional e na conversa em torno da velha pergunta: ‘Professor, as cores representam as belezas naturais e as riquezas do Brasil?’
Naquela oportunidade, "as cores já e ainda importavam" ... Atualmente, vivemos "num tempo de desbotamento ..." Tal “desbotamento” do título refere-se às nossas memórias ... Trata-se de um fenômeno inclusive de cunho psicológico que ocorre com a maioria predominante pessoas... Tendem- se a esquecer com maior facilidade de eventos que geraram emoções negativas, enquanto nutrem-se aquelas lembranças associadas às outras emoções, algumas até positivas. Isto leva em inglês o acrônimo "FAB", de Fading Affect Bias.
Sob tal circunstância, "de esquecimento", de perder a memória ... Mesmo perder a vivacidade, o brilho ou o contraste de uma cor; do esmaecer, desvanecer-se, descorar-se: não adiantando a roupa bonita, "o apelo midiático da representação pretendida" (lamentável); o pano desbota facilmente! Tal qual a prolongada seca que desbota a folhagem; ou, a camisa que se debota com o tempo e uso constante!
Tudo muito lamentável, ínfimo, para um evento de proporções macroscópicas,
que se relativiza à observação das coisas grandes!
Roberto Costa Ferreira, 06 de novembro de 2023
HILASA – Instituto de História, Letras e Artes
SANTO AMARO – SÃO PAULO / SP
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