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quarta-feira, 24 de abril de 2024

O Livro! Dia Mundial do Livro ... Que saudade me dá, folhear paginas de um livro!

O ato de folhear paginas de um livro ...


Mas afinal por que abril é considerado o “Mês do Livro”?
É porque são comemoradas oficialmente três datas ao longo desse período. São elas:
   • dia 2 é o Dia Internacional do Livro Infantil,
   • já dia 18 é o Dia Nacional do Livro Infantil e, por fim,
   • dia 23 é celebrado o Dia Mundial do Livro.

O dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro, é uma data escolhida  pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para celebrar o livro, incentivar a leitura, homenagear autores e refletir sobre seus direitos legais.
Tal data comemorativa é simbólica e tem origem na história da literatura mundial. Foi no dia 23 de abril que morreram três grandes escritores: o inglês William Shakespeare, o espanhol Miguel de Cervantes e o peruano Inca Garcilaso de La Vega.

O livro que conhecemos hoje. Como surgiu?

A história do livro é tão antiga quanto a história da escrita. Desde 6 mil anos atrás já surgiam os primeiros "protótipos" de livros. O que foi modificado, até o objeto livro que conhecemos hoje, foi o material e a técnica escolhida para grafar as letras do alfabeto a partir das inúmeras inovações.
Ou seja, antes era gravado pelos povos antigos (babilônios, egípcios, gregos, sumérios, etc) nos materiais disponiveis:
  • placas de argila, cascas de árvore, pedra, madeira, barro, folhas de palmeiras, etc.
Posteriormente, o suporte para a impressão dos textos resultou:
    • no o papiro (planta mais resistente),
    • pergaminhos (pele de animal),
    • códices (manuscritos de madeira),
    • folhas de papel,
   • até chegarem na era digital dos livros eletrônicos.

No Egito antigo, os "escribas" ou “escrivães" eram pessoas responsáveis pela leitura e produção dos textos nos papiros, espécies de plantas usadas desde 2.500 A.C., por sua vez, constituíam um grande rolo de folhas pregadas umas às outras.

Foi por esse motivo, do demasiado volume, que surgiram os pergaminhos, suportes de peles de animais (carneiro, cabra, ovelha, etc), muito utilizados  pelos "monges copistas" da Idade Média.

O livro, um produto intelectual, surgiu da necessidade dos povos de guardar o conhecimento e passá-los de geração em geração. É um objeto de enorme valor cultural e histórico, muito importante para a disseminação do conhecimento no mundo.

Nesse sentido, vale lembrar que na Idade Média os livros eram considerados objetos de imenso valor e por isso, acessível somente para uma pequena parte da população (nobreza e clero).

Além disso, muitos livros eram considerados impróprios pela Igreja Católica:  a maioria dos livros eram de religião, enquanto outros de história, astronomia, literatura e filosofia, ficavam restritos a um número menor ainda.

Nesse contexto, é importante destacar que a maioria das pessoas não sabia ler ou escrever, o que dificultava ainda mais a disseminação desse conhecimento.
Um fato muito importante que ocorreu em fins da Idade Média, ou ainda, da passagem da Idade Média para a Idade Moderna, foi o surgimento da imprensa, em meados do século XV.

Na Europa, fatores fundamentais como:
    • o declínio do sistema feudal,
    • o surgimento da burguesia e,
    • as reformas protestantes,
Resultaram afastando as imposições da Igreja e abrindo um leque de possibilidades para as pessoas, que, ao mesmo tempo, se sentiam impossibilitadas de expressarem suas opiniões.
Tais acontecimentos acima destacados  impulsionaram a elaboração de método de impressão tal qual a prensa móvel:
    • primeiro, descoberta na China por Pi Shengdepois,
   • pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468).
A partir de sua técnica, jamais antes vista pela população inglesa, foi o gatilho necessário para permitir o acesso aos livros ao restante da população.

Partindo de então, a popularização do livro ganhou força no mundo inteiro, considerado atualmente um dos objetos mais importantes de acesso ao conhecimento.
Com o tempo, foram surgindo livros didáticos, livros de histórias infantis, livros de poesia, dentre outros.

Atualmente, quando entramos numa biblioteca ou livraria, é difícil de imaginar que se estivéssemos na Idade Média, estaríamos adentrando um mundo quase intocável, mágico e místico!
No entanto, é muito complicado para nós, seres do século XXI, pensarmos nesse contexto, uma vez que a popularização do livro ganhou proporções massivas.

No Brasil, a história do livro ...

No Brasil, o livro foi introduzido no período pré- colonial pelos portugueses, sobretudo pelos jesuítas, figuras que participaram da colonização indígena, bem como da educação formal no país.
Já no século 20, o escritor e editor pré-modernista Monteiro Lobato foi responsável pela maior divulgação dos livros no país, e, segundo ele:
    "uma país é formado por homens e livros".

O desenvolvimento intelectual e a importância da leitura ...

Os  livros têm sido instrumento fundamental no desenvolvimento intelectual e espiritual de pessoas por todo o mundo. É através das páginas dos livros que podemos conhecer diferentes histórias, realidades, pessoas e culturas, sem precisar sair do lugar.

No início, na época das cavernas, os homens primitivos já registravam, ao seu modo, o cotidiano.  Eram as chamadas pinturas rupestres, que já indicavam que, desde o princípio, o ser humano tinha noção de proporções e senso artístico.

No entanto, só foi possível registrar a história da humanidade, de fato, a partir do surgimento da escrita. Ou seja, a partir de 5 mil anos atrás.
Com a escrita, o ser humano passou a conseguir registrar sua história por meio de documentos e dos primeiros livros. No entanto, nessa época, os livros ainda eram muito diferentes do que estamos habituados a ver hoje, pois dependiam dos materiais que cada sociedade tinha à sua disposição.

Na região do oriente, foram encontrados os primeiros livros, feitos pelo povo sumério, a partir do barro, na forma de pequenas lajotas. Enquanto isso, os egípcios, povo vizinho aos sumérios, escreviam seus livros sobre papiro, formando rolos de até 20 metros de comprimento!
A  maior  biblioteca da antiguidade foi a de Alexandria, com 700 mil livros em rolos de papiro.

Livros ... Das questões de sustentabilidade às tecnologias ...

O consumo de livros digitais cresceu no Brasil  durante a pandemia. Segundo levantamento do SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros, editoras com conteúdo digital tiveram em 2020 faturamento 43% acima do registrado em 2019, época em que a quarentena ainda fazia parte de um horizonte distante no país.

Além de smartphones e tablets, a leitura desses livros tem como aliadas ainda:
  • as telas do e-readers, aparelhos eletrônicos que imitam o papel e a tinta de um livro comum.
Leves e compactos, esses dispositivos têm a seu favor o fato de serem capazes de armazenar milhares de títulos sem a necessidade de impressão de uma só página.

Embora no Brasil a produção de papel não cause a destruição de florestas, uma vez que produtos de celulose e papel são fabricados exclusivamente com madeira de reflorestamento, pergunta-se:
    - Será que os livros digitais seriam mais sustentáveis do que os livros impressos?
   - Ainda, da produção ao descarte, que tipo de impactos os e-readers podem trazer ao meio ambiente?
Por se tratar de um aparelho voltado a uma prática que costuma ser solitária, as trocas motivadas por status, design e modernidades tecnológicas seriam menos frequentes do que ocorre com smartphones e tablets.

Um relatório da GPI - Green Press Initiative, organização não governamental que analisa o impacto ambiental da indústria editorial, aponta que os benefícios do e-reader se tornam maiores de acordo com o número de livros baixados pelo usuário.
Se o leitor, por exemplo, consumir até 30 livros impressos ao longo de um ano, haveria menor impacto, o que desestimularia o uso do livro digital.
Já se houvesse a leitura de 60 a 90 títulos por ano, os e-books apresentariam maior vantagem em termos de sustentabilidade.

É preciso ter em vista que, assim como a indústria gráfica, a produção de e-readers também demanda recursos como água e energia elétrica, além de emitir gases do efeito estufa na atmosfera. Enquanto a produção de um livro emite cerca de 4kg de gases nocivos à atmosfera, um e-reader como o Kindle, da Amazon, emite 168 kg desses gases ao longo de seu ciclo de vida.

Tudo isso precisa ser levado em conta. No caso do livro digital, alguns estudos estimam ainda que a vida útil de um aparelho seria de pouco mais de 4 anos.
No caso do livro impresso, a vida útil do produto poderia ser estendida com o compartilhamento ou a doação do item a bibliotecas, por exemplo. Embora possam ser reciclados, nem sempre os produtos eletrônicos chegam a ter componentes reaproveitados.

Em 2019, apenas 3% de 2 milhões de toneladas desses resíduos foram recicladas.  O maior desafio, tanto para conteúdos impressos ou digitais, é o processo de descarte do produto ser realizado de forma ambientalmente correta.
Que saudade me dá, folhear paginas de um livro! Desfolhar significa "tirar as folhas ou as pétalas ... ":
    – Estive a desfolhar um malmequer!
De outro modo, "folhear" ... O ato de folhear páginas de um livro significa percorrer as folhas de uma publicação, mesmo consultar. 

Folhear um livro pode ser uma forma de relaxar e se entreter, permitindo uma pausa nas atividades do dia a dia, proporcionando momentos de lazer.

Também pode estimular a criatividade e a imaginação, inspirando-se com imagens, ilustrações, textos e ideias.
Além disso, ao folhear um livro, exercitamos a habilidade de leitura, melhorando a fluência, a compreensão e a velocidade de leitura, manuseando-o.

Pessoalmente, ainda prefiro os livros como os conhecemos há séculos, gosto de tê-los à mão em papel, mas de um modo geral entendo que acessar aquilo que desejamos é o que mais importa!

Acessar, chegando a uma narrativa bem contada, o ato de folhear um livro, dobrar página após página ou simplesmente deitá-lo no colo enquanto penso sobre o que acabei de ler - tão bom quanto!

Roberto Costa Ferreira,  23 de Abril de 2024.
PROFESSOR-PSICANALISTA-PESQUISADOR
HILASA - Instituto de História, Letras e Artes
SANTO AMARO - SÃO PAULO / SP.









domingo, 14 de abril de 2024

DIA do BEIJO! Não se sabe ao certo o porquê ... Dizem que seria porque o beijo mais longo da história teria sido dado nesse dia?

 

Dia 13 de abril é o Dia do Beijo! Que magnífico momento ... Por oportuno, destaco que "Basorexia" denomina-se a súbita vontade de beijar alguém ... 

Mas, um determinado livro explica, orientando 156 termos que descrevem emoções muito concretas, como a do beijo referido, rastreando sua origem e sua história, e tudo em razão da abordagem relativa à necessidade repentina de beijar alguém e outras 18 emoções, as quais destaco, e que desconhecia, até então, que tinham nome, relacionados às vontades.

Muitos filósofos, psicólogos, antropólogos e neurocientistas estão há séculos tentando encontrar as emoções básicas e universais e nos apresentando listas — as mais curtas possíveis (surpresa, desgosto, tristeza, raiva, medo e alegria, por exemplo).

A historiadora cultural Tiffany Watt Smith fez totalmente o contrário: em The Book of Human Emotions (o livro das emoções humanas) descreveu 156 emoções diferentes. Seu objetivo foi identificar as nuances.

Não só explica que os pintupi da Austrália Ocidental possuem 15 palavras para diferentes tipos de medo, mas também como nossa opinião sobre algumas emoções evoluiu ao longo da história e dependendo do contexto. Por exemplo, a solidão é atualmente entendida como algo particularmente negativo, mas, para os românticos, “poderia levar a experiências espirituais e emocionais transformadoras”.

Desse modo, estes são 19 dos termos coletados por Smith em seu livro e que descrevem todas as emoções que sentimos, mas que, às vezes, não sabemos nomear:

1. Ambíguofobia. É um termo cunhado pelo escritor David Foster Wallace. Refere-se à sensação de desconforto ao deixar algo aberto a interpretações.

2. L'appel du vide. Expressão francesa que pode ser traduzida como “a chamada do vazio” e utilizada para falar da vontade de pular ao ver um precipício. “As pessoas falam sobre o medo de altura”, escreve Smith, “mas, na verdade, a ansiedade provocada pelos precipícios, muitas vezes, tem menos a ver com cair e mais com o terrível impulso de pular.”

3. Awumbuk. Palavra dos baining, que vivem em Papua-Nova Guiné, e com a qual se descreve a sensação de vazio deixada pelas visitas quando vão embora. “As paredes fazem eco”, ilustra Smith:

“O espaço que estava tão cheio agora parece estranhamente amplo. E, embora muitas vezes haja alívio, também ficamos com uma sensação de desânimo: como se uma névoa houvesse descido.”

4. Basorexia. A súbita vontade de beijar alguém, como acima referido.

5. Cibercondria. “A ansiedade sobre ‘sintomas’ de uma ‘doença’ alimentada depois de ‘pesquisar’ na Internet.” As aspas são da autora. Um neologismo já popularizado na rede.

6. Dépaysement. Palavra francesa que reflete a “desorientação que sentimos em lugares estrangeiros”. Ilustra os esforços para decifrar uma idioma estranho e calcular quanto vale o punhado de moedas que levamos no bolso.

Trata-se de uma sensação, por vezes, frustrante, “que nos deixa desconfortáveis e fora de lugar”. Mas também faz com que “o mundo pareça novo outra vez”.

7. Dolce far niente. O prazer de não fazer nada.

8. Fago. É a pena que sentimos por alguém que precisa de ajuda e com quem nos preocupamos, sem deixar de ter em mente a ideia de que um dia perderemos a pessoa. Esse termo, usado pelos ifaluk, das Ilhas Carolinas do Pacífico, remete à sensação que:

“aparece naqueles momentos em que sentimos de forma tão esmagadora nosso amor pelos outros, sua dependência em relação a nós e o fato de que a vida é temporária e frágil, que enchem nossos olhos de lágrimas”.

15. Nakhes. Em iídiche, é o orgulho que os pais sentem por qualquer pequena conquista dos filhos.

16. Nginyiwarrarringu. Para os pintupi, que vivem no deserto da Austrália Ocidental, existem 15 tipos diferentes de medo. Smith menciona o ngulu, que é o medo que sentimos quando alguém procura a vingança; kamarrarringu, a sensação de que alguém está atrás de você; kanarunvyju, o medo de espíritos malignos que não lhe permitem dormir; e nginyiwarrarringu, o instinto de alerta que faz você se levantar e olhar ao redor para saber o que causou o ruído.

17. Oime. O intenso desconforto de estar em dívida com alguém. É um termo japonês.

18. Pronoia. A estranha sensação de que todo mundo quer ajudar. De fato, é o oposto da paranoia.

19. Ringxiety. Termo cunhado pelo psicólogo David Laramie e que poderia ser traduzido (talvez) por “ansiedade do telefone tocando”. Define esse momento de:

“ansiedade de baixo nível que nos leva a pensar que nossos telefones estavam tocando, mas que não aconteceu”. 

Uma pena que a referência ao som não sirva para as vibrações-fantasma do celular que, segundo vários estudos, 70% a 90% da população já sentiu.

E todos estes termos relacionados às emoções, medos, ansiedades e prazeres envolventes, levantados em razão do Dia do Beijo que, não se sabe ao certo o porquê. Uns dizem que seria porque o beijo mais longo da história teria sido dado nesse dia, outros colocam a culpa num beijoqueiro italiano, identificado como Enrico Porchello.

Em 13 de abril de 1882, o padre da vila de Enrico teria instituído um prêmio para a mulher que não tivesse sido beijada pelo jovem. O dinheiro estaria lá até hoje.

Os neandertais deveriam beijar, os egípcios também, mas não há registros. Os primeiros surgem em textos hindus. No livro védico Satapath, de aproximadamente 1.200 a. C., lemos: "Amo beber o vapor de seus lábios"; no poema Mahabharata, de 1.000 a.C., temos "Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer". Outro texto, m o Kama Sutra, ensina ao menos três tipos de beijos.

Após sua invasão à Índia, Alexandre, o Grande, teria levado o beijo à Grécia, onde ele atingiu até funções protocolares. Em público, podia-se beijar para selar um acordo entre as partes ou demonstrar respeito. Havia uma hierarquia do beijo: entre pessoas do mesmo status, podia ser nos lábios, de classes diferentes, era no rosto, se uma das classes era mais baixa, era nas mãos ou ainda nos pés.

O beijo chegou a Roma, onde ele variava do osculum, o beijo de amizade, passando pelo basium, o beijo sensual, até o savium, um beijo mais voluptuoso, onde a língua entrava em ação.

Entre os judeus, o beijo também tinha caráter afetuoso. Na Bíblia, é famoso o relato do beijo de Judas, um sinal de afeto que se revelou de traição.

Na Idade Média, o beijo entre homens servia para selar acordos: era o chamado beijo da paz. Até a igreja intervir e tentar acabar com elw. No século 12, o papa Inocêncio III lançou um édito perseguindo o costume.

No século 17, os ingleses, escandalizados com os beijos de língua que viram os franceses dando, apelidaram esse tipo de "beijo francês".

Ainda no século XX, ele causou furor no Japão, quando, em 1924, "O Beijo", de Rodin, foi censurado.

Quem se lembra do "beijoqueiro"? O português José Alves de Moura, radicado no Brasil, que começou a sua carreira de "serial kisser" beijando Frank Sinatra em 1980!

Ainda, em recente leitura de escritos sobre a vida de Francisco de Assis, que cálculo eu somar muito mais de dois mil, talvez por ter sido ele alguém muito coerente e voltado principalmente para ajuda ao semelhante, resultou ficar com a imagem de um homem santo.

Penso eu que Francisco nunca quis ser santo, aliás, nunca quis pertencer a igreja, queria apenas fazer um trabalho que ele acreditava, era o trabalho do amor!

Então, a obra acima referida remete a "O que eu contaria se fosse ... Francisco de Assis", cujo autor Moisés Esagui, um psicanalista e escritor, fundador do Centro de Estudos da Consciência (CEC), criado em 1998, que diz, lá pelas páginas 16, referindo-se à belíssima declaração de Clara para o seu até então velado amor Francisco:

"Ela sentou-se ao meu lado e disse: 

- Francisco, não importa o que aconteça, não importa que você esteja com alguém, não me importa o que você faça, eu amo você. Qualquer caminho que você siga, se você quiser, eu farei o possível para te ajudar ... Eu seu que você é muito mais do que você faz agora. Eu não acredito em casamentos, não preciso de um homem, preciso do que você é Francisco, e nem mesmo você sabe o que você é ..."

Olhei para Clara, ela havia se tornado naquele momento, sem saber, a minha primeira gota de lágrima verdadeira!

Que amor é esse? E sem o concurso, até então, de um beijo! Ela houvera se manifestado dizendo ao Francisco o que ele "realmente era". Mostrou-lhe naquela oportunidade, um mundo além deste mundo, tudo fazendo então sentido. Pois que, além do beijo até então ausente, "o amor manifestado é quando um continua o outro"!


Roberto Costa Ferreira, 13  Abril de 2024.

Professor - Psicanalista - Pesquisador 

UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo

HILASA - Instituto de História, Letras, Artes

SANTO AMARO - SÃO PAULO / SP.





sábado, 13 de abril de 2024

Atividade de Pesquisa e um ser vivo e suas dimensões - A definição dos 17 “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável” (ODS) estabelecidos pela ONU - “Os desafios para o futuro da sociedade local, nacional e mundial”.


Definição dos 17 “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável” (ODS) estabelecidos pela ONU



A atividade de pesquisa requer em sua essência a indagação sobre um fato, um fenômeno, uma observação.

Na área de Ciências Biológicas observa-se uma mudança radical no fazer pesquisa. A diversificação dos equipamentos de laboratório e de campo ocorre com a introdução da tecnologia da informação, o ganho em resolução das imagens capturadas por microscópios, satélites e drones, além da miniaturização e robótica.

Um biólogo necessita de múltiplas linguagens para transitar entre os diversos ambientes, mas não pode perder de vista seu objeto de estudo: um ser vivo inserido em um ambiente de dimensão variada.

A Ciência senso amplo ganhou proeminência nos últimos séculos, sobretudo em países que lideram as relações internacionais, estabelecendo-se como mediadora para a busca de soluções para grandes problemas da sociedade e, eventualmente, contribuindo para decisões políticas.

Um exemplo é a definição dos 17 “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável” (ODS)estabelecidos pela ONU e integralmente embasado em dados científicos advindos de pesquisas em diversas as áreas do conhecimento com impacto em todas as atividades da sociedade.

Os países definem as áreas prioritárias de financiamento e as agências de fomento à pesquisa elaboram as estratégias de financiamento por meio de um diálogo contínuo com diversos atores.

O termo “sociedade” neste artigo pode representar o setor público, o setor econômico, o governo, ou ainda a população em geral. Nesse contexto, a diplomacia científica também se insere como uma estratégia de diálogo com a sociedade em geral.

A atividade de pesquisa requer, em sua essência:

  • a indagação sobre um fato,
  • um fenômeno, uma observação.

A estruturação do pensamento lógico para elaborar a pergunta e as estratégias para respondê-la demandam um espírito curioso e crítico que submete a ideia à avaliação.

Engana-se aquele que considera a pesquisa como uma atividade isolada e desconectada

 da realidade.


Trata-se de uma operação orquestrada entre pesquisadores do mundo que buscam respostas a problemas às vezes ainda não compreendidos pela sociedade em geral. 

As mudanças climáticas globais e a pandemia de covid-19 são dois exemplos atuais de problemas do cotidiano cuja compreensão dependeu do conhecimento gerado por gerações de pesquisadores.

Ambos têm impacto em todas as atividades econômicas e sociais relevantes à nossa sobrevivência e às futuras gerações, assim como grande esforço de comunicação e acordos entre governantes. 


Os desafios para o futuro da sociedade local, nacional e mundial são imensos e complexos. São necessários muitos cérebros pensantes e dedicados a refletir soluções, fazer descobertas, criar inovação e tecnologia não antecipadas. 


Tanto o futuro próximo (2050) como o mais distante (mais de 100 anos adiante) demandam criatividade e ações coletivas. Mais do que nunca precisamos:

  • do “Homo sapiens curiosus” e, 
  • “Homo sapiens criativus” (e não do “Homo sapiens poderosus”,
  • ou ainda “Homo sapiens totalitarius”) para investigar questões básicas que resultam em avanço do conhecimento para uma subsequente solução criativa, claramente o papel da inovação numa sociedade.

O lema que “Ciência é investimento” deve ressoar como o som delicioso dos pássaros ao amanhecer ou ainda as ondas do mar numa praia limpa. Muitas controvérsias quanto ao futuro da Ciência, que inclusive embasam atitudes negacionistas para a obtenção do controle sobre diversas dimensões da sociedade, são realidade ao redor do mundo.

É interessante notar que a Ciência, a Tecnologia, a Filosofia, a Religião e as Artes são desdobramentos da criatividade humana que moveram a sociedade ao longo dos tempos.


Marcos históricos nesse processo são:

  • a agricultura e, 
  • a domesticação dos animais,
  • o desenvolvimento de vacinas,
  • a engenharia para o saneamento básico,
  • a qualidade da água, do ar e do ambiente e,
  • as ações para o bem-estar e saúde do ser humano. 

O conceito Saúde Global é intrinsecamente associado à qualidade de vida local.

“Os desafios para o futuro da sociedade local, nacional e mundial são imensos e complexos. São necessários muitos cérebros pensantes e dedicados a refletir soluções, fazer descobertas, criar inovação e tecnologias não antecipadas.”


Nesse contexto, todo projeto de pesquisa é uma oportunidade de descoberta e sua avaliação criteriosa e justa é um valor a ser preservado no processo de financiamento a pesquisa em qualquer país.

Misturar o processo de avaliação científica com interesses políticos e individuais é um grande risco para a saúde do sistema de pesquisa.

Existem vários exemplos através dos séculos em que interesses individuais ou corporativos tiveram impacto substantivo em conter a compreensão dos fenômenos naturais.


Nos últimos 50 anos além da revolução (e transição sem volta!) para um mundo digital, virtual, robótico, vimos uma revolução semelhante ocorrer na área da ciência que estuda da vida. A pandemia da covid-19 escancarou quão frágeis somos diante de um vírus. 


Por ocasião da celebração das descobertas de Louis Pasteur no Rio de Janeiro (1995), o Prêmio Nobel Joshua Ledeberg afirmou:

  • que ainda não tínhamos o conhecimento suficiente para proteger a humanidade, os animais e,
  • as plantas de infecções virais. 

Esse receio expresso pelo pesquisador ainda é válido hoje, mesmo com os muitos avanços das últimas décadas.


Por outro lado, saber que a doença covid-19 é causada por um vírus, e que diferente de doenças causadas pelas bactérias, não adianta tomar antibiótico, foi importante para identificar o tamanho do problema que enfrentamos. A única solução é uma vacina!


Mas para entender a covid-19 foi necessário ter conhecimento do que é um vírus. Do mesmo modo, o projeto de sequenciamento do genoma humano encerrado no início dos anos 2000 reitera a noção que a vida evolui de ancestrais comuns e que todos temos um pouco de bactéria dentro de nós.


Fazemos parte da linhagem dos eucariotos mas também somos em grande parte o que comemos, e por isso o esforço para o ODS 2, que é Fome Zero:

  • é um pilar central,
  • assim como a erradicação da pobreza (que é o ODS 1).

Além do sequenciamento do genoma humano, muitos outros genomas foram produzidos de diversos organismos como: 

  • bactérias, fungos, animais, plantas e vários parasitas e,
  • patógenos, entre outros. 

Todos esses genomas abriram oportunidades tecnológicas juntamente com várias descobertas feitas ao longo do século passado, permitindo que processos biotecnológicos pudessem ser aprimorados. A biotecnologia tem seu berço na antiguidade, quando aprendemos a fazer pão e vinho.


Hoje a biotecnologia alcança um potencial extraordinário com as descobertas recentes. Por exemplo: 

  • que o RNA é informacional e,
  • pode ser usado para a produção de vacinas ou
  • melhorar características genéticas sem a necessidade de modificação direta dos genomas dos organismos.


Interessante notar que uma das grandes mudanças recentes veio de estudos sobre a infecção viral em bactérias. As bactérias também ficam “resfriadas” e desenvolveram um conjunto de ferramentas para se protegerem das infecções virais.

As cientistas recém-premiadas (2021) pela Nobel Foundation:

  • Jennifer Doudna e,
  • Emmanuelle Charpentier,

desvendaram o mecanismo de defesa denominado CRISPR-Cas que está sendo “domesticado” para usos diversos visando, por exemplo, a correção de doenças genéticas em humanos ou a melhora da produção de plantas em condições extremas.


Outro exemplo marcante, é o Prêmio Nobel da Paz em 2007 para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Al Gore, que realizaram uma síntese de diversos trabalhos publicados sobre as mudanças climáticas globais e sua origem antropogênica.


No mesmo relatório, definem recomendações gerais para a sua contenção. Hoje vemos um esforço da comunidade científica em gerar relatórios de síntese sobre temas diversos na área de Ciências Biológicas e suas interfaces para a saúde, ambiente, biodiversidade, crise energética, o valor da bioenergia e a sustentabilidade macroeconômica.


Portanto: 

“A atividade de pesquisa científica robusta é considerada um dos pilares para a independência de uma nação.”


Desse modo, polêmicas incompreensíveis são vividas de modo recorrente no mundo atual, por exemplo:

  • o uso, consumo e os benefícios de organismos geneticamente modificados,
  • para a produção de alimentos ou medicamentos, também,
  • a importância inestimável da aplicação de vacinas para a sobrevivência de crianças ao redor do mundo livres de várias doenças.

Como esclarecer a relevância sem esbarrar em conceitos tão arraigados na sociedade seja pela mídia superficial, interesses políticos, cultura ou religião?


Roberto Costa Ferreira, 12 de abril 2024.

PROFESSOR-PSICANALISTA- PESQUISADOR

UNIFESP-Universidade Federal São Paulo

HILASA - Instituto História, Letras e Artes

SANTO AMARO - SÃO PAULO /SP.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

MARIA - UMA MULHER QUE MERECE VIVER E AMAR COMO OUTRA QUALQUER DO PLANETA.

 

Maria do Carmo - A Carminha, mãe do Milton Nascimento.

Vicente Andrade, colaborador de Pensamentos, poesia e literatura me presenteou com tal construção necessária, a qual ora compartilho dada a relevância histórica. Assim segue-se o texto com as devidas inserções necessarias as quais procedi:

"Ela nasceu em 1918. Nasceu mulher, negra e pobre. Foi batizada como mais uma Maria: Maria do Carmo, mas ficou conhecida apenas por Carminha. Mal acabou o básico do ensino ofertado aos pobres, ainda uma menina, migrou de Minas Gerais para a cidade do Rio de Janeiro.

A Carminha tinha 1,63m de altura e, embora pequena, carregava a força das Marias, o dom das negras e a marca das mulheres. Maria Carmem. Esse era o seu nome.

Maria amava cantar, contam, àqueles que a conheceram, que seus grandes olhos castanhos e amendoados se fechavam sempre que ela cantava Ataulfo Alves. Mas na pobreza é preciso ter gana sempre, cantar era só um sonho, a vida e a fome falavam mais alto.

Em 1939, aos vinte e um anos, Carminha já lavava roupas para fora e cozinhava em casas de famílias cariocas. Trabalhava no que fosse preciso, jamais teve medo do serviço. Um dia, ela conseguiu um trabalho de "carteira assinada", foi parar na rua Conde de Bomfim, no bairro da Tijuca. Maria recebia o salário de 150 mil réis, era doméstica. Trabalhava numa pensão e a sua patroa se chamava Dona Augusta de Jesus Pitta.

No início de 1942, enquanto esperava o bonde na frente da pensão da Dona Augusta, Carminha conheceu um homem chamado João, ele era motorneiro, motorista do bonde da linha Tijuca. E uma paixão avassaladora tomou conta dos dois, nascia ali o amor entre Carminha e João.

Os dois se encontravam todos os dias após o trabalho. E num dia desses, Carminha ficou grávida. João não queria casar. Mas, ainda assim, casaram-se. Era a força da Maria se impondo sobre o machismo da época. Vai casar, sim!

Grávida, Carminha seguiu trabalhando com a Dona Augusta. E numa tarde, enquanto trabalhava na pensão, as dores do parto foram crescendo, até que seu bebê chegou. Nasceu ali, em um quarto da casa de Dona Augusta. Era um menino. E todos na pensão adoravam a criança.

Mas num certo dia, Carminha e Dona Augusta se desentenderam, coisas da vida, e Carminha se demitiu do emprego. Com a criança no colo, foi morar com a família de João, mudou-se para a favela Barreira do Vasco, que ficava na Baixada de São Cristóvão. Com saudades da criança, Dona Augusta resolver ir visitar Carminha. E chegando na maloca em que ela morava, em Barreira do Vasco, Augusta viu uma Carminha magra e uma criança igualmente mal nutrida. Dona Augusta pediu que Carminha voltasse com seu filho para Pensão. Ela não quis. Orgulhosa, preferia ficar ali, misturando a dor e a alegria. Carminha não vivia, apenas aguentava.

Aos vinte e cinco anos, Carminha contraiu tuberculose. Cada vez mais magra, começou à temer que seu pequeno filho também viesse a se contagiar. Então, por amor, abriu mão do filho, pediu para que o menino fosse levado de volta para a pensão. Augusta levou, cuidaria dele até Carminha melhorar.

Carminha voltou para a casa da mãe, queria se tratar em Minas. Mas chegou muito mal, extremamente magra e doente, passou a sangrar e a ter alucinações. Maria do Carmo não conseguiu viver e amar como qualquer mulher do planeta, morreu aos 26 anos, era 1944.

João, marido de Carminha, achou melhor que a Dona Augusta ficasse com a criança na pensão por um tempo. Ele nunca mais procurou o filho...

Um dia, a filha de Dona Augusta, Lília Silva Campos, estudante de piano, aos 22 anos, disse para toda a família que queria adotar o pequeno menino. Ela explicou que não podia ir embora e deixar aquela criança ali, sem uma mãe. Aconteceu. É que ela tinha se apaixonado, com a força do amor de uma mãe, pelo filho de Maria Carmem. E assim ela o fez. Pediu autorização para a avó, mãe de Carminha, que envolta em pobreza era incapaz de cuidar do menino. Pediu ao pai, o João. Lília virou mãe.

A criança foi morar com Lília na cidade mineira de Três Pontas, onde foi amado e cuidado. Cresceu vendo a mãe adotiva tocar piano na sala de casa, tinha na alma a herança de Carminha, era o seu canto, uma mania de ter fé na vida. Ele tinha os olhos da mãe Maria. E das tantas maneiras que acontecem, foi nos olhos que a mãe ficou para sempre em seu filho. Um olhar tão lindo. O menino cresceu, tomou o gosto pela música. Começou a cantar em bailes.

O filho da Maria, o filho da Lília, com o tempo ficou bastante conhecido. Hoje o chamam pelo nome de Milton Nascimento, o Bituca...

E eu duvido que agora, depois dessa história, você ouça a canção Maria, Maria da mesma maneira...

"Maria é o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar. E não vive, apenas aguenta."

Por oportuno, Milton Nascimento sofreu um bocado por causa do diabetes, mas soube aprender com as dificuldades e superar os desafios da doença. Assim, é uma das maiores e mais famosas vozes da música brasileira.

A voz de Milton realiza comentários melódicos, o que, somado às suas qualidades sonoras, provoca um destaque da mesma no coro. Contudo, o controle da emissão e a exploração da extensão através da mudança de registros geram um percurso da voz por timbres opostos. Excepcional!

Como a impressão digital, a voz humana é única e, talvez, este o seu maior fascínio. É certo que ela pode imitar tudo: outras vozes, os pássaros, outros animais, o sussurro do vento, o barulho das ondas do mar, o som das máquinas do mundo, mas seu timbre é único.

Dentre uma infinidade de timbres há alguns que tem uma qualidade tão especial que, depois que o ouvimos, ficamos buscando aquele som, esteja ele onde estiver, com a mesma obstinação que um apaixonado persegue sua amada.

A voz humana é um instrumento e pode ser classificada pela sua tessitura, mas quando pensamos no timbre, o que dizer? Que é único. Quem consegue esquecer a emoção de ouvir pela primeira vez Chet Baker, cantando You don’t know what love is?

E aí então sentir a inquietação que só se acalma quando descobrimos de quem era aquela voz. Assim também quando ouvimos Alaíde Costa, Milton Nascimento. Diferentes. Únicas!

Língua Portuguesa - Roberto Costa Ferreira

HILASA-SP-Instituto História, Letras e Artes

Santo Amaro - SÃO PAULO / SP.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

DIA DO FILHO, VIVIDO NA ÚLTIMA 6a. FEIRA - 05 DE ABRIL DE 2024.

 


Tudo em razão do Dia do Filho, vivido na última 6a. feira - 05 de abril de 2024 - momento que o HILASA - Instituto de História, Letras e Artes, magnificamente, destacou através das mídias sociais uma publicação, e nela observando que “Filhos também abençoam!!”

É um fato. E de tal forma contagiante a ponto de promover tal minha reflexão, pois que, chega um dia no qual a situação pode ser consagrada mesmo.  Quando envelhecermos, serão nossos filhos que nos carregarão, que nos lavarão, nos alimentarão, nos tranquilizarão diante da morte. É o que imagino …

Eles também poderão nos abençoar e espalhar esse bálsamo e aquele frescor sobre nossa alma. Pregressamente, a primeira vez que um filho abençoa seus pais pode ser no dia da crisma. Tal fato distante de atual realidade. Eu vivi tal oportunidade, no devido tempo. Como Eliseo, que recebe de seu pai Elias a plena participação em sua graça.

Pois bem, a chegada do século XXI era o almejo da humanidade. Não sabíamos que chegaríamos a ele, mas ele chegou a nós. As crianças que viveram as décadas anteriores são os homens do nosso presente, e questionamos suas posições entre a educação, saúde, a fé, a solidariedade e a família, sendo o papel desta última o grande questionamento na sociedade atual.

Como tem sido a estruturação familiar hoje em dia? Qual o papel da família na formação do indivíduo? Que educação de base as crianças deste século estão tendo em casa, onde muitas famílias acreditam estar à salvação ou o remédio para sanar a dor dessas crianças abandonadas pelo limite?

Hoje, o excesso de razão tem feito com que os pais não tenham a convicção da correção. Psicólogos desse novo século trazem em suas teorias o trauma da correção, afirmando que ela, em muitos casos, pode impedir o desenvolvimento da independência da criança, tornando-a insegura.

Os pais passam a questionar sobre o momento certo para tal correção acontecer e se perdem no caleidoscópio de regras. Quem transforma, hoje, as crianças em verdadeiros vencedores? Quem são os heróis e exemplos dessas crianças, que clamam por socorro? Quando essas crianças, na escola, batem em um colega ou cometem pequenas infrações, será que elas não estão gritando para serem vistas ou ouvidas e esperam que alguém diga: “Basta”?

Infelizmente chegamos a um momento em que deixamos a educação ser fanada por passeios em shoppings, no Google, facebook e outros sites que substituem os pais, sites estes que tem sido o livro de ética entre as crianças e os adolescentes do mundo atual. Surge então a pergunta: “o que os pais têm a dizer”? Peca-se quando se permite que os meios de comunicação dialoguem mais com os filhos do que os próprios pais, pois, na maioria do tempo, estes estão simultaneamente presentes e ausentes.

Será que o limite e a repreensão agora não evitarão problemas maiores no futuro? Estuda-se tanto para criar estratégias educativas relacionadas ao limite da criança, porém, no exato momento de colocá-las em prática não se consegue. Houve décadas na nossa história que foram de suma importância: as décadas de 1960 e 1970 até meados dos anos 1980. Mas essas décadas foram responsáveis pelo dilaceramento da família.

No auge das transformações sociais, quando a principal regra era quebrar as regras impostas pela oportunidade, a família foi dilacerada. Ganharam-se algumas coisas, mas se perderam o controle dos filhos. Os filhos daquela época são os pais e avós de hoje. Houve uma mudança de comportamento e uma inversão de respeito e valores. Tudo o que era uma regra familiar, como pedir a benção ou informar para onde se está indo aos pais, transformou-se em algo retrogrado.

O não que era para ser dito na circunstancia do autoritarismo passou a ser dito aos pais. A mudança na moda, a aceitação dos excluídos, a nivelação social, os hippies, o topless, as drogas, tudo isso transformou a atitude e o comportamento dos filhos. Infelizmente não entenderam que a liberdade pela qual lutavam era a liberdade do respeito ao outro. O não é tão importante na imposição do limite como o dar de mamar, que cria a defesa imunológica.

O não de hoje com certeza fará um adulto forte no futuro. Aprender a receber um não ensinará a criança que a vida nem sempre lhe dirá um sim, evitando frustrações. Aprender a receber um não é aprender a dizê-lo também. A criança que aprende a receber um não também o dirá às drogas, ao álcool, ao sexo prematuro; dirá não aos pequenos furtos, à desonestidade, à falta de respeito, à mentira. Dirá não a tudo que tentar substituir os pais.

Longe de se tratar de um simples problema, passível de solução natural, a educação dos filhos é um desafio cujas bases são culturais. Os pais precisam admitir que também são humanos e seus recursos emocionais, limitados. Dificuldades e crises familiares são inevitáveis. Por acreditarem que os filhos encontrarão o próprio rumo, alguns pais abrem mão de sua autoridade. Temem o rótulo de “careta”, e acham que as crianças não podem ser tolhidas nas suas reações para se tornarem adultos livres, sem traumas.

Adultos que, quando crianças não tiveram limites, mostram-se indecisos, inseguros, incapazes de persistir e lidam muito mal com perdas e frustrações. Aprendem a manipular e mentir, como forma de obter aquilo que desejam. Apresentam dificuldade em assumir responsabilidades, em manter o que prometem. 

Pais ásperos cobram com agressividade comportamentos que fogem da sua expectativa, mostram baixa manifestação de afeto, são incapazes de reconhecimento e elogio. Seus filhos acabam por apresentar baixa estima, sentem-se culpados, buscam esconder o medo dos desafios, ora mostrando conduta obediente e passiva, ora rebelando-se e mostrando explosões emocionais sem motivo aparente.

Pais e filhos têm todo o direito de expressar irritação, medo e raiva. Nem por isso podem bater, atirar ou quebrar objetos quando estão furiosos. Se os filhos veem os pais discutindo, mas resolvendo os problemas, podem aprender importante lição. As pequenas insatisfações podem ajudar a lidar com outras, maiores, que a vida certamente trará. Os filhos precisam aprender que podem ter raiva, mas não precisam odiar nem fazer comentários maldosos.

Um irmão pode sentir raiva do outro, mas os adultos não podem permitir que se agridam fisicamente, briguem de forma violenta. Sentimentos e desejos são legítimos e aceitáveis, mas muitos comportamentos não podem ser tolerados nem estimulados. Essas crianças aprendem a se acalmar, concentrar-se no problema, recuperar-se das frustrações.

Na educação dos filhos, o grande desafio é aprender a identificar e situar os problemas, sem agredir a personalidade do filho, equilibrando atividade e firmeza. Comportamentos indesejados devem ser desestimulados, mas as emoções não podem se sufocadas, reprimindo a ação sem censurar os sentimentos.

Se no passado os sentimentos eram vistos como prova de fragilidade emocional, hoje não se pode negar que homens e mulheres, independente do sexo, idade ou situação socioeconômica experimentam raiva, medo e afeto. Os pais não fogem desta regra, e nem sempre sabem lidar de forma afetiva com as emoções.

Equilibrar afeto e limite parece ser o maior dos desafios. O comportamento e postura dos pais quanto ao afeto e limite trazem consequências muito importantes na educação e formação do caráter dos filhos.

Por: ROBERTO  COSTA FERREIRA

HILASA – Instituto de História,  Letras e Artes

SANTO AMARO – São Paulo / SP. Brasil

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em data de 08 de abril de 2024 / SP