A República
Proclamada, como referência de data 15/11/1889, é considerada uma das datas
mais importantes da história brasileira. Resultou de um movimento articulado
entre exército e civis insatisfeitos com a monarquia, ato que repercutiu e que
vigorava no País desde 1822. Datando de tal tempo: 15 de novembro de
1889, há exatamente 135 anos, o Brasil abandonava o
Império e o sistema monárquico para se tornar uma República. Foi uma
longa jornada de revoltas populares (algumas ocorridas ainda no
período colonial, como a Inconfidência Mineira), crises políticas e
pressões de diferentes frentes da sociedade brasileira.
O processo
de Proclamação da República não foi simples, mas marcado por fortes
razões e fatos importantes e reuniu uma característica significativa:
·
o movimento final não contou com a
participação dos mais interessados pelo fim da monarquia no
Brasil: o povo!
A
força do "sentimento antimonárquico" predominante nos
meios militares era intensa a ponto de até um general monarquista,
como o próprio Deodoro da Fonseca, aceitar comandar a ação político-militar que derrubou o trono em 15 de novembro, em tempos
de 1889, no que é considerado por muitos acadêmicos, "um golpe
militar institucionalizado".
Muitos
historiadores apontam, acenando que a Proclamação da República foi um
evento controverso, pois tratou-se de um golpe iniciado pelos militares e
finalizado por indivíduos da sociedade civil e da elite política do Brasil
contra a monarquia. Ainda levantam como controvérsias desse acontecimento a
dimensão da participação do marechal Deodoro da Fonseca e, concomitante,
a participação popular no evento.
Por
outra fonte, a Encyclopaedia Britannica, a Proclamação da
República foi "uma conspiração cívico-militar", isso
porque a insatisfação dos militares, predominantemente do Exército,
foi incentivada por diversos outros grupos da sociedade.
Também,
no livro “As Barbas do Imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos”,
sua escritora paulista, 66 (membro da Academia Brasileira de Letras), historiadora
e doutora em antropologia Lilia Schwarcz, afirma que:
“ao que parece, a República não se proclamou ‘no
berro’, nem deu Deodoro um grito homólogo ao também suspeito grito do Ipiranga.
(…) A República do Brasil não fora proclamada, mas aclamada” pela
sociedade em geral.
Ao que se observa, o evento teve várias consequências, entre
as quais:
·
O Brasil se tornou um Estado laico;
·
O presidencialismo se tornou o sistema de
governo;
·
Foi estabelecido o sufrágio universal
masculino;
·
O voto censitário foi extinto;
·
As províncias ganharam maior autonomia e se
transformaram em estados;
·
A separação entre Estado e Igreja garantiu
liberdade religiosa.
Assim,
temos que, com a referida Proclamação, o marechal Deodoro da Fonseca
assumiu como primeiro presidente do Brasil e este se tornou um Estado
laico. Considere-se também que o presidencialismo se tornou o sistema de
governo. A organização da república tomou forma quando foi promulgada uma nova Constituição
no ano de 1889.
Partindo
de então, a década de 1890 ficou marcada como um período de disputa entre:
·
republicanos e monarquistas,
·
deodoristas e florianistas.
Estudiosos
de então entendem que os primeiros 10 anos da república no Brasil foram
um período de acomodação do sistema político brasileiro nos moldes
republicanos. Isso porque havia muita disputa entre "deodoristas e
florianistas", como acima referido, grupos políticos hegemônicos
que se apoiavam em Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, respectivamente."
Houve
também iniciativas monarquistas de recuperar o poder, e portanto, o Brasil passou
por 10 anos de grande instabilidade política e econômica. Tanto o marechal
Deodoro da Fonseca como Floriano Peixoto governaram o Brasil de
maneira autoritária. E nesse período temporal ocorreram uma série de
revoltas e conflitos, tais como:
·
as Revoltas da Armada,
·
a Revolução Federalista e ainda,
·
a Guerra de Canudos.
Ademais,
destaque-se, uma enorme crise econômica atingiu o Brasil, tal movimento
incomum de especulações envolvendo Bolsa, no que resultou conhecido como
Encilhamento.
Em
um dia marcante da história brasileira, como o dia de hoje,
trago em lembrança que a National Geographic apresentou, e
eu por esta via resumo em quatro, fatos para melhor
possibilitam conhecer a história real de como se deu a Proclamação
da República no Brasil:
1.
A insatisfação dos militares das Forças
Armadas:
Após
a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), ainda durante o governo
monárquico de Dom Pedro II, nas décadas de 1870 e
1880, os militares estavam descontentes:
·
pela falta de reconhecimento, baixos
salários, além de,
·
uma “incompatibilidade da
instituição relativamente moderna e,
·
uma ordem social e econômica atrasada no
país”.
A
força do sentimento antimonárquico nos meios militares era
forte a ponto de até um general monarquista, como Deodoro da Fonseca,
aceitar comandar a ação político-militar que derrubou o trono,
no que é considerado por muitos acadêmicos, um golpe militar
institucionalizado.
2.
A influência dos movimentos republicanos
e políticos
Diferentes
grupos da sociedade brasileira estavam descontentes com a
forma como a monarquia governava o país. Desde
variados movimentos republicanos – com destaque para os republicanos
do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul – que atuavam de perto com
os militares rebelados. Agregue-se que o descontentamento da
população com o Império crescia por conta da miséria, corrupção
e a falta de liberdade política, o que causava
mais desestabilização do regime na década de 1880. Ainda,
a formação de associações, confrarias e a imprensa ajudaram
a disseminar o pensamento republicano na época. Determinados partidos
políticos também eram simpatizantes da causa:
·
Partido Republicano Paulista (PRP),
que
era um caso curioso, pois que representava a classe conservadora dos “barões
do café” de São Paulo, que mesmo com a ascensão econômica do
grupo, se via prejudicado e desprestigiado pelo Império, apoiando a
República. Porém, o PRP era contra a Abolição
da Escravidão – que ocorreu em 13 de maio 1888, sob o
regime monárquico. E, desde então, o
partido buscava se posicionar na nova ordem do Brasil sem escravos e garantir
um governo que lhe permitisse mais poder para assegurar seus
privilégios.
“O fato de representarem o setor agrário-exportador
mais forte e mais próspero do país possibilitou aos republicanos
paulistas dominarem o novo regime republicano, mesmo eles não
tendo participado da ação revolucionária que depôs o Imperador”.
Tal situação está muito bem observada e dita pelo historiador
Guillaume de Saes, conforme publicado ao site antes anteriormente
referido da USP/SP.
3. O peso da Abolição da
Escravatura na Proclamação da República
A abolição
da escravidão foi uma das principais pautas que moveram a
sociedade brasileira na década de 1880. Um dos principais fatores que
contribuíram para a tomada do poder vigente no ano seguinte, em 1889 pelos
militares.
A maioria
dos abolicionistas era adepta dos ideais republicanos, e a mobilização em
defesa do movimento inclinou-se para a implantação da República. Segundo
afirma a Britannica, o colapso do sistema escravista enfraqueceu
ainda mais a monarquia, que perdia uma importante base de sustentação.
“Ao abolir a escravidão a contragosto em maio
de 1888, o Império selava a sua sorte, perdendo o apoio de elites
regionais do café pouco integradas e pouco interessadas na manutenção
do centralismo político e administrativo”.
Pressionado
por todos os lados, o governo de D. Pedro II estava muito
enfraquecido em 1889. Um dos pilares da monarquia brasileira, a Igreja
Católica estava insatisfeita com as interferências do
Imperador nos assuntos religiosos. Além disso, boa parte da
sociedade demandava o estabelecimento do laicismo na política do país,
isto é, a transformação do Brasil em um Estado laico, sem interferência de
religiões.
Por
fim, havia também uma insatisfação a respeito da sucessão do trono. A princesa
Isabel (que assinou a Lei Áurea e garantiu o fim da
escravidão) não era considerada a pessoa ideal para assumir o trono e
a possibilidade de que seu marido, o francês Conde d’Eu, se
tornasse imperador também não bem aceita.
Desse
modo, no dia 10 de novembro de 1889, um grupo
de republicanos foi até a casa do marechal Deodoro da Fonseca para
convencê-lo a juntar-se a eles em um movimento para derrubar o Visconde
de Ouro Preto, que era o Presidente do Conselho de Ministros do Brasil Império.
No grupo estava o jurista, diplomata e político Rui Barbosa,
o militar Benjamin Constant e o jurista e
jornalista Aristides Lobo.
Assim, o marechal foi convencido a aderir ao movimento e no dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, que era a capital do país na época, e o Deodoro da Fonseca liderou o movimento que derrubou o Império. Invadiu o Ministério da Guerra, mandou prender o Visconde de Ouro Preto e proclamou a República. Um ato sem violência, sem qualquer participação civil direta e sem a presença de D. Pedro II.
No
mesmo dia, José do Patrocínio, líder abolicionista, redigiu
o ato oficial de proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil –
como foi denominado o país da época. Foi instalado um governo provisório e,
posteriormente, Deodoro da Fonseca assumiria o posto de 1º presidente
do país. A família real do Brasil foi exilada e mandada para a
Europa na madrugada do dia 17 de novembro. O Imperador Dom Pedro II estava doente e acamado no dia 15, em Petrópolis, quando soube do
movimento e foi ao Rio de Janeiro. À tarde foi avisado da Proclamação
da República e dias depois foi obrigado a abdicar do trono e
a sair do país com sua família.
Roberto Costa Ferreira, 15nov 2024
PROFESSOR-PSICANALISTA-PESQUISADOR
HILASA-SP
Instituto História, Letras e Artes
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A desinformação é o ato de silenciar ou manipular a verdade, habitualmente nos meios de comunicação de massa. O meu dever de publicar o que penso e escrevo e incontornável, absolutamente imprescindível!
Então, você pode, durante tomar um café, aprofundar-se numa agradável e suficiente leitura e até, ao mesmo tempo, ouvir uma boa música. Encontrar tudo isso através deste meu blog - #GRAUᴼ - é algo muito suficiente... E necessário!
As relações entre Educação, cultura e conhecimento são sempre polissêmicas e provocativas. Neste acesso, trago para sua leitura diversas experiências, perspectivas, reflexões... Encontros que se fazem em diferentes ãmbitos: literatura, música, dança, teatro, artes visuais, educação física, mídia, etc.
E considere: é entre a manifestação da literatura, as artes visuais, a música, a dança e o teatro que a educação e o conhecimento acontecem fora do curricular, do convencional!