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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

UM REI! - Um menino procurou saber o que era "Um Rei" ...


UM REI!

Um dia, um menino acordou e, curioso, procurou saber o que era “Um Rei” ...
"Um rei é o segundo maior patamar nobiliárquico soberano, a seguir ao de imperador (título de nobreza supremo e maior status social que se pode ter) cuja dignidade normalmente abrangia territórios de maior extensão, chamados de império, por englobar mais que um reino". No entanto, soube que, para se tornar rei ou rainha, é preciso ter nascido na família real!

Aquele menino chamado Roberto tinha o apelido de Zunga, quarto e último filho do relojoeiro Robertino Braga com a costureira Laura Moreira Braga, sua considerável fomentadora ... Ele que, aos quase seis anos de idade, 5.3 anos, notem bem, no dia da Festa de São Pedro, padroeiro da cidade de Cachoeiro do Itapemirim, Roberto brincando sobre a linha férrea sofreu fratura em sua perna direita, tendo sido socorrido por um agente de viagens da Cruzeiro do Sul. Resultou levado por esse ao Rio, tendo então de amputar a perna até pouco abaixo do joelho. Não esmoreceu! Ainda criança aprendeu a tocar violão e piano, a princípio com sua mãe, sua significativa incentivadora e, posteriormente, no Conservatório Musical de Cachoeiro de Itapemirim.

Apesar de seus diversos  sonhos de infância, “de ser arquiteto”, “caminhoneiro”, “aviador ou médico”, dedicou-se à música. Restou em suas memórias a consciência do que era ser rei. O seu ídolo na época era Bob Nelson, um artista brasileiro que se vestia de cowboy e cantava música country em português, falecido aos 90 anos de idade no Rio de Janeiro, em Agosto de 2009. Sempre incentivado pela mãe, cantou Roberto pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro – atual 96.3 FM – Cachoeiro de Itapemirim/ES, aos nove anos. Apresentou-se cantando o bolero "Amor y más amor". Como prêmio pelo primeiro lugar, recebeu balas... Um punhado de balas!

"Eu estava muito nervoso, mas muito contente de cantar no rádio. Ganhei um punhado de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam. Foi um dia lindo!"

Partindo de então, aquele menino levantou-se, do infausto acontecimento marcado pela desventura, pela infelicidade ... E na fé, na perseverança, no canto, encorajado pela mãe, ainda não "Lady Laura", ela que era católica e o pai espírita, decidiram esperar Roberto crescer para que ele assentisse qual religião iria seguir. Resultou batizado apenas aos 23 anos de idade.
Cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro, aos nove anos... E não mais parou!

Mesmo usando muletas vez que, durante a infância portava-as e, somente aos 15 anos, quando morou no Rio de Janeiro, ganhou a primeira prótese. Resultaram 10 anos de um período de infância e juventude "usando muletas"! Jamais comentou sobre o assunto publicamente e, nunca admitiu ser afetado por tal acontecimento.

Significativas perdas lhe ocorreram, não lhe bastando a primeira antes referida, como em Lady Laura, largamente homenageada através da composição do megassucesso destinada à mãe Laura Braga, antes composta e gravada em 1976, em momento de solidão num hotel de Nova York, marcando significativa transição na carreira de Roberto, falecida em 2010Abr17, aos 96 anos de idade. Ela que acompanhou a trajetória artística do filho até a sua morte. E nos itálicos adiante, para quem conhece e observa o conteúdo destacado da letra percebe a profundidade e importância da ausência, um sentimento angustiado do embate entre forças interiores em síntese de letra que busca pormenores e, por meio deles, aprender outros laços, às vezes  extremos, mais propriamente literário/musicado, seguindo um movimento de fora para dentro, num aprofundamento que converge em canto. Um encanto!

“Tenho às vezes vontade de ser novamente um menino/Te pedir que me abrace e me leve de volta pra casa/Que me conte uma história bonita e me faça dormir”!

Julien Green, escritor norte-americano de expressão francesa, já falecido e que escreveu livros de orientação católica disse, certa ocasião: “O pensamento voa. As palavras vão a pé. Esse é todo o drama do escritor.” Por tal, quem sabe,  talvez Roberto Carlos tenha recorrido ao canto!

Ânimos é o aspecto masculino interior de toda mulher. Talvez, explique a significação e representa o somatório das experiências da mulher, daquela mulher costureira com o seu marido relojoeiro, e respectivo ambiente familiar, transformada antes, numa imagem virtual ... É a imagem masculina desejada, refletida no filho, quase "perseguida do impossível", como sendo um ideal de homem que, subliminarmente, lhe influencia.  Como a Anima corresponde ao Eros materno, o Animus corresponde ao Logos paterno. O animus é uma espécie de sedimento de todas as experiências ancestrais da mulher em relação ao homem, e mais ainda, é um ser criativo e engendrado, não na forma da criação masculina, mas, como no caso em referência, de promoção e incentivo!

Outras perdas não lhe afetaram, ainda que ditas, como: Em 2018, portando 77 anos de vida de Roberto,  seu filho Dudu Braga disse:

"Respeito a posição dele, até porque ele sempre foi ligado a causas sociais, humanitárias. Desde a época da Jovem Guarda, ele reserva um número de shows para serem beneficentes." Ainda complementou: "Antigamente, não existia o respeito pelo 'deficiente' como existe hoje. Meu pai foi chamado de ‘aleijado’ ...  Os tempos estão mudando de maneira positiva, e no tempo certo ele falará sobre isso ... ”, completou.

Este seu filho, Roberto Carlos Segundo, à época de tal fala contava 50 anos de idade, tendo falecido em 2021Set08 com 5.3 anos de idade. Outra significativa perda ... Não apenas parte de um membro, um filho por inteiro!

Ainda em 2018, quase ao mesmo tempo da fala de DUDU Braga acima referida, durante uma coletiva para a imprensa, seu pai, Roberto Carlos, então tido como "Rei" disse:

"Quando começaram a me chamar de rei, eu ficava sem graça e sem saber como reagir. Tinha medo que pensassem que ‘eu estava me achando’ se respondesse e ao mesmo tempo tinha medo que me achassem metido se não respondesse!". 

Às minha conclusões, tenho que  tendo os heróis vencido as dificuldades interpostas, experimentando o gosto da glória e da honra e, ao final, por conta da ignorância dos próprios limites e das necessárias relações que se lhe impõe, até contemplado a morte e a “ressurreição”, ensina-nos a lição de que “ninguém pode ser mestre antes de ser mestre de si” e o que fazem é equilibrar-se numa tênue linha que separa o triunfo da tragédia. Fato ainda que justifica a mitologia que argumenta que “as coroas de Rei foram entregues pelos anjos aos homens, o que justifica o uso desses ornamentos apenas por homens da nobreza”. Sob tal ótica, e por tudo que viveu, sofreu e produziu, Roberto é um Rei!

Roberto Costa Ferreira, 29 de Dezembro de 2021.

PROFESSOR – PSICANALISTA e  PESQUISADOR

MEMBRO do CEP - UNIFESP –  UNIVERSIDADE

FEDERAL de SÃO PAULO/SP


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

PRÉ-CONFERÊNCIA de SAÚDE 2021 - instrumento útil para aprofundar a discussão - Foi lindo de se ver, viver e agora recordar!

 


Foi lindo de se ver, viver e agora recordar! Foi o exercício claro de exercer o pensamento voltado para o cenário da Saúde Mental de uma forma livre e bonita! Acreditamos que tal evento seria possível e esperançamos, animamo-nos tanto que toda uma Comissão Organizadora Local na qual estive presente, se viu engajada para esta oportunidade, este evento, instrumento útil para aprofundar a discussão  Pré-Conferência de Santo Amaro e Cidade Ademar -   que nos prepara para a etapa seguinte – a Conferência Municipal – como vivência de um dos movimentos mais vigorosos e persistentes do Brasil Contemporâneo – este Movimento da Reforma – um processo permanente de reflexões e transformações tendo em vista o modo como a população enxerga as  pessoas acometidas com transtorno mental!

Os Conselhos Gestores de Saúde trazem o seu reforço e a participação através dos diversos segmentos representativos, nesta oportunidade, vivendo nesta pré-conferência e discutindo nos seus respectivos eixos, construindo diretrizes  - tais indicações que podem orientar um determinado plano em diferentes abrangências - e dizendo que algo deve ser feito! Aqui, nesta oportunidade, pensamos e propusemos que o lugar de cuidar de pessoas com transtorno mental é no seu território ... A
desinstitucionalização
, tal processo contínuo de novas formas sociais de se lidar com a loucura, a diferença e tal sofrimento humano. Estamos constantemente necessitando olhar para o mundo e refletindo, dizendo pra gente mesmo que algo deve ser feito!

E isto realizamos nesta oportunidade. Uma etapa, pois que tal reforma vem dando os passos para isso e seguimos adiante praticando estratégias importantes, propondo e reforçando o cuidado e liberdade, quer nas estratégias de Atenção Básica, olhando para os Consultórios na Rua, Estratégias e Saúde da Família, também os Centros de Convivência e Cooperativa... Os Centros de Atenção Psico Social, uma significativa estratégia pra se pensar que quando alguém vive um momento de crise ter, num momento mais difícil, ser acompanhado ali mesmo... E uma preciosidade: enfermarias de saúde mental em hospital geral!

O pensar naqueles que ficaram afastados do cotidiano e terem um retorno digno... Tal inclusão com dignidade! Tudo isto faz parte do cuidar em liberdade, tempos preciosos para a Saúde Mental, fazendo toda uma diferença, pois, é só na relação com o outro que conseguimos nos construir como ser humano. Sabemos que os trabalhadores envolvidos nestas dimensões realizam o mister com técnicas, a tecnologia da convivência e isso é importante e merece ser ressaltado, não sendo “qualquer um competente para pensar, fazer e viver” um centro de convivência!

Necessitamos estarmos prontos para nos constituir como sujeitos também. São riquezas que devem ser exercidas merecendo até um olhar em rede... Rede que se constitui a partir de encontros... E a universidade é o local onde desenvolvemos a nossa razão com tal exclusividade que, se não formos maduros o suficiente, podemos nos embriagar pela ideia de que os sentimentos e a espiritualidade que nos envolve nesta tarefa, não são necessários, ou pior, que são inferiores à razão humana e por isso devam ser subjugadas.

COMISSÃO ORGANIZADORA DA PRÉ-CONFERÊNCIA - STS SACA/CRS SUL

E aqui invoco o Princípio de Completude, momento especifico da lacuna originária, situação que já está presente desde o momento em que a lei é elaborada, podendo ser intencional ou não. O fato já existe e deveria ter sito objeto de uma lei mais adequada, específica, porém, conhecendo sua existência, resolve-se ou deixa sua apreciação a posteriori. Então, novos fatos surgem, depois da existência da norma e sua apreciação valorativa se modifica com o passar do tempo. Temos então um vazio... Uma lacuna posterior!

Completamos a tarefa... Saí investido na função delegada para constituir, junto a alguns pares representativos da região, com vistas a atuar na próxima IV Conferência Municipal de Saúde Mental – Janeiro de 2022 – “A Política de Saúde Mental como direito: pela defesa do Cuidado em Liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da Atenção Psicossocial no SUS”. É muito certo que viverei, viveremos tal universidade como tal que nos proporciona os primeiros contatos, ainda quando criança, com a vida adulta e tendo por cautela, humildade e paciência para que o  inicio da nossa vida adulta não tenha uma mentalidade reduzida, acarretando-nos tristezas e fracassos. Lá estaremos, cabendo-nos debater e defender qual a política de drogas que queremos para nossa cidade!  

PLENÁRIA DA PRÉ-CONFERÊNCIA - PALCO DE DEBATES e DECISÕES

Somamos e realizamos. Somos todos parceiros, unos nesta história! Exercemos nossa função potentemente, com olhar adiante. O afeto nos move e nesta força do coletivo aproximamos olhares e exercemos esta vivência, possibilitando a unicidade humana, promovendo nossas habilidades essenciais e distintas: espiritualidade, a racionalidade e os sentimentos, tal unicidade na qualidade de sermos únicos!

Roberto Costa Ferreira, 11 de Dezembro de 2021 – Sábado.

Conselheiro Gestor de Saúde – Segmento Usuário –

STS SACA – Supervisão Técnica de Saúde

Santo Amaro/ Cidade Ademar/SP.

PARTE SIGNIFICATIVA DA COMISSÃO TÉCNICA, ATUANTE NO PREPARO DO CENÁRIO,
  PALCO DA PRÉ-CONFERÊNCIA - COLÉGIO LINEU PRESTES - SANTO AMARO/SP. 



domingo, 5 de dezembro de 2021

Mesa farta! Todos à mesa…


Todos à mesa… Muito bem servidos. E eu nela junto aos meus queridos iniciando o fim de semana. Semana esta que ao longo da 5a. feira passada – 25 de Novembro - resultou no meu primeiro reconhecimento internacional para a linha de pesquisas em razão de Componentes Humanos, num trabalho intitulado “Currículo Paralelo”, de Educação Médica e carregado este ano para a Academia.

Na 6a. feira, 26 de Novembro, vivendo a ascensão, a elevação dos graus de estudos fundamentais de uma de minhas netas - Isabela, 6º ano – e já autora, com requintes de pintora e, no sábado, 27 de Novembro, minhas recebidas homenagens por conta da conclusão nos graus de Especialização em Linguística Sistêmico Funcional/ Gramática e Discurso no Texto Dissertativo - PUC Campus Monte Alegre/SP - em esforços contínuos de longa temporada.

Ainda, no mesmo final de semana Andressa Ferreira, amada filha, também finalizou, concluindo seus trabalhos em outra temporada de estudos superiores, agora Pedagoga consagrada. Haja coração … E comemoração … E como é bom!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba,

a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes”,                               

(Salmos 133:2).

Dessa forma, lembro de um composto que deveria e poderia ser usado para unção especial, destinando a todos desta mesa e utensílios do tabernáculo e posteriormente do templo:

Também ungirás Arão e seus filhos e os consagrarás para que me oficiem como sacerdotes”, (Êxodo 30:30). E de fato Arão e seus filhos foram ungidos após o tabernáculo ficar pronto (Levítico 8).

Com tais esclarecimento agora conseguiremos entender o Salmos 133 com profundidade. No verso primeiro o salmista estabelece o assunto do qual está falando:

Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!

(Salmos 133:1).

O tema central é a prática do amor fraternal, ou seja, o amor entre os irmãos. O salmista declara que essa união amorosa é boa, agradável e muito bem-sucedida, proliferante, graças às providências do Grande Arquiteto do Universo, agora e sempre!








Roberto costa Ferreira, Nov2021.

PROFESSOR – PSICANALISTA –  PESQUISADOR

CEP UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO PAULO


terça-feira, 30 de novembro de 2021

O PISO de CAQUINHOS CERÂMICOS ...


Por volta de 2013, um artigo escrito pelo engenheiro Manoel Henrique Campos Botelho fez um estrondoso sucesso nas redes sociais e na internet, de maneira geral. Muitos portais replicaram o mesmo texto, mas não foram atrás da fonte original. O artigo em questão, publicado na revista Brasil Engenharia número 614 é brilhantemente escrito por Manoel Henrique Campos Botelho. Aproveito para, também, compartilhar uma linda matéria feita pelo Antena Paulista sobre essa temática. É a primeira vez que um veículo desse porte leva a história para todo o estado. E tenho orgulho de, além de escrever nesta página, ter ajudado a produzir essa matéria para todos vocês. Divirtam-se com a matéria: 

https://globoplay.globo.com/v/8440998/

Reproduzo, igualmente, o nome do engenheiro antes referido abaixo com alguns acréscimos referentes às cerâmicas, a primeira nominada: Cerâmica Fortaleza, à época sediada industrialmente na Estr. de Itapecerica, altura do n° 4600. São Paulo - SP, região muito anteriormente pertencente à Santo Amaro, a segunda – Cerâmica São Caetano - na foto adiante, segundo o link: 

https://www.saopauloinfoco.com.br/wp-content/uploads/2019/04/anuncio_caco.jpg

Pode algo quebrado valer mais que a peça inteira? Aparentemente não. Pela primeira vez na história da humanidade contamos esse mistério. Foi entre as décadas de 40 e 50 do século passado. Voltemos a esse tempo. A cidade de São Paulo era servida por duas indústrias cerâmicas principais. Um dos produtos dessas cerâmicas era um tipo de lajota cerâmica quadrada (algo como 20×20 cm) composta por quatro quadrados iguais. Essas lajotas eram produzidas nas cores vermelha (a mais comum e mais barata), amarela e preta. Era usada para piso de residências de classe média ou comércio. No processo industrial da época, sem maiores preocupações com qualidade, aconteciam muitas quebras e esse material quebrado sem interesse econômico era juntado e enterrado em grandes buracos. Nessa época os chamados lotes operários na Grande São Paulo ou eram de 10×30 m ou, no mínimo, 8×25 m; ou seja, eram lotes com área para jardim e quintal – jardins e quintais revestidos até então com cimentado, com sua monótona cor cinza.

Mas os operários não tinham dinheiro para comprar lajotas cerâmicas, que eles mesmos produziam, e com isso cimentar era a regra. Um dia, um dos empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa, não tinha dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou-se do refugo da fábrica – caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça, pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição. Agora a história começa a mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos, mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo.

É… a entrada da casa do simples operário ficou, digamos assim, "bonitinha" e gerou comentários dos vizinhos, também trabalhadores da fábrica. Aí o assunto pegou fogo e todos começaram a pedir caquinhos, o que a cerâmica adorou, pois parte – pequena é verdade – do seu refugo começou a ter uso e sua disposição ser menos onerosa. Mas o belo é contagiante e a solução começou a virar moda em geral e até jornais noticiavam a nova mania paulistana. A classe média adotou a solução do caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura começou a crescer, a diretoria comercial de uma das cerâmicas, descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender, a preços módicos é claro, pois "refugo é refugo", os cacos cerâmicos! O preço do metro quadrado do caquinho cerâmico era da ordem de 30% do caco íntegro (caco de boa família).

Até aqui esta historieta é racional e lógica, pois refugo é refugo e material principal é material principal. Mas não contaram isso para os paulistanos e a onda do caquinho cerâmico cresceu e cresceu e cresceu e – acredite quem quiser – começou a faltar caquinho cerâmico que começou a ser tão valioso como a peça íntegra e impoluta. Ah, o mercado com suas leis ilógicas, mas implacáveis… Aconteceu o inacreditável. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria cerâmica.... Pode? E é claro que os caquinhos subiram de preço, ou seja, o metro quadrado do refugo era mais caro que o metro quadrado da peça inteira! A desculpa para o irracional (!) era o custo industrial da operação de quebra (uma justificativa aparentemente plausível) embora ninguém tenha descontado desse custo a perda industrial que gerara o problema, ou melhor, que gerara "a febre do caquinho cerâmico"! De um produto economicamente negativo passou a um produto sem valor comercial, depois a um produto com algum valor comercial, até ao refugo valer mais que o produto original de boa família... Impressionante!

A história termina nos anos 1960 com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores (4×15 m) ou foi morar em favelas... A solução do caquinho deixou de ser uma solução altamente valorizada. São histórias da vida que precisam ser contadas para no mínimo se dizer:

– A arte cria o belo, e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça inteira…

Nota: um filósofo da construção civil confessou-me: – Existe outro produto que quebrado vale mais que a peça inteira por quilo. É a areia que vem da quebra da pedra. A areia fina é vendida mais cara que a areia grossa!

Uma menção necessária:

Após muitos comentários e conversas com colegas que entendem muito mais de arte do que eu, resolvi acrescentar um intertítulo para corrigir um erro de anos do meu site:

https://blogdorobertocostaferreira.blogspot.com/.

Claro que, para citar os caquinhos aqui de São Paulo, é legal e importante falar de um arquiteto catalão que fez história por usar esse tipo de material. Estamos falando de Antoni Gaudí (1852-1926). Conta sua história, que ele pedia para que os operários que trabalhavam na obra do Parque Güell, em Barcelona, que recolhessem pelo caminho cacos de cerâmica e objetos descartados pela população que tivessem alguma utilidade em seu trabalho.

Foi com esses restos da sociedade catalã que ele inventou uma técnica conhecida como “trencadís” (do catalão trencat, que significa quebrado, por usar cacos). Ela marcou definitivamente o modernismo catalão, movimento que, entre 1880 e 1930, renovou a arquitetura, o design, a pintura e a escultura. Teria sido Gaudí uma inspiração aos operários que criaram nossos pisos de caquinhos? Acho bastante improvável, mas fica esse mistério no ar para todos nós!

Outra necessária menção:

MANOEL HENRIQUE CAMPOS BOTELHOé engenheiro consultor, escritor e professor, exímio colaborador.

ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR - PSICANALISTA - PESQUISADOR

CEP - UNIFESP  -  UNIVERSIDADE FEDERAL SP

SÃO PAULO

PPP - Qual a importância do PPP no sentido de efetivar uma gestão democrático-participativa na Escola?

 


Diante de tal indagação tenho a dizer, por conclusão, que a administração democrática necessita atentar-se às necessidades e situações de transformações que acontecem e aconteceram no contexto da sociedade e, bem por tal o administrador, ou gestor deverá reunir habilidades e provar competências quanto à coordenação e mesmo plena ação mútua e compartilhada de comunicação.

É muito certo que o ser humano busca construir continuamente resultados, necessitando para tanto de participativa educação no qual os componentes das esferas sociais empreguem recursos mais diretamente na educação dos seus cidadãos, promovendo um contínuo e próspero crescimento.  Também é correta a compreensão segundo a qual o fazer pedagógico constrói-se na justa proporção em que ocorrem desafios segundo as exigências educacionais e sociais.

Diante de tais desafios, entendo não residir espaço para atitudes metodológicas segundo as quais apresentam-se reprodutivas, como as ainda resistem e são utilizadas por diversos professores, vez que, a repetição de conteúdos não dá conta de uma ampla formação. Os educadores, cada vez mais, são exigidos tendo que cumprir tarefas que anteriormente não lhes diziam respeito, face a formação de valores, leitura dos meios de comunicação, orientação sexual e inúmeras outras atitudes do fazer humano. Desse modo, tornando-se uma questão de sobrevivência da escola, é essencial que os profissionais da educação desafiados constantemente pelo desconhecido, promovam a renovação e atualização de suas práticas educacionais.

É perceptível que, tendo em vista a referida sobrevivência das escolas, torna-se necessário a produção do competente e adequado projeto político-pedagógico em tais instituições e tal vindo alicerçar-se nos princípios que resguardem e garantam igualdade e participação inclusiva de todos e de cada um dos envolvidos, possibilitando e promovendo a plena expressão de suas ideias e respectiva discussão, aproveitadas e apuradas na oportunidade da decisão coletiva. Portanto, considero que cada educador tem a responsabilidade em seu individual trabalho, objetivando reproduzir no sucesso coletivo!

Assim, a antes mencionada administração democrática, usualmente servida como “gestão democrática” promove aberturas e caminhos para a comunidade, significando assim um significativo e enorme avanço com vistas “à democratização do ensino”, momento que percebemos e determinantemente constatada que as escolas estão procurando a tal mudança, em algumas oportunidades até conscientizando a comunidade escolar que está inserida a participar dos projetos educativos.

É compreensível e já visto diante de diversas notas que “a escola tem um papel fundamental na luta pela descentralização de poder e valorização do homem como ser social”. Portanto, conscientizando-se as pessoas objeto desta participação coletiva pode-se obter inúmeras e variadas conquistas em razão da comunidade escolar. Tal despertar, esse “sair do sono”, de tal “estado dormente” deve partir de ações concretas na própria escola, promovendo a valorização de ideias oriundas da sua comunidade, através da administração/gestão democrática da educação, oportunidade que o educando é sujeito de sua aprendizagem e, portanto, ao perceber seu valor no contexto da sociedade, transforma-se em “lutador”, travando intensa luta para mudar igualmente a sociedade.

Em razão do Projeto Político-Pedagógico – PPP, que de certa forma, é um projeto que, embora de caráter burocrático, necessita e precisa ser construído partindo-se das vivências e deve ser o motivo das mais diversas práticas cotidianas é, assim, um esboço coletivo das mais amplas expectativas com relação ao educado e seu intenso trabalho formativo. É compreensível ainda que, dentro das novas concepções orientadas pelos processos de globalização, a política educacional partindo-se dos  anos 1990, imprimiu várias alterações na legislação do Sistema de Ensino, entre as quais a LDB 9.394/1996, as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, EJA-Educação de Jovens e Adultos, Médio e Superior. Além de tais, as Resoluções para os Cursos Sequenciais e demais providências. 

Destaque para a LDB acima citada, em seu artigo 12º, inciso I, que prevê:

os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”,

deixando claras as ideias, segundo as quais a escola não pode prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. Portanto, é de se considerar que o PPP- Projeto Político-Pedagógico é prioritário em sede de estudo e de discussão e, tanto o Conhecimento e o Reconhecimento da identidade da instituição convém a necessidade de “avaliar constantemente o projeto para refletir o que planejar”, ainda os resultados obtidos e o que reclama ser mudado, melhorado, adequado, com vistas à obtenção, ao atingimento daquilo que não resultou realizado, alcançado, partindo do planejado. 

Por fim, há de se considerar ser possível acreditar que toda escola pode ser democrática, e que possa contribuir para a construção de uma sociedade justa e melhor. Enfim, a construção do PPP-Projeto Político-Pedagógico é um novo paradigma para as instituições escolares, um processo flexível e permanente, momento que, todo trabalho desenvolvido,  partindo dele, tem sua importância, um significado, um significante, determinado sentido quer para os educadores e gestores, quanto para a comunidade em geral, permeando efetivar uma gestão democrático-participativa inclusive na Escola.

ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR – PSICANALISTA – PESQUISADOR

CEP – UNIFESP –  UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SÃO PAULO/SP.

 

 


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Mim dá … Mim dá … Uma expressão muito comum … Um erro igualmente muito comum e a questão do EMBURRAMENTO!

Mary - 3 anos - em tempos de Inverno. 


Mim dá … Mim dá … E foi lhe dado! Vivemos e comemoramos uma semana, que se emendou ao feriado de 15 de Novembro, tempo de aniversário da Mary ocorrido em 09 de Novembro. Muita festa foi feita e dedicamos muito amor!

Mim dá … Mim dá …  Uma expressão muito comum … Um erro igualmente muito comum, atualmente, verificado nas redes sociais, principalmente. Ao exemplo:

• Ela mim deu um beijo ( errado);

• Ela me deu um beijo (certo).

A teoria da ciência de W. Dilthey (1986 [1903]) – filósofo hermenêutico, psicólogo, sociólogo, pedagogo e historicista alemão nascido em 1833 (Wilhelm Christian Ludwig Dilthey) que deixou importante contribuição para a metodologia das Ciências Humanas - onde postulava que:

“os fatos da natureza explicam-se pelas suas causas, os fatos da história e da cultura compreendem-se pelo seu sentido” –   

Tal afirmação adquiriu relevância entre as concepções histórico-filosóficas que passaram a serem postuladas no final do séc. XIX e teve profundas consequências no campo das ciências humanas e, em especial, na filosofia: sua ideia de vida humana implicou, segundo J. Ortega y Gasset (1983), onde referiram que:

“a filosofia se visse obrigada a assumir que o homem não tem natureza, mas sim história”.

E essa é a síntese da história dela, a aniversariante!

Não há nada mais gostoso do que o “mim” sujeito de verbo no infinito - Pra mim brincar - As cariocas que, não ou pouco sabem gramática, falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática.

Manuel Bandeira referiu certa ocasião, em sua “Seleta em prosa e verso” que as palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde.      (José Olympio, 1986. P. 19).  Ele que fora um dos maiores escritores da Literatura brasileira e integrante do movimento modernista, brincou, em seu texto, com o uso dos pronomes. Isso aconteceu porque uma das características do modernismo foi justamente registrar no texto literário os diversos falares do povo brasileiro. Na linguagem literária, o poeta pode utilizar aquilo que chamamos de licença poética, mas em nosso dia a dia e nas diversas situações nas quais é preciso redigir um texto, mesmo expressar-se, é preciso saber a modalidade padrão.

Aqui e agora não! Pois que, a pessoa em referência - na foto - não foi ou é poeta, sequer naquela oportunidade conhecia da modalidade padrão… Mas, quando queria algo, já em tenra idade, servia-se repetida e insistentemente da expressão “mim dá”, que aos ouvidos do ouvinte "muito doía"! Essa menina que já trazia no seu olhar o lindo azul, viera prometida para a vida significante… Marcante, e superiormente bela!

Matthew Dylan Lieberman, psicólogo, professor e Diretor do Laboratório de Neurociência Social Cognitiva no Departamento de Psicologia, Psiquiatria e Ciências Biocomportamentais da UCLA, um dos fundadores da Neurociência Social, sobre o cérebro social, refletiu sobre essa questão observando que:

“... a tendência é lembrarmos de situações em que ajudamos alguém”, pois segundo Lieberman, “Pessoas que se doam mais aos outros vivem com mais saúde e mais felizes.



Ela sempre agiu assim, plena de saúde e felicidades constantes, embora “naqueles tempos andasse emburrada”. E por bem que se saiba, dos padrões de comportamento que mais prejudicam as relações interpessoais, o emburrado é um dos mais comuns, mais chatos e infantis que existem. Outra característica clara do mistério dos emburrados reside em "estar chateado, com raiva". Bom, mesmo que não se fale… E, para aquela menininha que um dia “emburrou-se”, ficou apenas um exemplo do passado para pensar:

se a vida é um filme constante, que nunca para, o emburrado é aquele que ao se chatear com uma cena tem a péssima característica de congelar cenas e por dias, sofrer e se ressentir...

E, enquanto isso, o filme da vida segue maravilhoso para o resto da humanidade. Que bom! Ela, magnificamente assentou-se, se superou, audaz, não lhe faltou vontade e impulso para projetar-se. Magistralmente e sem incorreções, preparou-se quando possível e esteve perfeita quando pedida. Abraçou-se à mãe que a gerara e proliferaram um fecundo amor … Tal amor materno que se inscreve para a eternidade, um amor, um sentimento que o filho sabe que, em algum momento, em algum instante de agonia ou de alegria, ela estará sempre ali. E está!


Felizes os filhos que podem carregar dentro do seu patrimônio psíquico, a representação saudável, estável da figura materna. Há quem diga que vivemos a vida procurando alguém, alguma pessoa, algum objeto que tenha essa constância que a mãe tem. Ela viveu este amor, também viveu grandemente amores … E vive!

Aos quinze anos de sua vida debutou, festejou, festejamos e dançamos! Mediante tal rito de passagem, foste apresentada oficialmente à sociedade, um novo tempo, começando assim uma nova fase de sua vida. Partindo deste “debut”, então usando um lindo vestido de gala projetado e realizado por seu também irmão Sergio, atuando como a um "wedding planner", vestiu-o perfeita e elegantemente para dançar a valsa comigo; tudo para representar tal momento no qual deixavas de ser menina para se tornar uma mulher. Linda mulher, que profissional, então!

Transitou e esteve deste tempo até alcançar profissionalmente, no judiciário estadual colaborando com os recursos humanos daquele órgão. Graduou-se mais para a vida acadêmica administrativa e chegou à esfera da magistratura Federal. Nesta, dirigiu divisionalmente o que lhe coube diante do Tribunal Regional Federal da 3a. Região – São Paulo. Por oportuno, lembro-me de algumas de suas referências, as quais talvez nem se lembre:

“Sonhei em chegar antes, mas o horário de Deus é diferente do nosso. Chego na hora certa para unir esforços à colaboração de construção para um novo Judiciário”… Ainda:

“… não devemos poupar esforços no sentido de amenizar o inegável sofrimento daquele que busca o seu direito através da última via que lhe é dada, o Judiciário. É lição de Albert Einstein: “o único lugar em que sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. É com esse objetivo que estou assumindo, trabalho, trabalho e trabalho”. E mais, em significante reconhecimento, num determinado momento:

“Senhoras e senhores, agradeço a Deus por tudo que sempre me proporcionou e por ter me dado muito mais do que fiz por merecer”.



E merecidamente, no momento oportuno soube se distanciar… Disse então, categoricamente:

- “Irei me aposentar”. Que coragem neste gesto!

Diante do olhar do poeta na observação da rua e contemplando o “mundo da aposentadoria”, momento que tal expressão, “mundo …”, pode causar certa estranheza, afinal, esse lugar demanda ser demarcado socialmente, aliada à preocupação das Ciências Humanas, especialmente da Psicologia e da Sociologia, com o “mundo do trabalho” é conhecida e seus estudos favorecem reflexões. O “mundo da aposentadoria”, no entanto, ainda carece de uma maior aproximação científica e, especificamente na Psicologia, onde estudos e discussões proliferam buscando maior entendimento de como ocorre a construção de relações dos aposentados com o espaço e o tempo que lhe ocorrem.

Quanto à espacialidade, aposentar-se quer dizer “recolher- se aos aposentos” e, de certa forma, denota o “fechar das portas” para a vida social. Neste sentido, o espaço da aposentadoria torna-se limitado e pouco reconhecido, construindo-se em locais privados. A temporalidade do “mundo da aposentadoria”, por sua vez, revela-se por continuidades e descontinuidades. Diante deste processo Mary superou-se…



Soube dar continuidades nas relações que permaneceram, envolvendo família e amigos, mesmo os mais distantes, no sentimento de construção de uma história de vida proliferante e, mesmo nos novos projetos a realizar, incluindo-se aqueles abandonados no passado. Não houve descontinuidades e, mesmo vinculadas às possíveis insegurança, soube ressignificar-se, reconstruir-se diante de sua identidade, no novo momento de vida e viver intensamente, o amor, bem como cada novo aniversariar!

E então, já linda mulher e quando pedindo, depois querendo e no momento insistindo, diante daquela peculiar expressão: Mim dá… Às minhas pessoais recomendações, não hesites, dê! Nem pense contrariá-la… Pois que, na insistência, pairará sobre vós “aquele olhar azul, que de inesquecível, se nublar, o Sol se recolherá… E saberá esperar o céu azul também para retornar!


Desse modo, seguem os votos certeiros, a consenso, de felicidades constantes e plenas!

São Paulo, Novembro de 2021.


ROBERTO COSTA FERREIRA

PROFESSOR - PSICANALISTA E PESQUSADOR

CEP/UNIFESP - UNIVERSIDADE FEDERAL de SÃO PAULO


sábado, 6 de novembro de 2021

Dia Nacional da Cultura - Educação não é privilégio, nem prêmio!

 


O Dia da Cultura é um feriado nacional que ocorre anualmente no Japão, em 3 de novembro, com o propósito de promover a cultura, as artes e o empenho acadêmico. Foi originalmente celebrado como o Aniversário do Imperador, porque Meiji nasceu em 3 de novembro, e passou a ser conhecido como o Dia da Cultura com a morte do Imperador, em 1912. Com o anúncio oficial da constituição japonesa pós-guerra, em 3 de novembro de 1946, o Dia da Cultura ganhou um significado adicional, tornando-se um dia para o povo japonês promover os valores adotados na constituição pós-guerra. O dia que a constituição foi oficialmente adotada tem seu próprio feriado também, chamado Dia Memorial da Constituição.

Aqui no Brasil, o dia 5 de novembro foi escolhido como o Dia Nacional da Cultura em homenagem a Rui Barbosa, jurista, jornalista, político, diplomata, ensaísta e orador. Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849, Rui Barbosa desempenhou importante papel político e cultural no Brasil. Já em 15 de maio de 1970, a lei nº 5.579 instituiu o "Dia da Cultura e da Ciência", comemorado a 5 de novembro de cada ano, como homenagem a data natalícia de figuras exponenciais das letras e das ciências, no Brasil e no mundo. A data teve como inspiração o Conselheiro Rui Barbosa.

Cultura é um conceito amplo que representa o conjunto de tradições, crenças e costumes de determinado grupo social, da aprendizagem social. Essa dinâmica faz dela uma poderosa ferramenta para a sobrevivência humana e tornou-se o foco central da antropologia desde os estudos do britânico Edward Tylor (1832-1917). Segundo ele:

"A cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

A cultura brasileira resulta da mistura de raças e etnias que constituem o País desde o descobrimento, tendo sito, tal diversidade cultural brasileira, influenciada por quatro grandes grupos, quais sejam: 

  • Colonos portugueses;
  • Os índios que já viviam antes da chegada de Pedro Álvares Cabral (1467-1520);
  • Os negros africanos que resultaram aqui escravizados;
  • Os europeus que chegaram principalmente ao fim do período de exploração da mão de obra não remunerada.

Diferente da maioria dos países que passaram pelo processo de colonização, o Brasil é marcado pela miscigenação, condição que influencia diretamente na cultura e, a língua portuguesa, que é um importante elemento da unidade nacional, também está entre os pontos de destaque da cultura brasileira.

Quando se trata de cultura e educação, podemos dizer que são estes fenômenos intrinsecamente ligados, a cultura e a educação, juntas tornam-se elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e dos educadores; quando adotamos a cultura como uma aliada no processo de ensino-aprendizagem.

“O acesso à cultura potencializa a aprendizagem e é uma ferramenta muito potente. Ela nos transposta desse lugar que estamos acostumados, seja ele qual for”.

Mais recentemente vem se discutindo, não a largas passadas mas, talvez, inevitavelmente,  a incorporação da cultura no processo de ensino-aprendizagem, momento que alguns educadores e movimentos sociais, lutam para que suas culturas sejam legitimadas como essências e coparticipante no processo de ensino, com relação à temática. BOURDIEU afirma que:

"a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última [...] uma não pode ser pensada sem a outra",

Desse modo, embasados na ideia de que a cultura é um elemento que nutre todo o processo educacional e que tem um papel de suma importância na formação de um indivíduo crítico e socializado. O reconhecimento da multiculturalidade da sociedade leva a constatação da diversidade de raízes culturais, postas anteriormente, que fazem parte de um contexto educativo. Nesse sentido autores que enfatizam a relação existente entre escola e cultura, nos instiga a buscar uma melhor compreensão acerca da importância da cultura no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas, onde a escola é defendida como uma entidade socializadora que deve incorporar as diversas culturas, proporcionando um ambiente sociável.

Darcy Ribeiro (1972): afirma que:

“[...] cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento de substâncias, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação”. 

Ao que se observa, Darcy Ribeiro converge na ideia de que embora a cultura seja um produto da ação humana, ela é regulada pelas instituições de modo que se lapida, de modo justo e perfeito, a ideia a ser manifestada segundo os interesses ou valores de crenças.

Anteriormente, Anísio Spínola Teixeira, intelectual, jurista e educador, nascido em 1900, na Bahia,  e defensor da escola pública no Brasil, foi um dos  signatários do Manifesto da Escola Nova divulgado em 1932, defendia a universalização da escola pública, gratuita e sem vínculo com nenhuma religião. Na ação transformadora em que se empenhou tal educador – concentrada na educação pública – a preocupação com a cultura sempre esteve presente em seu pensamento, materializando-se em diversas realizações.

Destaque-se a excepcionalidade do filósofo-educador para a observação dos aspectos culturais nas dimensões educacionais, em sentido amplo, ao exemplo para com a implantação de bibliotecas nas escolas primárias, e ainda na inauguração de escolas em que os alunos tinham aulas em um dos turnos e, no outro, desenvolviam atividades culturais, de formação da cidadania, trabalho e práticas esportivas.  Recentemente, determinada especialista disse:

“Alfabetização é uma das maiores invenções da espécie humana”. Além de útil é tão poderosa que transforma nossas mentes: “Ler literalmente muda o cérebro”.

Em sua primeira edição, de 1957, 14 anos antes de sua morte que ocorreria no Rio de Janeiro em 1971, a publicação de "Educação não é privilégio" reunia duas conferências: a primeira, sob o mesmo título, proferida na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, em 1953, e a segunda, "A Escola pública, universal e gratuita", pronunciada em setembro de 1956, no Primeiro Congresso Estadual de Educação, em Ribeirão Preto - São Paulo.

A referida edição traz também um anexo: "A Associação Brasileira de Educação e o ensino público". Além desta, foram publicadas mais quatro edições. Assim, em 1957 Anísio Teixeira publicou seu texto mais significativo com o título acima referido: ”Educação não é privilégio”, leitura praticamente obrigatória para qualquer professor brasileiro preocupado com seu próprio ofício. O título é auto elucidativo: todos tem direito à instrução básica. Estendendo um pouco mais aquela ideia, podemos concluir e afirmar que ”Educação não é privilégio, nem prêmio”!

Por mais de três milênios o mundo cultivou a crença de que a instrução era uma obrigação que as famílias tinham para com seus filhos. O dispêndio era grande e os pais mais pobres garantiam apenas um mínimo, no caso dos que tinham a sorte de poder pelo menos alfabetizar suas crianças. Em 1772 o mundo passou por uma grande revolução conceitual: o Marquês de Pombal implantou o ensino público gratuito, como substituição ao sistema escolar dos jesuítas.

Em 1794, Condorcet – Marques de Condorcet: Marie Jean Antoine de Caritat, filósofo, matemático e político revolucionário – à luz da Revolução Francesa na escola e a menos de três anos depois da tomada da Bastilha, precisamente em 14 de Julho de 1789, a Assembleia Nacional, que havia sido investida de poderes constituintes, recebeu um projeto de organização geral da instrução pública elaborado pelo dito marques (1743-1794).

Um dos pioneiros na defesa de um ensino igual para homens e mulheres e também no voto feminino, que a maioria dos revolucionários de então não aceitavam, em discursos e escritos argumentava contra a discriminação a protestantes e judeus e pregava o fim da escravidão e o direito de cidadania dos negros, teorizou sobre essa novidade do ensino público universal (“a igualdade de instrução”) em seu livro “Esboço de um quadro histórico do progresso do espirito humano”.

E por que a educação não é “privilégio, nem prêmio”? Por muitos motivos. O primeiro é que não se recebe educação como se fosse um presente, empacotado. Educação só existe quando o agente principal, o aluno, esforça-se para adquiri-la. O segundo motivo é que o aprendizado não é um bem pessoal. O educando é objeto de investimento, o investimento mais importante que a sociedade pode fazer. Quando praticamos educar os jovens de um município, estamos elevando esse município, não os jovens isoladamente!

A confusão que se estabelece quanto a ser a educação um ganho individual vem do fato de que o indivíduo mais instruído está qualificado para receber remuneração maior, arcando com maiores responsabilidades. Ora, se não existisse a escola, os mais bem aquinhoados seriam os portadores de maior força física, ou os que mostrassem mais habilidades com as armas. Para estes, o investimento seria mínimo, e seria entendido como direito subjetivo. Não é o caso da educação.

Para educar uma geração temos de fazer investimento alto. É um pensamento muito mesquinho imaginar que estamos presenteando pessoas em particular, em lugar de estarmos investindo na sociedade. Educando suficientemente teremos melhores e maiores industrias, melhores artes, melhores resultados científicos, melhores desenvolvimentos tecnológicos e melhores relações políticas. Para quem? Para os educandos? Também, mas muito mais para os demais beneficiários. Portanto, “Educação não é privilégio, nem prêmio” para o indivíduo. É compromisso!

Roberto Costa Ferreira, Novembro de 2021.

PROFESSOR – PSICANALISTA E PESQUISADOR

UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL de SÃO PAULO


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

MAYA ... O PARECER IRREAL!

 

Maya, minha neta ...

Adi Shankaracharya, alma excelsa tal qual Shiva, nos dá um exemplo, pois que, “o mundo é considerado MAYA no Sistema Advaita”. Logo, os objetivos cotidianos sofrem mudanças e, portanto, não são reais. Minha Maya é real, embora Maya seja irreal do ponto de vista de Shiva. Melhor orientando, Maya é real para alguém que está dentro de Maya, parecendo ser muito real. Porém, do ponto de vista mais alto, do ponto de vista Absoluto do Despertar, Maya é irreal! Maya não existe... Diriam!

Explicando isso, o Dr. S. Radhakrishnan diz: “Brahman e o mundo não são diferentes, então a questão da relação entre os dois é admissível. Qual seja, o mundo tem sua base em Brahman. Mas o Brahman é e não é idêntico ao mundo. É porque o mundo não está separado de Brahman; não é porque Brahman não está sujeito às mutações do mundo. Ou seja: a mente percebe o mundo como realidade, mas assim que a realidade de Brahman é percebida, o mundo desaparece”.

Ainda, Adi Shankaracharya disse em determinado tempo: “Brahman satya Jagat Mithya”. Comparativamente, temos que “Brahman sozinho é irreal e Brahman sozinho existe. Todo o resto é irreal, ilusão”. Desse modo, “o Mayar”, o parecer irreal, o marcar, formar, construir, além do mérito da ilusão... Tudo que arremete àquilo dito feito à irrealidade do Universo Manifesto. De um significado complexo, envolvente, presente, talvez não possa ser irreal... Mas absoluto!

Quando estou caminhando na escuridão, de repente vejo uma cobra e entro em pânico e fico imóvel por causa do medo. Alguém indo para aquele lado, liga sua tocha e mostra que é uma corda, não uma cobra. Maya é assim... Viva na minha existência! Experimente você conhecê-la, se aproximar, ouvi-la, investigar, mais que tudo parecerá “muito real” ... Muito mais! Assim como a cobra antes referida, tal cobra é sobreposta à corda, este mundo, incluindo meu corpo, minha vida, é sobreposta a Brahman/Consciência Pura.

Maya me é real... Linda e bela, para ela que em mim habita... É um caso de coexistência eternizando sentido temporal! E Maya me mostra uma lacuna em meu saber...

“Todo indivíduo deve entender sua verdadeira natureza e ser, que não é a mudança e a mortalidade, mas sim a beatitude eterna. Para compreendermos o verdadeiro móvel de nossos atos e pensamentos devemos despertar para a unidade do ser." Nem que, para tal, se viaje muito além!

Roberto Costa Ferreira, psicanalista – Pesquisador

UNIFESP – UNIVERSIDADE FEDERAL DDE SÃO PAULO




O RCM ... Reliability Centered Maintenance. Um conceito posto em prática!

 

A manutenção centrada na confiabilidade (RCM) é um conceito de planejamento de manutenção para garantir que os sistemas continuem a fazer o que o usuário exige no contexto operacional atual. Originalmente, o termo "manutenção centrada na confiabilidade" de autoria de Tom Matteson, Stanley Nowlan e Howard Heap da United Airlines (UAL) para descrever um processo usado para determinar os requisitos de manutenção ideais para aeronaves (tendo deixado a United Airlines para seguir uma carreira de consultoria alguns meses antes da publicação do relatório final de Nowlan-Heap, Matteson não recebeu nenhum crédito autoral pelo trabalho).

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD) patrocinou a autoria de um livro-texto (da UAL) e de um relatório de avaliação (da Rand Corporation) sobre Manutenção Centrada na Confiabilidade, ambos publicados em 1978. Eles trouxeram os conceitos de RCM para um público mais amplo. Esta foi uma das muitas descobertas surpreendentes que revolucionaram a disciplina gerencial do gerenciamento de ativos físicos e estiveram na base de muitos desenvolvimentos desde a publicação deste trabalho seminal.

O RCM foi definido no padrão SAE JA1011 - Critérios de avaliação para processos de manutenção centrada na confiabilidade (RCM). Isso estabelece os critérios mínimos para o que é e o que não pode ser definido como RCM. O padrão é um divisor de águas na evolução contínua da disciplina de gerenciamento de ativos físicos. Partindo de então, depois de ser criado pela indústria de aviação comercial, o RCM foi adotado pelos militares dos EUA (a partir de meados da década de 1970) e pela indústria de energia nuclear comercial dos EUA (na década de 1980).

Posteriormente, do final da década de 1980, uma iniciativa independente liderada por John Moubray que corrigiu algumas das primeiras falhas do processo e o adaptou para uso na indústria em geral, traduzindo o RCM da indústria aeronáutica em uma técnica universalmente utilizável para estabelecer estratégias de manutenção confiáveis onde quer que máquinas, equipamentos ou, de fato, qualquer ativo físico sejam necessários com confiança.  Moubray também foi responsável por popularizar o método e por apresentá-lo a grande parte da comunidade industrial fora da indústria de aviação, definindo ainda as necessidades de treinamento para garantir a compreensão adequada dos conceitos subjacentes e a possibilidade de implementação real no local.

Proporcionando ao mundo a proliferação de consultorias, antes, na década de 1990 dirigiu pessoalmente dezenas de cursos de treinamento público em RCM2 de três dias – CURSOS INTRODUTÓRIOS – além do Reino Unido. A necessidade de facilitadores para executar as sessões de análise foi resolvida com o aperfeiçoamento do Curso de Facilitador RCM2 que, por sua vez espalhariam o treinamento para os 10 dias e níveis de três dias em todo o mundo, proporcionando rapidamente com que a técnica se tornasse internacional, sendo certo a primeira edição do livro no Reino Unido em 1991 e, vertido para o português, ocorresse em 2001.

A SQL Systems Brasil é líder na divulgação, preparo, formação e implantação no Brasil e América do Sul. 

Roberto Costa Ferreira, membro Facilitador RCM - 

Pesquisador UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo.


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

DIA do PROFESSOR ... Até Einstein chorou!


 O esquecimento é uma perda. A nossa memória é muito frágil e o risco de memórias falsas é uma constante. Este não é um pensamento einsteiniano... Mas é factível!

Imperdoável seria, esquecer-me desta vida vivida, de todos os tempos preciosos de professorar... Pois que, “a tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer”. Isto sim é einsteiniano... Abrindo a consciência para o outro. E por muito menos já chorei!

“Não basta ensinar ao homem uma especialidade porque ele se tornará assim, uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida.”

Albert Einstein

No verão de 1913, dois gigantes da ciência moderna viajaram a Zurique com a missão de oferecer o cargo mais prestigioso da vida científica europeia de então, a um homem. Este mesmo que até seis anos antes fora simples funcionário numa repartição de patentes. Em 1914, com o casamento desmoronando e um caso de amor em andamento Albert Einstein se despede de Mileva. Levam os três na estação ferroviária e Mileva Maric, sua esposa – física e matemática austro-húngara - volta para Zurique com os seus dois filhos... E ao voltar para casa triste e só, O GÊNIO CHOROU!

Einstein que amava muito os filhos confessaria mais tarde a sua prima Elza Rosenthal que naquele dia chorou... E foi com grande dificuldade que ele enfrentou a separação dos filhos.

Albert Einstein é, indubitavelmente, um dos maiores nomes da história da ciência, tendo formulado a Teoria da Relatividade - restrita e geral - e colaborado decisivamente para o desenvolvimento da Teoria Quântica - seu primeiro trabalho sobre o quantum, "sugerindo que radiação eletromagnética na região de alta frequência poderia ser pensada como quanta de luz", foi decisivo neste sentido -, ainda que, ulteriormente, se tornasse um crítico contumaz dos desenvolvimentos dados à teoria, pela Escola de Copenhague.

A despeito de suas decisivas contribuições à ciência do século XX, Einstein também é reconhecido como notável humanista, construindo uma profunda reflexão sobre a "natureza" do conhecimento, a vida ético-política e os processos de educação.

É neste domínio que adquire grande importância o livro ‘Einstein e a educação’, dos professores Alexandre Medeiros e Cleide Medeiros, publicado, pela Editora Livraria da Física, em 2006, a quem também homenageio nesta oportunidade. A obra - solidamente alicerçada em ampla bibliografia, constituída por mais de 200 títulos - traz, ao longo de seus capítulos, significativos aspectos da trajetória intelectual de Einstein, enfatizando a seminal vertente pedagógica do seu pensamento.

Nos primeiros capítulos trata da educação primária do pequeno Albert em Munique, da educação secundária do jovem Einstein no Luitpold Gymnasium, avançando para a educação de Einstein na Escola de Aarau, mostrando-nos Einstein como estudante na Escola Politécnica de Zurique seguido de Einstein versus Weber - apresentam aspectos da vida estudantil do físico, na escola e na universidade.

Já neste período evidenciavam-se destacando-se sua aversão pelo aprendizado baseado na pura memorização mecânica - aspecto típico da tradicional educação alemã da época e bastante encontradiço, ainda hoje, nos bancos escolares brasileiros (como, por exemplo, em muitas instituições nas quais se ensina até medicina no país...).

Sua excelência como estudante - aspecto não reconhecido por muitos biógrafos, os quais, muitas vezes, insistem em caracterizar Einstein como um mau aluno... Mas fica patente seu grande poder de concentração, especialmente relacionado à música, momento que os concertos de Bach e as sonatas de Mozart constituíam-se fecundo manancial de inspiração. Ainda, sua independência intelectual - mais claramente manifesta no seu período de graduação na Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), a Escola Politécnica de Zurique.

Nos capítulos intermediários temos tentativas, conflitos e sua pugna de ser professor, sua estada na Academia Olímpia, o escritório de patentes e a Universidade de Berna, ainda Einstein como professor na Universidade de Zurique. Da curta estada em Praga ao retorno a Zurique até a longa estada em Berlim - narrando a sua epopeia na docência, abrangendo desde os primeiros anos após a conclusão do curso de graduação - com as malfadadas tentativas de conseguir um posto na academia, nas quais muito pesaram os desentendimentos com Heinrich Weber -, passando por sua colocação, como técnico, em um escritório de patentes em Berna - considerado, pelo próprio Einstein, como fundamental no seu desenvolvimento intelectual -, até sua aceitação como ‘privatdozent’ na Universidade de Berna (em 1908) e a definitiva consagração, como grande docente e pesquisador.

Nos capítulos finais evidenciam-se imaginação, humildade e bom humor, influências sobre as concepções educacionais de Einstein e de Dewey, as sintonias entre os ideários educacionais de Einstein e Dewey, a educação e a busca da liberdade e da justiça social. Einstein e a questão didática também são considerados centrando-se mais na apresentação das características do Einstein - professor - marcadamente sua humildade e o seu bom humor - e dos principais elementos teóricos de seu pensamento educacional, especialmente as interseções conceituais com a pedagogia de Dewey, já referido.

É possível que uma das grandes virtudes do livro, além da escrita clara e da consistência teórica, seja mostrar a principal característica da “libertária pedagogia einsteiniana”, esta sim: o tácito repúdio ao autoritarismo da escola germânica - o que se tornou explícito, por exemplo, na decisão de abandonar o Luitpold Gymnasium, sua escola secundária, pela acérrima discordância em relação aos seus métodos de ensino - e o profundo respeito pelo livre desenvolvimento do educando - valorizando sua curiosidade, autonomia e criatividade como grandes sustentáculos do processo educacional -, algo apreendido na Escola de Aarau, na Suíça, sob influência do pensamento de Pestalozzi - pedagogo profundamente inspirado em Rousseau e Kant -, como ressaltado pelo próprio Einstein:

[...] pelo seu espírito liberal e pela simples seriedade dos seus professores, que não estava baseada em nenhuma autoridade externa, essa escola deixou em mim impressões inesquecíveis. A comparação com os seis anos de escolaridade no autoritário Gymnasium alemão me fez entender claramente a superioridade de uma educação voltada para a livre ação e para a responsabilidade social em relação a uma outra fundada na autoridade e na ambição.  

[Albert Einstein apud Medeiros & Medeiros, 2006:35]

Esta perspectiva parece ser particularmente útil para as atuais discussões no âmbito do ensino, na medida em que se reconhece a obsolescência de procedimentos "pedagógicos" ainda vigentes, centrados na mera transmissão de conhecimento, nos quais o docente assume um papel de "inculcador de conteúdos", cabendo ao discente tornar-se um repetidor dos mesmos, em uma atitude passiva e reprodutora (mormente por ocasião da avaliação, na qual é cobrada a matéria ministrada...). Neste sentido, um dos comentários de Einstein, transcritos no livro, parece se referir ipsis litteris a tal situação, ainda bastante presente na escola brasileira:

[...] por vezes, vemos na escola simplesmente o instrumento para a transmissão de certa quantidade máxima de conhecimento para a geração em crescimento. Mas, isso não é correto. O conhecimento é morto; a escola, no entanto, serve aos vivos. Ela deve desenvolver nos indivíduos jovens as qualidades e as capacidades que são valiosas para o bem-estar da comunidade.                                                      

                                                                 [Albert Einstein apud Medeiros & Medeiros, 2006:201]

Portanto, ao se considerar, de modo einsteiniano, que o ensinar exige respeito à autonomia e à dignidade de cada sujeito - especialmente no âmago de uma abordagem progressiva, alicerce para uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história -, vale a pena repensar o papel dos diferentes atores envolvidos no ensino, na arte de professorar, especialmente do aparelho escolar, no sentido de formar profissionais mais aptos à construção de consistentes respostas às demandas e às transformações da sociedade.

Neste sentido, é salutar aos debates em educação o escopo de Einstein, como nesta oportunidade, diante desta síntese e por ocasião do Dia do Professor, tendo em vista a educação, trazendo a obra em referência - Einstein e a Educação – e que nas próprias palavras de seus autores:

“servir de inspiração para todos aqueles que detectam na educação um meio para a construção de uma sociedade melhor, mais justa e mais humana.”

Roberto costa Ferreira, 15 de Outubro de 2021 – Dia do Professor.

Professor – Psicanalista e Pesquisador – CEP UNIFESP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO