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sábado, 3 de abril de 2021

Ceará e “campos de concentração” no Brasil! O "cearense" precisa conhecer sua própria história.

 


Nos anos 1930, há pouco mais de 90 anos, milhares de flagelados da seca foram confinados e explorados em instalações do governo. Mais de oito décadas depois, as únicas ruínas remanescentes são tombadas! A solenidade de tombamento do sítio arquitetônico do "Campo de Concentração" do Patu, num sábado (20/07), localizado em Senador Pompeu, a 270 quilômetros de Fortaleza, representou o reconhecimento de um capítulo trágico da história do Ceará e do Brasil.

Nesse campo, milhares de pessoas sofreram e morreram, no início da década de 1930, de doenças, de maus-tratos e de inanição. A construção tinha como objetivo evitar que retirantes chegassem às cidades, principalmente à capital do Ceará - Fortaleza. Além de isolados e confinados, os retirantes eram explorados como mão de obra escrava em obras públicas.

Além do Patu, outros seis campos foram instalados no Ceará durante a grande estiagem de 1932. Dois ficavam em Fortaleza. Esses sete campos, no entanto, também não foram pioneiros. Seu surgimento remonta aos “abarracamentos” (acampamentos improvisados) instalados pelo Estado para abrigar os retirantes nas secas de 1877 a 1880, quando Fortaleza foi ocupada por cerca de 100 mil flagelados, mais do triplo de sua população na época.

Após novas estiagens, a ideia de "concentrar" os retirantes foi se consolidando, como também o projeto de modernização e embelezamento das cidades, como Fortaleza e tantas outras do Norte e Nordeste do Brasil, acompanhado ainda da popularização da ideia do darwinismo social, que à época ajudava a justificar ideologicamente o domínio de uma "raça" sobre outra.

No Ceará, isso fez com que os flagelados que procuravam abrigo na capital do Estado passassem a ser aglomerados no "Campo de Concentração" do Alagadiço, em 1915. Assim, era mais fácil escondê-los da população urbana! A designação "campo de concentração" acabou oficialmente por substituir os antigos “abarracamentos” na mesma época, sendo usada tanto pela imprensa da época quanto pelo próprio governo, até fortemente local.

Na década de 1930, seria a vez de o governo local criar sete novos campos desse tipo, entre eles o do Patu. Dessa forma, o governo local trilhava um caminho já percorrido por outros países. Décadas antes, na América do Norte, os EUA criaram campos desse tipo para internar indígenas Cherokee. Também, considerando que cidade americana de Miami e a capital cubana - Havana - ficam a cerca de 150 km de distância, o antigo governo colonial de Cuba chegou a decretar que moradores que não quisessem ser tratados como rebeldes fossem internados em "campos de reconcentración" durante as guerras de independência da ilha (1868-1898).

Ressalte-se que o mesmo ocorreu na África do Sul e nas Filipinas no final do século 19. Mas, apesar desses usos locais, incluindo no Ceará, o termo "campo de concentração" ganhou notoriedade com a chegada dos nazistas ao poder na Alemanha, em 1933. Observemos ainda que entre os “campos cearenses” e os “Konzentrationlager” nazistas há algumas semelhanças, mas também diferenças fundamentais, como apontam ativistas, historiadores e membros do Ministério Público envolvidos no processo de tombamento do Patu, à época.

É certo que o Estado brasileiro não teve interesse em preservar a memória do campo que está localizado dentro de uma área de uma autarquia federal chamada Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) na oportunidade. Então, o MP estadual partiu para uma proteção local, “um tombamento", no 'Campo de Concentração' do Patu, tendo lá uma população de aproximadamente 20 mil pessoas. Afinal, o que são 20 mil pessoas em 1932? É algo gigantesco, parece-me! E desses 20 mil, embora não haja registros oficiais, pois não se lavravam certidões de óbitos, a estimativa é que entre 8 mil e 12 mil pessoas morreram e foram enterradas em valas coletivas. Uma monstruosidade!

Na época da construção do Patu, a população de Fortaleza tinha cerca de 120 mil habitantes. Além de Senador Pompeu e da capital, em 1932, outros "campos de concentração" foram instalados nos municípios de Ipu, Quixeramobim, Crato e Cariús, é o que se sabe, não precisamente. No entanto, pelo que me consta, a maioria desses campos não resistiu à ação do tempo. O Patu, único "campo de concentração" que restou dos dez instalados no Ceará entre 1915 e 1932 englobam 12 construções de estilo neocolonial, a chamada Vila dos Ingleses.

"Essas instalações são anteriores aos campos de concentração nazistas e não tinham obviamente a mesma finalidade dos campos da Segunda Guerra, mas tinham também algumas semelhanças sórdidas",

salvo as “inspirações”, explicitou determinado promotor público, num de seus vários relatos:

"A estrutura dos prédios; a população distribuída em barracões; grande parte dessa população sendo atraída ao local com falsas promessas de que teria acesso a trabalho, à comida, a medicamentos e atendimento médico, o que não era realidade",

apontou Laprovitera, então promotor, ainda mais considerando, possivelmente “salário e renda”, usualmente hoje servido, recentemente, em “prato quente”:

"Mas, enquanto nos campos de concentração nazistas a mortandade se deu por uma ação estatal, nos 'campos de concentração' cearenses a mortandade se deu por causa de uma omissão. Não havia comida, não havia água e as condições de higiene eram muito precárias."

Frederico de Castro Neves, determinado professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressalta as diferenças entre os campos cearenses e os nazistas:

"Senador Pompeu não é igual a Auschwitz. Aqui, a pessoa recebia uma assistência, que era precária, discutível, mas era uma assistência médica. As pessoas não eram carregadas para o campo, debaixo de violência, embora houvesse uma tentativa de manter aquelas pessoas ali no isolamento".

Como se observa o darwinismo social, a ideia da superioridade de uma raça sobre a outra, também marcou o Brasil no início do século 20. Na Constituição de 1937, há um artigo - Art. 138 - que diz que o Estado teria que 'estimular a educação eugênica'."

"Então tem esse aspecto do darwinismo social que justifica moralmente a implantação dos campos. Há também a mão de obra, que foi usada como escrava, porque os grandes açudes e as estradas foram feitas por eles, tudo em troca de comida"!

Do campo cercado por arame farpado, os flagelados só podiam sair para trabalhar. E o que se tem em parcos registros é que a segurança era feita por guardas cujo pagamento era realizado em espécie, não havendo documentos comprobatórios. Ainda mais a se considerar que:

"Todos os 'campos de concentração' e os ‘abarracamentos’, quando terminavam, eles tocavam fogo em tudo. Para não deixar pista, não havia atestado de óbitos, não tinha nada."

A historiadora Kênia Sousa Rios, da UFC, relata em determinado momento, que somente no campo de Ipu, a oeste do Estado, houve registros de mais de mil mortos entre 1932 e 1933. De acordo com informações da época, o campo chegou a abrigar 6.507 flagelados. Estima que o número total de flagelados nos campos tenha sido muito maior.

"No período mais agudo da estiagem, em Dezembro do ano findo -1932 - elevou-se a 260 mil o número de operários diretamente empregados nas obras contra as secas, sendo 236 mil, na Inspetoria, e 24 mil, na Rede de Viação Cearense [...]”.

Organizaram-se, dizendo mais que: “Além disso, neste Estado, 'campos de concentração', por onde transitou mais de um milhão de pessoas, atendidas com serviços de higiene e assistência”. Endossando o dito anterior, e segundo o historiador Frederico Castro Neves:

Foi o horror provocado pelos campos de concentração alemães, construídos a partir de 1933 e cuja existência foi divulgada após o fim da guerra, que desencorajou a construção de novas instalações desse tipo no Ceará após a Segunda Guerra mundial”.

Afortunadamente, graças a Deus! Pois que, quando teremos outros tantos "reconhecimento devidos" de capítulos trágicos da nossa história, vividos no Brasil?

Roberto Costa Ferreira, 26/03/2021.

Conforme postado em  Facebook,  de 27/03/2021, adiante:


Roberto Costa Ferreira

está com Isabel Conceição Costa Ferreira

 em Santo Amaro, Sao Paulo, Brazil

27 de março às 01:20   

Ceará e “campos de concentração” no Brasil!

Nos anos 1930, há pouco mais de 90 anos, milhares de flagelados da seca foram confinados e explorados em instalações do governo. Mais de oito décadas depois, as únicas ruínas remanescentes são tombadas!

A solenidade de tombamento do sítio arquitetônico do "Campo de Concentração" do Patu, num sábado (20/07), localizado em Senador Pompeu, a 270 quilômetros de Fortaleza, representou o reconhecimento de um capítulo trágico da história do Ceará e do Brasil.

Nesse campo, milhares de pessoas sofreram e morreram, no início da década de 1930, de doenças, de maus-tratos e de inanição. A construção tinha como objetivo evitar que retirantes chegassem às cidades, principalmente à capital do Ceará - Fortaleza. Além de isolados e confinados, os retirantes eram explorados como mão de obra escrava em obras públicas.

Além do Patu, outros seis campos foram instalados no Ceará durante a grande estiagem de 1932. Dois ficavam em Fortaleza. Esses sete campos, no entanto, também não foram pioneiros. Seu surgimento remonta aos “abarracamentos” (acampamentos improvisados) instalados pelo Estado para abrigar os retirantes nas secas de 1877 a 1880, quando Fortaleza foi ocupada por cerca de 100 mil flagelados, mais do triplo de sua população na época.

Após novas estiagens, a ideia de "concentrar" os retirantes foi se consolidando, como também o projeto de modernização e embelezamento das cidades, como Fortaleza e tantas outras do Norte e Nordeste do Brasil, acompanhado ainda da popularização da ideia do darwinismo social, que à época ajudava a justificar ideologicamente o domínio de uma "raça" sobre outra.

No Ceará, isso fez com que os flagelados que procuravam abrigo na capital do Estado passassem a ser aglomerados no "Campo de Concentração" do Alagadiço, em 1915. Assim, era mais fácil escondê-los da população urbana!

A designação "campo de concentração" acabou oficialmente por substituir os antigos “abarracamentos” na mesma época, sendo usada tanto pela imprensa da época quanto pelo próprio governo, até fortemente local.

Na década de 1930, seria a vez de o governo local criar sete novos campos desse tipo, entre eles o do Patu. Dessa forma, o governo local trilhava um caminho já percorrido por outros países. Décadas antes, na América do Norte, os EUA criaram campos desse tipo para internar indígenas Cherokee. Também, considerando que cidade americana de Miami e a capital cubana - Havana - ficam a cerca de 150 km de distância, o antigo governo colonial de Cuba chegou a decretar que moradores que não quisessem ser tratados como rebeldes fossem internados em "campos de reconcentración" durante as guerras de independência da ilha (1868-1898).

Ressalte-se que o mesmo ocorreu na África do Sul e nas Filipinas no final do século 19. Mas, apesar desses usos locais, incluindo no Ceará, o termo "campo de concentração" ganhou notoriedade com a chegada dos nazistas ao poder na Alemanha, em 1933. Observemos ainda que entre os “campos cearenses” e os “Konzentrationlager” nazistas há algumas semelhanças, mas também diferenças fundamentais, como apontam ativistas, historiadores e membros do Ministério Público envolvidos no processo de tombamento do Patu, à época.

É certo que o Estado brasileiro não teve interesse em preservar a memória do campo que está localizado dentro de uma área de uma autarquia federal chamada Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) na oportunidade. Então, o MP estadual partiu para uma proteção local, “um tombamento", no 'Campo de Concentração' do Patu, tendo lá uma população de aproximadamente 20 mil pessoas.

Afinal, o que são 20 mil pessoas em 1932? É algo gigantesco, parece-me! E desses 20 mil, embora não haja registros oficiais, pois não se lavravam certidões de óbitos, a estimativa é que entre 8 mil e 12 mil pessoas morreram e foram enterradas em valas coletivas. Uma monstruosidade!

Na época da construção do Patu, a população de Fortaleza tinha cerca de 120 mil habitantes. Além de Senador Pompeu e da capital, em 1932, outros "campos de concentração" foram instalados nos municípios de Ipu, Quixeramobim, Crato e Cariús, é o que se sabe, não precisamente. No entanto, pelo que me consta, a maioria desses campos não resistiu à ação do tempo.

O Patu, único "campo de concentração" que restou dos dez instalados no Ceará entre 1915 e 1932 englobam 12 construções de estilo neocolonial, a chamada Vila dos Ingleses.

"Essas instalações são anteriores aos campos de concentração nazistas e não tinham obviamente a mesma finalidade dos campos da Segunda Guerra, mas tinham também algumas semelhanças sórdidas", salvo as “inspirações”, explicitou determinado promotor público, num de seus relatos:

"A estrutura dos prédios; a população distribuída em barracões; grande parte dessa população sendo atraída ao local com falsas promessas de que teria acesso a trabalho, à comida, a medicamentos e atendimento médico, o que não era realidade", apontou Laprovitera, então promotor, ainda mais considerando, possivelmente “salário e renda”, usualmente hoje servido, recentemente, em “prato quente”:

"Mas, enquanto nos campos de concentração nazistas a mortandade se deu por uma ação estatal, nos 'campos de concentração' cearenses a mortandade se deu por causa de uma omissão. Não havia comida, não havia água e as condições de higiene eram muito precárias."

Frederico de Castro Neves, determinado professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressalta as diferenças entre os campos cearenses e os nazistas:

"Senador Pompeu não é igual a Auschwitz. Aqui, a pessoa recebia uma assistência, que era precária, discutível, mas era uma assistência médica. As pessoas não eram carregadas para o campo, debaixo de violência, embora houvesse uma tentativa de manter aquelas pessoas ali no isolamento".

Como se observa o darwinismo social, a ideia da superioridade de uma raça sobre a outra, também marcou o Brasil no início do século 20. Na Constituição de 1937, há um artigo - Art. 138 - que diz que o Estado teria que 'estimular a educação eugênica'."

"Então tem esse aspecto do darwinismo social que justifica moralmente a implantação dos campos. Há também a mão de obra, que foi usada como escrava, porque os grandes açudes e as estradas foram feitas por eles, tudo em troca de comida"!

Do campo cercado por arame farpado, os flagelados só podiam sair para trabalhar. E o que se tem em parcos registros é que a segurança era feita por guardas cujo pagamento era realizado em espécie, não havendo documentos comprobatórios. Ainda mais que:

"Todos os 'campos de concentração' e os ‘abarracamentos’, quando terminavam, eles tocavam fogo em tudo. Para não deixar pista, não havia atestado de óbitos, não tinha nada."

A historiadora Kênia Sousa Rios, da UFC, relata em determinado momento, que somente no campo de Ipu, a oeste do Estado, houve registros de mais de mil mortos entre 1932 e 1933. De acordo com informações da época, o campo chegou a abrigar 6.507 flagelados. Estima que o número total de flagelados nos campos tenha sido muito maior.

"No período mais agudo da estiagem, em Dezembro do ano findo -1932 - elevou-se a 260 mil o número de operários diretamente empregados nas obras contra as secas, sendo 236 mil, na Inspetoria, e 24 mil, na Rede de Viação Cearense [...]”.

Organizaram-se, dizendo mais que: “Além disso, neste Estado, 'campos de concentração', por onde transitou mais de um milhão de pessoas, atendidas com serviços de higiene e assistência”. Endossando o dito anterior, e segundo o historiador Frederico Castro Neves:

“Foi o horror provocado pelos campos de concentração alemães, construídos a partir de 1933 e cuja existência foi divulgada após o fim da guerra, que desencorajou a construção de novas instalações desse tipo no Ceará após a Segunda Guerra mundial”.

Afortunadamente, graças a Deus! Pois que, quando teremos outros tantos "reconhecimento devidos" de capítulos trágicos da nossa história, vividos no Brasil?

Roberto Costa Ferreira, 26/03/2021.

Foto de Nelson Vilela de 06 de Dezembro de 2020, retratando um momento de homenagem.




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