Grau°

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Cartografia de um corpo-comum. Entre nós, o que somos se revela!

Convite dos graduandos 20025

Um convite surpresa me fora proposto. E uma proposta de convite é sempre emocionante! 

Parece que algo inesperado e misterioso estava a caminho ... Luiza Catterine, agora jovem de pouco mais de vinte anos, era a anfitriã. O ambiente era convidativo ... E lá eu estava uma vez solicitada a presença. No mundo da etiqueta, “quem convida dá banquete”. É mais do que um ditado, é um princípio de cortesia. Tal qualidade de ser gentil, educada e amável no tratamento, refletindo respeito, atenção, delicadeza e respeito provinha da minha amada graduanda!

Luiza Catterine, prestigiada graduanda, formanda Dança 2025. 

Eu estava ansioso, atento aos detalhes, pois que, o local do convite me trazia lembranças de um tempo de criança, remetendo-me às condições de vivência física angustiantes, intimamente ligados a estados emocionais, como angústia, ansiedade ... Tal manifestação comum da interação mente-corpo, momento que o bem-estar psicológico afeta diretamente a saúde física, alcançando-me até perto dos 15 anos. Em diante, não mais prosperou. Aprendi a superar. 

bairro da Mooca, nesta cidade, era o local do estabelecimento da então Fundação São Paulo Alpargatas Company S.A. Ali, em 1907 criou-se a primeira “Alpargatas Roda”, um calçado extremamente popular, cuja cobertura de lona impermeável e resistente, tendo sida produzida neste contexto industrial, muito usado por trabalhadores nas plantações de café da região, sendo então o meio auxiliar de minha locomoção. Muito usei até os limites do possível, momento que “despontavam-se os bigodes” ... Desfiava-se o solado de corda de cizal trançada. Então, aparava-os! 

No local havia, agora, um lindo teatro vinculado a um excepcional contexto de UNIVERSIDADE. Antes, quando da minha infância e parte da juventude, resultara num excepcional complexo industrial já referido. E lá eu estava ... Atento aos detalhes do convite, acerca da proposta de apresentação, resultado do labor desenvolvido para a graduação da turma de 13 membros, cujo TCC em Dança de 2025, incluía minha “ilustre anfitriã, sobrinha-neta, Luiza Catterine”. Graduavam-se depois de percorrer longos tempos, muitos caminhos, significando a conquista de um objetivo significativo, requerendo paciência, perseverança e a dedicação de um período considerável de esforço neste tempo de vida! 


Algo ainda me impacientava e não residia na natureza do evento. Existia algo, um código implícito consistindo num lembrado provérbio, cuja mensagem “incentiva a entrega e a dedicação de todos os projetos e pensamentos a Deus, para que Ele possa guiar e abençoar o sucesso deles”. Estava eu em comunhão, vez que, minhas vontades, todas as ações, os planos e pensamentos tendem a ser bem-sucedidos porque são dirigidos à Ele! 

E bem por tal confiava no sucesso da empreitada, na realização plena do compromissado diante de minha querida sobrinha-neta, de tal sorte que, tendo visto a chamada do Convite: Cartografias de um Corpo-comum ocorreu lembrar-me de que, decorridos mais de dez anos, a título de pesquisa na oportunidade,  houvera eu escrito um trabalho textual que, publicado, versava sobre a proposta da formatura, quase no seu inteiro teor - Cartografias de um Corpo.

Por si só, o interior do Convite proporciona "os anfitriões"!

Do ponto de vista científico, a Cartografia é a ciência que se dedica ao estudo, análise e confecção de mapas, cartas e outras representações da superfície terrestre ou de áreas geográficas. Abrange, portanto, todo o processo, desde a coleta de dados até a difusão e utilização dessas representações. Dentre os elementos-chave da definição científica, a Comunicação Visual configura-se como um meio de comunicação, além da precisão geométrica inerente à Cartografia. Desse modo, tal comunicação envolve:

  • o conhecimento de quais símbolos, cores e elementos visuais utilizar e,
  • quais outros omitir para comunicar informações de forma eficaz e clara na intenção proposta.  

Assim, no silencio do momento, em sala de espera, silenciosamente chorei ... Muito chorei! E estava feliz tal a identificação da disposição de consagrar ao Senhor tudo que realizei e realizo, e cuja realização ocorreria, sendo certo que os planos serão bem-sucedidos, conforme Provérbios 16:3 que diz:  

“Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos” ou, em outras traduções, “Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos”.


A recepcionista convidou-me para ingressar, compondo a formação da plateia que lotava o local! O espetáculo colocou-me, junto ao público, profundamente envolvido com a propositura - "Cartografia de um corpo-comum". A expressão "Cartografia de um corpo-comum" se refere, neste resumo que trago adaptado, para melhor embasar: 

  • a uma abordagem ou, 
  • método de pesquisa e, 
  • prática consequente,

que valoriza a experiência vivida, os afetos e os encontros na produção de conhecimento, em contraste com: 

  • a cartografia tradicional que mapeia a superfície terrestre de forma objetiva. conforme acima referido


Nesse contexto, diante do TCC oriundo da turma de formandos, o "Corpo" não se limita apenas à forma física, mas sim ao corpo experiencial, que sente e interage com o mundo, produzindo conhecimento a partir dessas interações, onde: 

  • "O Comum" indica a partilha dessas experiências e a construção de um plano ou sentido que é compartilhado, coletivo, e que emerge dos encontros e vivências, em oposição a uma visão individualista ou universalizante. Então: 
  • "A Cartografia" é usada como uma metáfora para "um processo de traçar caminhos, não pré-determinados, mas que se formam à medida que a experiência acontece". O "caminhar na pesquisa antecede a definição de metas". 

Essa abordagem é frequentemente utilizada em áreas como: 

  • psicologia, terapia ocupacional, educação e artes, 
  • até corporais, onde se busca mapear vivências e processos de transformação, 
  • e não apenas representar um espaço físico.

Desse modo, o "corpo do cartógrafo" (pesquisador) está ativamente envolvido e afetado pelo processo de pesquisa e, neste, tem-se a sequência sistemática de etapas para obter informações, responder perguntas ou resolver problemas de forma organizada, objetivando-se, por fim, a divulgação e obtenção de resultados. 


A cartografia tem se insinuado nos meios acadêmicos como método de pesquisa, entre a miríade de métodos em pesquisa qualitativa. Porém, os pesquisadores que trabalham nessa perspectiva insistem que: 

  • a cartografia só pode ser pensada como método se entendermos método, 
  • como aquilo que nos faz compreender a nossa potência de conhecer.

A cartografia implicaria, então, disposição para afirmar uma potência da própria vida. Assim, quem se lança a essa aventura é convidado a conectar-se com o pulsar da vida em seu corpo e com caminhos para os quais esse pulsar aponta


Para Suely Belinha Rolnikpsicanalista, crítica de arte e cultura, curadora,  professora titular da PUC-SP, em seu texto "Pensamento, corpo e devir" cujo artigo explora como o pensamento e o corpo se relacionam a partir de uma perspectiva ética, estética e política, ele, o texto, discute a ideia de um corpo que se abre para o "devir", isto é: 

  • a capacidade de se transformar continuamente, 
  • escapando de formas fixas para se tornar potência e abertura para o novo.

A matéria-prima da cartografia são as marcas feitas num corpo. A violência vivida no encontro entre um corpo e outros desestabiliza-o, colocando a exigência de invenção de algo que venha a dar sentido e corporificar essa marca: 

  • um novo corpo, 
  • outro modo de sentir, pensar, 
  • um objeto estético ou conceitual.
A pesquisa faz-se assim como cartografia do meio em que o pesquisador está mergulhado na produção de mapas referentes aos encontros vividos nesses trajetos e aos afetos e sensações ali produzidas.  


Deleuze e Guattari, ou seja: Gilles Deleuze e Félix Guattari que foram uma dupla de pensadores franceses e muito colaboraram em obras de filosofia, psicanálise e política, notadamente em "O Anti-Édipo" e "Mil Platôs", onde o primeiro, foi um filósofo que atuou como professor e escritor, com uma solida formação clássica, enquanto Guattari foi um psicanalista, militante político e ativista.


A parceria deles é marcada pela fusão de uma base filosófica sólida com uma perspectiva engajada e crítica em relação às contradições do capitalismo e das estruturas sociais. Pois bem, eles opõem dois procedimentos científicos: 

  • um consiste em ‘reproduzir’; outro, em ‘seguir’. 

Um seria de reprodução, iteração e reiteraçãoo outrode itineração, o que seria o conjunto das ciências itinerantes, ambulantes.

Mas,

[...] seguir não é o mesmo que reproduzir, e nunca se segue a fim de reproduzir.

[...] Reproduzir implica a permanência de um ponto de vista fixo, exterior ao reproduzido: ver, fluir, estando na margem.

Mas, seguir é coisa diferente [...]. Somos de fato forçados a seguir quando estamos a procura das ‘singularidades’ de uma matéria ou material e não tentando descobrir uma forma;

[...] quando nos engajamos na variação contínua das variáveis, em vez de extrair delas constantes.

Da mesma forma que para os geógrafos, nesta acepção a cartografia difere do mapa.

Enquanto este representa um plano estático, a cartografia “é um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem [...] o desmanchamento de certos mundos – e sua perda de sentido – e a formação de outros”!


Na apresentação do espetáculo, Luiza me mostrou “um mundo novo, expectante e belo”. Também “se mostrou um novo ser que não conhecia, nesta profundidade do ser", e agora me privilegia, revelando-se "superiormente bela, significativa e atuante", cuja força reside na combinação de realizações que, mesmo que isoladas, são detentoras de grande peso e significado”! 



Que banquete de espetáculo, rico e farto, como a um "banquete de arte", explorando o tema para expor, propor e realizar cultura, história, identidade e relações humanas como nos trabalhos em tela - TCC oriundo da turma de formandos, o "Corpo - um projeto que transforma a mesa em palco para experiências artísticas vivificantes e comunitárias, unindo expressões, sons, comunicação não verbal profunda entre imagens e pessoas, cheias de significado sem palavras, como a um filme clássico momento que as falas são substituídas por intertítulos e gestos, promovendo um diálogo interno de pensamentos, tudo revestido de intensa arte"!  

 



Por: Roberto Costa Ferreira - 25nov25.

Prof,Pesquisa,Pedagogista,Med-MEng

HILASA-SP -Instit.História Letras Artes

SANTO AMARO  -  SÃO PAULO - SP.

Um comentário:

  1. Que honra! Obrigada pelo texto, eu amei cada palavra e fico feliz por ter te alcançado dessa forma, a arte está aqui não apenas para ser vivida mas também experienciada, sua experiência acrescenta muito para um artista!

    ResponderExcluir

A desinformação é o ato de silenciar ou manipular a verdade, habitualmente nos meios de comunicação de massa. O meu dever de publicar o que penso e escrevo e incontornável, absolutamente imprescindível!

Então, você pode, durante tomar um café, aprofundar-se numa agradável e suficiente leitura e até, ao mesmo tempo, ouvir uma boa música. Encontrar tudo isso através deste meu blog - #GRAUᴼ - é algo muito suficiente... E necessário!

As relações entre Educação, cultura e conhecimento são sempre polissêmicas e provocativas. Neste acesso, trago para sua leitura diversas experiências, perspectivas, reflexões... Encontros que se fazem em diferentes ãmbitos: literatura, música, dança, teatro, artes visuais, educação física, mídia, etc.

E considere: é entre a manifestação da literatura, as artes visuais, a música, a dança e o teatro que a educação e o conhecimento acontecem fora do curricular, do convencional!