Pesquisadores explicam por que acham que, com
base nos dados disponíveis até agora, esquemas que mesclam imunizantes podem
fornecer níveis mais elevados de anticorpos do que duas doses de uma única
vacina.
Segundo os cientistas *Fiona Russell e John Hart, essas pesquisas são muito promissoras e sugerem que esquemas que misturam imunizantes podem fornecer níveis mais elevados de anticorpos do que duas doses de uma única vacina. Então, como termos em funcionamento tal possibilidade, funcionamento e prática?
Com as mudanças na vacina fabricada pela AstraZeneca, as novas variantes do coronavírus e limitações de fornecimento, muitas pessoas se perguntam se podem "misturar e combinar" as vacinas da covid-19. Isso significa, por exemplo, receber a vacina AstraZeneca como primeira dose, seguida de uma segunda dose de uma vacina diferente, como a da Pfizer. E, posteriormente, reforços com outros imunizantes. Vale lembrar que, por ora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda mesclar doses de diferentes fabricantes na imunização de pacientes contra a covid-19. E porquê? Segundo o órgão, ainda não há evidências de que a aplicação de doses de fabricantes distintos produza efeito contra o novo coronavírus.
Em comunicado anterior, a Anvisa acrescenta que, caso uma pessoa receba doses de diferentes fabricantes na aplicação dada pelas equipes de saúde da sua cidade, deve procurar as autoridades (secretarias de saúde, Ministério Público ou o Ministério da Saúde) e denunciar o ocorrido. Apesar disso, existem muitos estudos em andamento sobre o assunto e, recentemente, foram publicados dados de testes com misturas e combinações na Espanha e no Reino Unido. Portanto, se o programa de vacinação contra a covid-19 pudesse misturar e combinar vacinas, ele aumentaria muito sua flexibilidade. Desse modo, ter um programa de imunização flexível nos permite ser ágeis diante das limitações de oferta global. Se houver falta de vacina, anteriormente o IFA, como se verificou, em vez de parar todo o processo para aguardar o fornecimento, pode-se continuar com uma vacina diferente, independentemente daquela que foi dada como primeira dose.
Conclui-se que se uma vacina for menos eficaz do que outra, contra uma determinada variante, esquemas mistos podem garantir que as pessoas que já receberam uma dose de uma determinada vacina menos eficaz possam receber uma vacina mais eficaz contra a variante. E acrescente-se que alguns países já estão usando “esquemas vacinais mistos após alterarem as recomendações da vacina AstraZeneca devido à ocorrência de trombose como um efeito colateral muito raro”. Vários países da Europa estão aconselhando os mais jovens que receberam esta vacina como a primeira dose a receber um imunizante alternativo como segunda dose. As vacinas mais indicadas para isso são as de mRNA, como a da Pfizer. Tal previsão engloba parte de minha pesquisa objetivando maior alcance e objetivo positivo vacinal e, Espanha, Alemanha, França, Suécia, Noruega e Dinamarca estão entre os países que recomendam esquemas vacinais mistos por tal motivo.
Por oportuno, em um recente estudo feito no Reino Unido sobre a combinação de vacinas, publicado no Lancet, 830 adultos com mais de 50 anos foram escolhidos aleatoriamente para receber a vacina Pfizer ou AstraZeneca, primeiro uma e depois a outra. Descobriu-se, ato contínuo, que “pessoas que receberam doses mistas apresentaram maior probabilidade de desenvolver sintomas leves a moderados com a segunda dose da vacina”, incluindo calafrios, fadiga, febre, dor de cabeça, dores nas articulações, mal-estar, dores musculares e no local da injeção, em comparação com aqueles que receberam vacinas da mesma empresa, ou procedência. No entanto, essas reações foram de curta duração e não foram registrados outros problemas de segurança. Os pesquisadores já adaptaram este estudo para avaliar se “o uso precoce e regular de paracetamol reduz a frequência dessas reações”.
Outro estudo semelhante (não revisado por pares) realizado na Espanha revelou que a maioria dos efeitos colaterais foram leves ou moderados e de curta duração (dois a três dias). Eles foram semelhantes aos efeitos colaterais de receber duas doses da mesma vacina. Eficazmente, o trabalho espanhol tem demonstrado que as pessoas tiveram uma resposta de anticorpos muito maior duas semanas após receber o reforço da Pfizer, depois de tomar uma dose inicial de AstraZeneca. Esses anticorpos foram capazes de reconhecer e inativar o coronavírus em testes de laboratório. Essa resposta ao reforço da Pfizer parece ser mais forte do que a resposta após o recebimento de duas doses da vacina AstraZeneca, com base em dados anteriores do estudo. A resposta imune de receber a vacina da Pfizer seguida da AstraZeneca ainda não é conhecida, mas o Reino Unido terá os resultados em breve. Estão muito à frente das pesquisas e experimentam com objetividade.
Não há dados ainda sobre a eficácia dos esquemas mistos para prevenir a covid-19, mas é provável que funcionem bem! Pois que, a resposta imune é semelhante, ou até melhor, em comparação com estudos que utilizaram a mesma vacina na primeira e segunda doses. Isso indica que eles serão eficazes na prevenção da doença! Tais recursos - esquemas mistos - poderiam acelerar os ditos programas de vacinação? Esta é a pergunta. Então, ao exemplo, temos que na Espanha, aqueles com menos de 60 anos que receberam a primeira dose de AstraZeneca podem escolher entre continuar com o mesmo imunizante ou receber a vacina da Pfizer. Embora o Ministério da Saúde recomende uma segunda dose de Pfizer, muitos optaram por ficar com a AstraZeneca. As descobertas recentes do mundo real no Reino Unido sugerem que, após duas doses, ambas as vacinas são igualmente eficazes contra as variantes que circulam nas Ilhas Britânicas.
As recomendações sobre a troca de vacina em diferentes países se devem à preocupação com o surgimento de casos de trombose após a primeira dose da AstraZeneca, além da alteração das faixas etárias dos cidadãos que a recebem e problemas de abastecimento. Isso gerou incertezas generalizadas e fez com que os jovens de alguns países europeus que já haviam recebido a primeira dose fossem excluídos da segunda. Os resultados destes estudos mistos sustentam a possibilidade de vacinar aqueles que receberam a primeira dose de AstraZeneca com um reforço diferente, se necessário.
Outras pesquisas estão em andamento para avaliar os cronogramas de mistura e combinação entre as vacinas Moderna e Novavax, mesmo no Brasil. Que seja, então, vacinado o mais cedo possível, fugindo à linha de especulações, pois, enquanto em alguns países os casos estão diminuindo, muitos outros estão registrando um aumento da doença. Entre eles estão Taiwan e Cingapura, que anteriormente eram considerados excelentes exemplos de como gerenciar a covid-19. Esses exemplos destacam a dificuldade de supressão sustentada pelo vírus na "ausência de uma alta cobertura de vacinação". O que deve ser agravado pelas novas variantes mais transmissíveis!
Os casos atuais em muitas regiões da Europa, Estados Unidos e Austrália são causados pela variante B.1.617.1 (conhecida como variante indiana e chamada de Delta pela OMS). Ambas as vacinas são eficazes contra a variante B.1.617.2, intimamente relacionada com a Índia (embora ligeiramente menor do que contra a B.1.1.7), e uma eficácia semelhante seria esperada contra a B.1.617.1. Portanto, enquanto esperamos, é fundamental que as pessoas não atrasem a vacinação com o imunizante que lhes é oferecido. A vacinação é parte essencial da estratégia para acabar com a pandemia. É provável que o esquema de vacinação mude no futuro, pois podem ser necessários reforços, fato que não descarto. Isso é normal em programas de imunização. Já fazemos isso todos os anos com a vacina da gripe. Isso não deve ser visto como uma falha de política, mas sim como uma resposta baseada em evidências a novas informações. E não admitir tais possibilidades é negar a pesquisa e a ciência!
Por oportuno, *Fiona Russell é pesquisadora, pediatra e epidemiologista da Universidade de Melbourne, na Austrália. John Hart é pesquisador clínico do Murdoch Children's Research Institute.
Este texto foi publicado originalmente, em espanhol, no "The Conversation" e reproduzido aqui, após minha versão e respectivas autorizações, sob a licença Creative Commons.
Professor e Pesquisador - CEP UNIFESP
Membro relator - Universidade Federal de São
Paulo
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