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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Professor... Professorar... O Professor, um Artista!

 

Professorar é sinônimo de ensinar, lecionar, é o transmitir conhecimento sobre alguma coisa a alguém e, por extensão, dar instruções sobre alguma coisa a alguém; instruir, ensinar sua técnica aos estudantes, indicar de maneira precisa; em que há precisão; orientar: ensinar-lhe o caminho a seguir. Professor ou docente é uma pessoa que ensina ciência, arte, técnica ou outros conhecimentos. Para o exercício dessa profissão, requer-se qualificações acadêmicas e pedagógicas, para que consiga transmitir/ensinar a matéria de estudo da melhor forma possível ao aluno.

Na atualidade, contudo, ser professor não se limita apenas a transmitir conhecimento sobre determinado assunto. O papel do professor envolve uma responsabilidade bem mais complexa, que consiste em formar o aluno em uma perspectiva integral que engloba os aspectos tais como social, afetivo e psicológico. Para isso, é preciso ter experiência, cultura e conhecimento plural, a fim de tornar o aluno capaz de responder, de forma crítica e autônoma, aos desafios de uma sociedade em transformação constante, seja no âmbito pessoal ou profissional. Ser pesquisador, professor, também coordenador de um curso na área de educação me faz parte integrante do grupo que analiso, isto é, “daqueles que pensam e, ao mesmo tempo, vivenciam o fenômeno da educação”.

Um professor “não pensa somente com a ‘cabeça’, mas ‘com a vida”, com o que foi, com o que viveu, com aquilo que acumulou em termos de experiência de vida, em termos de lastro de certezas. Em suma, ele pensa a partir de sua história de vida não somente intelectual, no sentido rigoroso do termo, mas também emocional, afetiva, pessoal e interpessoal.

O professor, quando planeja, cria, toma decisões e improvisa, em uma constante articulação entre o saber teórico, científico e formal, pertencentes à esfera profissional. Além desses, orienta-se por saberes da esfera pessoal, referente aos seus sentires e à sua experiência prática. Segundo contribuições de Lovisolo (1993), que usa a imagem do “bricoleur” de Lévi-Strauss que designava um modo específico de pensar – o pensamento mágico - por vezes denominamos essa competência de combinar recursos diversos de arte. Isso indica que, na atividade desse bricoleur, seu gênio, instinto, sua percepção são fundamentais.

A chave de sua atuação é a mediação entre racionalidades, entre saberes. Os conhecimentos do saber técnico, que é aquele saber especializado que se aprende expressamente, não se desligam do saber da experiência, que é aquele saber prático geral humano que se acumula por quem vive; abarca a esfera profissional, mas, da mesma maneira, toda a existência privada e pessoal.

‘‘É certo que tal saber é ‘subjetivo’, quer dizer, em grande parte incontrolável e instável.

No entanto, trata-se de um saber no qual a ciência não pode negar seu interesse’’,

(Gadamer, 2011, p. 9).

A criação do professor – como a um artista (da prática pedagógica como uma obra de arte) é um fenômeno vital, por isso exige dele algo mais do que apenas conhecimento científico, teórico e técnico. Depois de resgatar o valor dos saberes da experiência e tendo como referência que a arte pode nascer de uma vivência, penso que, no planejamento, na criação, o professor-artista precisaria ‘‘percorrer um território’’, aventurar-se, arriscar-se a quebrar as próprias resistências, atrever-se a habitar o mundo no seu ‘‘estar aí’’ para conseguir criar o novo ou transformar o já existente, porque “no viver está a luz que permite projetar sua obra”.

Nessa criação a partir da abertura à vivência estética, ele, o professor-artista, não representa uma forma na sua prática, não planeja sua obra a partir da cópia de estruturas já estipuladas ou guias. Ao contrário, reconhece que o espaço da aula será sempre diferente. Em última instância, conforme disse González e Fensterseifer (2006, p. 6):

‘‘[...] ela não é uma etapa de uma ‘linha de montagem’, mas parte de um processo que envolve sujeitos’’.

É possível planejar/criar uma prática como obra de arte a partir de vivências e numa constante conversa com a tradição, senti-la presente e construí-la como passado de um futuro próximo. Já para o momento da execução da prática pedagógica, poderíamos dizer que, diferentemente do trabalho de um artesão ou arquiteto,

“o trabalho artístico do professor se configura no contato com outros humanos e isso faz com que tanto a construção como os resultados da obra sejam diferentes e por vezes se eternizem”.

A obra do professor, à semelhança da obra de arte, não gera um produto que se dispõe a outros para seu uso; não se cria uma matéria física palpável e observável com a qual se pode verificar o conhecimento ou o talento. A obra do professor-artista, a prática pedagógica, remete à formação; é um tipo de inclusão à vida, acompanhar na possibilidade de que o outro (o aluno) se transforme no transitar do mundo. É por isso que podemos dizer que, também semelhante à arte, a formação significa um ‘‘acréscimo do ser’’.

Portanto, não há nada desagradável em ser professor. É um trabalho muito lindo, relevante, amoroso, recompensador mesmo que não o seja financeiramente. E é pura conexão com o outro, aprendizado constante - mudança constante - e reflita: uma das poucas coisas que se pode dizer sobre essa existência é que “a vida é sobre se conectar amorosamente com o outro ser humano”. Ser professor é fazer isso constantemente. Ai de quem, sendo professor, perde essa realidade.

Ficar em pé? Não viajar imediatamente para qualquer lugar que deseje ir? Bom… nomeie-se várias coisas desagradáveis, mas em essência é um constante encontro do futuro com o presente. Vê-se tanta mudança sutil na teia social devido a sua ação que, pensar mais na tristeza de não se terem todas as pessoas engajadas na rede da educação, do que em coisas propriamente desagradáveis.

Desagradáveis são, talvez seja sempre assim em última análise, problemas de natureza íntima, tais como a nossa natural inadequação à realidade que nos obriga a amadurecer com o tempo aceitando que nossos ideologismos são feitos à medida de nossa inexperiência e que é a vida que realmente nos propõe os reais problemas relevantes.

Ter o dom... Um bom professor tem que primeiramente ter o dom de ensinar e amar fazê-lo. Obviamente, ele deve conhecer muito bem a matéria que ensina, assim como saber como transmiti-la a seus alunos. Ele deve ser criativo, interessante e contagiante.
Sua atitude deve ser de apoio, carinho e respeito para seus os alunos. E a maneira como apresenta sua matéria deve incentivá-los a quererem estudar, participar de suas aulas... Para mim, ser um bom professor baseia-se em aspetos tais como: explicar-se bem e à matéria e cativar os alunos. Esses aspetos deixam-me muito interessado numa aula.

Trabalhei em algumas outras áreas antes. Me sentia extremamente amarrado, com pouca margem de criação. Ser professor me permite criar possibilidades a todo instante. Ainda que tenhamos currículos e diretrizes a seguir, a função do professor é justamente encontrar estratégias de dinamizar os conteúdos e temas de aprendizagem em metodologias, que vão mudar sempre de uma turma pra outra, geralmente de um aluno para outro.

Além disso, a educação é uma via que promove mudanças sociais, não apenas em sentido técnico, capacitando pessoas para funções, mas a partir de visões críticas da realidade. É na escola que a gente para pra pensar sobre o mundo, e isso é muito potente. Enfim, essas foram razões que me levaram à docência. Mas existem outros motivos, sem dúvida. Infelizmente a sociedade brasileira não tem valorizado o trabalho de professoras e professores, e essa carreira tem atraído cada vez menos pessoas, e aquelas que foram atraídas se sentem cada vez mais desmotivadas.

Esse é um dos pontos que nos levam a essa eterna crise na educação no Brasil, que não é crise, como bem disse Darcy Ribeiro; é projeto. E o projeto de formação, capacitação e oportunidade de universidade adiante, merece consideração. Portanto, vou aqui considerar e dar uma resposta neutra e objetiva. A primeira coisa que se precisa entender é que existem diferentes tipos de professores universitários. Imagino que você tenha em mente o tipo clássico: professor doutor, concursado de universidade pública que faz pesquisa em sua área. Para isso, você precisa:

    1.         fazer graduação;
    2.          fazer mestrado (opcional em alguns casos);
    3.           fazer doutorado;
    4.       talvez fazer um estágio de pós-doutorado;
    5.       aguardar concurso para professor adjunto;
    6.        passar no concurso público. Esses são passos possíveis.

Exercer... E este exercício esbarra em limites a se considerar, tal que, é desagradável perceber que o ensino acadêmico está a perder o seu método socrático de ensino, onde procuramos o debate e a articulação verbal do conhecimento, em detrimento do ensino doutrinário de vários professores, a inibir o pensamento articulado dos alunos, capazes de “pôr em causa” a informação transmitida. A parte boa dos alunos que “colocam em causa as informações que se transmite”, como professor, destaco que “só consigo sustentar uma boa contra-argumentação quando tenho o conhecimento do meu lado e sou competente ao partilhar uma lógica do pensamento”.

Se este diálogo resultar aberto, sem medo de “ofender” só porque pensamos diferentes, deixar de existir, alimentamos o cinismo e doutrinas ideológicas que inibem a individualidade de cada um, e facilita o agrupamento tribal de pessoas. Sem pensamento livre, debate verdadeiro e genuíno, as capacidades individuais de cada um são perdidas no esquecimento. Não exijam dos professores “enfiar” o conhecimento em vossos cérebros. Nem escolham áreas onde não se tem real interesse. O interesse vai fazer com que se estudem sobre o assunto naturalmente.

Como decorrência da complexificação social e da diversificação de atividades consideradas educativas, amplia-se o campo da educação de forma a estarmos, hoje, diante de “uma sociedade genuinamente pedagógica” (Libâneo, 1998, p.19). Esta ideia implica em aceitar que a escola seja mais um dentre os espaços educativos, já que em vários campos (televisão, empresas, turismo dentre outras), há constantemente o que o autor denomina “intervenção pedagógica”.

O que talvez Libâneo pudesse afirmar é que a ampliação da denominação “educação” e “educador” tende a acentuar a profissionalização docente. Ou seja, a contratação de educadores para trabalhar em instituições não escolares, gera uma necessidade de especificar (ou tornar mais profissional) o trabalho dos professores que devem, portanto, ser reconhecidos como profissionais da educação. Um bom exemplo do que estou afirmando pode ser encontrado nas palavras de Sacristan (2003). Para o autor, todo cidadão comum é capaz de desenvolver práticas educativas, mas o professor, além de partilhar como cidadão uma cultura comum da educação, seria também um especialista, na medida em que dominaria os saberes pedagógicos com mais profundidade.

Lembro também que a definição de aprendizagem como “objetivo fim da educação” já se encontra combinada em Comênio, que propunha:

“uma arte universal de ensinar a todos, de um ou outro sexo, não excetuando ninguém, em parte alguma; a escola elementar é democrática e universal”

(LOVISOLO, 2000 p. 33).

Portanto, Comênio antecipa, e muito, o que mais tarde caracterizaria a ação educativa na modernidade: isto é, que a aprendizagem deve ser a finalidade e o ensino, os meios, e, para que isso ocorra, é preciso haver um sistema organizado. O que talvez Libâneo pudesse afirmar é que a ampliação da denominação “educação” e “educador” tende a acentuar a profissionalização docente. Ou seja, a contratação de educadores para trabalhar em instituições não escolares, gera uma necessidade de especificar (ou tornar mais profissional) o trabalho dos professores que devem, portanto, ser reconhecidos como profissionais da educação.

Um bom exemplo do que estou afirmando pode ser encontrado nas palavras de Sacristan (2003). Para o autor, todo cidadão comum é capaz de desenvolver práticas educativas, mas o professor, além de partilhar como cidadão uma cultura comum da educação, seria também um especialista, na medida em que dominaria os saberes pedagógicos com mais profundidade. De acordo com o autor:

Podemos dizer que, em certa medida, somos todos práticos (todo o mundo em algum momento ensina algo a outro, ou exerce alguma influência premeditada sobre alguém) e que todos sabemos algo. Em outro contexto (Gimeno Sacristán, 1998), argumentamos mais detalhadamente sobre o fato de que a educação é uma prática compartilhada, assim como sua compreensão. Todos sabemos algo a respeito dela, todos, de alguma forma, podemos ensinar algo aos outros, podemos conduzir e orientar o cidadão comum - mesmo que não seja pai ou mãe - entende e é capaz de desenvolver práticas educativas, assim como o professor, visto que é, ao mesmo tempo, um detentor dessa cultura sobre a educação e um especialista que domina os saberes pedagógicos com mais profundidade e destreza do que aqueles que não exercem seu ofício. O especialista tem um conhecimento diferente dessa cultura, elaborado desde outra perspectiva, o qual poderá ser mais profundo. O educando também dispõe desses conhecimentos, extraídos de suas vivências como sujeito passivo das práticas educativas” (SACRISTAN, 2003, p. 16)

Vemos aqui já anunciada no âmbito do debate educacional, uma ideia que hoje é moeda corrente em textos específicos sobre a formação professores; isto é, que a intervenção docente é uma ação que traz, ao mesmo tempo, a cultura e a ciência, ambos contidos no assim denominadosaber docente”!

 Roberto Costa Ferreira, 15Out2020 – Professor


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